quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Situação de adolescentes no Brasil é inaceitável, diz Unicef


A pesquisa sobre a Situação da Adolescência Brasileira 2011, do Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), mostrou que 3,7 milhões - ou 17,6% - dos jovens entre 12 e 17 anos do Brasil vivem na extrema pobreza, ou seja, com até um quarto de salário mínimo per capita. 
Além desse grupo, mais 7,9 milhões de jovens - ou 38% - vivem em residências em que a renda familiar per capita é inferior a meio salário mínimo. A pesquisa foi divulgada nesta quarta-feira (30) pela Unicef, os dados são referentes aos anos de 2004 e 2009.
Segundo o coordenador de programas da Unicef para os estados de São Paulo e Minas Gerais, Sílvio Kaloustian, os números são intoleráveis, tendo em vista que eles envolvem 11,6 milhões de jovens, o que representa uma grande parcela da sociedade.
“Analisamos dez indicadores, o Brasil melhorou em oito. Porém, piorou em um, que é em relação à pobreza. Permanece igual no tocante a morte violenta. São dados inaceitáveis no plano de direito que deveria garantir a plena efetivação desses adolescentes como cidadãos.”
A pesquisa também avalia casos de HIV/Aids. Para cada oito meninos de 13 a 19 anos infectados, há dez meninas com o mesmo vírus.
A pesquisa também aponta que a situação dos adolescentes negros e indígenas é a mais preocupante. Nesses grupos, os reflexos dos números são mais severos.  Para se ter uma idéia, um jovem negro entre 12 e 18 anos, tem o risco 3,7 vezes maior de ser assassinado.  E um indígena, por exemplo, tem 3 vezes mais chance de ser analfabeto.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

ALBA denuncia perigos em negociações de Durban

  
Imagen activa(Prensa Latina) A Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA) denunciou hoje que em Durban existe o perigo de que seja sepultado o Protocolo de Kioto e também o espírito da Convenção da ONU sobre mudança climática.
Mais:
"E este é o momento de evitar uma situação terrível, a morte do Protocolo e da Convenção", expressou em conferência de imprensa René Orellana, chefe do grupo negociador da Bolívia.

O diplomata alertou sobre a postura de um grupo de países desenvolvidos que descartam ser parte de um segundo período de compromissos do acordo de Kioto.

Essas nações alegam que não é necessário um acordo como o de Kioto, etiquetado de forte, estrito e rígido, mas sim promover outro instrumento jurídico, cujo conteúdo não está claro, nem suas normas, nem quanto de flexibilidade terá, comentou Orellana.

Estamos muito preocupados pela possibilidade de que se jogue por terra o Protocolo, com seus mecanismos, seus mandatos, suas regulações, suas metas de diminuição, para instaurar outro que não ofereça as condições necessárias para fazer frente à mudança climática, indicou o especialista.

Por sua vez, Pedro Luis Pedroso, subdiretor de Assuntos Multilaterais da chancelaria cubana, considerou que a pergunta fundamental é se mantemos um sistema baseado em regras ou vamos a um sistema totalmente anárquico.

"E não só para manter e fortalecer o sistema baseado em regras. Os [países] desenvolvidos dizem que estão dispostos a conversar sobre outras formas possíveis, mas que primeiro devemos cancelar todos os aspectos acordados na negociação, desde o Plano de Ação de Bali", assinalou o diplomata.

A XIII Conferência Climática de Bali, Indonésia, lançou o processo negociador em torno de quatro grandes temas: adaptação, diminuição, transferência de tecnologia e financiamento, com vistas a conseguir um acordo para final de 2009, na reunião seguinte em Copenhague.

O objetivo era garantir a continuidade do processo negociador para além do primeiro período de compromissos do Protocolo de Kioto.

Este documento foi assinado em 1997, ratificado por 156 governos e, ao final, recusado por dois dos principais contaminantes do mundo, Estados Unidos e Austrália.

Estabelece o objetivo de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em uma média de 5,2 por cento com relação aos níveis de 1990 para o ano 2012.

Ontem, o ministro de Meio Ambiente do Canadá,ÂáPeter Kent, confirmou que seu país se apartará do Protocolo, inclusive qualificou de erro a postura do Governo que assinou o acordo.

Referente ao Fundo Climático Verde, na coletiva de imprensa da ALBA, a chefa do grupo negociador da Venezuela, Claudia Salerno, manifestou que este é um dos temas mais importantes que devem ser abordados e resolvidos em Durban.

"E deve ser tratado de maneira transparente e inclusiva", assinalou Salerno.

O fundo, cuja criação foi aprovada em Cancún, destinaria 100 bilhões de dólares anuais a partir de 2020 para os países subdesenvolvidos, soma que seria destinada a ações de dimunuição das emissões e medidas de adaptação à mudança climática.

Além de Bolívia, Cuba e Venezuela, a ALBA está integrada por Nicarágua, Equador, Antigua e Barbuda, Dominica e São Vicente e as Granadinas.



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Jornal Público de Caracas (Quando teremos um desses por aqui?)

Pátria Latina

Depoimento de Ernesto Villegas *,  diretor do jornal diário CIUDAD CARACAS (CCS), produzido e distribuído gratuitamente pela Prefeitura de Caracas (República Bolivariana da Venezuela)

Temos um jornal gratuito editado pela Prefeitura de Caracas, contando com a iniciativa do prefeito Jorge Rodrigues (PSUV) para que as comunidades caraquenhas tenham um porta-voz, um meio impresso, através do qual informar-se e também manifestar suas demandas, reclamações e expectativas, e sobretudo, compartilhar as experiências das organizações comunitárias, de transformação revolucionária que têm ocorrido paulatinamente, com muitos problemas, dificuldades, com ritmos dissimilares, mas que são, da mesma forma que o jornal, expressões de que na Venezuela estão ocorrendo mudanças revolucionárias.

Essa é também uma maneira de saltar, ou driblar o cerco midiático que as empresas de comunicação que editam jornais, que difundem seu sinal através da rádio e da televisão exercem em relação ao governo venezuelano e também às distintas gestões de prefeitos e governadores em cada um dos estados.

No caso de Caracas, em particular, inclusive alguns Diários que parecem identificados com a revolução, por exemplo,” Últimas Notícias”, que tem um diretor que é afinado com o presidente Chávez, porém, mantém no âmbito de Caracas uma oposição sistemática e de hostilidade à gestão do prefeito Jorge Rodrigues. Portanto, este jornal, “Ciudad Caracas” (CCS) permite um oxigênio jornalístico no sentido de que a prefeitura tem um lugar onde pode comunicar à população os avanços da sua gestão, suas diversas iniciativas, e suas posições públicas.

Porém, não é um jornal institucional, mas um jornal de informação geral. Se você ler suas páginas verá que há informações internacionais, desportivas, culturais, seções dedicadas às mais diversas áreas de interesse dos jovens, receitas de cozinha, temas sobre a luta pelo meio ambiente, uma infinidade de conteúdos que não permitem dizer que é um jornal institucional. E possui mecanismos que fazem parte da espinha dorsal de um grande jornal de participação das pessoas na confecção do próprio diário.

Há pessoas que desde as distintas comunidades escrevem como se fossem jornalistas, e contam, relatam ao resto da cidade, os fatos que estão ocorrendo na comunidade. Falam sobre o andamento dos conselhos comunais, das reuniões técnicas sobre o abastecimento da água, dos Comitês de terras urbanas, dos Comitês de saúde, que estão no quotidiano da Venezuela, porém não são visibilizados pela imprensa tradicional capitalista.

Há o maior interesse em que suas experiências sejam divulgadas neste jornal e nós preferimos divulgar essas notas que sejam feitas pelas pessoas simples, onde apareçam o nome do autor e a proveniência. Também o cidadão, como indivíduo tem a oportunidade de fazer denúncias no jornal; há pedidos e reclamações à burocracia, como aos fautores do poder capitalista privado. Refiro-me aos ministérios, aos gabinetes e institutos da própria prefeitura.

Aqui no jornal publicamos queixas, denúncias e reclamações do povo contra organismos da própria prefeitura de Caracas. Tratamos sim de dar uma resposta oficial, de modo que o responsável de uma determinada situação irregular se comprometa publicamente com a solução de um problema determinado. Publicamos, ao mesmo tempo, reclamações sobre o que fazem ou deixam de fazer as empresas privadas como as de telecomunicações, os Bancos, que na imprensa capitalista normalmente são intocáveis. Estamos abertos a esse conteúdo.

Nós lutamos pelo socialismo e pela libertação, pela independência e pela igualdade.  Quanto a isso somos claros perante os nossos leitores.  Nós estamos com a revolução, apesar de que dentro da mesma existe um amplo campo para exercer o jornalismo. Não quer dizer que um jornalismo militante deixe de olhar os problemas quotidianos das pessoas, ao contrário, o jornalismo revolucionário deve ter um paradigma novo, muito próximo às angústias quotidianas das pessoas. Os problemas que existem na nossa sociedade, inclusive sob governos revolucionários que pretendem transformar a sociedade. Creio que não contribui um militante que se faça de cego ou mudo diante dos problemas quotidianos do povo.

O jornal é gratuito e se editam 120.000 exemplares diários.  Estão todos os dias na rua, de 2ª. à 6ª. feira. De sábado a domingo baixamos a tiragem a 60.000. Isso porque o jornal é destinado fundamentalmente às pessoas que estão indo ao trabalho, às universidades, aos colégios, caminhando pela cidade. São distribuídos fundamentalmente nas estações de metrô de Caracas; nas portas de metrô bem cedo na manhã, se encontram nossos difusores distribuindo o jornal.

Temos mais de 100 difusores com seus respectivos supervisores que controlam que o jornal esteja efetivamente sendo distribuído. Nós temos também 1.400 pontos de distribuição em instituições públicas, nas universidades, nas companhias de aviação, enfim, em infinidades de lugares onde as pessoas podem recolher um exemplar do jornal, e estamos muito felizes de ter uma grande aceitação entre os venezuelanos que na sua maioria não liam antes jornal. Abrimos a possibilidade de que pessoas que não eram leitoras de jornal, possam começar a sê-lo.

A prefeitura dá os recursos. O prefeito esclarece que não se trata de um gasto, mas de um investimento para contribuir a que os caraquenhos e caraquenhas exerçam seus direitos a estar informados e informar. Este é um investimento, não é um gasto. Também temos espaços para que organismos do estado paguem com propaganda institucional. Isso ajuda a mitigar os altos custos que significa imprimir um jornal. Temos raramente publicidades privadas. Estamos por discutir isso. Não estaríamos de acordo, por exemplo, em publicidades sobre licores, nem jogos de azar. Dependendo do caso, se abre à publicidade privada, mas raramente.

Nós começamos a distribuir este jornal  fora da área do município. Portato, nos expandimos em direção ao que chamamos a Grande Caracas, que vai além do município Libertador, a Los Teques, às chamadas cidades dormitório, Guarena Guatire, cidades mirandinas; enfim, o jornal se está expandindo em direção à periferia.


Fascismo avança no mundo: Os Ovos da Serpente na Grande Depressão Pós-Moderna da Grécia

Que partido é este LAOS, da extrema direita, que entrou no governo “tecnocrata” de Lucas Papademos, apresentado como de “unidade nacional”? Por Yanis Varoufakis
Uma breve história da penetração racista/fascita/neonazi do novo governo “tecnocrata” da Grécia provará o pior legado de George Papandreu: esta manobra infantil no último momento para maximizar o decrescente controlo do poder (enquanto negociava o seu despedimento do cargo de primeiro-ministro), trouxe para o governo de “unidade nacional” quatro racistas confessos (alguns dos quais são neofascistas e um deles é um conhecido neonazi). É também bastante irónico: a grande qualidade do Sr. Papandreu tem sido o seu cosmopolitismo, o seu antinacionalismo demonstrado, um compromisso genuíno para com as minorias e uma intolerância profunda relativamente ao racismo. Caramba, é este o engodo do poder, parece que a entrada para o novo governo de um ministro e três sub-ministros representando o LAOS (um pequeno partido de extrema direita) foi cinicamente considerado um pequeno preço a pagar, em vez de conceder mais controlo aos oponentes políticos do Sr. Papandreu nos dois grandes partidos – o seu próprio PASOK e a Nova Democracia, a oposição conservadora.
Para o não gregos que viram com a respiração suspensa a tomada de posse do ovo da serpente, estas notícias vindas da Grécia soaram terríveis. E deveriam! Pois uma vez mais a Grande Depressão deu lugar a uma nova espiral de fascismo. E embora a Grécia seja pequena e deva ser irrelevante, o seu passado gerou grandes perigos para o mundo. Não esqueçamos, a Guerra Fria não começou nas ruas de Berlim mas nos becos de Atenas em Dezembro de 1944. A Grécia foi também um dos primeiros países a estabelecer um regime claramente fascista após o Crash de 1929: a ditadura de Metaxas em 1936. Mais recentemente, um golpe apoiado pela CIA trouxe para o poder fascistas gregos seis anos antes do General Pinochet lançar os seus tanques contra o palácio presidencial em Santiago (do Chile), certamente inspirado pelo “sucesso” dos seus confrades gregos. Atualmente, com a Grécia a liderar a Europa no mergulho de cabeça numa nova recessão e uma desintegração completa com notas racistas (os alemães a desprezarem os gregos e vice-versa), é tempo de o mundo se dar conta. Reparar na ironia do fim trágico de Papandreu não é suficiente. Os progressistas à volta do mundo têm de permanecer vigilantes.
A breve história do partido LAOS
O parceiro júnior do governo do Sr. Lucas Papademos é um partido chamado LAOS. O seu acrónimo significa Comício Popular Ortodoxo mas forma a palavra grega para “povo”, ou o equivalente do alemão “volk”. O seu líder é um Sr. George Karatzaferis (foto); um ex-jornalista de televisão de terceira categoria com um sentido especial para os benefícios do apelo, via meios populistas de direita, à direita do partido conservador. Na década de 1980, quando a sua carreira de televisão recusava-se a arrancar nos grandes canais, ele investiu astutamente num pequeno canal próprio (chamado Telecity) o qual usou, ao jeito norte-americano, como um feudo pessoal. À base de queixas na TV carregadas de notas racistas, conseguiu, imperturbável pela péssima qualidade dos seus programas, assegurar um bando de fiéis espetadores da direita e da classe baixa. As suas armas são três:
. ataques incessantes contra o partido socialista, PASOK; especialmente Andreas Papandreou (pai de George Papandreu);
. uma campanha racista incontrolável que se serviu da apreensão da sociedade grega apanhada por um fluxo súbito de imigrantes, especialmente albaneses (a seguir à implosão do país vizinho da Grécia em 1991),
. uma onda nacional de raiva e baixa auto-estima acentuada pela queda da Jugoslávia após 1991 que levou à ex-república jugoslava, Macedónia, a procurar independência sob o nome de República da Macedónia; um evento que despoletou uma histeria nacionalista na Grécia, não confinada (deve ser dito) à direita do espectro político.
No início, Karatzaferis atuou como um populista no interior do principal partido conservador, o Nova Democracia. De facto, com a cortesia da estação televisiva e o seu pequeno mas fiel bando de seguidores, conseguiu ser eleito em Atenas deputado da Nova Democracia com uma maioria clara. Não obstante, a liderança da Nova Democracia, enquanto tentava controlá-lo, nunca lhe deu um alto cargo dentro do partido. E quando este entrou num período de intensas divisões internas (como resultado dos grandes resultados do PASOK nos anos 90), Karatzaferis parecia ter apostado no cavalo errado ao encontrar-se marginalizado no interior do partido. [A sua separação da Nova Democracia chegou quando o porta-voz, um jovem bem apresentado que era politicamente chegado ao líder do partido, insinuou inequivocamente que ele era homossexual.] Nesse ponto, o sr. Karatzaferis tomou a decisão de sair da Nova Democracia e usou o poder combinado da sua posição como deputado e o seu lamentável (no que respeita a qualidade) canal de TV para começar um partido de extrema-direita. A escolha do acrónimo, LAOS, agradou à Igreja Ortodoxa Grega (o “O” em LAOS significa “ortodoxo”) enquanto que as suas queixas anti-imigrantes foram dirigidas a (a) gregos desanimados (desempregados, pequeno burgueses em stress, etc.) e (b) vários neofascistas.
A julgar pelo pessoal escolhido para o LAOS, era fácil ignorá-lo como uma falsa partida. Nenhum deles tinha glória alguma na política dominante. Compreendiam alguns líricos sobre o glorioso passado grego não-existente, reminiscências de velhos monárquicos (alheados da direita dominante desde 1975 quando a sua liderança aderiu ao republicanismo), um pequeno bando de apoiantes da ditadura fascista de 1967-1974 e, o mais importante, um pequeno mas dinâmico bando de jovens apoiantes que necessitavam de encontrar um 'asilo político' para as suas narrativas anti-imigrantes (para as quais a sociedade não tinha tempo). Crucialmente, dentro desta mistura de grupos de direitosos sem nenhum sentido ideológico sério, duas figuras sobressaem: o Sr. Voridis e o sr. Plevris. Dois jovens com uma posição política não comprometida e planos definidos para o LAOS.
Dois exemplos dos adeptos do LAOS
Enquanto o sr. Karatzaferis é um líder acidental, e provavelmente não é mais racista do que muitos políticos dos partidos dominantes (no sentido de que ele só formou o LAOS quando achou que as suas fortunas pessoais seriam melhor servidas desta maneira do que continuar no Nova Democracia; e depois deu o toque racista para diferenciar o seu “produto”), o mesmo não se pode dizer de algumas luzes do LAOS. Aqui estão dois exemplos.
Plevris é filho de primeiro ideólogo grego nazi pós-guerra. Por favor, repare que o uso do termo nazi não é uma tentativa de insultá-lo. Pois o sr. Plevris está orgulhoso disso (Nacional Socialista era, devo admitir, o seu termo preferido embora ele não se importasse de ser chamado de Nazi). Os seus livros e publicações esforçaram-se por defender a versão “nacional-socialista” da História, incluindo a ardente perseguição dos Judeus (como uma defesa natural do povo ariano contra a conspiração judaica), por negar o Holocausto, por defender sistematicamente a ocupação da Grécia, etc. etc. De facto, o pai Plevris formou algumas organizações neonazis depois de 1974 e demonstrou a determinação incrível ao manter a sua posição neonazi numa altura em que a esquerda grega ressurgia e extrema-direita se retirava. Fosse o sr. Plevris mais novo, teria desempenhado um papel ativo no LAOS. O melhor, como veio a acontecer, foi que ele promoveu o seu filho dentro do partido – o resultado é que Plevris Junior é agora um deputado. Embora seja importante não presumir que um filho tem necessariamente de carregar a responsabilidade pelas ideias e atividades políticas do pai, no caso de Plevris Junior ele não questionou (pelo menos em público) o considerável legado do pai.
Deixem-me agora falar de um segundo jovem, o sr. Voridis, que agora é ministro do governo (com a pasta das Obras Públicas). Voridis é um ativista neonazi com um passado de violência (ele é conhecido por tomar parte nos ataques contra os estudantes e ativistas de esquerda) mas também um burguês (formou-se no American College of Atherns, uma grande incubadora da elite grega). Embora ele agora negue ser nazi e designe-se como nacionalista, nunca negou a essência do seu passado antissemita e anti-imigrante. Fala bem e sabe como apelar à ansiedade das pessoas enquanto mascara o lado mais negro da sua ideologia pútrida.
A “Cultura” do LAOS
Recordo, não há muito anos atrás, que na altura do meu regresso à Grécia vindo da Austrália, tratava do meu “jetlag”, durante a madrugada, a ver o Telecity, a repugnante estação televisiva do sr. Karatzaferis. Era hilariante. Até hoje não esqueci um programa em que um maluco de direita explicava um argumento que, confesso, não previ.
Começou por declarar que, embora fosse um cristão ortodoxo devoto, acreditava agora em Darwin. Isto chamou a minha atenção e continuei a ver. Ele falou e falou sobre como os registos fósseis tornam claro que as objeções cristãs ao darwinismo não eram sustentáveis. Apesar de ele não parecer discursar como um lunático, soava eminentemente razoável. Até que a certo ponto ele perguntava: “Mas há alguma evidência de que nós, gregos, o povo escolhido que iluminou a civilização, evoluiu a partir dos macacos? É isto possível, pergunto-vos? Claro que não!” Nessa altura eu era todo ouvidos e olhos. “Que poderia ter ele na manga?”, questionei.
A minha incredulidade cresceu quando o apresentador começou a mostrar fotografias aéreas de uma montanha perto de Atenas, alegando que revelavam a existência de estradas antigas, grutas e túneis. Depois de todas as provas terem sido exibidas, veio o golpe de mestre: era claro para ele que o puzzle tinha sido resolvido: o gregos eram, ao contrário do resto da humanidade (que descendeu, de facto, dos macacos), os descendentes de uma über raça de extra-terrestres. Desisti de ver mais.
O perigo
A maioria dos gregos lembra-se de narrativas ridículas associadas ao LAOS do género das que relatei. É normal, portanto, que muitos não consigam levar o LAOS a sério. No grande esquema dos problemas gregos, a maioria pensa que o LAOS é uma distração que amanhã desaparecerá. Estão no governo devido à tática tola de Papandreu mas vão regressar à margem em breve. Esta é uma perigosa armadilha. Racismo oficial no poder, mesmo que o governo não dure muito, envenena a sociedade inteira a longo prazo. Os ovos da serpente, uma vez chocados, terão a capacidade para espalhar o seu veneno longe, em larga escala e profundamente. Uma vez libertado, o antissemitismo, como já deveríamos saber, faz o seu trabalho subterraneamente e com pleno equilíbrio. Para já, um deputado muçulmano do PASOK do norte da Grécia, recusou dar o seu voto de confiança ao novo governo. Imediatamente, o LAOS agarrou a oportunidade para debater, através do seu líder oportunista, que isto era uma coisa boa, pois mostra que o governo turco está descontente com a presença de verdadeiros patriotas no novo governo grego. Note-se como o racismo está a forjar divisões dentro da sociedade grega (tornando o representante muçulmano numa figura do tipo Dreyfus) e, também, está a criar novas clivagens entre os gregos e os seus vizinhos após anos de progresso substancial para tapá-las (progresso que é em grande parte devido ao bom trabalho de George Papandreu enquanto Ministro dos Negócios Estrangeiros).
A âmago do problema
1929 devia ter-nos ensinado que duas coisas acontecem após o colapso da banca, dívida e da economia real: primeiro, a moeda normal contrai-se e morre (o padrão-ouro na altura, o euro agora). Segundo, o racismo mostra a sua cara horrenda, consegue entrada no governo e, antes de darmos conta, torna impossível encontrar meios civilizados para contrariar a crise. Toda a conversa sobre o governo tecnocrata pró-europeu na Grécia, e a verdade é que tem um lado terrível que já chocou os ovos. É melhor que o mundo tome cuidado.



domingo, 27 de novembro de 2011

Choque no #OcupaSampa – visitinha às 4h da madrugada

Todo apoio ao #OcupaSampa !



OcupaSampa


Durante a madrugada deste sábado, por volta das 4 horas, a Tropa de Choque se posicionou frente a frente com os manifestantes e obrigou o Acampa | Ocupa Sampa a retirar as barracas.

Nós, do Ocupa | Acampa Sampa, vimos a público manifestar nosso repúdio às ações da Polícia Militar do Estado de São Paulo que se dão durante a calada da noite, quando os movimentos sociais não têm tanto suporte e quando há menor a visibilidade da sociedade.
Entendemos que, se a Polícia está fazendo o que é “certo”, então que faça durante a luz do dia, com transparência de suas ações para a sociedade que a sustenta. É o nosso dinheiro que mantém esta instituição e é um absurdo que ela exista para reprimir aqueles que buscam por mudanças.
O Acampa | Ocupa Sampa conseguiu evitar o confronto, pois busca sempre o diálogo. Acreditamos na não-violência e vamos sempre prezar por isso, mas também deixamos claro que não seremos submissos à esta polícia violenta e à este Estado excludente. Por isso abaixamos nossa barraca conforme solicitado, mas em nova assembleia relembramos e afirmamos que somos um movimento de Acampada e entendemos que nossas barracas são parte da nossa manifestação e não podem ser desarmadas. Nossas barracas são nossas barricadas!
O direito de livre manifestação e reunião é garantido pela Constituição. Não vamos abrir mão disso!
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Beth Carvalho: "A CIA quer acabar com o samba"



Beth Carvalho, 65 anos, no hall de entrada de sua casa



Ao abrir o elevador, ainda no hall de entrada do apartamento, um quadro com a foto de Che Guevara. Não há dúvidas. Ali é o andar de Beth Carvalho. Ela surge na sala, amparada por duas muletas, que logo deixa de lado para posar para as fotos. “Nunca vi coisa para cair mais do que muletas. Estas meninas caem toda hora”, diz, bem-humorada.
Ainda se recuperando de uma fissura no sacro (osso do final da coluna), aos 65 anos, Beth anda com dificuldades. Ficou dois anos sem pôr os pés no chão. “Estou ótima, salva! Os médicos comentaram com minha filha que eu poderia não andar mais. Mas não me abati. Foi um processo menos doloroso por perceber a prova de amor dos amigos e da família”, relata.
Após quinze anos, a sambista lança o CD de inéditas “Nosso samba tá na rua”, dedicado a dona Ivone Lara, com canções sobre a negritude, o amor e o feminismo. Uma das letras, “Arrasta a sandália”, é de autoria de sua filha, Luana Carvalho. Cercada de quadros de Cartola e Nelson Cavaquinho, entre almofadas verdes e rosas (cores de sua escola de samba Mangueira), perante uma estante com dezenas de troféus e outra com bonecos de Che, Fidel Castro e orixás, Beth concede a entrevista a seguir ao iG.
No fundo da janela, o mar de São Conrado, bairro vizinho à favela da Rocinha. “A CIA quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura”, diz a cantora, presidente de honra do PDT. Entre os fartos risos, também não faltaram palavras ríspidas para defender seu ponto de vista.
Baluartes em miniatura: Beth entre Dorival Caymmi, Nelson Cavaquinho, Tom Jobim, Cartola e Luiz Gonzaga



iG: Qual foi a sensação ao voltar a andar?

BETH CARVALHO: A pior da minha vida. Quando pus os pés pela primeira vez no chão, achei que nunca ia andar de novo. Parecia que não tinha mais pernas, sem força muscular. Depois, com a fisioterapia, a recuperação foi rápida. Precisei colocar dois parafusos de 15 cm cada um, só isso me fez voltar a andar. Agora sou interplanetária e biônica (risos).


iG: Em seu novo CD, a letra “Chega” é visivelmente feminista. Por que é raro o samba dar voz a mulheres?

BETH CARVALHO: O mundo, não só o samba, é machista. Melhorou bastante devido à luta das mulheres, mas a cada cinco minutos uma mulher apanha no Brasil. É um absurdo. Parece que está tudo bem, mas não é bem assim. Sempre fui ligada a movimentos libertários.


iG: De que forma o samba é machista?

BETH CARVALHO: A maioria dos sambistas é homem. Depois de mim, Clara Nunes e Alcione, as coisas melhoraram. O samba é machista, mas o papel da mulher é forte. O samba é matriarcal, na medida que dona Vicentina, dona Neuma, dona Zica comandam os bastidores da história. Eu, por exemplo, sou madrinha de muitos homens (risos).

"Não desanimo nunca. Minha esperança é a última que morre"

iG: A senhora é vizinha da favela da Rocinha. Como vê o processo de pacificação?

BETH CARVALHO: Faltou, por muitos anos, a força do estado nestas comunidades. Agora estão fazendo isso de maneira brutal e, de certa forma, necessária. Mas se não tiver o lado social junto, dando a posse de terreno para quem mora lá há tanto tempo, as pessoas vão continuar inseguras. E os morros virarão uma especulação imobiliária.


iG: Alguns culpam o governo Leonel Brizola (1983-1987/1991-1994) pelo fortalecimento do tráfico nos morros. A senhora, que era amiga do ex-governador, concorda?

BETH CARVALHO: Isso é muito injusto. É absurdo (diz em tom áspero). Se tivessem respeitado os Cieps, a atual geração não seria de viciados em crack, mas de pessoas bem informadas. Brizola discutia por que não metem o pé na porta nos condomínios da Avenida Viera Souto (em Ipanema) como metem nos barracos. Ele não podia fazer milagre.

Relíquia: o instrumento que foi de Nelson Cavaquinho

iG: Defende a permanência de Carlos Lupi no Ministério do Trabalho?

BETH CARVALHO: Olha, sou presidente de honra do PDT porque é um título carinhoso que Brizola me deu, mas não sou filiada ao PDT. Não tenho uma opinião formada sobre isso, porque não sei detalhes. Existe uma grande rigidez a partidos de esquerda. Fizeram isso com o PC do B do Orlando Silva, e agora fazem com o PDT. O que conheço do Lupi é uma pessoa muito correta. Eles deveriam ser menos perseguidos pela mídia.


iG: Aqui na sua casa há várias imagens de Che Guevara e de Fidel Castro. Acredita nomodelo socialista?

BETH CARVALHO: Eu só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade. Não tem outro (fala de forma enfática). Cuba diz ‘me deixem em paz’. Os Estados Unidos, com o bloqueio econômico, fazem sacanagem com um país pobre que só tem cana de açúcar e tabaco.


iG: Mas e a falta de liberdade de expressão em Cuba?

BETH CARVALHO: Eu não me sinto com liberdade de expressão no Brasil.

iG: Por quê?

BETH CARVALHO: Porque existe uma ditadura civil no Brasil. Você não pode falar mal de muita coisa.


iG: Como quais?

BETH CARVALHO: Não falo. Tem uma mídia aí que acaba com você. Existe uma censura. Não tem quase nenhum programa de TV ao vivo que nos permita ir lá falar o que pensamos. São todos gravados. Você não sabe que vai sair o que você falou, tudo tem edição. A censura está no ar.


iG: Mas em países como Cuba a censura é institucionalizada, não?

BETH CARVALHO: Não existe isso que você está falando, para começo de conversa. Cuba não precisa ter mais que um partido. É um partido contra todo o imperialismo dos Estados Unidos. Aqui a gente está acostumada a ter vários partidos e acha que isso é democracia.

"Só acredito no modelo socialista, é o único que pode salvar a humanidade"

iG: Este não seria um pensamento ultrapassado?

BETH CARVALHO: Meu Deus do céu! Estados Unidos têm ódio mortal da derrota para oito homens, incluindo Fidel e Che, que expulsaram os americanos usando apenas o idealismo cubano. Os americanos dormem e acordam pensando o dia inteiro em como acabar com Cuba. É muito difícil ter outro Fidel, outro Brizola, outro Lula. A cada cem anos você tem um Pixinguinha, um Cartola, um Vinicius de Moraes... A mesma coisa na liderança política. Não é questão de ditadura, é dificuldade de encontrar outro melhor para ocupar o cargo. É difícil encontrar outro Hugo Chávez.


iG: Chávez é acusado por muitos de ter acabado com a democracia na Venezuela.

BETH CARVALHO: Acabou com o quê? Com o quê? (indaga com voz alta)  - grande Beth, cala a boca dessa cambada de jornalista boçal do PIG que pensa pela cabeça do patrão!!!)


iG: Com a democracia...

BETH CARVALHO: Chávez é um grande líder, é uma maravilha aquele homem. Ele acabou com a exploração dos Estados Unidos. Onde tem petróleo estão os Estados Unidos. Chávez acabou com o analfabetismo na Venezuela, que é o foco dos Estados Unidos porque surgiu um líder eleito pelo povo. Houve uma tentativa de golpe dos americanos apoiada por uma rede de TV.

iG: A emissora que fazia oposição ao governo e que foi tirada do ar por Chávez... 

BETH CARVALHO: Não tirou do ar (fala em tom áspero). Não deu mais a concessão. É diferente. Aqui no Brasil o governo pode fazer a mesma coisa, televisão aberta é concessão pública. Por que vou dar concessão a quem deu um golpe sujo em mim? Tem todo direito de não dar.


iG: A senhora defende que o governo brasileiro deveria cassar TV que faz oposição?

BETH CARVALHO: Acho que se estiver devendo, deve cassar sim. Tem que ser o bonzinho eternamente? Isso não é liberdade de expressão, é falta de respeito com o presidente da República. Quem cassava direitos era a ditadura militar, é de direito não dar concessão. Isso eu apoio.

Che e Fidel "enfeitam" a estante da casa da sambista

iG: Por ser oriundo dos morros, o samba foi conivente com o poder paralelo dos traficantes?

BETH CARVALHO: Não, o samba teve prejuízo enorme. Hoje dificilmente se consegue senhoras para a ala das baianas nas escolas de samba. Elas estão nas igrejas evangélicas, proibidas de sambar. Não se vê mais garoto com tamborim na mão, vê com fuzil. O samba perdeu espaço para o funk.


iG: Quem é o culpado?

BETH CARVALHO: Isso tem tudo a ver com a CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), que quer acabar com o samba. É uma luta contra a cultura brasileira. Os Estados Unidos querem dominar o mundo através da cultura. Estas armas dos morros vêm de onde? Vem tudo de fora. Os Estados Unidos colocam armas aqui dentro para acabar com a cultura dos morros, nos fazendo achar que é paranoia da esquerda. Mas não é, não.


iG: O samba vai resistir a esta “guerra” que a senhora diz existir?

BETH CARVALHO: Samba é resistência. Meu disco é uma resistência, não deixa de ser uma passeata: “Nosso samba tá na rua”.