Até quando?
Na contramão do comandante da PM paulista, coronel Álvaro Camilo, que nos casos dos assassinatos dos dois motoboys negros, negou a existência de racismo na institutição, o major negro Airton Edno Ribeiro, chefe da divisão de ensino do Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES), afirma que o racismo é uma das marcas da corporação.
“É preciso dar ênfase no respeito à dignidade humana dos negros nas abordagens, o que exige mudança do modelo conceitual de gestão educacional”, acrescentou, em entrevista aos repórteres Luciano Cavenagui e Tahiane Stochero, do Diário de S. Paulo. O major está, no momento, em Madri, Espanha, fazendo curso de especialização.
Racismo na PM
Para fundamentar a afirmação citou a dissertação de mestrado que tem como título “A Relação da Polícia Militar Paulista com a Comunidade Negra e o Respeito à Dignidade Humana: a Questão da Abordagem Policial”, apresentada por ele no final de 2009 na Universidade Federal de S. Carlos.
Na tese defendida por ele, de 129 páginas, pela qual ganhou o título de Mestre em Educação das Relações Raciais, o major menciona diversos livros sobre o tema, pesquisas de institutos e levantamentos feitos por iniciativa própria. Foram ouvidos 50 cabos e soldados, que admitiram que, antes de entrarem na PM, achavam que havia preconceito contra negros. Depois de ingressarem não achavam mais: tinham certeza.
As famílias dos dois motoboys assassinados – um dos quais, Alexandre Menezes dos Santos, na frente da própria mãe, e outro, Eduardo Luiz Pinheiro dos Santos, sob tortura no Quartel da Companhia da PM na Zona Norte – disseram que, na violência que resultou nas mortes, a condição racial de ambos foi determinante.
Cultura racista
Segundo o major Edno, o preconceito existente na corporação está ligado a cultura organizacional. “Não foram poucos os relatos dos participantes da pesquisa sobre a herança histórica de perseguição aos negros pela polícia”, disse .
O oficial, que já havia revelado os dados do estudo no Congresso de Advogados Afro-Brasileiros promovido pela OAB/SP, em julho do ano passado, lembrou a pesquisa de caráter nacional “Discriminação racial e preconceito de cor no Brasil”, realizada em 2003 pela Fundação Perseu Abramo. Na pesquisa 51% dos negros declararam que já sofreram discriminação da polícia, percentual que cai para 15% quando a mesma pergunta foi feita aos brancos.
Os dados e o estudo do major foram objeto de matéria da Afropress de 04 de julho do ano passado e agora são abordados por veículos da grande mídia.
Dos negros vítimas de preconceito, 78% disseram que foram discriminados por policiais brancos. Foram ouvidas 5.003 pessoas com 16 anos ou mais em 266 municípios. As entrevistas foram feitas nas residências dos consultados, com duração média de 60 minutos.
A violência e racismo também aparecem relacionados no Mapa da Violência 2010, em que são analisados os homicídios entre 1997 e 2007. O estudo indica que um negro tem 107,6% mais chances de morrer assassinado do que uma pessoa branca.
Em S. Paulo, levantamento do Departamento Penitenciário Nacional, feito em dezembro de 2009, mostra que os negros representam 50,46% da população carcerária.
O pior é que isso não é nenhuma novidade no nosso país!
ResponderExcluirÉ Maria, concordo, e mais - além de não ser novidade é tratado com conformismo :"É assim mesmo". Como fosse coisa irremediável. Bárbárie...
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