sábado, 31 de outubro de 2009

BESOURO - Nasce um Herói



Besouro



Vale a pena assistir Besouro, a proposta é comercial, o filme não é lá essas coisas, mas só a oportunidade de ver elementos da cultura afro mostrados sem preconceitos já vale o ingresso. Pra quem é praticante de capoeira também é uma ótima pedida, as cenas com jogos são sensacionais, os capoeiristas são de primeira. Os vilões, todos brancos, são apresentados de maneira realista, interpretados por ótimos atores. É muito interessante ver o tratamento dispensado aos negros do Recôncavo Baiano da década de vinte do século passado, deparamo-nos com cenas que continuam a ser praticadas diariamente em nossas periferias, mudou apenas o cenário, a jagunçagem continua a mesma. A diferença é que hoje em dia somos nós que pagamos o salário dos jagunços, que espezinham a vida da nossa gente. Mas o espírito de heróis como Besouro, Mestre Pastinha e Mestre Gato Preto estão vivos em nosso povo.
Viva mestre Besouro!
Salve!




Os primeiros minutos de Besouro são assustadores. O filme começa com uma cartela explicativa que situa o ano, o local e as circunstâncias dos acontecimentos que serão vistos, recurso típico de quem prefere a linguagem verbal à cinematográfica, ou de quem não acredita na força das imagens que apresentará. Pior: a cartela, além de escrita, é redundantemente narrada. E o besouro digital que justificará (mais uma vez com uma desnecessária narração em off) o título do filme/ personagem parece aquela vinheta do CQC.

Quando abre a imagem, mais texto: “Salvador, janeiro de 1924”. Que era Salvador, e que era 1924, já sabíamos após ler as cartelas anteriores. Agora sabemos ser o mês de janeiro, fato que não terá nenhuma importância para a trama.

Felizmente, passado este susto inicial provocado pelo excesso de redundâncias, Besouro decola. A primeira má impressão rapidamente se desfaz por meio de uma narrativa forte, repleta de misticismo. Não sem antes cometer outra cartela totalmente desnecessária: “Sete dias depois...”. Mas tudo bem.

A história (ambientada em 1924, eu já tinha falado?) é baseada no caso - dizem - real de Besouro (Aílton Carmo), capoeirista dos mais hábeis que foi vítima da própria vaidade: escolhido para ser o guarda-costas de seu mestre Alípio (Macalé), jurado de morte, Besouro se descuida da função para se exibir em suas habilidades na capoeira. E, indiretamente, acaba sendo responsabilizado pela morte de seu mentor, uma verdadeira lenda vida (agora morta) do Recôncavo Baiano.

Praticamente banido pela sua própria sociedade. Besouro também é caçado pelo coronel local, atraindo para si a ira e a desconfiança de quase todos na região. Só lhe resta recorrer ao misticismo e às forças ocultas para tentar sobreviver.

Besouro traz inegáveis qualidades técnicas e plásticas. Opta por uma fotografia exuberante, é editado de forma vigorosa e sua criativa trilha sonora evita o que seriam óbvios batuques e berimbaus. Bebe em referências palatáveis ao grande público, como o western spaghetti e os filmes chineses de artes marciais. Mas acaba sendo refém de sua própria estética, vítima de seus próprios maneirismos visuais e sonoros ao cometer o grave pecado de priorizar a técnica em detrimento da emoção.

Assim como seu personagem título, o filme também cai vitimado pela própria vaidade. Mas, mesmo assim, é um entretenimento digno, embora a brasilidade do tema não se reflita na estética. Fãs de western spaghetti e de filmes chineses de artes marciais também vão curtir.


Celso Sabadin




sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Homenagem a Marighella, Programação


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EM MEMÓRIA DE CARLOS MARIGHELLA

Carlos Marighella tombou na noite de 4 de novembro de 1969, em São Paulo, numa emboscada chefiada pelo mais notório torturador do regime militar. Revolucionário destemido, morreu lutando pela democracia, pela soberania nacional e pela justiça social.

Da juventude rebelde, como estudante de Engenharia, em Salvador, às brutais torturas sofridas nos cárceres do Estado Novo; da militância partidária disciplinada, às poesias exaltando a liberdade; da firme intervenção parlamentar como deputado comunista na Constituinte de 1946, à convocação para a resistência armada, toda a sua vida esteve pautada por um compromisso inabalável com as lutas do nosso povo.

Decorridos quarenta anos, deixamos para trás o período do medo e do terror. A Constituição Cidadã de 1988 garantiu a plenitude do sistema representativo, concluindo uma longa luta de resistência ao regime ditatorial. Nesta caminhada histórica, os mais diferentes credos, partidos, movimentos e instituições somaram forças.

O Brasil rompeu o século 21 assumindo novos desafios. Prepara-se para realizar sua vocação histórica para a soberania, para a liberdade e para a superação das inúmeras iniqüidades ainda existentes. Por outros caminhos e novos calendários, abre-se a possibilidade real do nosso País realizar o sonho que custou a vida de Marighella e de inúmeros outros heróis da resistência. Garantida a nossa liberdade institucional, agora precisamos conquistar a igualdade econômica e social, verdadeiros pilares da democracia.

A América Latina está superando um longo e penoso ciclo histórico onde ocupou o lugar de quintal da superpotência imperial. Mais uma vez, estratégias distintas se combinam e se complementam para conquistar um mesmo anseio histórico: independência, soberania, distribuição das riquezas, crescimento econômico, respeito aos direitos indígenas, reforma agrária, ampla participação política da cidadania. Os velhos coronéis do mandonismo, responsáveis pelas chacinas e pelos massacres impunes em cada canto do nosso continente, estão sendo varridos pela história e seu lugar está sendo ocupado por representantes da liberdade, como Bolívar, Martí, Sandino, Guevara e Salvador Allende.

E o nome de Carlos Marighella está inscrito nessa honrosa galeria de libertadores. A passagem dos quarenta anos do seu assassinato coincide com um momento inteiramente novo da vida nacional. A secular submissão está sendo substituída pelos sentimentos revolucionários de esperança, confiança no futuro, determinação para enfrentar todos os privilégios e erradicar todas as formas de dominação.

O novo está emergindo, mas ainda enfrenta tenaz resistência das forças reacionárias e conservadoras que não se deixam alijar do poder. Presentes em todos os níveis dos três poderes da República, estas forças conspiram contra os avanços democráticos. Votam contra os direitos sociais. Criminalizam movimentos populares e garantem impunidade aos criminosos de colarinho branco. Continuam chacinando lideranças indígenas e militantes da luta pela terra. Desqualificam qualquer agenda ambiental. Atacam com virulência os programas de combate à fome. Proferem sentenças eivadas de preconceito contra segmentos sociais vulneráveis. Ressuscitam teses racistas para combater as ações afirmativas. Usam os seus jornais, televisões e rádios para pregar o enfraquecimento do Estado. Querem o retorno dos tempos em que o deus mercado era adorado como o organizador supremo da Nação.

Não admitimos retrocessos. Nem ao passado recente do neoliberalismo e do alinhamento com a política externa norte-americana, nem aos sombrios tempos da ditadura, que a duras penas conseguimos superar.

A homenagem que prestamos a Carlos Marighella soma-se à nossa reivindicação de que sejam apuradas, com rigor, todas as violações dos Direitos Humanos ocorridas nos vinte e um anos de ditadura. Já não é mais possível interditar o debate retardando o necessário ajuste dos brasileiros com a sua história. Exigimos a abertura de todos os arquivos e a divulgação pública de todas as informações sobre os crimes, bem como sobre a identidade dos torturadores e assassinos, seus mandantes e seus financiadores.

Precisamos enfrentar as forças reacionárias e conservadoras que defendem como legítima uma lei de auto-anistia que a ditadura impôs, em 1979, sob chantagens e ameaças. Sustentando a legalidade de leis que foram impostas pela força das baionetas, ignoram que um regime nascido da violação frontal da Constituição padece, desde o nascimento, de qualquer legitimidade. E procuram encobrir que eram ilegais todas as leis de um regime ilegal.

Sentindo-se ameaçadas, estas forças renegam as serenas formulações e sentenças da ONU e da OEA indicando que as torturas constituem crime contra a própria humanidade, não sendo passíveis de anistia, indulto ou prescrição. E se esforçam para encobrir que, no preâmbulo da Declaração Universal que a ONU formulou, em 10 de dezembro de 1948, está reafirmado com todas as letras o direito dos povos recorrerem à rebelião contra a tirania e a opressão.

Por tudo isso, celebrar a memória de Carlos Marighella, nestes quarenta anos que nos separam da sua covarde execução, é reafirmar o compromisso com a marcha do Brasil e da Nuestra America rumo à realização da nossa vocação histórica para a liberdade, para a igualdade social e para a solidariedade entre os povos.

Celebrando a memória de Carlos Marighella, abrimos o diálogo com as novas gerações garantindo-lhes o resgate da verdade histórica. Reverenciando seu nome e sua luta, afirmamos nosso desejo de que nunca mais a violência dos opressores possa se realimentar da impunidade. Carlos Marighella está vivo na nossa memória e nas nossas lutas.

Brasil, 4 de novembro de 2009.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Serra zera orçamento de SP para investimentos em educação



professor raimundo


Contando com recursos federais para obras em 2010, proposta de orçamento estadual não destina verbas para a área. Saúde, habitação e saneamento também sofrem cortes



Por: Suzana Vier - Brasil Atual



A proposta orçamentária para o estado de São Paulo em 2010 prevê um corte de 35% dos investimentos do governo na área de saúde e redução total em educação. Nessas duas áreas, o orçamento para reformas e construções vai contar com reforços previstos no orçamento da União.

Estudo realizado pela Liderança do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo a partir do orçamento apresentado pelo governo do estado para 2010 demonstra que também haverá cortes em áreas de impacto social, como segurança e administração penitenciária. O trabalho observa uma projeção de expansão menor do PIB do estado em relação ao do país.

“O presidente do Bradesco fala em crescimento de 5,7% ou 6% (do PIB nacional) para o ano que vem. O orçamento de São Paulo projeta um crescimento de apenas 3,5%”, o líder da bancada petista na Casa, deputado Rui Falcão.

Na saúde, o investimento global cairá mais de 10%. Em 2009, o orçamento foi de R$ 507 milhões, já o previsto para 2010 será de R$ 449 milhões. Desse total, R$ 306,5 milhões, 68%, virão investidos do governo federal. “Obras como construção ou ampliação de hospitais, compra de equipamentos e de materiais permanentes ficarão comprometidas sem o aporte estadual”, constata o deputado Adriano Diogo.

Em educação, a situação é um pouco pior porque não há previsão de investimentos com recursos do estado na área. Só haverá recursos do governo federal. “Da forma como o Serra apresentou o orçamento para o ano que vem, as escolas de São Paulo vão poder contar com R$ 500 milhões de origem federal, mais nada”, alerta.

A administração penitenciária sofreu um corte de R$ 194,3 milhões, que representa 55% a menos de verbas estaduais. Mas vai contar com R$ 77 milhões federais.

O Centro Paula Souza, responsável pelo ensino técnico no estado vai amargar 50% a menos de investimentos. “É gravíssimo um corte na área educacional”, lamenta o deputado Marcos Martins.

Cortando na carne

A projeção para 2010 também mostra que o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) além de não ter investimentos vai perder R$ 990 milhões, a Polícia Civil vai ter menos R$ 20 milhões de custeio, a Secretaria de Habitação menos R$ 60 milhões, a Cetesb menos R$ 65,6 milhões, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) menos 47 milhões. Custeio é a verba destinada a materiais de consumo, contratação de terceiros e compras para fazer a administração pública funcionar.

O pagamento de dívidas também vai sofrer retração com 4,5% a menos disponível em 2010.

De acordo com análise de Falcão, os municípios também não vão passar ilesos com o corte nas verbas para transporte escolar de alunos da educação básica, estradas vicinais, planos de desenvolvimento sustentável, instalações da Polícia Civil. A implantação de equipamentos sociais tem previsão de receber verba de R$ 10. “É cada vez maior a transferência de responsabilidade do estado para os municípios”, denuncia Falcão.

As empresas estatais Sabesp, CDHU e o porto de São Sebastião vão sair perdendo no próximo ano. Mas, o mais grave para os deputados, é a redução de 38% na urbanização de favelas, de 38,4% no tratamento de esgotos coletados e de 10,6% na coleta de esgotos.

Dependência financeira

Cada vez mais recursos federais e empréstimos financiam os investimentos em São Paulo. Enquanto caiu a participação dos recursos estaduais e de concessões, a participação de recursos federais aumentou 84,9%. Empréstimos também cresceram 52,5% . “Tudo isso significa que o orçamento de São Paulo depende cada vez mais de empréstimos e do governo federal. Isso aponta uma dificuldade do estado em investir”, aponta Falcão.

Publicidade e consultoria em expansão

Um balanço dos gastos de publicidade do governo estadual nos últimos anos, sem incluir as empresas estatais, demonstra que o governador José Serra gasta 400% a mais em publicidade que o antecessor do mesmo partido (PSDB), Geraldo Alckmin. “Alckmin no último ano de governo gastou R$ 38,2 milhões em propaganda, já o Serra esse ano gastou mais de R$ 200 milhões”, destaca Diogo.

Recursos para passagens e despesas com locomoção (25%) e serviços de assessoria (12%) também terão orçamento maior.

Cabe agora aos deputados estaduais apresentarem emendas ao orçamento estadual para tentar corrigir as distorções. “Vamos propor emendas, mas depende do plenário aprová-las”, encerra Falcão.



quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Um Halloween mais brasileiro



Revista Fórum

Essa vai para aquelas professorinhas de inglês que vivem tentando empurrar a cultura estadunidense guela abaixo de nossas criranças.


Dia 31 de outubro, sábado, é a data que marca o Halloween. Mas o que pouca gente sabe é que também é o dia de um dos maiores mitos brasileiros, o Saci. A ideia da criação da data foi justamente se contrapor ao Dia das Bruxas anglo-saxônico, fazendo um resgate da cultura e do folclore brasileiros.

Dentro desse espírito, será lançado nesta quinta-feira (29), em São Paulo, o Anuário do Saci e seus Amigos-Mitologia Brasílica. Trata-se de uma obra do escritor Mouzar Benedito, colaborador da Fórum, com ilustrações de Ohi. Ali, pode-se acompanhar resgates de histórias como a do Jurupari, que até a chegada dos portugueses ao Brasil era o deus mais cultuado por essas bandas, tido como filho e embaixador do Sol. E a Cotaluna, uma das mais famosas lendas paraibanas, figura metade mulher e metade peixe, que encanta os homens e os leva para o fundo do rio. Mas, diferentemente das sereias, ela se transforma apenas na estação chuvosa, sendo uma mulher normal durante o resto do ano.

Estas e outras lendas do folclore brasileiro estão presentes na obra que, a cada mês, traz uma figura da mitologia brasileira. Além disso, todos os dias, um ou mais acontecimentos históricos que lembram a importância da data são retratados. Tudo com muito bom humor e uma narrativa envolvente.

Lançamento Anuário do Saci e seus Amigos-Mitologia Brasílica 29 de outubro, a partir das 19 horas
Bar Canto Madalena - Rua Medeiros de Albuquerque, 471
Vila Madalena, São Paulo.
Pedidos pelo e-mail livros@publisherbrasil.com.br




terça-feira, 27 de outubro de 2009

MST acusa deputados favoráveis à CPI de receberem doação do agronegócio



Arnaldo Madeira, Carlos Henrique Sampaio, Jutahy Junior e Nelson Marquezelli são quatro dos 55 deputados beneficiados por dinheiro da Cutrale durante a campanha de 2006



Quatro deputados federais que assinaram o requerimento pedindo a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST receberam doações da Cutrale. De acordo com levantamento do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra, a empresa de sucos de laranja distribuiu quase R$ 2 milhões na campanha de 2006.

A abertura da CPI, que havia sido barrada em uma primeira ocasião, ganhou novo fôlego depois que integrantes do MST ocuparam uma fazenda da Cutrale em Iaras, no interior de São Paulo. Com isso, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e parlamentares ruralistas conseguiram facilmente as assinaturas necessárias para abrir as investigações.

De acordo com o MST, Arnaldo Madeira (PSDB/SP) recebeu, em setembro de 2006, R$ 50.000,00 em doações da empresa. Carlos Henrique Focesi Sampaio, também do PSDB paulista, e Jutahy Magalhães Júnior (PSDB/BA), obtiveram cada um R$ 25.000,00 para suas respectivas campanhas. Nelson Marquezelli (PTB/SP) foi beneficiado com R$ 40.000,00 no mesmo período. Naquele ano, 55 parlamentares foram beneficiados por doações da empresa.

“O episódio do laranjal entra numa situação de confronto dos ruralistas contra o governo, contra o Incra e contra o MST. É importante ter clareza de que o caso, se houvesse acontecido em outra conjuntura, não teria a mesma repercussão como teve após o anúncio da atualização dos índices de produtividade rural”, aponta João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.

O movimento lembra que, das 30 propriedades da Cutrale, seis são consideradas improdutivas e que, “por conta do monopólio da Cutrale no comércio de suco e da imposição dos preços, agricultores que plantam laranjas foram obrigados a destruir entre 1996 a 2006 cerca de 280 mil hectares de laranjais”.




segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Serra aumenta carga tributária e tira recursos da Saúde, Educação e Segurança


review_nosferatu


Vampiro é pouco



Site do João Paulo Cunha




A administração do governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra (PSDB), revela a marca de um programa próprio de aceleração do crescimento às avessas. Iniciado em janeiro de 2007, o Governo Serra acelerou o crescimento da carga tributária cobrada dos contribuintes; das vendas de bens públicos ao setor privado; da terceirização de serviços públicos; da tolerância com os grandes devedores e do calote aos credores de precatórios. Ao mesmo tempo, reduziu a participação dos gastos com Educação, Saúde e Segurança no orçamento estadual.

Um amplo diagnóstico financeiro e orçamentário dos sucessivos governos tucanos em São Paulo, concluído ontem pela liderança do PT na Assembleia Legislativa, não apenas reafirma o modelo das administrações do PSDB. O estudo também evidencia que o governador Serra, que ambiciona suceder o presidente Lula, comanda um governo menos atento aos problemas da população do que o de seu antecessor e companheiro de partido Geraldo Alckmin. A participação dos gastos em Educação, Saúde e Segurança, por exemplo, no orçamento estadual, era maior no Governo Alckmin do que tem sido no Governo Serra.

O diagnóstico começa apontando a fúria arrecadatória dos governos do PSDB. A carga de tributos aumentou continuamente desde 2002. Em valores corrigidos pelo IPCA, o peso dos impostos sobre cada contribuinte subiu de R$ 1.732,89, em 2002, para R$ 2.268,75. Só escaparam dessa fúria os grandes devedores do Estado. A dívida deles quase triplicou – de R$ 37,2 bilhões, em 1997, para R$ 92,6 bilhões, no ano passado.

Ao longo dos governos tucanos cresceram, além da carga tributária, os gastos com terceirizações de serviços públicos – de R$ 6,74 bilhões, no ano 2000, para R$ 10,1 bilhões no ano passado.

A venda de patrimônio público teve ritmo e volume variados nas sucessivas administrações do PSDB, que privatizaram as empresas de energia – CPFL, Eletropaulo e CESP, os bancos Banespa e Nossa Caixa, mais a Comgás, a Fepasa e outras estatais e ainda as rodovias, concedidas depois de duplicadas.

O primeiro governo do PSDB em São Paulo (1995/98), comandado por Mário Covas, vendeu R$ 46,1 bilhões. O próprio Covas, no segundo mandato, e seu sucessor, Geraldo Alckmin, desaceleraram as vendas. Elas caíram para R$ 18,4 bilhões, entre 1999 e 2002, e para R$ 4,3 bilhões, entre 2003 e 2006. No Governo Serra as privatizações voltaram a crescer. Ao fim de 2010 as vendas deverão chegar a R$ 10,4 bilhões – valor quase 150% superior ao da última gestão de Alckmin.


Para fazer caixa e garantir superávits primários artificiais, os governantes do PSDB fizeram crescer a cada ano o calote aos credores de precatórios. A dívida para com esses credores aumentou de R$ 10,7 bilhões, em 2002, para R$ 19,6 bilhões neste ano.

Toda a dívida pública cresceu sob os governos tucanos. Em 1997 somava R$ 130 bilhões; em 2008 chegou ao ápice: R$ 168 bilhões. Ao mesmo tempo, entre 1998 e 2008, os gastos com Educação, Saúde e Segurança perderam participação no orçamento estadual. Em 1998 o Governo Covas gastou 14,45% em Educação; Alckmin, em 2003, gastou 16,40%; e Serra, em 2008, gastou menos de 13%.

Na Segurança, o governo de São Paulo gastou em 2002, sob o comando de Alckmin devido à morte de Covas, 10,59% do orçamento. No ano passado, sob Serra, os gastos foram inferiores a 8%.

Algo próximo se repetiu na área da Saúde. Os gastos do Governo Alckmin em 2004 chegaram a 10,42% do orçamento estadual. No ano passado, o segundo do Governo Serra, ficaram abaixo de 9%.

Na área da Habitação, os governos tucanos sequer cumpriram a lei estadual que manda destinar 1% da arrecadação do ICMS para a construção de moradias. Os investimentos previstos no período 2001 e 2008 somavam R$ 8,3 bilhões, mas foram aplicados somente R$ 5,2 bilhões. Ou seja: R$ 3,1 bilhões foram esquecidos. Já os gastos com propaganda só aumentaram. Em 2000, somaram R$ 88 milhões; em 2008, R$ 180 milhões.

Pelos cálculos do PT, Serra está longe de cumprir algumas das metas com que se comprometeu. O governador disse que criaria 50.000 vagas para o ensino médio, mas até agora criou pouco mais da metade. Serra prometeu também atender 31.650 famílias com obras e serviços de urbanização de favelas. Até agora atendeu menos de 12 mil.


Carga tributária

Em 2002, cada contribuinte paulista pagou R$ 1.732,89 em impostos estaduais. No ano passado, pagou R$ 2.268,75.

Privatizações

O Governo Serra acelerou o crescimento do programa de privatizações. A venda de patrimônio público, que alcançou R$ 4,3 bilhões no período 2003 e 2006, somará R$ 10,4 bilhões ao fim do período 2007/2010.

Gastos com terceirizações

As despesas com serviços terceirizados aumentaram de R$ 6,74 bilhões em 2000 para R$ 10,1 bilhões no ano passado.

Aumento da dívida pública

A dívida do Estado de São Paulo aumentou de R$ 130 bilhões, em 1997, para R$ 168 bilhões, em 2008.

Tolerância com grandes devedores

Os valores devidos pelos grandes contribuintes cresceram 150% – de R$ 37,2 bilhões, em 1997, para R$ 92,6 bilhões, em 2008.

Calote nos precatórios

O calote aos precatórios cresceu de R$ 10,7 bilhões, em 2002, para R$ 19,6 bilhões em 2009.

Redução de investimentos

Os governos tucanos previram a aplicação de R$ 8,3 bilhões na construção de moradias, no período 2001 a 2008. Aplicaram R$ 5,2 bilhões – R$ 3,1 bilhões a menos. Os gastos com educação, que representavam 16,40% do orçamento em 2003, passaram a representar 12,69% do orçamento em 2008. A participação dos gastos em Segurança no orçamento paulista caiu de 10,59% em 2002 para 7,67% em 2008 – mesmo nível de 10 anos antes. A participação dos gastos com Saúde caiu de 10,42%, em 2004, para 8,98% em 2008.

Investimento em propaganda

As despesas com publicidade do governo aumentaram de R$ 88 milhões, no ano 2000, para R$ 180 milhões no ano passado.

Promessas

Serra prometeu criar 50.000 vagas para o ensino médio. Criou 26.900.
Prometeu atender 31.650 famílias com urbanização de favelas. Até agora atendeu 11.935
Prometeu construir 40 unidades para a Polícia Técnica entre 2008 e 2010. Construiu 13.



'A polícia entrou atirando’, diz marido de mulher baleada na Penha





Acabo de ver o comercial da Brahma, cheio de gente feliz e batalhadora. Nas novelas da Globo vemos um Rio de Janeiro luxuoso e tranquilo. Até quando nossos veículos de mídia vão enfeitar a nossa realidade? A situação do Rio está atingindo o seu limite, e não será via repressão que esta calamidade será solucionada. Já disse aqui e repito, a situação nas periferias de São Paulo e Rio de Janeiro é semelhante a situação da Palestina, dois povos em choque de morte. A metodologia dos policias que invadem nossas favelas e periferias é semelhante a das forças armadas israelenses. Não há qualquer tipo de identificação e solidariedade por parte dos policiais com relação aos moradores de nossas comunidades carentes, isso Brasil a fora. O que temos aqui é algo próximo do Apartheid, nossas elites brancas pagam a polícia para dizimar o povo negro e nordestino que sobrevive nos arrabaldes de nossas cidades. O pior está por vir.



Ele contou que rua estava clara e que ‘dava para ver a família seguindo’.
A mulher morreu e é grave estado da filha de 11 meses, que está internada.

O marido de Ana Cristina, baleada com a filha de 11 mesmes no colo, na Favela Kelsons, na Penha, no subúrbio do Rio, afirmou, na manhã desta segunda (26), que os disparos que mataram a sua mulher e feriram sua filha vieram de policiais.

“A polícia, quando foi por volta de umas 22h30, a polícia entrou, o poste estava claro, tinha luz, dava pra eles verem que tinha uma família seguindo pra ir embora pra sua casa e eles entraram atirando”, disse o marido da vítima que não quis se identificar.

A assessoria da Polícia Militar, no entanto, informou, na manhã desta segunda-feira, que policiais do 16º BPM faziam patrulhamento na região na noite de domingo 925) quando foram atacados por traficantes. Os policiais não revidaram, porque havia muitos pedestres na rua, no momento. A PM lamentou a morte da vítima e afirmou que vai colaborar com a apuração dos fatos, entregando as armas dos policiais para a perícia.

A PM disse ainda que ajudou os feridos. O marido de Ana Cristina confirmou a informação:

"A policia só socorreu porque eu gritei, porque se eu não grito... mas também não adiantou de nada, porque ela já caiu no meu colo morta", disse.


Muito emocionado, ele contou que espera se manter forte para garantir a educação dos filhos. Além da menina de 11 meses, a dona de casa deixou mais dois filhos, um de 6 e outro de 3 anos.

“É muito difícil mesmo. Perder ela assim, por uma guerra que não é nossa, é do governo do estado, é difícil”, desabafou ele, acrescentando em seguida que se sentia indignado.

Estado de saúde do bebê

Segundo a Secretaria estadual de Saúde, o estado de saúde da criança é grave, mas estável. Ela foi operada ainda no domingo e encontra-se internada no pós-operatório do Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Ainda não é possível avaliar se ela corre o risco de perder o braço. É preciso aguardar a evolução do quadro clínico.

O corpo de Ana Cristina será enterrado no Cemitério de Irajá às 16h desta segunda-feira.

Como foi o crime

O crime aconteceu quando Ana Cristina Costa do Nascimento, de 24 anos, e mais seis pessoas – entre elas, o marido e mais dois filhos - passavam pela Rua Marcílio Dias, em direção à Avenida Brasil e vários disparos foram feitos na noite de domingo. Um dos tiros atravessou as costas da dona de casa saindo pelo peito e atingindo o braço do bebê, que estava no colo da mãe.

De acordo com parentes das vítimas, por volta das 22h de domingo, a vítima, que morava em Vista Alegre, no subúrbio, saía da favela com a família. Segundo eles, ela tinha ido visitar a irmã, que mora na Favela Kelsons, e seguia para um ponto de ônibus na Avenida Brasil, quando policiais em quatro patrulhas do 16º BPM (Olaria), entraram atirando na favela.

Parentes contaram que Ana Cristina tinha ido à casa da irmã para organizar a festa de 1 ano da filha, no mês que vem. A dona de casa deixa dois outros filhos de 6 e 3 anos, respectivamente.

Eles informaram ainda que outras pessoas do grupo não foram atingidas pelas balas porque conseguiram se jogar no chão, no momento dos disparos.

Delegado quer saber calibre da bala

O delegado Felipe Ettore, da 22ª DP (Penha), disse que está investigando todas as possibilidades: de o tiro que matou Ana Cristina e feriu a filha dela ter partido dos policiais ou dos criminosos. O delegado vai aguardar o laudo que vai informar o calibre da bala que atingiu a vítima e a filha dela. Ettore disse que não vai divulgar detalhes sobre o caso para não atrapalhar as investigações.




domingo, 25 de outubro de 2009

Carlos Marighella será cidadão paulistano



Quarenta anos depois de ser assassinado pelos militares, o mitológico Carlos Marighella, fundador da Ação Libertadora Nacional, ganhará o título de “Cidadão Paulistano”. A honraria póstuma será condedida dia 4, na Câmara Municipal, por iniciativa do vereador petista Ítalo Cardoso.

Essa será apenas uma das homenagens. Também no dia 4, sua ex-companheira, Clara Charf, comanda cerimônia na Alameda Casa Branca, local do crime. “Vamos colocar flores no local ele foi morto”, conta Clara. O guerrilheiro foi surpreendido por uma emboscada do DOPS, em ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Para fechar o ciclo, o Museu da Resistência, no antigo DOPS, receberá uma exposição sobre Marighella, que começa dia 7 com a presença de Paulo Vannuchi, ministro dos Direitos Humanos.

“Carlos Marighella é parte da história brasileira. ele acreditava que a principal tarefa era a libertação nacional e o fim da ditadura, para retomar o fio da história”, diz o ex-ministro José Dirceu. Em 2010, a história do líder da ALN será contada em um longa metragem, que está sendo produzido pela cineasta Isa Grinspun. Nascido em Salvador, em 5 de dezembro de 1911, Marighella completaria 98 anos em 2009. A edição de novembro de Fórum contará sua história.



sábado, 24 de outubro de 2009

Henry Miller



Henry Miller


Por Allan Bratfisch - twitter.com/allanbrat


Um homem à frente do seu tempo


A inquietante busca pelos saberes traduziu a vida do escritor Henry Miller, considerado um dínamo da literatura contemporânea


Henry Miller[1] esteve à frente do seu tempo. Não apenas por consagrar-se como escritor no final do século XX, mas pela versatilidade com que empregava os pensamentos diante de várias questões. Debruçava-se diante de assuntos simples aos mais complexos da vida. Enquanto escritores tentavam espremer uma ideia, Miller despejava com naturalidade um fluxo prodigioso delas no papel.

Em uma torrente elétrica, produziu uma das mais importantes obras literárias de todos os tempos: a trilogia Sexus, Plexus e Nexus, à qual também intitulou A Crucificação Encarnada.

O artista destacou-se, sobretudo, como romancista autobiográfico ao ser influenciado pela literatura confessional de Santo Agostinho. Conseguiu captar a época que viveu e durante o período mostrou talento multidisciplinar, escrevendo ensaios e críticas acerca de cinema, religião, filosofia, pintura, teatro e comportamento humano.

Henry Miller nutria a influência oriental. Tanto que o nova-iorquino nascido em Manhattan, fantasiava ter nascido na Mongólia. E meditava noite e dia sobre a obra de Lao-Tse, o “Tao te Ching”. Buscava, incessantemente, por algo que talvez não tenha encontrado em toda vida. Não por acaso, a literatura de Jacob Boheme[2] o acompanhava num período em que a ciência desprezara os “outros saberes”: o misticismo e a metafísica.

Cultivando tais sabedorias, o escritor disse em seu livro Sabedoria do Coração (1941): “a postura de Howe[3]abarca visões conflitantes de mundo; nela há lugar para incluir Whitman, Emerson, Thoreau e também o taoísmo, o zen-budismo, a astrologia, o ocultismo, etc. É uma visão eminentemente religiosa da vida, uma vez que reconhece a ‘supremacia do invisível’. Enfatiza o lado escuro da vida, tudo aquilo que se considera negativo, passivo, mau, feminino, incognoscível.”

De acordo com o literato, a ciência apenas media cuidadosamente o observável, mas desdenhava o inobservável. Ideias obscurantistas como estas, faziam-no filosofar e o motivaram quando curiosamente se tornou “psicanalista”. Período rápido, aliás, que tratava quatro pacientes por dia com uma mistura de Santo Agostinho, Emerson, Velho Testamento, Freud e Lao-Tse. Esse ofício, porém, não era seu verdadeiro talento.


Marginal - Apesar do vasto repertório linguístico e cultural, para alguns ele foi considerado apenas artista mundano. O rótulo adveio ao escrever Trópico de Câncer (1934), pelo qual relatou um mundo vivido em Paris dos artistas e escritores marginais, da fome, da miséria, das prostitutas, dos cafés. Um retrato, no entanto, diferente daquela cidade-luz na qual Hemingway descreveu em Paris é uma Festa[4].

Em O Tempo dos Assassinos (1956), Henry Miller elegeu três estandartes de sua própria revolução paradigmática. Segundo ele, Cristo, Rimbaud e Van Gogh teriam revolucionado a humanidade - por meio do sacrifício, da poesia e das cores, respectivamente. Comparou-os como o Sol, que durante os dias nos ilumina e aquece, porém, é admirado somente quando vai desaparecendo à linha do horizonte.

Para Miller, portanto, os indivíduos mais representativos de uma época são aqueles que se situam no fluxo criativo. Por outro lado, eles são sempre e inevitavelmente rejeitados e “crucificados”. “Tais homens vivem no tempo sideral, que é a cronologia do poeta e não a do astrônomo. O visionário prediz as estrelas e os planetas que serão descobertos, porque estes indivíduos pertencem tanto à Terra quanto às estrelas”. (MILLER, Sabedoria do Coração, p-65).



[1] Henry Valentine Miller, escritor norte-americano (1891-1980).

[2] Jacob Böehme (1575-1624), de origem humilde e filho de luteranos alemães, escreveu livros como "Die Morgenrotte im Aufgang" (O vermelho Matutino), “Von der Drei Principien Gottliches Wesens" (Os Três Princípios da Natureza de Deus); entre outros.

[3] E. Graham Howe, psiquiatra inglês, autor dos livros I and Me, Time and Child e War Dance.

[4] Paris é uma Festa, livro de reminiscências do romancista norte-americano Ernest Hemingway