quarta-feira, 30 de março de 2011

Onde estava a OTAN durante o genocídio em Ruanda?

Onde estavam os bons cristãos europeus e estadunidenses em 1994, quando 800 mil pessoas foram assassinadas em Ruanda? Não havia como impedir esse massacre? Onde estavam os que agora se mostram ultra sensibilizados com a guerra civil na Líbia? Além do eterno racismo da elite branca mundial, está o fato de Ruanda não possuir um produto que desperta ereções nos senhores do mundo: o petróleo. Ruanda não tem petróleo, então que se matem... A hipocrisia dessa aventura imperialista na Líbia salta aos olhos, é uma vergonha para todo o mundo ocidental.

O Genocídio em Ruanda

























Ação histórica contra WalMart por discriminação sexual


Fome, miséria, preconceito e discriminação, esses são os principais produtos fornecidos pela corporação mafioalimentar Walmart




Cerca de milhão e meio de mulheres que trabalharam para a WalMart podem vir a ser beneficiadas se a maior cadeia de distribuição dos EUA for condenada pelo Supremo Tribunal norte-americano, num processo colectivo por discriminação sexual. Na WalMart as mulheres ganham menos 14% que os homens.
Acção histórica contra WalMart por discriminação sexual
Na queixa colectiva diz-se que as mulheres ganham menos 14% que os homens e que precisam de quatro anos para acederem a cargos superiores, contra menos de três anos exigidos aos homens.

Esta acção judicial histórica começou em 2001 quando Betty Dukes e outras cinco mulheres apresentaram queixa, por alegada discriminação, pois, apesar de terem trabalhado de forma exemplar ao longo de seis anos, a WalMart negou-lhes, por serem mulheres, o acesso a cursos de formação que lhes poderia abrir caminho para um cargo superior e melhor remunerado, conta o El País.
O processo tem milhares de rostos. Mas quem decidiu avançar foi um grupo de seis mulheres que evoca a legislação estabelecida pelo Civil Rights Act 1964 e considera que “as políticas e práticas que sublinham o tratamento discriminatório são consistentes em toda a Walmart”, adiantou a BBC. Agora as funcionárias da cadeia de lojas querem ser indemnizadas pelos danos sofridos e pelo que não ganharam, num processo que se aplica a todas as que trabalham ou trabalharam para a Walmart.
O caso ficou conhecido por 'Dukes contra WalMart'. Depois de os processos se terem arrastado durante anos em tribunais de recurso, o Supremo Tribunal decidiu intervir. As mulheres ficaram com a hipótese de se juntarem numa acção colectiva, que representa as 1,5 milhões de empregadas que trabalharam na WalMart até 1998. Na queixa colectiva diz-se que as mulheres ganham menos 14% que os homens e que precisam de quatro anos para acederem a cargos superiores, contra menos de três anos exigidos aos homens.
O Supremo Tribunal ouviu esta terça-feira os argumentos de ambas as partes e só em Junho anunciará a sua decisão. Mas se a cadeia de distribuição perder o processo poderá ter de pagar milhares de milhões em indemnizações, pois, neste tipo de acções colectivas, as empresas condenadas tentam chegar a acordo com possíveis novos queixosos para evitar julgamentos prolongados e elevados custos judiciais, que, em último caso, dificilmente evitam o pagamento de indemnizações.
Seja qual for a decisão do tribunal, esta terá um profundo impacto noutros grupos de mulheres norte-americanas que têm apresentado acusações contra empresas, disse ao diário britânicoThe Guardian Melissa Hart, investigadora do departamento de Direito da Universidade do Colorado. “Passam décadas até que os tribunais analisem um processo tão importante quanto este”.

terça-feira, 29 de março de 2011

Israel aprova 'cassação de cidadania'

O próximo passo



Estadão


Lei proposta pelo partido do chanceler Avidgor Lieberman visaria minoria árabe do país


O Knesset, Parlamento israelense, aprovou ontem uma lei que permite a retirada da cidadania de qualquer pessoa condenada por espionagem, traição ou por ajudar inimigos durante uma guerra. A lei, aprovada por 37 votos a 11, foi apresentada por dois congressistas do partido ultranacionalista Yisrael Beitenu, o mesmo do ministro das Relações Exteriores, Avigdor Lieberman.
Amir Cohen/Reuters
Medida foi proposta por Lieberman em 2009
"Sem lealdade não pode haver cidadania", disse Lieberman, minutos antes da aprovação da norma, segundo o jornal Jerusalem Post. "Qualquer pessoa que prejudica o país não pode gozar dos benefícios da cidadania e suas consequências."

A lei é parte de uma campanha de Lieberman intitulada "sem lealdade, sem cidadania", encampada por ele nas eleições de 2009. A medida é vista como voltada contra a minoria árabe de Israel. Os parlamentares árabes israelenses atacaram a lei, qualificando-a como "racista".
A posição dos árabes é endossada pela Associação para os Direitos Civis em Israel. Um porta-voz da entidade diz que a nova lei manda uma mensagem segundo a qual a cidadania dos árabes israelenses "não está garantida".
Os árabes israelenses são 1,3 milhão da população, ou 20% do total dos israelenses. Eles são palestinos que permaneceram em Israel após a criação do Estado em 1948. As informações são da Dow Jones.


segunda-feira, 28 de março de 2011

Revista Rolling Stone publica fotos da barbárie estadunidense no Afeganistão

É isso que eles querem fazer na Líbia


As fotos são chocantes e impróprias para menores e pessoas mais sensíveis. O pior de tudo é que isso não é novidade. Eles cansaram de fazer isso no Vietnã, na República Dominicana; fazem  no Iraque. Isso para ficar nas regiões em que os yankees atuaram de forma direta. Quando não praticaram pessoalmente, ensinaram suas técnicas de barbárie a terceiros, como se viu no Chile, na Argentina, na Indonésia, no Congo, na Grécia, no Brasil, etc, etc, etc... Para ver fotos da barbárie atual, clique aqui.

Leia também o texto do Brizola Neto, do blog Tijolaço 




OLLANTA HUMALA ASSUME LIDERANÇA DA CORRIDA PRESIDENCIAL NO PERU

A esquerda avança na América Latina


O candidato à presidência do Peru Ollanta Humala subiu do terceiro para o primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, alterando todo o cenário até então conhecido, no qual o ex-presidente Alejandro Toledo (2001-2006) aparecia como o favorito na disputa do primeiro turno. 
   
Os números foram apresentados pelo instituto de pesquisa Companhia Peruana de Investigação de Mercado (CPI) a duas semanas do pleito, que está marcado para o dia 10 de abril. 
   
Humala, comandante reformado do Exército Peruano e candidato da coalizão Ganha Peru aparece na sondagem com 21,2% das intenções de voto, seguido pela deputada Keiko Fujimori, da aliança Força 2011e filha do ex-presidente Alberto Fujimori, com 19%, e de Toledo, do Peru Possível, com 18,6%.
   
Ainda participam da disputa Pedro Pablo Kuczynski, ex-ministro da Economia, que tem 16,1% da preferência dos eleitores, e Luis Castañeda, ex-prefeito de Lima, com 15,5%. 
   
A pesquisa praticamente confirma a existência do segundo turno já que dificilmente um dos candidatos atingirá mais de 50% dos votos válidos, o necessário para a disputa ser encerrada em uma única etapa. 
   
No segundo turno, de acordo com o levantamento, Castañeda, do Solidariedade Nacional, seria eleito no confronto com todos os outros adversários. Por exemplo, se a disputa se desse com Toledo, Castañeda teria 49,7% da preferência contra 34% do ex-presidente. Em outro cenário, dessa vez em um enfretamento direto com Keiko Fujimori, o ex-prefeito de Lima venceria com 48,6% dos votos, enquanto a deputada registraria 33%. 
   
O esquerdista Ollanta, por sua vez, só sairia vencedor no segundo turno se a disputa ocorresse com Kuczynski, da Aliança para a Grande Mudança. 
   
A sondagem, realizada entre 21 e 24 de março, tem um nível de confiança de 95,5%, o que significa que os cinco candidatos estão tecnicamente empatados. 
   
Este panorama já havia sido apresentado na semana passada com a divulgação dos resultados da pesquisa realizada pelo Datum Internacional. Nesse levantamento, feito nas áreas urbanas, Toledo apresentava 19,4% das intenções de voto, seguido por Humala, com 17,6%, por Kuczynski, com 17,5%, por Keiko, com 16,1% e, finalmente, por Castañeda, com 15,5%.  




domingo, 27 de março de 2011

Porque nada de bom vai sair da intervenção na Líbia



As forças da contra-revolução alinham com o Ocidente. O Conselho de Cooperação do Golfo apressou-se a prometer o seu apoio inequívoco. Os Emirados Árabes Unidos estão a enviar vinte e quatro aviões e o Qatar enviará até seis. Nenhum avião tunisino e egípcio está nessa oferta. Por Vijay Prashad, Counterpunch

Mal os os membros do Conselho levantaram as suas placas para indicar os votos, os caças Mirage franceses ligaram os motores para começar os seus voos de bombardeamento. Foto de mashleymorgan
No dia 19 de Março de 2011, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou a Resolução 1973 para estabelecer uma zona de "exclusão aérea" sobre a Líbia. A violência contra civis e pessoal dos meios de comunicação é citada como a razão para a nova resolução (uma anterior, de 1970, esmorece). O Conselho autoriza uma proibição de todos os voos sobre a Líbia (excepto com objectivos humanitários), congela bens selectivos do alto comando líbio e propõe que um Painel de Peritos seja estabelecido para investigar a questão dentro do próximo ano. Mal os os membros do Conselho levantaram as suas placas para indicar os votos, os caças Mirage franceses ligaram os motores para começar os seus voos de bombardeamento e os navios dos Estados Unidos armaram os mísseis-cruzeiro para disparar contra objectivos líbios. Os bombardeamentos foram destinados a desmantelar as defesas aéreas líbias. Foi o prelúdio do estabelecimento de uma zona de "exclusão aérea".
Para criar a zona de “exclusão aérea”, o Conselho permitiu que os estados-membro actuassem “a nível nacional ou através de organizações regionais,” nomeadamente a NATO, para “tomar todas as medidas necessárias para forçar o cumprimento da proibição de voar.” São essas “todas medidas necessárias” que permitem que os estados-membro (os Estados Unidos, a Inglaterra e a França) estendam a zona à vontade e pressionem a partir do cumprimento duma zona de "exclusão aérea" até à retirada de Khadafi, incluindo o alvejar do seu complexo militar em Trípoli. Para Obama, o objectivo da guerra é afastar Khadafi, o que está para além da autoridade da Resolução 1973 da ONU. Os mísseis-cruzeiro dos Estados Unidos atingiram unidades de forças armadas líbias e a casa de Khadafi (aquilo a que os meios de comunicação chamam o seu "complexo").
A falta de contornos da missão desconcerta o General Carter Ham do Comando Africano dos Estados Unidos. Ele reconheceu que muitos dos rebeldes são civis que pegaram em armas. A resolução 1973 não apela a que os estados membros dêem assistência aos rebeldes, apenas a que protejam os civis. Daria uma zona de “exclusão aérea” vantagem aos rebeldes e violaria assim o mandato? “Não fornecemos apoio aéreo próximo às forças da oposição,” observa o General Ham, “protegemos civis.” Contudo, “É uma situação muito problemática. Às vezes são situações destas que se reportam melhor no quartel-general do que na cabina dum avião”. Se as forças de Khadafi atacarem os rebeldes, os aviões e os mísseis-cruzeiro tecnicamente não podem interferir. Em tal caso, o apelo feito pelos rebeldes para apoio aéreo não pode ser correspondido pela Resolução 1973.
Os aviões franceses tomaram a dianteira, possivelmente para ajudar a sustentar o partido anémico do Presidente Sarkozy nas eleições ao nível dos cantões (o que não teve grandes resultados, dado que a extrema-direita e os socialistas conseguiram ganhos). Apesar dos avisos do Secretário de Defesa Robert Gates quanto a um conflito extenso, a máquina de guerra dos Estados Unidos prosseguiu e ultrapassou os bombardeamentos franceses. Há cem anos, aviões italianos inauguraram o bombardeamento aéreo dessas mesmas cidades. O futurista Tommaso Marinetti voou numa sortida, achando que as expedições de bombardeamento eram "higiénicas" e uma boa “educação moral.” O comunicado oficial da força aérea de 6 de Novembro de 1911 considerou que as expedições “tiveram um maravilhoso efeito no moral dos árabes”. O Daily Chronicle publicou no mesmo dia: “Isto não foi guerra. Foi um matadouro. Os não-combatentes, jovens e velhos, foram mortos desapiedadamente, sem remorso e sem vergonha.” Os italianos acobertaram-se atrás do direito internacional. O Instituto de Direito Internacional de Madrid considerou que “a guerra aérea é permitida, mas só com a condição de que não exponha a população pacífica a maiores perigos do que com ataques em terra ou mar.” Mais ou menos a mesma lógica flutuou em torno da reunião de Bruxelas da NATO.
No campo da esquerda, a certeza deixou de ser uma opção. As ameaças de Khadafi contra a rebelião muito mais débil no Leste são difíceis de ignorar. As detenções e os assassinatos no Oeste são igualmente apavorantes. Não há nenhuma alavanca fácil de usar contra o poder de Khadafi. Muitos dos que estariam de outra forma contra a intervenção humanitária não têm agora tanta certeza. Mais ou menos o mesmo dilema deteve liberais e algumas pessoas da esquerda quando George H. W. Bush prometeu destruir o regime de Saddam Hussein (aqueles de nós que estiveram em vigílias pelo massacre de Hallabja lembrar-se-ão do debate). Estas não são discussões fabricadas. São reais. Nenhuma força da esquerda está disponível para defender os rebeldes. Nenhum exército vietnamita, como o que entrou no Camboja em 1978-79 para esmagar os Khmer Vermelhos e salvar o Camboja da política maníaca de Pote Pol. Nenhumas tropas cubanas, como as que vieram em ajuda do MPLA (quem pode esquecer o cerco de Cuito-Cuanavale de 1987-88 e a vitória final do MPLA e dos cubanos contra os sul-africanos, um soco mortal do regime de apartheid). Esses são episódios da intervenção militar quando o equilíbrio de forças favorecia a esquerda. Será a actual zona de intervenção de “exclusão aérea” um tal feito?
Poucos têm qualquer ilusão sobre as acções "da coligação". Mesmo o guru do intervencionismo liberal, Michael Walzer, acredita que isto é “a intervenção errada.” Porque procura o Ocidente bombardear a Líbia e não os estados do Golfo ou a Costa do Marfim, ou o Darfur ou realmente o Congo, é claro de perceber. A resposta a todas as perguntas é a mesmo: petróleo. Para os activistas pela democracia do Bahrein a intervenção autorizada veio da Arábia Saudita, cujo interesse é esmagar a contestação na península e conservar as monarquias que rodeiam o primeiro entre iguais, o reino do Rei Abdullah e dos barões do petróleo. O Iémene está prestes. Fazem-se acordos. Às figuras seniores nas alas militares e políticas que abandonam Ali Abdullah Saleh já foram dadas garantias pelos seus apoiantes poderosos. Enquanto a revolução não for demasiado longe, e enquanto os militares poderem conter qualquer movimento pela democracia radical, tudo será desculpado. O espectro da al-Qaeda trata de Washington, e o do republicanismo radical trata da Arábia Saudita. A Costa do Marfim, o Darfur e o Congo permanecem de fora do reino destes tratamentos.
O Ocidente já tinha obtido a maior parte dos contratos de petróleo líbios (estamos longe dos dias em que Khadafi tinha afastado os irmãos Hunt e agarrado o controle dos campos de petróleo; conduziu contorções da lógica revolucionária para explicar o tapete vermelho colocado às mesmas firmas de petróleo que antes injuriara). Poucas vantagens devem ser ganhas com a expulsão de Khadafi. O que possivelmente corre no ADN dos poderosos é que uma guerra civil demorada na Líbia prejudicaria a sua capacidade de transportar o petróleo que jaz sob o seu solo e que tão perigosamente prejudica “o modo de vida” daqueles que importam. Os eventos tiveram de ser apressados. Se Khadafi tivesse ficado menos confiável, seria altura de se virar para o Conselho Revolucionário e esperar que ele fosse um corretor de petróleo igualmente flexível mas com um melhor historial de direitos humanos.
A secretária de Estado Hillary Clinton e a Embaixadora dos Estados Unidos na ONU Susan Rice não tiveram um tempo fácil na ONU. A África do Sul, a Nigéria, o Brasil e a Índia recusaram-se a avançar. Os chineses e os russos não eram entusiastas. Foi preciso um feroz torcer de braço à Liga Árabe para dar a Obama a ferramenta para pôr a andar Jacob Zuma da África do Sul através dum telefonema apressado. Manjeev Singh Puri da Índia indicou que o seu país não podia apoiar a resolução porque estava “baseada em muito pouca informação clara, inclusive falta de certeza sobre quem ia fazer aplicar a medida... Os esforços políticos devem ser a prioridade na resolução da situação”. Maria Luiza Riberio Viotti do Brasil também objectou, basicamente porque o Brasil “acreditava que a resolução contemplava medidas que iam para além [do] apelo” a uma protecção de civis. Estava preocupada que as acções tomadas pudessem causar “mais dano do que bem a esses mesmos civis que nos comprometemos a proteger” e que nenhuma acção militar por si só “conseguiria pôr um fim ao conflito”. O Brasil, a China, a Alemanha, a Índia e a Federação Russa abstiveram-se. Dez votaram com os Estados Unidos, a França e a Inglaterra. Não houve nenhum voto negativo.
imprimatur da Liga árabe foi essencial, mas foi também arrevesado. Nawaf Salam do Líbano, por exemplo, disse que a resolução não autorizou a ocupação “duma só polegada” do território líbio. Parece que os membros da Liga acreditaram que uma zona "de exclusão aérea" seria conduzida sem bombardeamento. O Amr Moussa, o chefe da Liga, pareceu confuso. Primeiro disse que o bombardeamento “se diferencia do objectivo de impor uma zona de exclusão aérea” e depois foi empurrado para estar ao lado do Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon no Cairo e para se retratar (o carro de Ban foi assaltado quando deixou a sede de Liga Árabe por manifestantes gritando “exclusão aérea, exclusão aérea”). A União Africana também ficou como o tolo no meio da ponte. Pareceu apoiar a Resolução 1973, mas depois hesitou quando a sua comissão ad-hoc com altos poderes foi impedida de ver Khadafi e os rebeldes para negociar um cessar-fogo. O que a Liga Árabe e a União Africana esperavam de “todas as medidas necessárias” é desconcertante, se é que não é a rotina típica, agora bem estabelecida depois do Panamá, Jugoslávia, Afeganistão e Iraque.
Os rebeldes em Benghazi pediram uma zona de "exclusão aérea". A intervenção liberal abriga-se atrás de convites. Os Estados Unidos invadiram as Filipinas só depois de serem convidados por Emilio Aguinaldo a participar na luta contra os espanhóis. Quando os espanhóis fugiram, os Estados Unidos decidiram assumir o poder. Esta espécie de gramática imperial move-se desde 1898 até ao século 21 com à-vontade. Os rebeldes em Benghazi também pediram ajuda. Mas será esta a única ajuda possível?
Os rebeldes estiveram sob o ataque da capacidade de fogo superior de Khadafi. Foi claro, no fim da de semana passada, que um empate forçado estava no horizonte e que a movimentação de Khadafi ao longo da costa não ia muito longe. Membros mais ponderados do seu governo já tinham deixado bem claro que não iriam permitir um assalto completo em Benghazi. Tais garantias não valem muito. Khadafi está enfraquecido nos seus fundamentos e a seu tempo teria tido de procurar uma saída para si e para a família. Era inevitável. A pergunta era quanto tempo isso demoraria e quanto sofrimento forçaria como preço pela partida. Os amigos de Khadafi na cena internacional, entre os quais há que acrescentar tanto Chávez como Berlusconi, teriam tido de desempenhar um papel a convencê-lo de que tudo terminara (David Held e o Lord Meghnad Desai poderiam ter desempenhado um papel com Saif al-Islam).
Certamente a Liga Árabe e a União Africana não têm a capacidade militar ou talvez a inclinação para abrir uma frente em nome dos rebeldes, mas podiam certamente ter enviado forças de manutenção de paz para evitar um assalto às cidades orientais. Além disso, os bens congelados podiam ter sido entregues ao Conselho Revolucionário, como forma de se armarem com o mesmo arsenal que os exércitos de Khadafi. Poderiam ter sido formas de ganhar tempo para que os rebeldes orientais encontrassem aliados nas cidades ocidentais, em particular nas áreas impacientes da classe trabalhadora de Trípoli (como Tajoura e Gurgi).
Tais opções já não são centrais, ou não estão sequer em cima da mesa. O domínio de Khadafi pode cair dentro de uma semana ou de um mês. Neste intervalo de tempo é um animal engaiolado, e os seus seguidores não se dissolverão facilmente. A curto prazo pode conduzir algum tipo de ataque espectacular com um navio-tanque no Mediterrâneo, ou, como ele ele mesmo avisou, dentro da Europa. Isto é precisamente o tipo de pretexto que os belicistas procuram. O Golfo de Sidra fará a vez do Golfo de Tonkin. Barcos de guerra atracarão em Benghazi e as tropas de terra deslizarão ao longo do caminho que foi uma vez o cemitério de Field Marshal Montgomery e de Rommel (pedaços das suas pistas e tanques ainda atulham a estrada fora de Tobruk). Um tal assalto, que poderia ser inevitável, reanimará o fracasso no Iraque que durou de 2003 a 2007, com os seguidores agora na clandestinidade numa revolta brutal contra as tropas estrangeiras e os povos do Leste, uma defesa do seu reino e um conflito sectário ao mesmo tempo. Fosse este o cenário, então, como disse Michael Walzer, “ele iria estender, não parar, o derramamento de sangue.”
As forças da contra-revolução alinham com o Ocidente. O Conselho de Cooperação do Golfo apressou-se a prometer o seu apoio inequívoco. Os Emirados Árabes Unidos estão a enviar vinte e quatro aviões e o Qatar enviará até seis. Ajudarão também a financiar o custo de fazer cumprir uma zona de "exclusão aérea", de $1-2 milhares de milhão/mês. As tropas da Arábia Saudita permanecem no Bahrein. A sua força aérea está toda equipada e também ela pode voar ao lado dos franceses em céus líbios. Nenhum avião tunisino e egípcio está nessa oferta. É um sinal revelador que só os regimes contra-revolucionários estejam excitados com a perspectiva desta batalha. Sabem que é precisamente a melhor oportunidade de parar a maré da Revolta Árabe de 2011.

Vijay Prashad é responsável pela Cátedra George and Martha Kellner de História da Ásia do Sul e Director dos International Studies no Trinity College, Hartford, CT. O seu livro mais recente, The Darker Nations: A People's History of the Third World, ganhou o prémio literário Muzaffar Ahmad de 2009. As edições sueca e francesa acabam de sair. Pode ser contactado em:





sábado, 26 de março de 2011

Com criatividade e inovação, música argentina se engajou na luta contra a ditadura

Pra quem acha que a música argentina é só Carlos Gardel



A partir do golpe que tirou María Estela Martínez de Perón do poder em março de 1976, os militares tomaram o controle do país com um plano denominado “Processo de Reorganização Nacional”. Não demorou para que implementassem novas normas de conduta e de restrições de acesso à música e à literatura, principalmente as que garantiam não se identificar ou exaltar os “valores argentinos”. 


A história se repetiu em diferentes países da América Latina. Na Argentina, o período de repressão resultou em um saldo estimado de 30 mil mortos e desaparecidos. Ainda assim, muitos músicos, mesmo estando nas “listas negras” da censura, conseguiram fazer que seus versos de resistência fossem escutados. Burlas nas restrições, versos camuflados e exílio foram alguns dos artifícios utilizados para impedir o fim do registro musical da época. 



Com a retomada da democracia e a volta de muitos deles, as obras que não puderam resistir à imposição do silêncio nos anos de chumbo vieram à tona. Nos últimos anos, muitos deles continuaram compondo músicas que fazem alusão ao período, colaborando com o resgate da memória daqueles anos. 



Em 2009, o Comitê Federal de Radiodifusão (Comfer), divulgou um documento com uma lista borrada, embora legível, das músicas censuradas entre os anos de 1978 e 1983. Os nomes que integram a “lista negra” vão desde artistas populares argentinos a sucessos internacionais, como John Lennon, Eric Clapton (Cocaine), Queen e Pink Floyd (The Wall). 



Roberto Carlos 



Até mesmo canções do brasileiro Roberto Carlos figuravam na lista de proibições, sob o título de “não aptas para serem difundidas pelo serviço de rádiodifusão”. Canções como O seu corpo e Imoral, ilegal ou engorda e Os seus botões, compostas com Erasmo Carlos, viraram alvo dos censores e não podiam ser tocadas. 



Café da manhã, ou Desayuno, provavelmente não agradava os militares pelos versos “pensando bem/ amanhã eu nem vou trabalhar/ e além do mais/ temos tantas razões pra ficar”, que em espanhol terminaram traduzidos para: “pensando bem/ amanhã eu não vou trabalhar/ e além do mais/ não há razão que me vá obrigar”. 



Artistas de prosa mais revolucionária foram perseguidos, situação vivida pelos compositores argentinos Armando Tejada Gómez e César Isella, que em Triunfo Agrário conclamavam que “é preciso virar a mesa/ quem não muda tudo/ não muda nada”. No listado da censura, as autoridades proíbem músicas de emblemáticos artistas argentinos, como León Gieco, Charly García, Mercedes Sosa e Luis Alberto Spinetta. 




 
Gieco em 2005, em uma apresentação na Casa Rosada 



O rock, gênero jovem, expressão de conotação sexual mais liberada, que fomenta rebeldia às normas, ao sistema e, em alguns casos, com menções a drogas e ao hippismo, teve que se camuflar para coexistir com o regime. Os militares viam no gênero um perigo ao ideal familiar tradicional católico. 



Charly García 



A dupla Sui Géneris, formada por Charly García e Nito Mestre em 1967, se separou em 1974, quando ambos decidiram “viver mais, e não tentar sobreviver”. Pequeñas anécdotas sobre las instituciones, com referências contra o regime, foi duramente proibido. Charly declarou em entrevistas que o LP “foi destroçado pela censura”. “Mesmo hoje, em democracia, tente fazer uma canção contra a igreja. As pessoas podem ficar muito nervosas”, garantiu. 



O cantor, no entanto, não se calou. Com uma nova banda La Máquina de Hacer Pájaros, denunciou a “paranóia na cidade” gerada com as notícias de desaparecidos e torturas, “você cobre o seu cabelo e sua cara tão bem/ como se tivesse frio/ mas na verdade você quer escapar/ de alguma confusão”. 



Suas canções com críticas mais explícitas à ditadura, como No bombardeen Buenos Aires e Nos siguen pegando abajo foram censuradas. Uma canção com sua nova banda, Serú Girán, um dos maiores destaques argentinos do rock dos anos 1980, utiliza o conto Alice através do espelho, de Lewis Carroll, como “desabafo”: “Não conte o que tem atrás daquele espelho/ você não terá advogados nem testemunhas/ acenda os candis que os bruxos/ pensam em voltar/ para nublar nosso caminho”. Censurada. 



Até mesmo conteúdos mais inocentes, como composições de Palito Ortega, entraram na mira da censura. No final dos anos 1970, a maioria dos artistas resistentes ao regime havia saído do país. Os shows não chegaram a ser proibidos, mas era normal que o público se deparasse com um policiamento violento ao sair dos estádios. 



No livro Música y Dictadura – Por qué cantábamos, os autores Laura Santos, Alejandro Petrucelli e Pablo Morgade revelam que os cantores populares se sentiam mais perseguidos que os roqueiros. No lançamento da obra, em 2008, os autores contaram que o presidente da Comfer na ditadura, o ex-general Rodolfo Feroglio, continuava mantendo a versão de que não houve censura, mesmo diante de resoluções de veto assinadas por ele. 



Perseguição 



Um exemplo da violência nos métodos de censura foi o sequestro e posterior assassinato do pianista Miguel Ángel Estrella em Motevidéu, no ano de 1977, a mando de militares argentinos. O crime? Realizar apresentações gratuitas de música clássica para camponeses de Tucumán. O artista passou por uma sessão de tortura, em que, com uma serra elétrica, lhe ameaçavam cortar as mãos. 



Outra vítima das perseguições foi o cantor e compositor portenho Victor Heredia, que em seu discoAquellos soldaditos de plomo, de 1983, incluiu uma canção que virou um dos hinos da resistência. “Ainda cantamos, ainda pedimos/ ainda sonhamos, ainda esperamos/ apesar dos golpes/ que desferiu em nossas vidas/ o engenho do ódio/ desterrando ao esquecimento/ nossos seres queridos”. Em uma busca constante de sua irmã e seu cunhado desaparecidos, que engrossam a lista dos 30 mil desaparecidos, ele foi um dos artistas que permaneceram no país durante o regime militar. 



Em 1978, León Gieco compôs sua música mais famosa Sólo le pido a Dios, interpretada em 1986 pela cantora Beth Carvalho. Mensagem de versos pacifistas contra a guerra (“é um monstro grande e pisa forte/ em toda a pobre inocência das pessoas”), a música é a escolhida por Gieco para o desfecho de todos os seus shows. 



Retorno 



Em 1983, a volta dos exilados foi incentivada pelo enfraquecimento do regime. O abrandamento da repressão permitiu que novas manifestações acerca de tudo o que tinha se desenrolado começassem a emergir. Uma delas, composta pelo grupo Twist, Pensé que se trataban de cieguitos, explicita a dinâmica dos desaparecimentos, muitas vezes injustificados. A música narra em primeira pessoa a história de um jovem que, em um sábado à noite de calor, decide ir ao cinema e termina preso. 



Já a banda Fabulosos Cadillacs incorporou no repertório do disco El León, de 1992, a músicaDesapariciones, de 1984, composta pelo panamenho Rubén Blades, ferrenho crítico dos regimes repressores instaurados na América Latina no último século. 



Já em 1998, o grupo de rock Bersuit Vergarabat compôs a música Vuelos (já meus olhos são barro/ na inundação/ que cresce, decresce/ aparece e se vai), em homenagem ao jornalista Horacio Verbistky, autor do livro El Vuelo, uma investigação sobre os chamados “vôos da morte” (em que prisioneiros eram atirados ao mar de um avião) e sobre a cumplicidade da igreja católica com a ditadura. 






O documento publicado pelo Comfer contém quase 200 músicas, listadas em sete páginas. Muitas delas, hoje são grandes sucessos no país, o que prova a alta capacidade de resistência de sua cultura, inspirada, basicamente, na necessidade de liberdade. 




Nota do Blog

Ouçam também as duas bandas argentinas abaixo, além de politizadas, fazem um ótimo som:

Carajo - El Error



ver-s



Todos Tus Muertos "Mate"