segunda-feira, 7 de março de 2011

“Lope” retrata juventude do dramaturgo espanhol Lope de Vega (1562-1635)


Será que o Andrucha Waddington, diretor global (cria da Rede Globo) acertou a mão dessa vez? Seus primeiros trabalhos foram horríveis, mas esta é uma co-produção, uma chance dele mostrar a que veio. Vale conferir.


Lope de Vega (1562-1635) é o William Shakespeare da Espanha. Autor de mais de 400 comédias, 42 autos e centenas de poemas, ele é retratado na juventude neste filme, dirigido com bastante liberdade pelo brasileiro Andrucha Waddington (Eu Tu Eles, Casa de Areia), aqui realizando seu primeiro trabalho internacional.

Na Espanha, Lope venceu dois Goya, o principal prêmio do país: melhor canção original (Que el soneto nos tome por sorpresa, do uruguaio Jorge Drexler) e melhor figurino.
Retratando, como ele mesmo define, “o Lope antes do Lope”, ou seja, o jovem poeta antes da transformação em mito, Andrucha assina um filme de época sem o ranço habitual do gênero.
Suprema heresia do ponto de vista dos espanhóis, escalou um ator argentino, Alberto Ammann, para interpretar o protagonista – o que lhe valeu não poucas críticas sobre o sotaque do protagonista. Para quem não é falante nativo do idioma espanhol, no entanto, não é possível identificar esse detalhe, se é que a reclamação procede.
Com roteiro de Jordi Gasull e Ignacio Del Moral, o filme flui nas suas intrigas, especialmente amorosas – que, nessa fase da vida do personagem, estão totalmente implicadas no seu início profissional.
Lope vem de uma família modesta, filho da viúva Paquita (Sonia Braga, oculta por uma maquiagem de envelhecimento que a torna virtualmente irreconhecível). Tem um irmão, Juan (Antonio de La Torre). Os dois acabam de voltar da guerra e tentam encontrar trabalho para sobreviver, o que na época era dificílimo. Lope, aliás, só pensa na poesia e no teatro. Faz sucesso com as mulheres por conta de sua arte com as palavras.
Elena Osorio (Pilar López de Ayala) é uma dessas mulheres que será seduzida pela verve do jovem poeta. Apesar de ser casada, seu marido vive distante. E seu pai é um poderoso empresário teatral em Madri, Velasquez (Juan Diego), o que torna a paixão de Elena muito conveniente para Lope. O rapaz acaba encenando suas peças no teatro dele, embora sem muitas compensações financeiras – o esperto empresário explora seu sucesso em proveito próprio.
O coração do inconstante dramaturgo balança também por Isabel de Urbina (Leonor Watling, de Fale Com Ela), uma jovem de família rica e bem mais pudica e religiosa do que Elena. Por conta desse imbróglio amoroso, Lope vai se ver em apuros, inclusive nos tribunais.
Outro ator brasileiro do elenco é Selton Mello, que interpreta um nobre português, o marquês de Navas – que costuma encomendar versos a Lope para fazer bonito nas festas e conquistar namoradas.
Outras fontes de críticas ao filme estão nas assumidas liberdades em relação à fidelidade histórica e também em sua procura pelo naturalismo, nos cenários e figurinos. É uma Madri suja a que se vê na tela, com personagens muitas vezes usando roupas gastas e puídas – como o diretor brasileiro, baseado em pesquisas, garante que acontecia na época que o filme retrata, o século 16. Andrucha procurou referências na obra de diversos pintores da época, como Velázquez.

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