sábado, 31 de outubro de 2009
BESOURO - Nasce um Herói
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
Homenagem a Marighella, Programação
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
Serra zera orçamento de SP para investimentos em educação
Contando com recursos federais para obras em 2010, proposta de orçamento estadual não destina verbas para a área. Saúde, habitação e saneamento também sofrem cortes
Por: Suzana Vier - Brasil Atual
A proposta orçamentária para o estado de São Paulo em 2010 prevê um corte de 35% dos investimentos do governo na área de saúde e redução total em educação. Nessas duas áreas, o orçamento para reformas e construções vai contar com reforços previstos no orçamento da União.
Estudo realizado pela Liderança do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo a partir do orçamento apresentado pelo governo do estado para 2010 demonstra que também haverá cortes em áreas de impacto social, como segurança e administração penitenciária. O trabalho observa uma projeção de expansão menor do PIB do estado em relação ao do país.
“O presidente do Bradesco fala em crescimento de 5,7% ou 6% (do PIB nacional) para o ano que vem. O orçamento de São Paulo projeta um crescimento de apenas 3,5%”, o líder da bancada petista na Casa, deputado Rui Falcão.
Na saúde, o investimento global cairá mais de 10%. Em 2009, o orçamento foi de R$ 507 milhões, já o previsto para 2010 será de R$ 449 milhões. Desse total, R$ 306,5 milhões, 68%, virão investidos do governo federal. “Obras como construção ou ampliação de hospitais, compra de equipamentos e de materiais permanentes ficarão comprometidas sem o aporte estadual”, constata o deputado Adriano Diogo.
Em educação, a situação é um pouco pior porque não há previsão de investimentos com recursos do estado na área. Só haverá recursos do governo federal. “Da forma como o Serra apresentou o orçamento para o ano que vem, as escolas de São Paulo vão poder contar com R$ 500 milhões de origem federal, mais nada”, alerta.
A administração penitenciária sofreu um corte de R$ 194,3 milhões, que representa 55% a menos de verbas estaduais. Mas vai contar com R$ 77 milhões federais.
O Centro Paula Souza, responsável pelo ensino técnico no estado vai amargar 50% a menos de investimentos. “É gravíssimo um corte na área educacional”, lamenta o deputado Marcos Martins.
Cortando na carne
A projeção para 2010 também mostra que o Departamento de Estradas e Rodagem (DER) além de não ter investimentos vai perder R$ 990 milhões, a Polícia Civil vai ter menos R$ 20 milhões de custeio, a Secretaria de Habitação menos R$ 60 milhões, a Cetesb menos R$ 65,6 milhões, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) menos 47 milhões. Custeio é a verba destinada a materiais de consumo, contratação de terceiros e compras para fazer a administração pública funcionar.
O pagamento de dívidas também vai sofrer retração com 4,5% a menos disponível em 2010.
De acordo com análise de Falcão, os municípios também não vão passar ilesos com o corte nas verbas para transporte escolar de alunos da educação básica, estradas vicinais, planos de desenvolvimento sustentável, instalações da Polícia Civil. A implantação de equipamentos sociais tem previsão de receber verba de R$ 10. “É cada vez maior a transferência de responsabilidade do estado para os municípios”, denuncia Falcão.
As empresas estatais Sabesp, CDHU e o porto de São Sebastião vão sair perdendo no próximo ano. Mas, o mais grave para os deputados, é a redução de 38% na urbanização de favelas, de 38,4% no tratamento de esgotos coletados e de 10,6% na coleta de esgotos.
Dependência financeira
Cada vez mais recursos federais e empréstimos financiam os investimentos em São Paulo. Enquanto caiu a participação dos recursos estaduais e de concessões, a participação de recursos federais aumentou 84,9%. Empréstimos também cresceram 52,5% . “Tudo isso significa que o orçamento de São Paulo depende cada vez mais de empréstimos e do governo federal. Isso aponta uma dificuldade do estado em investir”, aponta Falcão.
Publicidade e consultoria em expansão
Um balanço dos gastos de publicidade do governo estadual nos últimos anos, sem incluir as empresas estatais, demonstra que o governador José Serra gasta 400% a mais em publicidade que o antecessor do mesmo partido (PSDB), Geraldo Alckmin. “Alckmin no último ano de governo gastou R$ 38,2 milhões em propaganda, já o Serra esse ano gastou mais de R$ 200 milhões”, destaca Diogo.
Recursos para passagens e despesas com locomoção (25%) e serviços de assessoria (12%) também terão orçamento maior.
Cabe agora aos deputados estaduais apresentarem emendas ao orçamento estadual para tentar corrigir as distorções. “Vamos propor emendas, mas depende do plenário aprová-las”, encerra Falcão.
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
Um Halloween mais brasileiro
Revista Fórum
Essa vai para aquelas professorinhas de inglês que vivem tentando empurrar a cultura estadunidense guela abaixo de nossas criranças.
Dia 31 de outubro, sábado, é a data que marca o Halloween. Mas o que pouca gente sabe é que também é o dia de um dos maiores mitos brasileiros, o Saci. A ideia da criação da data foi justamente se contrapor ao Dia das Bruxas anglo-saxônico, fazendo um resgate da cultura e do folclore brasileiros.
Dentro desse espírito, será lançado nesta quinta-feira (29), em São Paulo, o Anuário do Saci e seus Amigos-Mitologia Brasílica. Trata-se de uma obra do escritor Mouzar Benedito, colaborador da Fórum, com ilustrações de Ohi. Ali, pode-se acompanhar resgates de histórias como a do Jurupari, que até a chegada dos portugueses ao Brasil era o deus mais cultuado por essas bandas, tido como filho e embaixador do Sol. E a Cotaluna, uma das mais famosas lendas paraibanas, figura metade mulher e metade peixe, que encanta os homens e os leva para o fundo do rio. Mas, diferentemente das sereias, ela se transforma apenas na estação chuvosa, sendo uma mulher normal durante o resto do ano.
Estas e outras lendas do folclore brasileiro estão presentes na obra que, a cada mês, traz uma figura da mitologia brasileira. Além disso, todos os dias, um ou mais acontecimentos históricos que lembram a importância da data são retratados. Tudo com muito bom humor e uma narrativa envolvente.
Lançamento Anuário do Saci e seus Amigos-Mitologia Brasílica 29 de outubro, a partir das 19 horas
Bar Canto Madalena - Rua Medeiros de Albuquerque, 471
Vila Madalena, São Paulo.
Pedidos pelo e-mail livros@publisherbrasil.com.br
terça-feira, 27 de outubro de 2009
MST acusa deputados favoráveis à CPI de receberem doação do agronegócio
Arnaldo Madeira, Carlos Henrique Sampaio, Jutahy Junior e Nelson Marquezelli são quatro dos 55 deputados beneficiados por dinheiro da Cutrale durante a campanha de 2006
Quatro deputados federais que assinaram o requerimento pedindo a criação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) contra o MST receberam doações da Cutrale. De acordo com levantamento do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra, a empresa de sucos de laranja distribuiu quase R$ 2 milhões na campanha de 2006.
A abertura da CPI, que havia sido barrada em uma primeira ocasião, ganhou novo fôlego depois que integrantes do MST ocuparam uma fazenda da Cutrale em Iaras, no interior de São Paulo. Com isso, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e parlamentares ruralistas conseguiram facilmente as assinaturas necessárias para abrir as investigações.
De acordo com o MST, Arnaldo Madeira (PSDB/SP) recebeu, em setembro de 2006, R$ 50.000,00 em doações da empresa. Carlos Henrique Focesi Sampaio, também do PSDB paulista, e Jutahy Magalhães Júnior (PSDB/BA), obtiveram cada um R$ 25.000,00 para suas respectivas campanhas. Nelson Marquezelli (PTB/SP) foi beneficiado com R$ 40.000,00 no mesmo período. Naquele ano, 55 parlamentares foram beneficiados por doações da empresa.
“O episódio do laranjal entra numa situação de confronto dos ruralistas contra o governo, contra o Incra e contra o MST. É importante ter clareza de que o caso, se houvesse acontecido em outra conjuntura, não teria a mesma repercussão como teve após o anúncio da atualização dos índices de produtividade rural”, aponta João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST.
O movimento lembra que, das 30 propriedades da Cutrale, seis são consideradas improdutivas e que, “por conta do monopólio da Cutrale no comércio de suco e da imposição dos preços, agricultores que plantam laranjas foram obrigados a destruir entre 1996 a 2006 cerca de 280 mil hectares de laranjais”.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Serra aumenta carga tributária e tira recursos da Saúde, Educação e Segurança
Vampiro é pouco
A administração do governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra (PSDB), revela a marca de um programa próprio de aceleração do crescimento às avessas. Iniciado em janeiro de 2007, o Governo Serra acelerou o crescimento da carga tributária cobrada dos contribuintes; das vendas de bens públicos ao setor privado; da terceirização de serviços públicos; da tolerância com os grandes devedores e do calote aos credores de precatórios. Ao mesmo tempo, reduziu a participação dos gastos com Educação, Saúde e Segurança no orçamento estadual.
Um amplo diagnóstico financeiro e orçamentário dos sucessivos governos tucanos em São Paulo, concluído ontem pela liderança do PT na Assembleia Legislativa, não apenas reafirma o modelo das administrações do PSDB. O estudo também evidencia que o governador Serra, que ambiciona suceder o presidente Lula, comanda um governo menos atento aos problemas da população do que o de seu antecessor e companheiro de partido Geraldo Alckmin. A participação dos gastos em Educação, Saúde e Segurança, por exemplo, no orçamento estadual, era maior no Governo Alckmin do que tem sido no Governo Serra.
O diagnóstico começa apontando a fúria arrecadatória dos governos do PSDB. A carga de tributos aumentou continuamente desde 2002. Em valores corrigidos pelo IPCA, o peso dos impostos sobre cada contribuinte subiu de R$ 1.732,89, em 2002, para R$ 2.268,75. Só escaparam dessa fúria os grandes devedores do Estado. A dívida deles quase triplicou – de R$ 37,2 bilhões, em 1997, para R$ 92,6 bilhões, no ano passado.
Ao longo dos governos tucanos cresceram, além da carga tributária, os gastos com terceirizações de serviços públicos – de R$ 6,74 bilhões, no ano 2000, para R$ 10,1 bilhões no ano passado.
A venda de patrimônio público teve ritmo e volume variados nas sucessivas administrações do PSDB, que privatizaram as empresas de energia – CPFL, Eletropaulo e CESP, os bancos Banespa e Nossa Caixa, mais a Comgás, a Fepasa e outras estatais e ainda as rodovias, concedidas depois de duplicadas.
O primeiro governo do PSDB em São Paulo (1995/98), comandado por Mário Covas, vendeu R$ 46,1 bilhões. O próprio Covas, no segundo mandato, e seu sucessor, Geraldo Alckmin, desaceleraram as vendas. Elas caíram para R$ 18,4 bilhões, entre 1999 e 2002, e para R$ 4,3 bilhões, entre 2003 e 2006. No Governo Serra as privatizações voltaram a crescer. Ao fim de 2010 as vendas deverão chegar a R$ 10,4 bilhões – valor quase 150% superior ao da última gestão de Alckmin.
Para fazer caixa e garantir superávits primários artificiais, os governantes do PSDB fizeram crescer a cada ano o calote aos credores de precatórios. A dívida para com esses credores aumentou de R$ 10,7 bilhões, em 2002, para R$ 19,6 bilhões neste ano.
Toda a dívida pública cresceu sob os governos tucanos. Em 1997 somava R$ 130 bilhões; em 2008 chegou ao ápice: R$ 168 bilhões. Ao mesmo tempo, entre 1998 e 2008, os gastos com Educação, Saúde e Segurança perderam participação no orçamento estadual. Em 1998 o Governo Covas gastou 14,45% em Educação; Alckmin, em 2003, gastou 16,40%; e Serra, em 2008, gastou menos de 13%.
Na Segurança, o governo de São Paulo gastou em 2002, sob o comando de Alckmin devido à morte de Covas, 10,59% do orçamento. No ano passado, sob Serra, os gastos foram inferiores a 8%.
Algo próximo se repetiu na área da Saúde. Os gastos do Governo Alckmin em 2004 chegaram a 10,42% do orçamento estadual. No ano passado, o segundo do Governo Serra, ficaram abaixo de 9%.
Na área da Habitação, os governos tucanos sequer cumpriram a lei estadual que manda destinar 1% da arrecadação do ICMS para a construção de moradias. Os investimentos previstos no período 2001 e 2008 somavam R$ 8,3 bilhões, mas foram aplicados somente R$ 5,2 bilhões. Ou seja: R$ 3,1 bilhões foram esquecidos. Já os gastos com propaganda só aumentaram. Em 2000, somaram R$ 88 milhões; em 2008, R$ 180 milhões.
Pelos cálculos do PT, Serra está longe de cumprir algumas das metas com que se comprometeu. O governador disse que criaria 50.000 vagas para o ensino médio, mas até agora criou pouco mais da metade. Serra prometeu também atender 31.650 famílias com obras e serviços de urbanização de favelas. Até agora atendeu menos de 12 mil.
'A polícia entrou atirando’, diz marido de mulher baleada na Penha
Ele contou que rua estava clara e que ‘dava para ver a família seguindo’.
A mulher morreu e é grave estado da filha de 11 meses, que está internada.
O marido de Ana Cristina, baleada com a filha de 11 mesmes no colo, na Favela Kelsons, na Penha, no subúrbio do Rio, afirmou, na manhã desta segunda (26), que os disparos que mataram a sua mulher e feriram sua filha vieram de policiais.
“A polícia, quando foi por volta de umas 22h30, a polícia entrou, o poste estava claro, tinha luz, dava pra eles verem que tinha uma família seguindo pra ir embora pra sua casa e eles entraram atirando”, disse o marido da vítima que não quis se identificar.
A assessoria da Polícia Militar, no entanto, informou, na manhã desta segunda-feira, que policiais do 16º BPM faziam patrulhamento na região na noite de domingo 925) quando foram atacados por traficantes. Os policiais não revidaram, porque havia muitos pedestres na rua, no momento. A PM lamentou a morte da vítima e afirmou que vai colaborar com a apuração dos fatos, entregando as armas dos policiais para a perícia.
A PM disse ainda que ajudou os feridos. O marido de Ana Cristina confirmou a informação:
"A policia só socorreu porque eu gritei, porque se eu não grito... mas também não adiantou de nada, porque ela já caiu no meu colo morta", disse.
Muito emocionado, ele contou que espera se manter forte para garantir a educação dos filhos. Além da menina de 11 meses, a dona de casa deixou mais dois filhos, um de 6 e outro de 3 anos.
“É muito difícil mesmo. Perder ela assim, por uma guerra que não é nossa, é do governo do estado, é difícil”, desabafou ele, acrescentando em seguida que se sentia indignado.
Estado de saúde do bebê
Segundo a Secretaria estadual de Saúde, o estado de saúde da criança é grave, mas estável. Ela foi operada ainda no domingo e encontra-se internada no pós-operatório do Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Ainda não é possível avaliar se ela corre o risco de perder o braço. É preciso aguardar a evolução do quadro clínico.
O corpo de Ana Cristina será enterrado no Cemitério de Irajá às 16h desta segunda-feira.
Como foi o crime
O crime aconteceu quando Ana Cristina Costa do Nascimento, de 24 anos, e mais seis pessoas – entre elas, o marido e mais dois filhos - passavam pela Rua Marcílio Dias, em direção à Avenida Brasil e vários disparos foram feitos na noite de domingo. Um dos tiros atravessou as costas da dona de casa saindo pelo peito e atingindo o braço do bebê, que estava no colo da mãe.
De acordo com parentes das vítimas, por volta das 22h de domingo, a vítima, que morava em Vista Alegre, no subúrbio, saía da favela com a família. Segundo eles, ela tinha ido visitar a irmã, que mora na Favela Kelsons, e seguia para um ponto de ônibus na Avenida Brasil, quando policiais em quatro patrulhas do 16º BPM (Olaria), entraram atirando na favela.
Parentes contaram que Ana Cristina tinha ido à casa da irmã para organizar a festa de 1 ano da filha, no mês que vem. A dona de casa deixa dois outros filhos de 6 e 3 anos, respectivamente.
Eles informaram ainda que outras pessoas do grupo não foram atingidas pelas balas porque conseguiram se jogar no chão, no momento dos disparos.
Delegado quer saber calibre da bala
O delegado Felipe Ettore, da 22ª DP (Penha), disse que está investigando todas as possibilidades: de o tiro que matou Ana Cristina e feriu a filha dela ter partido dos policiais ou dos criminosos. O delegado vai aguardar o laudo que vai informar o calibre da bala que atingiu a vítima e a filha dela. Ettore disse que não vai divulgar detalhes sobre o caso para não atrapalhar as investigações.
domingo, 25 de outubro de 2009
Carlos Marighella será cidadão paulistano
Quarenta anos depois de ser assassinado pelos militares, o mitológico Carlos Marighella, fundador da Ação Libertadora Nacional, ganhará o título de “Cidadão Paulistano”. A honraria póstuma será condedida dia 4, na Câmara Municipal, por iniciativa do vereador petista Ítalo Cardoso.
Essa será apenas uma das homenagens. Também no dia 4, sua ex-companheira, Clara Charf, comanda cerimônia na Alameda Casa Branca, local do crime. “Vamos colocar flores no local ele foi morto”, conta Clara. O guerrilheiro foi surpreendido por uma emboscada do DOPS, em ação coordenada pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Para fechar o ciclo, o Museu da Resistência, no antigo DOPS, receberá uma exposição sobre Marighella, que começa dia 7 com a presença de Paulo Vannuchi, ministro dos Direitos Humanos.
“Carlos Marighella é parte da história brasileira. ele acreditava que a principal tarefa era a libertação nacional e o fim da ditadura, para retomar o fio da história”, diz o ex-ministro José Dirceu. Em 2010, a história do líder da ALN será contada em um longa metragem, que está sendo produzido pela cineasta Isa Grinspun. Nascido em Salvador, em 5 de dezembro de 1911, Marighella completaria 98 anos em 2009. A edição de novembro de Fórum contará sua história.
sábado, 24 de outubro de 2009
Henry Miller
Por Allan Bratfisch - twitter.com/allanbrat
Um homem à frente do seu tempo
A inquietante busca pelos saberes traduziu a vida do escritor Henry Miller, considerado um dínamo da literatura contemporânea
Henry Miller[1] esteve à frente do seu tempo. Não apenas por consagrar-se como escritor no final do século XX, mas pela versatilidade com que empregava os pensamentos diante de várias questões. Debruçava-se diante de assuntos simples aos mais complexos da vida. Enquanto escritores tentavam espremer uma ideia, Miller despejava com naturalidade um fluxo prodigioso delas no papel.
Em uma torrente elétrica, produziu uma das mais importantes obras literárias de todos os tempos: a trilogia Sexus, Plexus e Nexus, à qual também intitulou A Crucificação Encarnada.
O artista destacou-se, sobretudo, como romancista autobiográfico ao ser influenciado pela literatura confessional de Santo Agostinho. Conseguiu captar a época que viveu e durante o período mostrou talento multidisciplinar, escrevendo ensaios e críticas acerca de cinema, religião, filosofia, pintura, teatro e comportamento humano.
Henry Miller nutria a influência oriental. Tanto que o nova-iorquino nascido em Manhattan, fantasiava ter nascido na Mongólia. E meditava noite e dia sobre a obra de Lao-Tse, o “Tao te Ching”. Buscava, incessantemente, por algo que talvez não tenha encontrado em toda vida. Não por acaso, a literatura de Jacob Boheme[2] o acompanhava num período em que a ciência desprezara os “outros saberes”: o misticismo e a metafísica.
Cultivando tais sabedorias, o escritor disse em seu livro Sabedoria do Coração (1941): “a postura de Howe[3]abarca visões conflitantes de mundo; nela há lugar para incluir Whitman, Emerson, Thoreau e também o taoísmo, o zen-budismo, a astrologia, o ocultismo, etc. É uma visão eminentemente religiosa da vida, uma vez que reconhece a ‘supremacia do invisível’. Enfatiza o lado escuro da vida, tudo aquilo que se considera negativo, passivo, mau, feminino, incognoscível.”
De acordo com o literato, a ciência apenas media cuidadosamente o observável, mas desdenhava o inobservável. Ideias obscurantistas como estas, faziam-no filosofar e o motivaram quando curiosamente se tornou “psicanalista”. Período rápido, aliás, que tratava quatro pacientes por dia com uma mistura de Santo Agostinho, Emerson, Velho Testamento, Freud e Lao-Tse. Esse ofício, porém, não era seu verdadeiro talento.
Marginal - Apesar do vasto repertório linguístico e cultural, para alguns ele foi considerado apenas artista mundano. O rótulo adveio ao escrever Trópico de Câncer (1934), pelo qual relatou um mundo vivido em Paris dos artistas e escritores marginais, da fome, da miséria, das prostitutas, dos cafés. Um retrato, no entanto, diferente daquela cidade-luz na qual Hemingway descreveu em Paris é uma Festa[4].
Em O Tempo dos Assassinos (1956), Henry Miller elegeu três estandartes de sua própria revolução paradigmática. Segundo ele, Cristo, Rimbaud e Van Gogh teriam revolucionado a humanidade - por meio do sacrifício, da poesia e das cores, respectivamente. Comparou-os como o Sol, que durante os dias nos ilumina e aquece, porém, é admirado somente quando vai desaparecendo à linha do horizonte.
Para Miller, portanto, os indivíduos mais representativos de uma época são aqueles que se situam no fluxo criativo. Por outro lado, eles são sempre e inevitavelmente rejeitados e “crucificados”. “Tais homens vivem no tempo sideral, que é a cronologia do poeta e não a do astrônomo. O visionário prediz as estrelas e os planetas que serão descobertos, porque estes indivíduos pertencem tanto à Terra quanto às estrelas”. (MILLER, Sabedoria do Coração, p-65).
[1] Henry Valentine Miller, escritor norte-americano (1891-1980).
[2] Jacob Böehme (1575-1624), de origem humilde e filho de luteranos alemães, escreveu livros como "Die Morgenrotte im Aufgang" (O vermelho Matutino), “Von der Drei Principien Gottliches Wesens" (Os Três Princípios da Natureza de Deus); entre outros.
[3] E. Graham Howe, psiquiatra inglês, autor dos livros I and Me, Time and Child e War Dance.
[4] Paris é uma Festa, livro de reminiscências do romancista norte-americano Ernest Hemingway