quarta-feira, 29 de maio de 2013

PMs que assassinaram jovem em cemitério são absolvidos. Existe justiça para o povo neste país?


No julgamento os policiais que mataram jovem em 2011 foram inocentados mesmo com testemunho de professora que estava no local

 PMs foram soltos logo após veredito.
 (Foto: internet.)
Na última quinta-feira, dia 23, os PM’s que executaram um jovem, Dileone Lacerda Aquino, em março de 2011, no cemitério Parque das Palmeiras em Ferraz de Vasconcelos, foram absolvidos por júri popular.
Já no dia seguinte ao julgamento o promotor público Sérgio Ricardo de Almeida pediu a anulação do júri e a designação de um novo julgamento dos PMs. Para o promotor, o "veredicto dos jurados foi manifestamente contrário à prova dos autos".
Os PMs, Felipe Daniel Silva e Ailton Vital da Silva foram absolvidos por quatro dos sete jurados. Os policiais estavam presos desde abril de 2011. A justificativa apresentada pelo advogado de defesa é que os policiais agiram em legítima defesa contra Dileone, que supostamente teria roubado uma van com medicamentos na companhia de outros dois criminosos.
Este caso teve repercussão nacional, pois foi denunciado por uma professora que presenciou a execução. Ela estava no cemitério na hora do ocorrido e ligou para o 190 e descreveu tudo em tempo real. "Olha, eu estou no Cemitério das Palmeiras, em Ferraz de Vasconcelos e a Polícia Militar acabou de entrar com uma viatura aqui dentro do cemitério, com uma pessoa dentro do carro, tirou essa pessoa do carro e deu um tiro. Eu estou aqui do lado da sepultura do meu pai." (transcrição da conversa ao telefone no dia e na hora do assassinato).
A professora e sua irmã, que também testemunhou o crime, fizeram o depoimento de maneira sigilosa sem a presença dos réus e da audiência, De acordo com o promotor de acusação, “elas viram o crime, viram que a vítima estava algemada e não reagiu ao receber o disparo", o que contrasta com a versão dos policiais que alegaram que Dione teria tentado segurar a arma dos policiais antes de levar um tiro na barriga.
A inocência destes policiais, evidentemente é uma farsa, em primeiro lugar porque além da testemunha, os casos de assassinato de inocentes pela PM paulistana são a regra e não a exceção. A alegação de morte seguida de resistência por parte do “suspeito” é utilizada em 99% dos casos em que pessoas são mortas pela polícia.
A Polícia Militar é uma máquina de execução de pessoas. Os polícias matam principalmente a população pobre e negra e depois apresentam um boletim de ocorrência falando que foi “resistência seguida de morte”. É necessário exigir a dissolução da PM e que a segurança seja feita pelas organizações populares e pelos próprios trabalhadores.

Para ver vídeo com a denúncia de execução, clique aqui.



terça-feira, 28 de maio de 2013

Criador da 1ª igreja rastafári é condenado por plantar maconha. Liberdade para Ras Geraldinho, preso político!

Geraldo Batista, o Ras Geraldinho, na sede da igreja rastafári com um pé de maconha; ele foi condenado a 14 anos de prisão por plantar maconha
Liberdade para Ras Geraldinho!



A primeira igreja rastafári do Brasil está vazia. Seu fundador, Ras Geraldinho --designação religiosa de Geraldo Antonio Baptista, 53,-- deve passar os próximos 14 anos preso por tráfico de drogas.

A sentença é resultado dos 37 pés de maconha --que o líder rastafári diz plantar para uso religioso-- encontrados pela Guarda Municipal de Americana em agosto de 2012 na sede da igreja, numa chácara da cidade a 127 km de SP.

Namorada de Ras Geraldinho, Marlene Martim, 50, diz estar perplexa com a decisão tomada pela Justiça neste mês. "A pena é maior do que para muitos assassinatos, estupros, sequestros", afirma.

Os guardas chegaram ao templo após deter dois jovens com maconha e vasos para o plantio da cânabis. Segundo o processo, eles indicaram a chácara como origem da droga.

Marlene nega. "Eles vieram aqui, contaram sobre a viagem que um deles fez, ficaram um tempo e foram embora."
Para Mauro Chaiben, um dos advogados de Ras Geraldinho, a condenação do líder rastafári vai contra as liberdades de consciência e religiosa, garantidas na Constituição.

"Tráfico pressupõe lucro, dinheiro, presença de armas, balanças de precisão, mas nada disso foi apresentado", diz.
A invasão à chácara no ano passado foi a terceira desde 2010. "Eles não tinham mandado, como em todas as outras vezes, e o Geraldo abriu a porta", diz Samir Gabriel Martim, 25, enteado do líder religioso.

Na sentença, o juiz Eugênio Augusto Clementi Júnior também determina a perda do imóvel, que deve ser transferido à União. "Sabíamos que o Ras seria condenado, pois os moradores de Americana conhecem a atuação rigorosa do juiz. Porém não tínhamos noção de que ele seria tão cruel", diz Marlene.

"Houve preconceito, intolerância religiosa e um conservadorismo que não enxergou os ventos que sopram no mundo na questão da descriminalização da cânabis."
O advogado cita trechos da sentença em que o juiz afirma que "se ele [Ras Geraldinho] quisesse seguir a religião deveria ir morar na Jamaica" (Que tal expulsarmos todos os protestantes para a Suíça e Alemanha, além dos judeus, muçulmanos, budistas, etc...) .

Para Daniela Skromov, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo, a decisão "vai na contramão de toda a discussão mais contemporânea sobre o assunto."

Segundo ela, os 14 anos a que Ras Geraldinho foi condenado excedem o normal. "Nunca vi uma pena dessa para tráfico. Muitas vezes, o cultivo é uma opção da pessoa para não aderir ao tráfico", diz.

Não é o que pensa o jurista Ives Gandra Martins (Cardeal da TFP que diz estar havendo perseguição aos brancos no Brasil). Para ele, a alegação que a maconha seria usada em rituais da igreja não pode ser considerada. "Quando se fala de liberdade religiosa, se fala em religiões clássicas, em que existem critérios e valores a serem adotados", afirma. (Mais preconceito que isso é impossível) 


ATIVISMO

Com fala pausada, Ras Geraldinho é capaz de passar horas falando das propriedades medicinais da maconha e do rastafarianismo -religião que nasceu na Jamaica no início do século 20 e que usa a palavra Jah em referência a Deus.

Marlene diz o mesmo. "O juiz quis dar um recado para o ativismo canábico com essa condenação estapafúrdia e acabou nos unindo. Vamos até as últimas instâncias, com mais e mais 'soldados'."

salém 




segunda-feira, 27 de maio de 2013

Com 3 milhões de jovens, São Paulo padece com falta de políticas específicas

Juventude em São Paulo


Coordenadoria da Juventude, deslocada por Haddad para estrutura de direitos humanos, precisa transformar R$ 500 mil e oito funcionários em inspiração para garantir avanços


Dona do maior contingente jovem do país e palco de problemas sociais que atingem especialmente a população com idade entre 15 e 29 anos, São Paulo parece ainda não ter despertado para a necessidade de estabelecer políticas públicas especificamente destinadas à juventude. ONGs, movimentos e entidades denunciam o reduzido espaço do tema dentro da administração municipal, que lhe dedica poucos funcionários e baixo orçamento. A estrutura está aquém da realidade paulistana. E se mostra ainda mais tímida se comparada à de outras capitais do país.

A prefeitura mandou à Câmara Municipal em abril o Projeto de Lei 237/2013 para reestruturar oficialmente suas secretarias. Aprovadas em maio, as mudanças priorizam as pastas de Direitos Humanos e Cidadania, Políticas para as Mulheres e Promoção da Igualdade Racial – todas elas criadas pela gestão Fernando Haddad (PT). As novas secretarias ficarão com 110 dos 348 novos cargos que o Executivo pretende viabilizar junto aos vereadores para pôr em prática uma de suas principais bandeiras de campanha: maior acesso dos paulistanos aos direitos da cidadania.

Durante a administração de Gilberto Kassab (PSD), as questões da juventude eram tratadas dentro da Secretaria de Participação e Parceria – que desapareceu com a ascensão do PT. A equipe herdada pela gestão atual é bastante reduzida: cinco cargos de confiança e três estagiários. A Coordenadoria de Juventude, hoje atrelada à Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, conta ainda com um auxiliar em cada uma das 31 subprefeituras da cidade, cujas funções foram muitas vezes desvirtuadas na gestão passada – e hoje ainda carecem de atribuição legal específica.

A reforma proposta pelo Executivo municipal deverá aumentar o número de quadros na coordenadoria, mas não na mesma proporção das outras áreas sociais. Caso seja aprovada, a reestruturação adicionará apenas mais três cargos à equipe da juventude em São Paulo. O time ficaria, portanto, com oito pessoas. O número de estagiários também deve aumentar dos três, que existem hoje em dia, para dez. "Além disso, estamos pedindo mais três servidores", afirma o coordenador de Juventude de São Paulo, Gabriel Medina. "Queremos chegar a uma equipe de pelo menos 20 pessoas."

Insuficiente

É um número tímido se comparado ao de outras capitais brasileiras. Recife, por exemplo, conta desde janeiro com uma secretaria dedicada ao tema. "Os jovens são os que mais sofrem com o desemprego na capital pernambucana, que é também a sexta cidade do país onde mais jovens são mortos de forma violenta", diz Marília Arraes, secretária de Juventude e Qualificação Profissional. A pasta conta com uma equipe de 60 pessoas. "Nosso objetivo é qualificar cada vez mais jovens, para que eles possam ser inseridos no mercado de trabalho e afastar-se da criminalidade."

Porto Alegre instituiu uma Secretaria de Juventude há mais tempo: em 2005. Atualmente, 35 pessoas atuam na pasta, sendo dez estagiários. "A secretaria tem como missão planejar e executar políticas públicas para juventude com a participação de toda administração e da sociedade, através do Conselho da Juventude, de forma transparente, ética e eficaz, baseados nos princípios da transversalidade", diz a assessoria de imprensa da prefeitura de Porto Alegre, destacando projetos com música, grafite e skate.

A pequenez da Coordenadoria de Juventude de São Paulo também se verifica quando ontrastamos sua estrutura com o universo jovem da cidade. De acordo com o IBGE, a capital abriga 2,9 milhões de pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O número representa 25% da população paulistana, que atualmente gira em torno dos 11,2 milhões de habitantes. Em Recife existem 250 mil jovens e, em Porto Alegre, ao redor de 350 mil. Ou seja, as capitais pernambucana e gaúcha possuem mais gente trabalhando com juventude do que a prefeitura paulistana – apesar de terem contigente bem menor de jovens.

"A equipe é muito reduzida para a tarefa de construir políticas públicas para a juventude numa cidade que não as tem nem nunca teve", analisa Gabriel di Pierro, membro do Grupo de Trabalho de Juventude da Rede Nossa São Paulo. "O orçamento também não é adequado. Embora a coordenadoria seja muito mais uma articuladora de iniciativas governamentais e não precise tanto de verbas para execução das políticas, ela necessita recursos mínimos para promover interlocução com os demais órgãos do Estado, aprofundar discussões com a sociedade e produzir informação."

A Coordenadoria de Juventude não tem dotação orçamentária fixa, mas costuma trabalhar com um repasse anual de aproximadamente R$ 500 mil. "Só o mapeamento da juventude paulistana, que é urgente e necessário para entender como se comporta essa população, custa cerca de R$ 1 milhão." O representante da Rede Nossa São Paulo pondera que a coordenadoria pode contabilizar entre seus quadros os auxiliares de juventude nas subprefeituras. "Mas eles recebem um salário líquido de apenas R$ 700", ressalta. "A remuneração vai definir o perfil das pessoas que ocuparão esses cargos. Também vai dificultar sua permanência no posto."

Multiplicação

Carente de recursos humanos e financeiros, a ideia do coordenador de Juventude é tentar multiplicar as poucas verbas de que dispõe influenciando a formulação de políticas públicas nos demais órgãos da administração municipal. "Queremos produzir inteligência, informação, diagnósticos e processos de participação para conseguir fazer com que esses R$ 500 mil se transformem em muitos milhões executados pelas outras secretarias", revela Gabriel Medina. "A partir do nosso pequeno orçamento, podemos transversalizar as políticas de juventude e chegar a um orçamento grande. Depende de conseguir convencer cada pasta."

Talvez por isso Di Pierro argumente que não é tão necessário elevar a juventude à condição de secretaria municipal para que o tema se espraie pela gestão. "O que importa é o conteúdo", defende. "Seja coordenadoria ou secretaria, ela precisa ter a capacidade de promover interlocução com outras secretarias e com a juventude da cidade, mapeando as demandas. Precisa ser capaz de fazer as políticas públicas chegarem aos jovens, lá onde eles moram, com um olhar específico para suas necessidades."

Não foi o que ocorreu na gestão passada: nos últimos oito anos, São Paulo teve oito diferentes coordenadores de Juventude. As entidades – e a própria gestão atual – avaliam que as mudanças constantes dificultaram o estabelecimento de uma política "estruturada" para o setor. O fato de estar submetida à Secretaria de Participação e Parceria também conferia um caráter menos propositivo à coordenadoria, que em grande medida se dedicava a apoiar eventos organizados pela sociedade civil.

"Se a juventude é o maior contingente populacional da cidade, isso merece um destaque maior dentro do governo", propõe Douglas Belchior, representante da União de Núcleos de Educação Popular (Uneafro), para quem a administração Fernando Haddad deveria, sim, criar uma Secretaria de Juventude. "A prefeitura criou pastas específicas para igualdade racial e mulheres. A juventude precisa do mesmo tratamento." Na ausência de medidas mais simbólicas, Belchior avalia que a atual gestão está apenas mantendo o mesmo "espaço diminuto" que já existia na era Kassab.

Prioridades

Segundo o representante da Uneafro, isso dá a entender que o tema não é uma prioridade para o governo. "Se está dentro da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania, entendemos que a juventude vem sendo tratada como uma questão relacionada principalmente à violência, como se fosse apenas um setor populacional que está lutando para garantir seus direitos mais básicos", interpreta. "Queremos propor ações em todas as áreas, e não apenas lutar para não morrer."

"Juventude não é um problema. Ela precisa, na verdade, acessar direitos", defende Patrícia Rodrigues, representante da União de Movimentos de Moradia (UMM) no Conselho Municipal da Juventude. A militante compreende a escolha do governo em enfatizar uma abordagem mais "humanitária", uma vez que a morte de jovens negros e pobres nas periferias paulistanas é uma realidade – e um dos seus maiores algozes são as forças policiais. "Isso tem que ser uma das prioridades, mas não a única. Há outras medidas a serem tomadas em educação, cultura, trabalho etc."

O coordenador de Juventude de São Paulo compreende as críticas – e até compartilha com parte delas. "Nós sempre queremos mais estrutura", reconhece. "Mas a agenda de juventude é recente. Mulheres e negros, que agora criaram secretarias... Os negros lutam desde a época dos quilombos, as mulheres são maioria da população." Gabriel Medina afirma que alocar a juventude na Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania foi uma escolha política do governo Haddad, que decidiu não centralizar coordenadorias na Secretaria de Governo.

"As áreas transversais que não se emanciparam ficaram aqui: LGBT, população de rua, idosos, imigrantes etc. A secretaria tem uma vocação de diálogo que a transforma num local de produção de políticas a serem aplicadas pelas demais pastas da administração", explica, advertindo que não adianta pensar que os temas da juventude conseguirão se impor apenas pelas vias burocráticas. "Só vamos conquistar mais espaço e estrutura quando conseguirmos fazer com que as pessoas se sintam parte dessa agenda e a reivindiquem."




quinta-feira, 23 de maio de 2013

Conheça os 40 mandamentos do reacionário perfeito

Cada um dos tópicos abaixo foi diretamente inspirado nas falas ou nas atitudes de pessoas de carne e osso

laerte reacionário direita conservador 


1-Negue sistematicamente a existência de qualquer conflito de classe, gênero, etnia ou origem regional ao seu redor, mesmo que o problema seja evidente até aos olhos do turista mais desatento. Afinal, sempre nos foi ensinado que a sociedade é um todo harmônico.

2-Não sendo possível negar o conflito, pela sua extensão, tente convencer seu interlocutor de que ele é limitado, reduzido a alguns focos ou induzido por estrangeiros perversos, mas que logo tudo voltará à tranquilidade costumeira.

3-Sendo impossível negar que o conflito é vasto e presente em quase toda parte, tome o partido dos mais poderosos. Afinal, eles representam a ordem, que deve ser mantida a qualquer custo.

4- Manifeste sua contrariedade diante de qualquer estatística que aponte para uma tendência de aumento da massa salarial. É inadmissível que os abnegados empreendedores sejam constrangidos a margens de lucro menores.

5-Demonstre contrariedade ainda maior quando notar que filhos de operários, camelôs e empregadas domésticas estão frequentando universidades. Prevalecendo esta aberração, que vai limpar o vaso sanitário para seu filho daqui a vinte anos?

6-Repita mil vezes por dia, para si mesmo e para os outros, que esquerdismo é doença, ainda que faça parte de uma classe média de orçamento curto, mas que, em estranho fenômeno psicológico, se enxerga como parte da melhor aristocracia do planeta.

7-Atribua a culpa pelos altos índices de criminalidade aos migrantes vindos de regiões pobres e imigrantes de países miseráveis. Estas criaturas não conseguem nem reconhecer a generosidade da sociedade que os acolhe.

8-Associe, sempre que possível, o uso de drogas a universitários transgressores e militantes de esquerda, mesmo sabendo que o pó mais puro costuma ser encontrado nas festas da “boa sociedade”. É necessário ampliar ou pelo menos sustentar o nível de reacionarismo da população em geral.

9- Tente revestir seu conservadorismo com uma face humanitária, reivindicando o direito à vida de todos os fetos, ainda que, na prática, vá pagar um aborto caso sua filha fique grávida de um indesejável, e seja favorável ao uso indiscriminado de cassetete e spray de pimenta contra os filhos de indesejáveis já crescidos.

10- Assuma o partido, em qualquer querela, daquele que for mais valorizado socialmente. Não é prudente que os “de baixo” testemunhem quebras de hierarquia, nem nos casos de flagrante injustiça.

11- Tente justificar, em qualquer ocasião, os ataques militares da OTAN contra países da Ásia, África ou da América Latina, mesmo que estes não representem a menor ameaça concreta para os agressores. Pondere que não é fácil carregar o fardo da civilização.

12- Mantenha assinaturas de pelo menos um jornal e uma revista de linha editorial bem reacionária, para usá-las como argumento de autoridade. Quando suas afirmativas forem refutadas, retruque de imediato com a fórmula “eu sei de tudo porque li o …”.

13-Nunca se esqueça: se um político socialista ou comunista cometer crimes comuns, isto é da essência do esquerdismo; se os crimes forem cometidos por um político de direita, ele é apenas um indivíduo safado que não merece mais o seu voto.

14- Vista-se somente com roupas de grifes caríssimas, não importando o quanto vá se endividar. Sobretudo jamais seja visto sem gravata por pessoas das classes C, D e E.

15- Nunca perca a oportunidade de discursar a favor da pena de morte quando o jornal televisivo noticiar o assassinato de um pequeno burguês por assaltante ou traficante de favela; se, ao contrário, surgir a imagem de algum rico que passou de carro a 200 km/h por cima de pobres, mude de canal, procurando um filme de entretenimento.

16- Quando ouvir narrativas sobre ações violentas de neonazistas e outros militantes de extrema-direita, minimize a questão. Afinal, eles podem ser malucos, mas contrabalançam a ação da esquerda.

17- Reserve pelo menos uma hora, durante as festas de aniversário de seus filhos, para aquela roda em que alguns contam piadas sobre padeiros portugueses burros, negros primitivos, judeus e árabes sovinas, gays escrachados e índios canibais. É necessário, para reforçar a coesão da comunidade burguesa “cristã-velha”!

18- Quando forçado a conversar com pobres, tente parecer um grande doutor, empregando seguidamente expressões estrangeiras; se um subalterno for inconveniente ou falar demais, dispare sem hesitar: “Fermez la bouche!” .

19- Seja sócio de um clube tradicional, ainda que falido, e se possível ocupe uma de suas diretorias, mesmo que totalmente irrelevante. Manifeste-se sempre contra a entrada no quadro social de emergentes sem diploma e outros tipos sem classe.

20- Jamais ande de trem ou de ônibus. É a suprema degradação, comparável somente a ser açougueiro na sociedade absolutista.

21- Obrigue todo empregado doméstico que venha a cair sob suas ordens a comprar uniforme e usá-lo diariamente, impecavelmente lavado e passado. Afinal, para que serve o salário mínimo?

22-Jamais escute música baiana de qualquer vertente, samba, forró ou cantores sertanejos. Uma vez flagrado, sua reputação de homem civilizado estaria arruinada.

23-Pareça o mais alinhado possível com o liberalismo do século XXI. Tendo preguiça de se dedicar a textos complexos, leia pelo menos “Não somos racistas”, de Ali Kamel, e o “Manual do perfeito idiota latino-americano”. Passará como intelectual para pelo menos 90% da juventude de direita.

24- Morra virgem, mas nunca apresente como esposa, noiva ou namorada uma mulher que não caiba no estereótipo da burguesa cosmopolita, porém comportada.

25- Faça eco aos discursos dos octogenários conservadores que constantemente repetem a fórmula “no meu tempo não era assim”, mesmo que saiba sobre inúmeras falcatruas e atrocidades “do tempo deles”. Quanto mais perto do Império e da República Velha, mais longe da contaminação esquerdista!

26- Passe sempre adiante, para parentes, amigos e conhecidos, notícias forjadas na Internet, no estilo “Todas as mulheres de uma cidade do Ceará se recusaram a trabalhar numa fábrica de sapatos, porque já recebiam o bolsa-família”. Não importa se é impossível que qualquer pessoa com mais de quatro neurônios ativos acredite que uma cidade inteira tenha recusado um salário de pelo menos seiscentos reais por achar que vive bem com um auxílio de cento e cinquenta.

27- Repasse, igualmente, juízos de valor negativos sobre personalidades de esquerda, na linha “Michael Moore é mentiroso”, “Chico Buarque é um comunista hipócrita que vive no luxo”, “Dilma foi terrorista”, etc. É preciso dar continuidade à teatral associação entre reacionarismo e moralidade.

28-Diante de qualquer texto ou discurso de esquerda, classifique-o imediatamente como doutrinação barata ou lavagem cerebral. Não importando sua eventual ignorância sobre o tema, é preciso fechar todos os espaços à conspiração gramsciana mundial.

29- Sustente a surrada versão de que “apesar dos erros, os milicos salvaram o Brasil do comunismo em 1964”. Desconverse mais uma vez se alguém perguntar como se chegaria ao comunismo através da provável eleição de Juscelino Kubitschek em 1965.

30- Deprecie ao máximo mexicanos, chilenos, peruanos, paraguaios, bolivianos, colombianos e demais hispânicos como caboclos de cultura atrasada. Abra exceção para argentinos ricos filhos de pais europeus, desde que estes se abstenham de chamá-lo de macaquito.

31- Defenda o caráter sagrado da propriedade rural. Quando alguém recordar que as terras registradas nos cartórios do estado do Pará equivalem a quatro Parás, procure ao menos convencê-lo de que é uma situação atípica.

32- Afirme com veemência que todo posseiro, índio ou quilombola em busca de regularização de terras é vagabundo, mesmo que seus antepassados estejam documentados no local há duzentos anos. Por outro lado, todo latifundiário rico sempre será um proprietário respeitável, ainda que tenha cercado sua fazenda à bala há menos de vinte.

33- Denuncie nas redes sociais os ambientalistas que tentam embargar a construção de fábricas de artefatos de cimento em bairros superpopulosos e de depósitos de gás ao lado de estádios de futebol. Esses idiotas não sabem que nada é mais importante do que o crescimento do PIB?

34- Rejeite toda queixa que ouvir sobre trabalho escravo. É tirania impedir que alguém trabalhe em troca de água, caldo de feijão, laranja mofada e colchão de jornal, se estiver disposto a isto. Deixem a vida social seguir seu curso espontâneo!

35- Quando alguém protestar contra o assassinato de duzentos gays no ano Y, responda que outras quarenta mil pessoas morreram violentamente naquela temporada. Finja que é limítrofe e não entendeu que a cifra se limita aos gays mortos em decorrência desta condição e não aos que tombaram em latrocínios, brigas entre torcidas e disputas armadas por vagas de garagem.

36- Acuse todo movimento constituído contra determinado tipo de opressão de querer promover a opressão com sinal contrário. As feministas, por exemplo, pretendem castrar os machos e colocar-lhes avental para lavar a louça e cuidar de poodles.

37- Enalteça “esportes e diversões” que favorecem o gosto pelo sangue, como arremesso de anões, rinhas de galo, pegas, caçadas em áreas de preservação ambiental, touradas, farras do boi e congêneres. Como já dizia seu patrono oculto Benito Mussolini, “o espírito fascista é emoção, não intelecto”.

38-Procure enxertar referências bíblicas nas suas falas sobre política. Ao defender um oligarca truculento, arremate a obra dizendo algo como “Cristo também jantou na casa do rico Zaqueu”. Tente dar a impressão de que qualquer um que venha a contestá-lo despreza pessoas religiosas.

39-Apresente a todas as crianças que tiver ao seu alcance, antes dos dez anos, o repertório integral de Sylvester Stallone e similares, nos quais o árabe é sempre terrorista, o vietnamita um comunista fanático que jamais tira a farda e o hispano-americano batedor de carteira ou traficante. Tendo a chance, compre também Zulu, para a garotada aprender desde cedo que africanos são selvagens que correm em torno da fogueira sacudindo lanças de madeira.

40- Não permita que a política externa dos Estados Unidos seja criticada impunemente. Nunca se sabe quando o homem de bem precisará de um poder maior e talvez irresistível para defendê-lo do zé povão.





quarta-feira, 22 de maio de 2013

São Paulo rebatiza vias que têm nomes ligados à ditadura

 Que todos os assassinos sejam banidos dos nomes de ruas, praças, colégios, rodovias, etc...

 UOL

São Paulo é a primeira capital brasileira a rebatizar o nome de vias que atualmente levam o nome de figuras ligadas à ditadura. Entre as vias que terão o nome modificado está a rua Sérgio Paranhos Fleury, delegado da ditadura, que poderá ser chamada de Frei Tito, militante torturado que decidiu se suicidar.

Para ver reportagem sobre o tema, clique aqui


terça-feira, 21 de maio de 2013

O Estadão, a democracia e a ditadura midiática

A eterna hipocrisia do Estadão, jornal que posa de democrata mas sempre trabalhou por golpes nos bastidores, quando não as claras  


Maria Ines Nassif - Carta Maior


A mesma mídia que hoje critica anseios democratizantes das comunicações no Brasil um dia defendeu a importância de “uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste” e de “fortalecimento da mídia eletrônica pública”. Esses trechos de editorial do ‘Estadão’, é claro, não foram escritos sob o atual governo petista, mas em 2001, quando FHC estava no comando do país. 


Eis o receituário contra “os ‘Big Brothers’ de todas as latitudes”, e para evitar o perigo à democracia que a “TV lixo”, aquela que é “um brevê contra a inteligência e o senso crítico dos espectadores”, pode representar em qualquer parte do país: “De um lado, uma política de concessões infensa a coronelismos, complementada por eficaz legislação antitruste, de defesa do consumidor e da concorrência, contra a exacerbação predatória da lei do mais forte no mercado da indústria de informação”; “de outro, o fortalecimento da mídia eletrônica pública, independente tanto do Estado quanto da área privada e, mais ainda, protegida do espúrio contubérnio entre ambos, que gera a ‘ditadura midiática’, na Itália, na Bahia – e em qualquer lugar do planeta.”

Não se trata, leitor, de nenhum texto inspirado na 1ª Conferência Nacional de Comunicação, ocorrida em dezembro de 2009, em Brasília, que discutiu diretrizes, no âmbito da sociedade civil, para a regularização da mídia – aquela conferência que a direita tratou como uma tentativa tomada de poder do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, via organizações populares. Não, não é nenhuma peça subversiva e nenhuma ofensiva ao status quo da mídia brasileira. É a conclusão de um editorial do conservador jornal “O Estado de S. Paulo”, intitulado “Democracia e ‘ditadura midiática’” e publicado numa nobre edição do domingo, dia 10 de junho de 2001.

Naquela época, todavia, o presidente do Brasil era Fernando Henrique Cardoso; o presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães, havia renunciado ao mandato de senador, depois de ter fraudado uma votação em plenário, e estava então em rota de colisão com FHC, a quem servira desde o início do mandato; e o poder econômico da mídia ainda não havia feito um pacto de não agressão contra um inimigo maior, um governo de esquerda que enterrou duas gestões tucanas que consolidaram no país o receituário conservador, político e econômico, que grassava no mundo, sob o disfarce de modernidade.

ACM, segundo o editorial, era o espécime mais bem acabado do “coronelismo eletrônico que grassava pelo país, em particular nos Estados do Nordeste: o produto político da associação com “o principal conglomerado de emissoras de TV” com os interesses de grupos políticos. Usando da associação com esse conglomerado e da “fidelidade irrestrita à ordem ditatorial”, o senador baiano construiu um “virtual monopólio de mídia e de acesso a verbas publicitárias particulares e públicas [na Bahia], a começar do próprio governo estadual e da prefeitura de Salvador, sob suas asas”.

No momento em que ACM caía no Brasil, na Itália ascendia novamente ao poder Silvio Berlusconi – que chegara a premiê em março de 1994 usando o poder econômico e um império de mídia eletrônica, renunciou em 1994 e chegava novamente ao cargo pelos mesmos recursos, exercitando o que o presidente da segunda emissora de TV italiana, Carlo Freccero, seu colaborador por mais de 20 anos, designava como “ditadura midiática” em um entrevista concedida na semana anterior ao editorial ao semanário francês “L’Express”.

O ex-colaborador do premiê italiano, diz o editorial do Estadão, “sabe perfeitamente como a hegemonia inconstrastável de um grupo de mídia sobre o conjunto do setor [grifo nosso] pode ´lobotomizar´ toda uma Nação, em proveito dos amigos políticos de seus colaboradores”.

“Se um país civilizado como a Itália pode tornar-se refém de um dublê de um czar da mídia e de autoridade governamental, não são necessários grandes voos de imaginação para prever o perigo que a “TV lixo”, como diz Frecero (...) pode representar em outras paragens”.

A associação do “principal conglomerado nacional” – assim o editorial se refere à Rede Globo – a interesses políticos variados apenas pode resultar em grande poder político e econômico, concluiu o Estadão, ao analisar o caso ACM no Brasil e antes de lembrar o caminho trilhado por Berlusconi para chegar ao poder na Itália.

O editorial lembra a resposta dada pelo senador baiano ao repórter, sobre o que faria depois de sua renúncia. ‘“Gostaria de dirigir a Globo”, respondeu, risonho’, relata o texto do jornal. “Pode-se julgar como se queira a sua longa trajetória na vida pública nacional e no seu estilo de atuação. Mas nunca, em sã consciência, alguém lhe fará a injustiça de desconsiderar o seu faro extremamente privilegiado para as fontes e os mecanismos de exercício do poder”, conclui.

“Graças a esse dom, ele foi um dos primeiros políticos brasileiros, na passagem dos anos 60 e 70, a perceber a importância decisiva que teria o controle da mídia eletrônica para a conquista de apoio popular, a consolidação das posições de mando alcançadas e o uso da influência pessoal, assim amplificada, para o comércio de favores – o que, por sua vez, asseguraria a reprodução do cacife político já amealhado”, analisa o editorial, à luz da trajetória política e da sua construção como empresário da mídia baiana, sob o abrigo e em associação com a maior rede nacional de televisão.

Ele e Sarney entenderam isso, ele na Bahia e Sarney no Maranhão. Juntos, Sarney como presidente, ACM como seu ministro das Comunicações e, ambos, associados à “maior rede nacional”, mantiveram-se, daí como mandatários, o “coronelismo eletrônico”, mesmo depois da redemocratização do país. “Ministro das Comunicações do presidente José Sarney e tão ligado como ele à maior rede nacional, ACM fez da outorga de concessões de emissoras de rádio e TV o instrumento por excelência de seu ‘coronelismo eletrônico’, na apropriada expressão do editorial de domingo passado do Jornal da Tarde”, continua o jornal, em sua sessão de Opinião. É ele quem diz.

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segunda-feira, 20 de maio de 2013

PMs admitem que fizeram vistas grossas durante o evento após suposto atraso nos salários de policiais que participam da Operação Delegada

Ultimo Segundo


Susan Souza
Prefeito Fernando Haddad fala sobre a Virada Cultural 2013
Depois de um dia de reuniões para tratar do recorde de violência na edição deste ano da Virada Cultural, o prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) adotou a postura de despolitizar o assunto ao negar que tenha partido do comando da Polícia Militar – subordinada ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) – a ordem para que os policiais fizessem vistas grossas aos assaltos e arrastões, que deixaram pelo menos dois mortos no último fim de semana. No entanto, à reportagem, soldados da PM admitiram que cruzaram os braços durante o evento em retaliação à prefeitura, que estaria atrasando os salários de quem participa da Operação Delegada, uma parceria com o governo do Estado em que o município contrata os serviços de oficiais em dia de folga. Já em nota oficial, a PM negou os atrasos.
Haddad iniciou a entrevista coletiva na sede da prefeitura isentando o comando da PM pelo suposto boicote policial. De acordo com o prefeito, o aumento das ocorrências foi notado a partir das 2h30 de sábado (18). Ao conversar com a cúpula militar, ele teria recebido a garantia de que qualquer denúncia contra a polícia seria averiguada.
“Do ponto de vista da programação cultural, a Virada foi um sucesso”, disse ele ao lembrar que, embora confie no comando da PM, “é uma obrigação dar respostas a essas informações [de corpo mole] que estão sendo recebidas”.
O petista só mostrou irritação quando questionado sobre uma declaração de Alckmin, para quem é preciso escolher melhor os locais da Virada nos próximos anos . “Mas são os mesmos lugares [dos outros anos], não? O que isso tem de errado?”, perguntou Haddad. “Quem fez o planejamento da segurança foi a PM. Em nenhum momento isso foi colocado como obstáculo. Foi tudo feito de comum acordo. Nada foi decidido só pela prefeitura.”

Vista grossa
A reportagem conversou com policiais militares, que, sob condição de anonimato, admitiram ter cruzado os braços diante da violência na Virada Cultural. A decisão foi uma retaliação à prefeitura, que estaria atrasando os salários de quem participa da Operação Delegada pelo quarto mês seguido. "A prefeitura não paga em dia, e o Estado, para manter a boa convivência, não fiscaliza o pagamento."
Em nota oficial, no entanto, a PM negou os atrasos e disse que "a Prefeitura de São Paulo vem cumprindo com as suas obrigações quanto ao pagamento da atividade delegada voltada ao comércio irregular de ambulantes".
Haddad também não teria cumprido, segundo policiais ouvidos pela reportagem, a promessa eleitoral de ampliar o programa, considerado o "bico oficial" dos soldados. O prefeito teria apenas realocado alguns homens para trabalhar no período noturno em áreas de preservação ambiental e em comunidades que organizam bailes funk. O prefeito respondeu à questão lembrando que esse tipo de serviço é voluntário e que sobram vagas para trabalhar em três regiões da zona sul: Capela do Socorro, M’Boi Mirim e Jardim Ângela.
A prefeitura também negou qualquer atraso de pagamento. O que está ocorrendo, afirmou Haddad, é uma mudança no repasse. Antes, pagava-se o policial adiantado com base em uma estimativa de trabalho. Agora, o dinheiro só deixa o cofre municipal depois da análise de uma planilha com as informações de quem efetivamente trabalhou.

Ocorrências
Moradora de um prédio no viaduto Santa Ifigênia, a publicitária Vivi Cristina Dias (29) tomou o primeiro susto ainda em casa, às 3h do sábado, ao avistar da janela um assalto a “poucos metros de dois policiais parados no meio da multidão”. Em outro momento, um grupo de crianças na Ladeira da Memória “armava um arrastão, mas lá não havia policiamento nenhum”. “A Virada é um evento que reúne pessoas de classes e gostos diferentes, além de mostrar a beleza do centro. Essas ocorrências são ruins porque reforçam o estigma de cidade perigosa.”
O artista multimídia Uala Vandeik (29) correu de “cinco arrastões”. “Os policias nas guaritas não faziam nada. Era uma terra de selvagens. Durante uma briga, precisei ficar 20 minutos dentro de um bar. Os donos fizeram um cordão humano para evitar que a confusão invadisse o lugar. Depois disso eu fui para casa e não voltei no outro dia. Essa virada foi uma furada.”
Já a fotógrafa Tatiana Abitante (25) passou por um sufoco por volta das 4h30 de sábado na Praça da República, onde “um grupo de moleques girava na direção dos outros um pedaço de madeira com pregos na ponta. Isso tudo a sete metros de uma base policial”, lembra. “No cruzamento das avenidas Ipiranga e São João, seis PMs assistiam a um grupo de homens atirarem garrafas contra as pessoas na rua.”
A estudante Niami Correia (22) deixava um restaurante no Largo do Arouche quando entregou uma pizza inteira a um morador de rua. “Nesse momento, vi uns 40 meninos correndo, gritando e empurrando as pessoas. Dez deles seguravam um menino enquanto pegavam tudo que estava no bolso dele. Até a pizza que dei para o senhor eles levaram. Só deixaram um pedaço.”
Niami também assistiu à venda de drogas. “Vendiam como se fosse banana. Gritando ‘olha o lança, balinha, ácido aqui’. “Fico me questionando se vou ter coragem de ir na próxima Virada. Dessa vez eu tive sorte, mas e na próxima?”
Segundo dados divulgados pela Prefeitura, foram registrados 12 arrastões, duas mortes, quatro feridos por arma de fogo e outros seis por armas brancas.

    domingo, 19 de maio de 2013

    Cartas de Geisel a Videla mostram elos da Operação Condor



    Carta Maior


    Jorge Videla cumpriu o papel que dele se esperava na Operação Condor, o pacto terrorista que há 27 anos ocupou um capítulo importante na agenda argentina com o Brasil. O ditador Ernesto Geisel recebeu de bom grado a “nova” política externa do processo de reorganização nacional (e internacional), tal como se lê nos documentos, em sua maioria secretos, até hoje, obtidos pela Carta Maior.


    “Foi com a maior satisfação que recebi, das mãos do excelentíssimo senhor contra-almirante César Augusto Guzzetti, ministro de Relações Exteriores, a carta em que Sua Excelência teve a gentileza de fazer oportunas considerações a respeito das relações entre nossos países...que devem seguir o caminho da mais ampla colaboração”.

    A correspondência de Ernesto Beckman Geisel dirigida a Videla exibe uma camaradagem carregada de adjetivos que não era característico desse general, criado numa família de pastores luteranos alemães.

    “O Brasil, fiel a sua História e ao seu destino irrenunciavelmente americanista, está seguro de que nossas relações devem basear-se numa afetuosa compreensão...e no permanente entendimento fraterno”, extravasa Geisel, o mesmo que havia reduzido a quase zero as relações com os presidentes Juan Perón e Isabel Martinez, quando seus embaixadores na Argentina pareciam menos interessados em visitar o Palácio San Martin do que frequentar cassinos militares, trocando ideias sobre como somar esforços na “guerra contra a subversão”.

    A carta de Geisel a Videla, de 15 de dezembro de 1976, chegou a Buenos Aires dentro de uma “mala diplomática”, não por telefone, como era habitual. No documento consta “secreto e urgentíssimo”, ao lado dessa nota.

    Em 6 de dezembro de 1976, nove dias antes da correspondência de Geisel, o presidente João Goulart havia morrido, em seu exílio de Corrientes, o qual, de acordo com provas incontestáveis, foi um dos alvos prioritários da Operação Condor no Brasil, que o espionou durante anos na Argentina, no Uruguai e na França, onde ele realizava consultas médicas por causa de seu problema cardíaco.

    Mais ainda: está demonstrado que, em 7 de dezembro de 1976, a ditadura brasileira proibiu a realização de necropsia nos restos do líder nacionalista e potencial ameaça, para que não respingassem em Geisel a parada cardíaca de origem incerta.

    Não há elementos conclusivos, mas suspeitas plausíveis, de que Goulart foi envenenado com pastilhas misturadas entre seus medicamentos, numa ação coordenada pelos regimes de Brasília, Buenos Aires e Montevidéu, e assim o entendeu a Comissão da Verdade, da presidenta Dilma Rousseff, ao ordenar a exumação do corpo enterrado na cidade sulista de São Borja, sem custódia militar, porque o Exército se negou a dar-lhe há 10 dias, depois de receber um pedido das autoridades civis.

    Voltemos à correspondência de Geisel de 15 de dezembro de 1976.

    O brasileiro escreveu em resposta a outra carta, de Videla (de 3 de dezembro de 1976), na qual ele se dizia persuadido de que a “Pátria...vive uma instância dinâmica no plano das relações internacionais, particularmente em sua ativa e fecunda comunicação com as nações irmãs”.

    “A perdurável comunidade de destino americano nos assinala hoje, mais do que nunca, o caminho das realizações compartilhadas e a busca das grandes soluções”, propunha Videla, enterrado ontem junto aos crimes secretos transnacionais sobre os quais não quis falar perante o Tribunal Federal N1, onde transita o mega processo da Operação Condor.

    Os que estudaram essa trama terrorista sul-americana sustentam que ela se valeu dos serviços da diplomacia, especialmente no caso brasileiro, onde os chanceleres teriam sido funcionais aos imperativos da guerra suja.

    Portanto, esse intercâmbio epistolar enquadrado na diplomacia presidencial de Geisel e Videla, pode ser lido como um contraponto de mensagens cifradas sobre os avanços do terrorismo binacional no combate à resistência brasileira ou argentina. Tudo em nome do “interesse recíproco de nossos países”, escreveu Videla.

    Em dezembro de 1976, 9 meses após a derrubada do governo civil, a tirania argentina demonstrava que, além de algumas divergências geopolíticas sonoras com o sócio maior, havia de fato uma complementariedade das ações secretas “contra a subversão”.

    Assim, pouco após a derrubada de Isabel Martínez, o então chanceler brasileiro e antes embaixador em Buenos Aires, Francisco Azeredo da Silveira, recomendou o fechamento das fronteiras para colaborar com Videla, para impedir a fuga de guerrilheiros e militantes argentinos.

    Por sua parte, Videla, assumindo-se como comandante do Condor celeste e branco, autorizava o encarceramento de opositores brasileiros, possivelmente contando com algum nível de coordenação junto aos adidos militares (os mortíferos “agremiles”) destacados no Palácio Pereda, a mansão de linhas afrancesadas onde tem sede a missão diplomática na qual, segundo versões, havia um número exagerado de armas de fogo.

    Entre março, mês do golpe, e dezembro de 1976, foram sequestrados e desaparecidos na Argentina os brasileiros Francisco Tenório Cerqueira Júnior, Maria Regina Marcondes Pinto, Jorge Alberto Basso, Sergio Fernando Tula Silberberg e Walter Kenneth Nelson Fleury, disse o informe elaborado pelo Grupo de Trabalho Operação Condor, da Comissão da Verdade. 

    O organismo foi apresentado por Dilma Rousseff perante rostos contidamente iracundos dos comandantes das Forças Armadas, os únicos, entre as centenas de convidados para a cerimônia, que evitaram aplaudi-la.

    Ao finalizar o ato realizado em novembro de 2011, o então secretário de Direitos Humanos argentino Eduardo Luis Duhalde, declarava a este site que um dos segredos melhor guardados da Operação Condor era a participação do Brasil e a sua conexão com a Argentina, e que essa associação delituosa só será revelada quando Washington liberar os documentos brasileiros com a mesma profusão com que liberou os documentos sobre a Argentina e o Chile.

    Averiguar até onde chegou a cumplicidade de Buenos Aires e Brasília será mais difícil depois do falecimento de Videla, mas não há que se subestimar as pistas diplomáticas.

    Em 6 de agosto de 1976, um telefonema “confidencial” degravado na embaixada brasileira informa aos seus superiores que o ministro de Relações Exteriores Guzzetti falou sobre a “nova” política externa vigente desde que “as forças armadas assumiram o poder” e a da vocação de aproximar-se mais do Brasil, após anos de distanciamento.

    Ao longo de 1976, os chanceleres Azeredo da Silveira e Guzzetti mantiveram reuniões entre si e com o principal fiador da Condor, Henry Kissinger que, segundo os documentos que vieram a público há anos a pedido do “Arquivo Nacional de Segurança” dos EUA, recomendou a ambos ser eficazes na simulação no trabalho de extermínio dos inimigos.

    “Nós desejamos o melhor para o novo governo (Videla)...desejamos seu êxito...Se há coisas a fazer, vocês devem fazê-las rápido...”, recomendou o Prêmio Nobel da Paz estadunidense, ao contra-almirante e chanceler 



    sexta-feira, 17 de maio de 2013

    A política no posto de comando no Festival Subversivo de Cinema em Zagreb



    Termina sábado o Festival e o Forum, com um grande debate com Aleida Guevara sobre a “experiência da América Latina”, onde começaram as maiores contestações das últimas décadas contra os programas de ajustamento estrutural. Mas ontem foi dia de política: Eric Toussaint apresentou o seu livro recente sobre a dívida, Chantal Mouffe conduziu um debate sobre as diversas interpretações estratégicas acerca dos movimentos de rua, e Slavoj Zizek falou sobre “o amor como categoria política”.
    6º Festival Subversivo de Cinema em Zagreb. Foto Francisco Louçã
    Além destes momentos de plenário, o Festival inclui seminários sobre diversos temas. De manhã foi a experiência dos movimentos sociais de Portugal e da Grécia, ou ainda a preparação da AlterSummit, que reúne dentro de poucas semanas em Atenas para preparar novas formas de resposta à austeridade europeia. Ou ainda a experiência do referendo na Croácia sobre a adesão à União Europeia e as razões dos sectores de esquerda que defenderam a rejeição da adesão. 
    Nos debates em plenário, Chantal Mouffe criticou a estratégia de deserção ou de êxodo, que Toni Negri e outros têm defendido, e reivindicou uma estratégia política de confrontação e de representação, de modo a combater as escolhas neoliberais na Europa. O “centro radical” de Blair foi descrito como um processo de destruição de identidades e de perspectivas políticas, abrindo caminho para a reinvenção liberal da Europa. Mouffe criticou ainda o conceito de “somos 99% e eles são 1%”, porque significa uma criação de identidade na base de um proclamado consenso, de um unanimismo (“somos 99%”) que não é verdadeiro: uma estratégia política explora o espaço de diferenciações e alianças, porque sabe que não existe consenso mas conflito.
    Zizek, ao falar do amor como categoria simbólica nas religiões, nas culturas mas também nos Estados, lembrou um poema de duas linhas escrito por Kim Jong Il: “Assim como as flores se viram para o sol para se desenvolverem/ Também o povo norte-coreano fixa os olhos no seu líder para se desenvolver” – um exemplo auto-proclamado de amor absoluto, como legitimação do poder. A política no posto de comando. Mas que há outras formas de amor, lá isso há.
    Para saber mais sobre este festival, clique aqui