sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Pelo fim do genocídio




Estreia hoje Salve Geral, filme sobre os eventos ocorridos em maio de 2006, em São Paulo, envolvendo PCC e polícia. Resolvi postar aqui alguns testemunhos que foram publicados pela Revista Fórum logo após os massacres. Quando li esses depoimentos fiquei profundamente chocado, e ao mesmo tempo envergonhado em viver em um estado que sustenta uma força policial fascista e genocida. Foram 493 brasileiros assassinados, a maioria sequer tinha ficha policial, essas pessoas morreram simplesmente por morar na periferia. A sanha assassina e vingativa dos policiais que invadiram bairros e favelas atirando, após a matança de policiais por parte do PCC, era um ato de punição as comunidades, pouco importava se as pessoas estavam envolvidas com o Partido, morreram por que estavam ali. Os assassinos partiram do princípio de que todo morador ali presente era passível de culpa. A metodologia da polícia paulista é muito semelhante a da forças militares de Israel contra os palestinos. Assim como todo palestino é visto como terrorista pelas forças de Israel, todo morador de periferia é visto como bandido pela polícia paulista. Mesmo que essas pessoas estivessem envolvidas com o PCC, ainda assim não haveria justificativa para a barbárie que veremos abaixo.


No Parque Bristol, periferia de São Paulo, Dona Helenita estava com o marido naquele domingo, 14 de maio, assistindo ao Fantástico. O programa exibia uma reportagem que falava a respeito das vítimas dos ataques do PCC. Ela vê a matéria, se emociona, chora e comenta com o esposo: “Nossa, como devem estar as mães desses policiais agora...”.
Logo após, ouvem-se tiros. Durante quatro minutos uma saraivada de estampidos atemoriza os moradores do local. Em meio a isso, seu marido sai na janela e vê cinco jovens, entre eles dois de seus quatro filhos, sendo alvejados por quatro homens encapuzados que saíam de um Vectra preto sem placa. Seo Israel se desespera e grita: “parem com isso! Eles são trabalhadores, não são bandidos”, gritou do andar de cima do seu sobrado. “Fica quieto e se você descer a gente mata você também”, respondeu um deles. “Então vão ter que me matar”, retrucou o homem que, quando chegou até o quintal, já não encontrou o carro com os assassinos. No chão, quatro pessoas ensangüentadas, com tiros em várias partes do corpo. Um havia conseguido escapar, mesmo atingido na perna, e se escondeu em uma das casas do local para não ser pego.
“Meu filho morreu, foi um pedaço de mim embora”, diz Dona Helenita. Edivaldo Soares de Andrade não resistiu aos ferimentos, enquanto o irmão, Eduardo Soares de Andrade, mesmo com perfurações nos pulmões e intestino, conseguiu resistir após ter se fingido de morto. Junto com eles, no mesmo local onde conversavam, morreram Fábio de Lima Andrade e Israel Alves da Silva.
“Ele tinha saído fazia cinco minutos da minha casa”, relembra Ana Carla Chavier Alves, namorada de Fábio, uma das vítimas da chacina que está sob investigação e pode integrar uma ação típica de esquadrão da morte, dentro da série de homicídios ocorridos no estado de São Paulo após os ataques atribuídos ao PCC.


No dia 28 de junho, uma quarta-feira, às 21h30, a reportagem de Fórum esteve na Favela dos Pilões. Estivemos no exato local onde foram atingidos e mortos Cristiano Augusto Rodrigues e os irmãos Jefferson e Rogério. Ali, foi contada essa versão por duas pessoas, que disseram o que segue e estavam dispostas a repetir a mesma história à Justiça.

Testemunha A –“Tínhamos acabado de sair de um "bar da tia" . O Rogério e o Jéferson estavam lá também. A gente conhecia os meninos e eles sempre foram muito bons, muito legais com a gente. Saímos do bar antes deles, eram 21h40 e fomos cada um foi para sua casa dormir. Eles ainda perguntaram se a gente queria que eles nos acompanhassem. Naqueles dias, estava um pouco perigoso, mas a gente disse que não precisava. Acordei com os tiros e fui para a janela, para ver o que estava acontecendo. Não abri, fiquei com ela fechada, mas ainda deu pra escutar um dos garotos, não sei nem se era um deles ou se era o terceiro, o Cristiano. Sei que esse implorou para não lhe matarem. A voz estava meio estranha, meio fraca. Ele falou alguma coisa como ‘me prende, mas não me mata, eu já tô morrendo’. E aí ouvi outro tiro. Foi nele, isso deu pra perceber, foi naquele que falava... Depois disso, pararam os tiros e fiquei ouvindo o que estava acontecendo. Era difícil ouvir direito e muito difícil enxergar alguma coisa, porque logo depois disso eles (os policiais) apagaram a luz de todas as casas. Só ficou acessa a luz de uma casa, aquela ali (aponta para uma lâmpada que fica em uma área interna de uma residência, um tipo de varanda. Para apagá-la seria necessário pular um portão de ferro de aproximadamente 1m60 de altura em cujo topo há lanças).

Testemunha B – Depois que eles apagaram as luzes e começaram a mexer nos corpos, tirando eles de lugar, dava para ver e ouvir que eles conversaram naqueles rádios, parece que falavam com uma viatura. Eles diziam para a viatura estacionar na Maciel (rua Maciel Parente). É que ali é a rua mais perto desta viela e facilita para tirar o corpo, porque eles não iam conseguir entrar com o carro aqui.

Testemunha A – Eles ficaram até umas 4h da manhã. E limparam tudo. No dia seguinte não tinha nem mancha de sangue direito. Acordei e a primeira coisa foi tentar ver o que tinha acontecido. Mesmo estando escuro dava pra ver que eles usaram água de esgoto pra lavar as coisas, até porque nesta viela não tem torneira, a única água que tem na rua é de esgoto.

Testemunha B – Dava para ver até um lavando o outro, depois que eles arrastaram os corpos. E eles também usaram a água de esgoto para se limpar. Ouvi um falar ‘nossa, que cheiro horrível!’. Um jogava um pouco daquela água no outro, assim com a mão (mostra uma mão jogando água em outra pessoa).


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