terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Comissão da Verdade: 50 mil pessoas tiveram direitos violados durante a ditadura


Cinquenta mil pessoas foram atingidas de alguma maneira e tiveram direitos violados pela repressão durante a ditadura (1964-1985), aponta levantamento da Comissão Nacional da Verdade, que se reuniu hoje (25), em Brasília, com comissões estaduais e institucionais. Esse número inclui presos, exilados e torturados, além de familiares que perderam parentes e pessoas que sofreram algum tipo de perseguição. Um dos grupos de trabalho da CNV informou que já colheu 40 depoimentos, entre os quais de 12 agentes da repressão.
Comissão da Verdade: 50 mil pessoas tiveram direitos violados durante a ditadura
De acordo com o novo coordenador da comissão, Paulo Sérgio Pinheiro, que assumiu o cargo no dia 16, até agora foram examinados “por baixo” 30 milhões de páginas de documentos e também foram realizadas centenas de entrevistas. Pelo volume de informações, ele estima que a comissão deverá continuar pesquisando até o final do ano, quando terá um esboço do relatório final. “O relatório tem de estar nas mãos da presidenta da República (Dilma Rousseff) até dia 16 de maio (do ano que vem). Em princípio, acordamos entre nós que até dezembro a grande minuta do relatório tem de estar pronta”, afirmou.

A CNV também assinou acordos de cooperação com a Associação Nacional de História (Anpuh), com o Conselho Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Direito (Conpedi), a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro. Desde maio do ano passado, quando foi criada, a comissão havia firmado acordo com 12 instituições.
“A colaboração entre a CNV e outras comissões da verdade e entidades que lutam pela memória e verdade é decisiva para nosso trabalho, principalmente visando ao relatório final que iremos apresentar em 2014", disse Pinheiro. “Estamos compartilhando nossa metodologia, nossa estratégia com uma ampla gama de comissões da verdade já criadas, algumas em criação e outros grupos que estão em processo de criação de suas comissões.”
A Comissão da Verdade dos Jornalistas informou que o número de casos já levantados de profissionais mortos pela ditadura, hoje em 16, vai aumentar. “Recebemos informações de outras investigações que apontam 24 jornalistas”, disse Rose Nogueira, representante da comissão.
A comissão nacional recebeu da Petrobras recentemente mais de 400 rolos de microfilmes, entre outros documentos. O material ajudará a CNV a analisar como a ditadura monitorava trabalhadores da estatal.
A Comissão da Verdade de São Paulo quer que o Itamaraty solicite ao governo dos Estados Unidos informações sobre Claris Halliwell, adido no consulado americano em São Paulo, que ia com frequência à sede do Dops na primeira metade dos anos 1970, conforme documentos obtidos no Arquivo Público do Estado. O pedido formal foi feito hoje. Amanhã, na Assembleia Legislativa, a comissão promove a partir das 10h audiência pública para discutir três casos de vítimas da repressão:  Honestino Monteiro Guimarães, José Maria Ferreira Araújo e Paulo Stuart Wright.
A próxima reunião da comissão nacional está marcada para 4 de março.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Eliminar grandes predadores desequilibra o clima. Eliminar grandes predadores como leões, lobos e tubarões é trágico, ruim para os ecossistemas – e pode piorar as mudanças climáticas.



Eliminar grandes predadores como leões, lobos e tubarões é trágico, ruim para os ecossistemas – e pode piorar as mudanças climáticas. As extinções em massa de grandes animais das florestas, pastagens e oceanos já poderá estar a acrescentar gases do efeito estufa na atmosfera. Artigo de Fred Pearce publicado por Instituto CarbonoBrasil
Eliminar grandes predadores como leões, lobos e tubarões é trágico, ruim para os ecossistemas – e pode piorar as mudanças climáticas. Foto de Dennis from Atlanta/Flickr
Trisha Atwood, da Universidade da Colúmbia Britânica em Vancouver, Canadá, estudou o efeito de retirar peixes predadores de lagoas e rios no Canadá e na Costa Rica. Numa série de ecossistemas, climas e predadores, ela descobriu um padrão consistente: as emissões de dióxido de carbono aumentaram tipicamente mais de dez vezes depois que os predadores foram retirados.
“Parece que os predadores em muitos tipos de ecossistemas – marinhos e terrestres, assim como de água doce – podem ter um papel muito grande nas mudanças climáticas”, disse ela à New Scientist.
Os impactos ecológicos generalizados e dramáticos da perda dos maiores predadores são bem conhecidos.
Na “cascata trófica”, as presas dos maiores predadores eliminados proliferam, o que por sua vez coloca pressão nas espécies que a presa come, e assim por diante na cadeia alimentar. Dessa forma, as mudanças no topo de uma cadeia alimentar desestabilizam o equilíbrio de várias populações.
Mas os impactos geoquímicos das cascatas tróficas, incluindo qualquer impacto nas emissões dos ecossistemas, são muito menos conhecidos. O estudo de Atwood sobre ecossistemas de águas doces mostrou como mudanças em espécies da base da cadeia alimentar, como algas fotossintéticas, a seguir à retirada de um grande predador, aumentaram dramaticamente o fluxo de CO2 do ecossistema para a atmosfera.
O efeito nem sempre será o aumento das emissões de CO2, no entanto – algumas vezes a perda de grandes predadores poderia diminuir as emissões, afirmou ela. “Mas mostramos que algo aparentemente tão sem relação, como pescar toda a truta de uma lagoa ou retirar tubarões do oceano, poderia ter grandes consequências para a dinâmica dos gases do efeito estufa.”
Ajuda das algas
Outros estudos recentes têm sugerido efeitos semelhantes. No último mês de outubro, Christopher Wilmers, da Universidade da Califórnia, Santa Cruz, relatou como o desaparecimento de lontras marinhas está ligado ao aumento das emissões de CO2 do litoral norte-americano (Frontiers in Ecology and the Environment, doi.org/khz). Sem lontras para comê-los, os ouriços do mar multiplicam-se e comem as florestas de algas (Kelps) – frequentemente conhecidas como “florestas tropicais dos oceanos” – resultando em grandes emissões de CO2.
Os modelos climáticos globais ainda não levam tais impactos em conta. Atwood declara que eles podem ser importantes, já que as emissões de água doce podem estar a par com a influência do desmatamento, que é responsável por cerca de 15% das emissões de CO2 causadas pelos humanos.
Os ambientalistas comemorarão os resultados como mais evidência de que é essencial proteger os habitats naturais e as espécies do topo das cadeias alimentares. Mas há um lado sombrio. Um estudo recente descobriu que alguns ecossistemas insulares ao redor da Nova Zelândia armazenam 40% a mais de carbono do que os outros por causa dos seus principais predadores – ratos invasores que estão a acabar com as colónias de aves marinhas. Aparentemente, os ratos são bons para o clima. (Biology Letters, doi.org/bbmtw9)
Artigo de Fred Pearce da New Scientist
Traduzido por Jéssica Lipinski, Instituto CarbonoBrasil






quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Lula aponta imprensa como verdadeira oposição ao PT

Último  Segundo

Ao lançar extra oficialmente a candidatura da presidente Dilma Rousseff à reeleição, ontem, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontou a grande imprensa como principal adversário do PT nas eleições de 2014. Pela primeira vez, Dilma aderiu às críticas à imprensa.
Diante de cerca de mil militantes petistas, Lula verbalizou publicamente aquilo que era dito a boca pequena no PT desde a condenação pelo Supremo Tribunal Federal de líderes históricos como José Dirceu e José Genoino.
“Na ausência de partidos de oposição, um setor da imprensa faz oposição”, afirmou Lula nesta quarta-feira no evento que marcou os 10 anos do partido no governo federal.

Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Lula discursa na festa em que o PT comemorou os dez anos no poder

Ao longo de meia hora de discurso, Lula fez diversas críticas à imprensa e disparou comentários irônicos contra jornalistas. Cada menção à mídia era comemorada pela plateia aos gritos de “cadeia nacional para o PIG”. O termo PIG, abreviação de Partido da Imprensa Golpista, foi cunhado pelo deputado Fernando Ferro (PT-CE) no auge das denúncias do mensalão.
Lula intercalou críticas à imprensa com a desqualificação dos partidos de oposição, em especial o PSDB, dizendo que os adversários não têm discurso nem proposta, estão inquietos, nervosos e desorientados . O ex-presidente chegou a dizer que os partidos políticos (menos o PT) estão enfraquecidos, causando constrangimento entre os dirigentes de 10 legendas aliadas que prestigiaram o evento.
Enquanto Lula falava, petistas ofendiam jornalistas que cobriam o evento. Uma militante exaltada atravessou o salão do evento para hostilizar a colunista política de um canal de televisão. Pouco antes a repórter Daniela Lima, da Folha de S. Paulo, foi agredida verbalmente e levou um chute de um militante petista. Assustados, alguns petistas pediam que os jornalistas evitassem provocações dos militantes mais exaltados.
O presidente do PT, Rui Falcão, disse que a regulação da mídia é uma tarefa “inadiável” do partido.
A presidente Dilma Rousseff, que até ontem se mostrava refratária às tentativas de controle da imprensa, pela primeira vez aderiu às críticas, embora em um tom bem mais leve do que o de Lula.
“Eu respeito e defendo o direito de expressão alheia mas não posso me calar diante disso”, afirmou Dilma, antes de fazer uma série de críticas à cobertura do programa Brasil Sem Miséria . "É preciso ter mais seriedade, mais responsabilidade no manejo de informações que repercutem na vida das pessoas", completou a presidente. 
Ao ouvir o comentário da presidente, Falcão, um dos principais defensores do controle social da mídia, abriu um largo sorriso. Apesar da crítica, Dilma não incluiu a regulamentação da imprensa entre as prioridades de seu governo.
No dia 1º de janeiro, durante a posse do prefeito Fernando Haddad , Falcão afirmou que os verdadeiros adversários do PT estão fora dos partidos políticos e voltou a defender o controle dos meios de comunicação. O presidente do PT, no entanto, não nomeou a imprensa como adversária.
Questionado ontem sobre a fala de Lula, Falcão disse que o presidente se referia a uma declaração da superintendente da Folha de S. Paulo, Judith Brito, feita em 2010.
Em reuniões para diagnosticar os motivos que levaram à condenação de petistas no julgamento do mensalão, dirigentes apontaram a pressão da imprensa como principal motivo para o resultado do julgamento.



quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Israelenses denunciam atos de violência contra palestinos



Associação Quebrando o Silêncio publica testemunhos de antigos soldados israelenses
Associação Quebrando o Silêncio publica testemunhos de antigos soldados israelenses
Crescem as organizações israelenses dedicadas à causa palestina. Em 2008, a jovem Omer Goldman tornou-se notícia em alguns meios de comunicação mais humanos por recusar a se alistar no exército israelense, e associações como Quebrando o Silêncio publicam relatos de ex-soldados sobre as práticas das Forças Armadas de Israel. Omer tornou-se o rosto de um grupo que cresce rapidamente, formado por jovens israelenses que se recusam a alistar-se no Exército israelense. Ela e muitos outros, como mostrado em vários vídeos na internet, declaram que o que viram as Forças Armadas de Israel (FDI) fazerem ao povo palestino é imoral, contra a ética, ilegal e simplesmente contra os seus valores.
O caso de Omer é muito interessante. Ela diz: “eu cresci com o exército. Meu pai era um chefe da Mossad [Centro de Inteligência e Operações Especiais] e eu vi minha irmã, que é oito anos mais velha que eu, prestar seu serviço militar. Enquanto garota, eu queria ser soldado. O exército era parte tão importante da minha vida que eu nunca o questionei.”
Foi uma viagem a uma vila chamada Shufa, na Cisjordânia, que chocou completamente a Omer. A visita foi organizada por um grupo chamado Combatentes pela Paz (Combatants for Peace), formado por antigos soldados israelenses e palestinos, que se juntaram para manifestar-se contra a injustiça do conflito que ainda persiste.
Durante a viagem, o grupo chegou a um posto de controle aparentemente impedindo crianças palestinas de chegarem à escola. Enquanto o grupo se manifestava tentando chamar aquilo à atenção, os israelenses que vigiavam o posto abriram fogo. A percepção de Omer sobre a vida militar que a esperava e que esperava todos os que se formavam no colegial mudou.
Omer recusou o alistamento continuamente, e serviu várias sentenças na prisão como consequência. Mesmo assim, sobre os amigos, disse ter sido atacada até pessoalmente, enquanto o que fazia era opor-se ao uso da violência contra os palestinos, pois “estamos ocupando um povo inteiro”, afirmou Omer. Quanto ao pai, disse: “se eu pude superar o fato de que ele é um militar, ele pode superar o fato de que sou [objetora de consciência].”
Em 2012, a Palestina recebeu, pela primeira vez, por parte da ONU, o reconhecimento como Estado observador não-membro. Tanto o Hamas quanto os israelenses comprometeram-se recentemente com um cessar-fogo em Gaza, ainda que os compromissos israelenses tenham pouca credibilidade, e o Hamas e o Fatah, partido que governa a Autoridade Palestina, deram passos importantes para a melhoria da sua relação, o que dá alguma esperança aos ativistas dedicados à questão.
Nas palavras de Omer: “Eu recuso o alistamento nas FDI. Eu não serei parte de um exército que implementa, desnecessariamente, uma política violenta e viola os direitos humanos mais básicos diariamente. Como muitos de meus semelhantes, nunca ousei questionar a ética do exército israelense. Mas quando visitei os Territórios Ocupados, me dei conta de que via uma realidade completamente diferente, violenta, opressiva, uma realidade extrema que precisa ser finalizada.”
Omer afirma que é precisamente por acreditar no serviço à comunidade de que faz parte que se recusa a “tomar parte nos crimes de guerra cometidos pelo meu país.” A jovem completa: “não cometerei violência, seja qual for a consequência disso.”
Quebrando o Silêncio
A associação Quebrando o Silêncio (Breaking the Silence) tornou-se conhecida pelas informações detalhadas, imagens e relatos pessoais de ex-soldados israelenses, alguns dos quais jovens que nunca tinham questionado o exército, como Omer.
Foi formada em 2004, por ex-soldados que serviram em Hebron, na Cisjordânia (onde há vários assentamentos israelenses guardados por postos de controle). Depois também foi integrada, por exemplo, por soldados que serviram nas FDI, durante a operação militar Chumbo Derretido (entre dezembro de 2008 e janeiro de 2009, contra a Faixa de Gaza), em que crimes de guerra foram cometidos, segundo relatório da Comissão de Direitos Humanos da ONU.
Quebrando o Silêncio publica relatórios sobre a conduta instruída aos soldados e a que observaram de seus superiores, denunciando graves e diárias violações de direitos humanos e a falta de preocupação deliberada com o bem-estar dos palestinos afetados diariamente pelas incursões militares, postos de controle, prisões arbitrárias, entre outras funções desempenhadas por eles a mando das FDI.
Os testemunhos dos soldados são catalogados, e a organização preocupa-se rigorosamente com a transparência, a verificação das suas informações e a checagem de dados, para que não seja deslegitimada pelo governo israelense.
O livro Nossa dura lógica: Testemunhos de soldados israelenses nos Territórios Ocupados, 2008-2010 (Our Harsh Logic: Irsaeli Soldiers’ Testimonies from the Occupied Territories, 2008-2010), publicado em 2010, faz uma compilação ampla de declarações detalhadas, mas a página da organização também é alimentada diariamente com outros testemunhos e notícias.
Conhecendo a ocupação

Outra organização israelense, Ir-Amin, faz visitas guiadas frequentes aos territórios palestinos ocupados, e dá especial atenção a Jerusalém. Segundo a ONG, a cidade é um ponto crucial em todo o conflito, dada a sua importância religiosa para as maiores confissões do mundo.

Os guias fazem visitas a ocupações na Cisjordânia e na parte oriental de Jerusalém, parte dos territórios palestinos já reconhecida através de várias resoluções da ONU, embora sejam verificáveis as condições extremas de opressão, por parte das FDI, em que os palestinos vivem.
Em um tour especial para turistas e judeus recém-chegados a Israel, a ONG mostra Jerusalém Oriental em seus mínimos detalhes, fornecendo contexto histórico, dados estatísticos, perspectivas socioeconômicas e informações sobre os impactos gerais da ocupação israelense, para além das óbvias violações de direitos humanos e do direito internacional humanitário.
Ainda, em sua página de internet, Ir-Amin publica mapas estratégicos para a compreensão da evolução do conflito israelense-palestino, demonstrando os efeitos das políticas opressivas de Israel no Estado Palestino, nas vidas dos ocupados e também na dos ocupantes.
Perspectiva palestina

Há também várias organizações palestinas locais que trabalham com as israelenses para a troca de informações e perspectivas, para não falar da vasta rede internacional também dedicada à tarefa.

O objetivo de muitos israelenses é usar sua representatividade e o simbolismo da sua cidadania para projetar as reivindicações palestinas, a opressão que seu governo sionista exerce sobre a população, a desinformação com que os israelenses atuam (ou alienam-se) com relação ao conflito e a forte propaganda militarista e nacionalista com que essa política consegue se estabelecer.
Ainda assim, movimentos internacionais como o Boicote, Sanções e Desinvestimento (BDS) ganham cada vez mais espaço ao proporem que todas as instituições, produtos e negócios israelenses sofram as consequências pelas políticas do governo sionista enquanto ele ocupar e impedir a Palestina de estabelecer-se como um Estado soberano e independente.
Importante agora é que a sociedade internacional, já suficientemente ciente sobre o conflito, tome ações mais concretas. Enquanto isso, a sociedade israelense precisa acordar; um antigo oficial, no documentário também intitulado Quebrando o Silêncio, sobre a associação homônima, de 2009, diz: “você não pode pensar muito sobre o que está acontecendo à sua volta quando é um soldado, porque essa é a única forma de sobreviver. Não pode pensar nos palestinos como seres-humanos iguais a você.” E outro completa: “a apatia escala, a brutalidade escala, a violência escala, escalam o tempo todo.”
Interessa notar, por exemplo, que organizações como essa recebem financiamento de muitos membros da União Europeia e de organizações sediadas nos EUA, dois atores fundamentais para a pressão contra Israel pelo fim da ocupação, assim como pelo abastecimento de armas às FDI e pelo financiamento do governo sionista. Contradições à parte, ainda é possível chegar a uma determinação coerente no seio da ONU, criada justamente para evitar esse tipo de violência, para proteger a dignidade humana.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Comissão da Verdade paulista quer investigar outros 'Boilesen' da ditadura




Comissão da Verdade paulista quer investigar outros 'Boilesen' da ditadura
Trabalhadores relataram casos de perseguição e demissões por conta da militância política (Foto: Roberto Navarro/Ag. Assembleia)
A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo quer descobrir outros “Boilesen”, ou seja, empresários que tenham colaborado com órgãos de repressão durante a ditadura (1964-1985). Documentos divulgados hoje (18), durante audiência pública na Assembleia Legislativa, podem ajudar na investigação. O dinamarquês Henning Boilesen foi tema de documentário lançado em 2009 por Chaim Litewski, que mostrava a trajetória do então presidente da Ultragaz, morto em 1971 devido à sua colaboração com a ditadura. Os documentos realimentam suspeitas sobre a participação do setor privado e também do consulado dos Estados Unidos em São Paulo.
“A oposição à ditadura sempre disse que havia beneficiamento e ligação de empresários com a repressão. Não estamos falando de financiamento, queremos saber qual foi a participação deles”, afirmou o presidente do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe) e diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, Ivan Seixas. Na audiência pública, que excedeu a capacidade de 350 pessoas do auditório, foram exibidos registros de entrada e saída, nos anos 1970, de autoridades e visitantes no prédio do Dops, na região central, que hoje abriga o Memorial da Resistência. Ali aparece uma pessoa com frequência constante, Geraldo Rezende (ou Resende) de Matos, identificando-se como “Fiesp”, e do diplomata Claris Halliwell, apontado como cônsul norte-americano no Brasil nos quatro primeiros anos daquela década.
Dos trechos de filmes exibidos no início da audiência, houve destaque justamente para Cidadão Boilesen, que traz depoimentos de agentes da ditadura e militantes, atestando a colaboração de empresários para manter as atividades de repressão. “Muita gente participava”, diz, por exemplo, o coronel Erasmo Dias. O empresário José Mindlin, que não participou do esquema, declara ter sido procurado por Boilesen para ajudar “a salvar a sociedade dos perigos da agitação de esquerda”.
Fiesp e consulado não mandaram representantes. Os depoimentos foram dados por trabalhadores perseguidos durante a ditadura. A Oposição Metalúrgica de São Paulo, que organiza o Projeto Memória, apresentou fichas de operários encaminhadas por empresas ao arquivo do Dops, por serem “grevistas” e/ou “agitadores”, além de cópia de um carta de uma companhia que pedia a um delegado do Dops registros de antecedentes de seus próprios funcionários.
“Sempre trabalhamos com a ideia de que Oban (militares) não falava com Dops (civis). Grossa mentira. Eles não só se entendiam, como se entendiam muito. O que descobrir é qual era essa relação”, diz Ivan Seixas. “Não é da rotina diplomática visitar um aparato repressivo”, afirma a Comissão da Verdade, lembrando que as visitas de Halliwell ao Dops eram rotineiras, e não poucas vezes em horários incomuns – entrada no final da tarde e saída no dia seguinte. O norte-americano, que do Brasil seguiria para o Chile, morreu em 2006.  "Queremos saber por qual razão ele ia tanto ao Dops", afirma o deputado Adriano Diogo (PT), presidente da comissão.
Todos os documentos foram encontrados no Arquivo Público do Estado. O diretor do órgão, Lauro Ávila Pereira, informou que “não por acaso” em 1º de abril, à tarde, haverá uma cerimônia de lançamento de 850 mil imagens do Dops na internet. Pela manhã, a Comissão Nacional da Verdade estará reunida em São Paulo, no mesmo local.
“A perseguição aos companheiros era sistemática, não importando sua competência profissional”, afirmou Waldemar Rossi, da Oposição Metalúrgica. Ele mesmo sofreu 18 demissões em um período de 25 anos. Também não foi autorizado a ver o papa, em 1980, por ser considerado um “comunista contumaz”, conforme lembra. “Havia ligação direta dos empresários com o Dops, com o Doi-Codi”, declarou Rossi.
Para o deputado estadual José Zico, a colaboração entre empresários e militares era “evidente”. Trabalhador rural que se tornou metalúrgico em São Paulo, ele relatou que enfrentou “uma série de desempregos sucessivos” por causa de sua militância. “Entre nós, era comum ficar todo mundo desempregado.”
Entre as centenas de pessoas que foram à audiência, estavam militantes e ativistas históricos, como Clara Charf, Bernardo Kucinski e Margarida Genevois, além do advogado Aton Ton Filho e o procurador da República Marlon Weichert. Durante seu depoimento, Waldemar Rossi fez uma homenagem ao jornalista Dermi Azevedo, cujo filho mais velho, Carlos Alexandre, suicidou-se na madrugada de ontem. Com apenas um ano e oito meses de vida, ele foi preso e torturado, em 1974. “Dermi estava preso comigo, na mesma cela”, recordou.

Para ver o filme "Cidadão Boilesen" , clique aqui



domingo, 17 de fevereiro de 2013

Rapper angolano, morador do Complexo da Maré, critica o racismo no Brasil e vai ter sua história contada em 130 países


O Globo

Duas Cervejas e a Conta com Badharó

Rapper angolano, morador do Complexo da Maré, critica o racismo no Brasil e vai ter sua história contada em 130 países

Badharó, rapper angolano, é personagem de filme que passa na Al Jazeera: críticas ao racismo, ao preconceito e à xenofobia do Brasil Foto: Monica Imbuzeiro / O Globo
Badharó, rapper angolano, é personagem de filme que passa na Al Jazeera: críticas ao racismo, ao preconceito e à xenofobia do Brasil


RIO - A partir desta segunda-feira, a história do rapper angolano Badharó, morador da Maré, estará em 130 países. Ele é o protagonista do documentário “Opens arms, closed doors” (“Braços abertos”), das diretoras paulistas Juliana Borges e Fernanda Polacow, que vai ao ar pela TV Al Jazeera, às 22h30m (horário de Londres), com reprises na terça (9h30m), quarta (3h30m) e quinta (16h30m). 

No Brasil, poderá ser visto pela internet <www.aljazeera.com/programmes/viewfinder/>. Caçula de dez irmãos (cinco homens e cinco mulheres), veio para o Rio em 1998, atraído pelas imagens da TV.

Fernanda diz: “Com Portugal agonizando numa crise e ataques xenófobos na Europa, o Brasil se tornou um destino bastante visado para os africanos, sobretudo os que falam português. Como temos a segunda maior população negra do mundo, eles nunca esperam encontrar uma sociedade racista.” Pois Badharó, de 38 anos, enfrentou racismo, preconceito e xenofobia. “A origem comum que temos com a África não nos faz receber os africanos melhor do que eles são recebidos em outros lugares”, acrescenta Juliana. A Maré, próxima favela a ser pacificada, tem a segunda maior comunidade angolana do país, atrás só do Brás (SP). “Deve ter uns 400 angolanos aqui, fora os filhos, que nasceram no Brasil”, calcula Badharó.

Apesar de ser músico desde 1992, ele não é conhecido no rap. “Fiz em Angola uns shows e participei de programas de rádio.” Vai lançar este ano em seu país o primeiro CD, “Independência ou morte”, e constrói um estúdio de gravação na favela, com dois sócios. Para se sustentar, é pintor de parede e tem um bar na comunidade, conhecido como Bar do Angola.

REVISTA O GLOBO: Por que você escolheu o Brasil para morar?

BADHARÓ: Eu via muita TV brasileira. Novelas, carnaval, futebol. Praia, mulheres sambando. Não tinha violência. Pensei: “Seria legal ir para o Brasil. Eles falam a mesma língua que eu. E um país com tanto negro não pode ser racista.” Imaginava que o Brasil todo era do jeito que via na TV. Cheguei e percebi que é um dos países mais racistas do mundo.

Por que você saiu de Angola?

Meu pai combateu na guerra colonial (contra os portugueses). E três irmãos meus lutaram na guerra civil, sendo que um morreu. Não queria seguir o mesmo caminho. Minha guerra é feita com o microfone. Todas as músicas que faço são de conscientização. Para o filme fiz o rap “Zulmira, descanse em paz”. É que, ano passado, num bar no Brás, um brasileiro, conhecido dos angolanos, chamou um de nós de “preto macaco”. Houve uma discussão, mas o problema parecia resolvido. Só que ele saiu, pegou uma arma, voltou com um comparsa e atirou num grupo de estudantes angolanos, matando a Zulmira.

Mas em Angola também não tem violência?

Tem miséria, fome, Aids, corrupção, mas o índice de criminalidade é muito baixo. Cheguei aqui à Maré num domingo e, já na segunda, saindo de casa, vi um cara morto, com a família chorando. Entrei em desespero, mas primo falou: “Aqui só matam quem está envolvido.“ Fui me habituando. O sonho de todos que chegam é ir para Copacabana, por causa das novelas. E alguns de fato foram morar lá. Mas o aluguel encareceu, tiveram que sair e vieram para cá.

No filme, o radialista da Maré FM apresenta você: “Estamos aqui com um rapper africano, angolano e favelado. Mais underground que isso é impossível.” Você sofre muito preconceito?

Sim. De cor, de origem, de status social. Quando cheguei ninguém queria me alugar casa: “Vou alugar para dois e amanhã tem 12.” Também não conseguia emprego. Em Angola eu era carpinteiro, mas meu primeiro trabalho aqui foi como ajudante de pedreiro. Na obra, o encarregado era cearense e nos mandava, eu e outro angolano, carregar sacos de cimento mesmo na hora do almoço. Até que perguntei por que e ele disse: “Porque vocês vieram da África.”

O documentário mostra outros exemplos de preconceito. Como quando Martaz diz: “Bené (apelido de Badharó) foi para Angola e o bar ficou cheio de brasileiros. Voltou e eles se afastaram.” O dono de uma loja de material de construção da Maré não aceita cartão de angolano e justifica: “É tudo clonado. Eles não têm endereço. Todo mundo parece igual.” Que outros casos você citaria?

Uma vez, no ônibus, entraram três caras, que logo desceram correndo. Os outros passageiros bateram palmas para mim. Um me explicou: “Eles iam roubar o ônibus, mas quando viram você desceram.” Ficaram com medo de mim. Vai ver acharam que já tinha outro cara para roubar ou que eu fosse um policial à paisana. Em outra ocasião, eu estava com um colega no ônibus. Havia uma mulher branca sentada na janela e eu do lado dela. Meu amigo estava em pé. Subiram uns caras, assaltaram todo mundo e, quando chegaram em mim, falaram: “Não se preocupe que você não vai ser roubado.” Pouparam a mim, a meu amigo e à moça. Devem ter achado que ela estava comigo. E muitas vezes o racismo no Brasil é incubado. Tem colega de trabalho branco que bebe junto, trata bem, mas pelas costas você descobre que diz: “Não dá para ficar com esses pretos.”

Você pensa em sair do país?

Não. Aqui me casei com a Marta, em 1999. Ela tem 44 anos, é filha de português com baiana. Tem duas filhas, de 30 e 22 anos, e cinco netos. Um deles, uma menina de 4 anos, eu registrei em meu nome, porque o pai não assumiu. Ela me chama de pai, eu a chamo de filha. Tenho dois filhos em Angola, mas quando saí eram muito pequenos. Eu gosto mais do Brasil do que de qualquer outro país. Os brasileiros estão mais conscientes, lutam pelos direitos humanos, pelo meio ambiente. É um país muito rico, que me ensina muito. Mesmo com racismo, a hospitalidade é grande. O país nos recebe melhor que Portugal.

E-mail do colunista: mventura@oglobo.com.br


sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Era uma vez um império que fazia cinema


Ao contrário da época em que o Oscar foi criado, em 1929, e sobretudo do período após a Segunda Guerra, hoje Hollywood padece da mesma anemia de poder que se apoderou do império norte-americano. Embora não tenha deixado de impor valores culturais ao mundo, o glamour de suas estrelas já não brilha como antes, e seu modelo de narrativa já não produz tanto impacto.


Buenos Aires - Os prêmios do Oscar foram entregues pela primeira vez em 16 de maio de 1929. O contexto político e social não poderia ser mais significativo: faltando poucos meses para o grande crash de outubro daquele ano, os Estados Unidos estavam montados na maior bolha especulativa de sua história, a Europa era agitada por crises políticas e a periferia do mundo pouco sabia do significado da palavra Hollywood - ainda que muitos já percebessem no que consistia aquele novo poder norte-americano.

O prêmio de melhor filme foi vencido por Wings, um melodrama de William Wellman sem importância hoje, mas cuja história é reveladora do papel desempenhado pelo cinema norte-americano na maior parte do século XX. O filme conta a história de dois homens (Jack Powell e David Armstrong) que disputavam o amor de uma mesma mulher (Jobyna Ralston), até que a Segunda Guerra Mundial estourasse e os sentimentos patrióticos superassem as disputas amorosas. No final todo mundo acaba feliz, os homens compreendem que nenhuma mulher vale mais do que a amizade desenvolvida por eles na guerra e que matar o inimigo é mais importante do que qualquer zelo doméstico.

Desde que formulou uma extraordinária maneira de narrar histórias, no início do século XX, com base na síntese extrema dessas histórias, na maior importância das imagens do que do texto, e na construção de heróis facilmente assimilados, o cinema americano cumpriu dois papéis políticos vitais: enviou uma mensagem de unidade nacional para a conturbada América da época, construindo uma poderosa mitologia patriótico, e estabeleceu um modelo ideal de narrativa, repleto de densos valores morais, a se tornou o padrão de contas histórias na periferia do mundo. O novo império político e econômico havia encontrado no cinema um instrumento de poder mais suave e de primordial importância.

Ao glamour de novas estrelas, que começaram a brilhar mais fortemente com filmes os sonoros dos anos 30, se opôs, a partir de 1933, uma história muito mais crua e menos suave: a propaganda nazista delirante orquestrada por Joseph Goebbels. Como Hollywood, Goebbels também pretendia criar heróis e celebrar os valores patrióticos - mas sem levar em conta que os principais recursos artísticos alemães haviam rumado para o exílio e estavam à disposição dos EUA. Iluminadores, atrizes, diretores, muitos dos grandes mestres de esplendor preto e branco do cinema norte-americano nos turbulentos anos 40 haviam vindo da Alemanha para deixar uma forte marca estética em Hollywood.

A história americana se torna tão poderoso, especialmente após a vitória sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial, que não demora para se tornar o modelo por excelência e ser copiado pela incipiente indústria cinematográfica da periferia, especialmente na América Latina. Para perceber essa influência, basta o exercício de se olhar, e misturar, os filmes produzidos naqueles vinte anos cruciais, sobretudo pelas poderosas indústrias mexiana e argentina: é sempre a mesma iluminação, o mesmo uso da música, dos temas amorosos, a construção dos herois.

Hollywood impôs, desse modo, uma narrativa poderosa que se reproduziu internamente em cada país, graças à numerosa trupe de imitadores que surgiram em todos os cantos. Em 1956, como uma espécie de resposta indireta aos primeiros questionamentos europeus - principalmente franceses - a essa narrativa invasiva, a Academia estabeleceu definitivamente o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Esse prêmio havia sido dado pela primeira vez em 1947, quando os EUA fazia sua estreia como nova potência hegemônica global, mas não se firmou até meados dos anos 50.

Em um primeiro momento, o prêmio foi usado para recompensar o melhor do cinema europeu contemporâneo. Honrando De Sica, Fellini, Buñuel, Truffaut ou Bergman, Hollywood permitiu um toque de arte diferente ao que ela própria produzia, e tentava desviar as críticas sobre sua narrativa mais ideológica. O chamado Terceiro Mundo, entretanto, não mereciam sua atenção. Com exceção de um filme japonês e algum diretor de cinema europeu que filmava em países africanos, a periferia do mundo não ganhou nenhum prêmio da Academia até 1985, quando o argentino Luis Puenzo venceu com 'La historia oficial', um duro relato sobre aqueles que desapareceram durante a ditadura militar do general Videla. E teve de esperar até a primeira década deste século para ver produções premiadas de África do Sul, Taiwan e Bósnia-Herzegovina.

Hoje em dia, a Academia padece da mesma anemia de poder que pouco a pouco se apoderou do império americano. Embora não tenha deixado de impor densos valores culturais para o mundo, o glamour de suas estrelas já não brilham como antes, e seu modelo de narrativa já não produz tanto impacto. Vítima de seu próprio sucesso, Hollywood tem a cada ano mais dificuldade para renovar suas expectativas em um mundo em que as histórias se tornaram mais dispersas e menos hegemônicas, graças à proliferação de novas tecnologias de comunicação. "And the Oscar goes to..." a periferia do mundo, que ainda tem muito a dizer e não pode e não quer fazer isso usando os códigos de Hollywood.

Coletânea reúne 50 mulheres da periferia em publicação inédita




Perifeminas narra histórias e conquistas ligadas à cultura urbana nas periferias de São Paulo. Idealizada pela Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, coletânea reúne 60 textos em poesia e prosa.
Um livro inteiro feito por mãos femininas da periferia de São Paulo. A antologia literária “Perifeminas” conta com a participação de mais de 50 mulheres que narram suas histórias no movimento Hip Hop. A obra foi lançada no dia 6 de fevereiro.
Idealizado pela Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop, “Perifeminas” reúne 60 textos em poesia e prosa. Conta as vivências, os dramas e as conquistas ligadas à cultura urbana e ao dia-a-dia nas periferias.
Segundo o coletivo, o livro é uma contribuição das mulheres não só para o Hip Hop, mas também para a literatura marginal. Muitas delas são conhecidas pelo que já faziam no movimento cultural como Mcs, Djs, Grafiteiras ou B-Girls.
Outras já eram letristas e poetas, e são conhecidas pelas participações em saraus literários. O livro traz também histórias de mulheres que ousaram lançar CDs sozinhas, sem qualquer tipo de apoio.
A obra é considerada um feito histórico e inédito, pois nunca foi publicada uma coletânea só com textos de mulheres da periferia.

Para obter o livro, clique aqui


quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O verão que ninguém esqueceu. Até os argentinos brisaram na lata...


Revista argentina canábica Haze














As primeiras viagens gringas sempre são pra Argentina. E minha primeira viagem em texto também foi. Falei sobre o Verão da Lata, aquele que nenhum maconheiro esqueceu, com 15 mil latas de maconha perdidas pelo litoral carioca, para a revista canábica HAZE, projeto bacaníssimo produzido em Buenos Aires.
Como a revista ainda não tem circulação por aqui, deixo vocês com o texto em espanhol e o site, caso queiram dar uma espiada por lá.
De todos los mitos que generó la Diamba* en Brasil el del verano de las latas es uno de los más increíbles. Viviendo en Rio de Janeiro oí hablar algunas veces de esta loca historia pero siempre me sonó a chamuyo de jovato jipón.
Pero la pura verdad dice que el día 21 de septiembre de 1987, un buque carguero (el Solana Star) de bandera panameña proveniente de Syngapure y con destino a Miami, al verse acorralado por la marina brasileña al mando de la D.E.A. decidió descartar en el mar a cien millas de Angra dos Reis un cargamento compuesto por veintidós toneladas y media de marihuana. Toda esa macoña de altísima calidad estaba envasada al vacío en latas de un kilo y medio sumando un total de QUINCE MIL LATAS DEL MEJOR PORRO DESPARRAMADAS POR TODA LA COSTA SUR DE BRASIL.
Nuestra corresponsal en Brasil Estefani Medeiros nos presenta un nuevo libro sobre este hecho histórico y en una entrevista a su autor, Wilson Aquino, nos cuentas los detalles de esta aventura en búsqueda de las latas perdidas.


Texto y entrevista: Estefani Medeiros
Traducción: Camarón.

Para muchos, oír la historia de que veintidós toneladas de marihuana de la mejor calidad fueron simplemente descartadas en la costa brasilera, parece una leyenda de surfista fumado. Pero el libro “Verão da Lata – Um Verão Que Ninguém Esqueceu”, recientemente publicado por el periodista brasileño Wilson Aquino, presenta imágenes, historias y documentos policiales que no solo comprueban, además conmemoran los 25 anos de este inusitado acontecimiento cannabico.
Rio de Janeiro, 21 de septiembre de 1987, un buque chamado Solana Star, proveniente de Asia y con destino a Miami atracó cerca de la costa. Por miedo a ser atrapados, la tripulación de cuatro miembros descartó todo el contenido de la bodega en el mar, para alegría de la población y desesperación de la policía.
En los fines de semana las aguas claras de las playas tenían un brillo diferente, reflejo de las latas que flotaban en el mar. Padres, hijos, ancianos y surfistas se reunían para jugar a rescatar latas. Pescadores sin el menor contacto con el narcotráfico cambiaron los peces por las latas, que engordaban el presupuesto de sus familias. En la época, cada lata valía cerca de 600 dólares. “Daba la impresión de que no existía más el narcotráfico”, dice una de las declaraciones del libro.
Desde la costa norte de Rio de Janeiro hasta la costa sur de Brasil, las latas alegraron a  muchos jóvenes de la época entre los cuáles se encontraba la directora de la casa de shows Circo Voador,  Maria Juçá, quién recibió de regalo dos latas que luego enterró en su jardín. Días después de probarla con un amigo, Juçá volvió a su casa y encontró a su compañero de cata todo manchado de tierra, escavando desesperadamente todo su jardín en búsqueda del preciado tesoro. Una de las pruebas de que fue un verano que ningún fumón podrá olvidar.
HAZE: ¿Cuándo surgió la idea de hablar sobre el “Verão da Lata”?

Wilson Aquino: Surgió de la idea de desmitificar una historia que parecía imposible. La gente pensaba que era una leyenda urbana. ¿Marihuana enlatada, en la playa, gratis? No parecía posible que pudiera  haber sucedido. El libro está en los estantes de las librerías como un libro de historia, en historia de Brasil. Y es como debe ser, queríamos contar una parte cómica de nuestra historia.

HAZE: ¿Cuándo empezaste el libro?

Wilson Aquino: Comencé  la investigación en el 2007. Siendo sincero, queríamos hacer un documental para el cine y la TV y no lo logramos. Entonces  surgió la idea de hacer de eso un libro y nos pareció bien. El proceso de investigación duró dos años. Cuando la editorial Barba Negra estuvo de acuerdo con publicarlo, lo terminamos en tres meses.

HAZE: ¿Y por dónde empezaste a investigar?

Wilson Aquino: Al principio la idea no era involucrar a la policía o hablar sobre narcotráfico internacional. No fue un evento violento, fue inusitado, divertido. Las anécdotas que envuelven ese asunto están rodeadas de eventos graciosos. Las personas tenían miedo, pero igual salían a pescar latas y cuando lograban ir para un lugar seguro era una fiesta. Sólo había que manejar con cautela los abridores de lata, porque si no la policía te arrestaba. Muestra bien la irreverencia del Brasileño.

HAZE: ¿Tuviste alguna dificultad para encontrar el material?

Wilson Aquino: Fue bien simple. La causa ya había prescribido en 2007, treinta años después, cuando ya no podían arrestar a nadie más por las latas. Estaba punto de ser archivada. Fue ahí cuando pedí permiso a la justicia para reproducir los documentos y ellos colaboraron bastante.

HAZE: ¿Y cómo están recibiendo la historia los lectores?

Wilson Aquino: La gente se copó. No oí hasta ahora a nadie hablando mal. Cuándo participás de una charla y hablás sobre la maconha da lata, todos se divierten. Sienten una nostalgia sabrosa de este tema. El haber reflotado el tema agradó a mucha gente y terminó, para las generaciones más nuevas, con el mito de que nunca había sucedido.

HAZE: ¿Cómo fue la concepción gráfica?

Wilson Aquino: El proyecto gráfico fue obra de Chico Assis. Lo supervisé y lo aprobé, pero el mérito es todo de él y sus colegas. Tuvimos la idea de incluir el cómic Capitão Presença (superhéroe cannábico brasilero) además de un cuento, ya que también tienen que ver con el verano.

HAZE: ¿Sabés si esa marihuana influyó sobre la producción cultural de la época?

Wilson Aquino: Surgieron dos bandas de reggae con el nombre del barco Solana Star además de  la canción “Veneno Da Lata”, de Fernanda Abreu. Infelizmente aún no fue creado el día del verão da lata: un día en el que todos  paramos un minuto para fumar un porro. (risas)

HAZE: ¿Encontraste alguna lata durante la investigación?

Wilson Aquino: Si. En la costa norte de São Paulo, en Trindade. En su frente pegaron un cartel que dice:“igual a essa não existe mais”. Encontré algunos que guardaban la lata vacía, lógicamente… Vi una que había empezado a oxidarse y el dueño la pintó de negro. Pero son veinticinco años, hasta puede ser que alguien haya plantado un par de semillas. Pero es distinto porque era algo cultivado en Asia, otro clima, otra tierra. La calidad era muy buena.

HAZE: ¿Llegaste a probarla?

Wilson Aquino: Infelizmente no. Ese evento quedó restringido para quiénes vivían cerca de la playa.  Yo vivía en las afueras de Rio de Janeiro. Trabajaba y no tenía tiempo de salir a cazar latas. Pero había unos pibes que iban todos los días.

HAZE: ¿Creés que el libro tiene un papel importante en el debate de la descriminalización?

Wilson Aquino: Creo importante que las personas sepan que hubo un verano en Brasil en el que tuvimos una gran distribución de marihuana y que no causó daños trágicos a la sociedad. Las personas deberían recordar ese episodio y posicionarse sobre la despenalización de las drogas de una forma más tolerante.

HAZE: Si la gente pudiera ver el tema con la misma naturalidad con que vos lo tratás en el libro, tendríamos una parte del problema resuelto.

Wilson Aquino: Tal cuál. Fueron toneladas de marihuana y no fue tan grave, es decir; para mucha gente fue algo muy bueno! (risas). Podríamos ser más tolerantes con el cannabis, ¿No?

Tal cuál Wilson, esperemos que si.
*Diamba: término más difundido entre los africanos llevados a Brasil para ser esclavizados para denominar al cannabis y que luego fue adoptado por los grupos de nativos que lo sumaron a sus cultivos.