quarta-feira, 24 de março de 2010

ARGENTINA LEMBRA ANIVERSÁRIO DE GOLPE MILITAR COM MANIFESTAÇÕES



NUNCA MAIS!




A Argentina lembra hoje do 34º aniversário do golpe militar que instaurou a ditadura no país com atos públicos, o tradicional slogan "Memória, verdade e justiça" e o aprofundamento do debate sobre genocídio e sua prevenção.
Entre as atividades convocadas para a data está um evento musical organizado pela Associação das Mães da Praça de Maio -- entidade criada por mulheres que buscam informações sobre seus filhos desaparecidos durante o regime, que foi de 1976 até 1983.
A iniciativa tem o lema "Não puderam apagar tanto fogo, e no cenário da Revolução do Bicentenário arderá nossa cultura", que faz referência aos 200 anos do início das lutas para a independência da Argentina.
Várias organizações humanitárias relacionadas a vítimas da ditadura marcharão ao centro de Buenos Aires gritando "Por um Bicentenário sem impunidade, julgamento e castigo já". A exigência de imputação de culpa aos acusados também será o tema de protestos de outros organismos, que farão passeatas.
Na rede social Facebook, os usuários propuseram deixar vazio o lugar da foto pessoal em homenagem às 30 mil pessoas que sumiram durante o regime.
A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, entregará a quatro pais de desaparecidos o décimo primeiro prêmio "Azucena Villaflor" (uma das fundadoras da Associação das Mães da Praça de Maio e também vítima da ditadura).
O secretário de Direitos Humanos do país, Eduardo Luis Duhalde, assinalou à ANSA que os atos em recordação ao golpe militar de 24 de março de 1976 demarcam a "necessidade de uma reflexão profunda".
"Memória é, além da recordação do horror, a exaltação dos valores que o terrorismo de Estado tentou suprimir e, em particular, um compromisso com o futuro", afirmou ele.
Já o consultor em Direito Internacional da Secretaria de Direitos Humanos, Rodolfo Mattarollo, falou à ANSA da localização e recuperação da identidade de 101 bebês roubados de suas mães, que haviam sido sequestradas e foram assassinadas logo após terem dado à luz na prisão.
Para ele, a ação mostra ao mesmo tempo a perversidade do plano sistemático da ditadura e "um exemplo concreto de atuação do direto à verdade graças à luta das Avós [da Praça de Maio, organização de mulheres que buscam pelos netos desaparecidos]".
Ele recordou que a Argentina propôs à Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas "o reconhecimento do direito à verdade como um direito humano" em 2005. Agora, Mattarolo levou ao Conselho de Direitos Humanos da organização a proposta de tornar esta prerrogativa legal um instrumento da ONU.
"Esperamos que em breve avance a ideia de uma Declaração sobre Memória e Verdade" para a Assembleia Geral da entidade, destacou o especialista.
Ele explicou que a memória se refere à "demarcação e a preservação de locais emblemáticos" como campos de sequestro, tortura e extermínio, enquanto que a verdade inclui "desclassificar documentos, preservar arquivos, proteger testemunhas, querelantes, juízes e promotores" para que a sociedade tenha acesso ao que aconteceu.



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