quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Aécio Never é maluco sem nenhuma beleza


Aécio Never é o mais vulgar, poltrão e desqualificado dos candidatos a presidência expelidos pela burguesia. É surpreendentemente patético, assim como todos os seus eleitores. Mas existe um lado bom em Aécio, é um prato cheio para blogueiros, twitteiros, facebookeiros e afins, empenhados e barrar o avanço do fascismo, e é claro, trollar seu principal representante. Eis uma amostra daquele que segundo FHC representa a porção “bem informada” dos brasileiros.  

Aécio Never doidão e um pouco mais




Oncoto?


Te considero pra caralho!


Me segura que eu to dando um troço 


Ressaca da porra, e ainda tenho que trabalhar assim...


#h&@!!!!XXX


Aha, e tem mais






domingo, 12 de outubro de 2014

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.


O estado de São Paulo vem sendo tomado por uma onda conservadora de largas proporções. Uma onda que persiste e se expande. Diversos pensadores de esquerda se interrogam sobre como a direita tem mantido, ao longo de décadas, a hegemonia sobre este estado. De fato, a extrema-direita controla o estado de São Paulo desde os tempos dos barões do café. Mas essa elite dirigente, sobretudo após a industrialização, sempre se deparou com uma tenaz resistência por parte da classe trabalhadora. Sempre foi denunciada pela militância política e intelectual de personalidades como Caio Prado Junior, Antônio Candido, Florestan Fernandes, Paulo Emílio Sales Gomes, dentre tantos outros.

Abaixo, elencamos um breve histórico das lutas sociais ocorridas em SP, uma região que possui muita tradição de esquerda. Um lugar que foi cenário de tantos atos heroicos de resistência, jamais irá se acomodar perante a ascensão do fascismo.


Primeira década do Século XX – introdução e disseminação do anarquismo e do socialismo entre os operários, surgimento da classe trabalhadora organizada, dos sindicatos, formação de uniões operárias, congressos e as primeiras greves, especialmente na capital paulista e na baixada santista.

1917 – Greve geral anarcosindicalista,  primeira manifestação de massas vista no país, durante um mês a cidade ficou sobre controle operário.

1924 – Levante tenentista comandado por Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, por mais de um mês a cidade foi controlada pelos revoltosos. A reação do governo central foi feroz, e a capital paulista foi duramente bombardeada, inclusive por aviões, sendo que os bairros populares foram o alvo preferencial das tropas de Arthur Bernardes.

1935 – Uma frente unindo comunistas (PCB), trotskistas, anarquistas e socialistas dissolveu a bala uma tentativa de realização de uma grande marcha por parte dos integralistas, na Praça da Sé. Dezenas de pessoas acabaram mortas, a maioria integralista, frustrando os planos de Plínio Salgado de reeditar no Brasil uma “marcha sobre Roma”.

1945-47 – Intensa atividade operária-sindical e popular, organizada sobretudo pelo PCB, com aumento no número de greves, formação de conselhos populares, comissões de bairro.

1953 – Greve do 300 mil, durante várias semanas a cidade foi paralisada pelos trabalhadores, a repressão foi feroz e vários operários foram assassinados, no entanto, o lado da repressão também teve suas baixas. Após o término do movimento, o direito de greve foi reconquistado (proibido antes do Estado Novo, iniciado em 1937), e o Ministro do Trabalho, Joao Goulart, concedeu 100% de aumento para o salário mínimo.

1957 – Greve dos 700 mil, também vitoriosa. Desta greve surge o PUI (Pacto de Unidade Intersindical), embrião de uma futura central sindical, o PUI representou um movimento de ofensiva da classe trabalhadora paulista e nacional.

1962 – IV Encontro Sindical Nacional, realizado em SP, desse encontro surge o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), primeira central sindical brasileira, organizada pelos próprios trabalhadores.

1963-1964 – Dezenas de Greves operárias, greves estudantis, reforço nas ações dos movimentos articulados pelas associações de cabos e soldados das Forças Armadas, grupos que tinham ligações com a esquerda. A combatividade das classes populares assustou a burguesia, e esta classe optou por rasgar a Constituição e tomar o poder por meio de um golpe de estado em 1964.   

1966 – Setembrada estudantil, mobilização nacional em protesto contra a ditadura civil-militar, com forte atuação na cidade de São Paulo e em Osasco.

1968 
  • ·         Mobilização estudantil, com centro na Maria Antônia, principal campus da USP no período. Entre março e outubro ocorreram incontáveis protestos, marchas e passeatas promovidas pelos estudantes paulistas. O prédio de Maria Antônia foi ocupado em julho, e desocupado apenas em 3 de outubro, data a invasão e destruição das instalações da USP Maria Antônia, em ação que reuniu a repressão estatal e o CCC (Comando de Caca aos Comunistas). O CRUSP (Conjunto Residencial dos Estudantes da USP), ocupado desde 1963, permaneceu como território livre até dezembro, quando foi invadido e desocupado pela repressão, a mesma que prendeu e espancou centenas de estudantes que se encontravam no CRUSP. Em outubro foi dissolvido o Congresso da Ibiúna, organizado pela UNE e pela UEE (União Estudantil Estadual) paulista. A ação policial resultou em centenas de estudantes presos.  


  • ·         Em julho, uma greve insurrecional eclodiu em Osasco, grande SP, e a empresa Cobrasma foi ocupada pelos trabalhadores. Em menos de doze horas a empresa ocupada foi invadida pelos militares, e centenas de trabalhadores foram espancados e confinados em um ginásio local. Outras empresas da cidade que também se encontravam paralisadas tiveram o mesmo destino da Cobrasma. No dia posterior ao início da greve, o Sindicato dos Metalúrgicos local, ocupado por trabalhadores, também foi invadido. Operários, operárias, esposas e filhos pequenos de grevistas que se encontravam no sindicato foram barbaramente atacados pela repressão.




  • No final do ano, são organizados os dois principais agrupamentos guerrilheiros em atuação no país, a ALN (Ação Libertadora Nacional), formada a partir de uma cisão do PCB, liderada por Carlos Marighela, e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organizada por militantes oriundos da ORM-Polop (Organização Revolucionaria Marxista) Política Operária, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário, formado por militares cassados em 1964), e o Grupo de Osasco.


Anos de Chumbo (1968-1975) – Intensa atividade guerrilheira na cidade, com a proliferação de diversos grupos de guerrilha. Dezenas de assaltos a banco, sequestros e justiçamento de agentes da repressão. A ALN atua em conjunto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) no sequestro do embaixador estadunidense em setembro de 1969. A VPR realiza três grandes sequestros (Consul japonês e embaixadores da Alemanha e Suíça), ações que livraram da cadeia mais de cem guerrilheiros presos.

1975-76 – Assassinatos de Wladimir Herzog, jornalista, e Manuel Fiel Filho, operário. A morte de Herzog gerou comoção e revolta, e foi denunciada pela igreja católica local, em franca oposição a ditadura, liderada por figuras como Dom Paulo Evaristo Arns.

1978 – Início do ciclo de greves do ABC, destas mobilizações brotará a liderança de Luís Inácio Lula da Silva. As greves do ABC foram o primeiro ato frontal de resistência à ditadura desde a decretação do AI-5 em 1968. As mobilizações paulistas reativam o movimento operário brasileiro.

Início dos Anos 1980 – Nessa conjuntura são criados o PT e a CUT, a UNE retoma suas mobilizações, e o movimento Diretas Já! coloca a ditadura contra a parede. São Paulo assiste a manifestações que chegaram a reunir 1 milhão de pessoas.


Após a frustação da derrota do movimento Diretas Já!, uma certa letargia tomou conta dos grupos capazes de organizar movimentos de massa em SP. Contudo, a mobilização de esquerda jamais cessou nesta cidade e estado. Minorias políticas passaram a se organizar, grupos LGBT, o movimento feminista, anarquista, o movimento negro, sem terras, sem teto, etc. A atual fase assiste a proliferação da militância digital, via blogs e sites de esquerda, e a esquerda de SP tem tido presença ativa nesse processo. 

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.

O vídeo abaixo fala da resistência e da luta de morte da guerrilha contra o sistema repressor e genocida da última ditadura civil-militar. São Paulo, durante os Anos de Chumbo, foi o centro da resistência ao regime protofascista dos militares e da burguesia.







quinta-feira, 9 de outubro de 2014

"Muito Além do Cidadão Goebbels". A blitzkrieg da Rede Globo e do PIG contra a democracia


Esses dias vi de novo o celebre documentário proibido pela Rede Globo “Muito Além do Cidadão Kane”. Este Doc. aponta como ápice da canalhice da empresa dos Marinho a edição do debate Lula X Collor, realizado as vésperas das eleições presidenciais de 1989. 

É impressionante como tal atitude, comparada ao que se vê hoje, não só na Globo, como na mídia corporativa em geral, é uma brincadeira de criança. O PIG partiu para a uma blitzkrieg, está em conflito aberto e perdeu todos os limites. São capazes de tudo, o Brasil e a democracia se encontram em sério perigo. Estamos vivendo dias de guerra. 

Em 1989 a extrema-direita venceu a disputa, e o preço foi cobrado, como sempre, dos mais pobres que ousaram sonhar com um futuro diferente daquele estipulado pela burguesia delinquente, fascista e golpista por natureza. Quem sobreviveu aos Anos 1990 sabe do que estou falando. 

Agora eles podem voltar. Talvez esse seja o momento mais sério pelo qual nossa geração já passou. O momento atual é mais dramático do que aquele observado em 1989. 

O que nos resta é lutar da melhor forma, do modo que estiver ao nosso alcance, e não tenhamos dúvidas, a necessidade de lutar já se impôs. Ou lutamos agora, por nosso futuro, ou lutaremos amanhã, mas pela sobrevivência. Se os Hermógenes retomarem o poder, vem chumbo grosso por aí.  

Como diria uma meia dúzia de revolucionários, dentre estes o Capitão Lamarca, ousar lutar, ousar vencer!  

Vejam o Doc. abaixo, para quem já viu, adiante o vídeo até a parte final, quando é mostrado o jogo sujo da Rede Globo em 1989, sujo, porém brando, se comparado ao lodo que vemos atualmente em toda a mídia corporativa.





PS: Com tudo o que a Rede Globo aprontou desde 2003, daria para produzir um novo documentário, em continuação ao lançado em 1993. Uma sugestão de título: "Muito Além do Cidadão Goebbels".
   









terça-feira, 7 de outubro de 2014

Um texto de Marilena Chauí para entender o atraso cultural, intelectual e moral dos brasileiros, especialmente dos paulistas


O excerto abaixo fez parte de uma conferência ministrada em Salvador, Bahia, em 11 de novembro de 2007. Marilena Chauí aborda questões expostas em seu livro "Cultura e democracia: discurso competente e outras falas (Cortez, 2007)". Este artigo, infelizmente, é mais atual do que nunca. Agora que SP mais uma vez se lambuza na lama do fascismo, as pessoas minimamente conscientes precisam reforçar sua consciência crítica, e procurar entender as origens de nosso atraso enquanto civilização.  


IV

O que é a sociedade brasileira enquanto sociedade autoritária? É uma sociedade que conheceu a cidadania através de uma figura inédita: o senhor (de escravos)-cidadão, e que concebe a cidadania com privilégio de classe, fazendo-a ser uma concessão da classe dominante às demais classes sociais, podendo ser-lhes  retirada quando os dominantes assim o decidirem. É uma sociedade na qual as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são imediatamente transformadas em desigualdades, e estas, em relação de hierarquia, mando e obediência. Os indivíduos se distribuem imediatamente em superiores e inferiores, ainda que alguém superior numa relação possa tornar-se inferior em outras, dependendo dos códigos de  hierarquização que regem as relações sociais e pessoais. Todas as relações tomam a forma da dependência,  da tutela, da concessão e do favor. Isso significa que as pessoas não são vistas, de um lado, como sujeito, autônomas e iguais, e, de outro,  como cidadãs e, portanto, como portadoras de direitos. É exatamente isso que faz a violência ser a regra da vida social e cultural. Violência tanto maior porque invisível sob o paternalismo e o clientelismo,  considerados naturais e, por vezes, exaltados como qualidades positivas do “caráter nacional”. É uma sociedade na qual as leis sempre foram armas para preservar privilégios e o melhor instrumento para a repressão e a opressão, jamais definindo direitos e deveres concretos e compreensíveis para todos. No caso das camadas populares, os direitos são sempre
apresentados como concessão e outorga feitas pelo Estado, dependendo da vontade pessoal ou do arbítrio do governante. 


Essa situação é clara mente reconhecida pelos trabalhadores quando afirmam que “a justiça só existe para os ricos”. Tal situação também forma numa consciência social difusa, que se exprime no dito muito conhecido: “para os amigos, tudo; para os inimigos, a lei”. Para os grandes, a lei é privilégio;
para as camadas populares, repressão. A lei não figura o pólo público do poder e da regulação dos conflitos, nunca define direitos e deveres dos cidadãos porque, em nosso país, a tarefa da lei é a conservação de privilégios e o exercício da repressão. Por este motivo, as leis aparecem como inócuas, inúteis ou incompreensíveis, feitas para serem transgredidas e não para serem transformadas – situação violenta que é miticamente transformada num traço positivo, quando a transgressão é elogiada como “o jeitinho brasileiro”. O poder judiciário é claramente percebido como distante, secreto, representante dos privilégios das oligarquias e não dos direitos da generalidade social. Nessa sociedade, não existem nem a idéia, nem a prática da representação política autêntica. Os partidos políticos tendem a ser clubes privados das oligarquias locais e regionais, sempre tomam a forma clientelística na qual a relação é de tutela e de favor. É uma sociedade, conseqüentemente, na qual a esfera pública nunca chega a constituir-se como pública, pois é definida sempre e imediatamente pelas exigências do espaço privado, de sorte que a vontade e o arbítrio são as marcas dos governos e das instituições “públicas”. A indistinção entre o público e  privado (a política nasce ao instituir a distinção entre ambos, como vimos) não é uma falha acidental que podemos corrigir, pois é a estrutura do campo social e do campo político que se encontra determinada pela indistinção entre o público e o privado. Essa indistinção é a forma mesma de realização da sociedade e da política: não apenas os governantes  e parlamentares praticam a corrupção sobre os fundos públicos,
mas não há a percepção social de uma esfera pública das opiniões, da sociabilidade coletiva, da rua como espaço comum, assim como não há a percepção dos direitos à privacidade e à intimidade. É uma sociedade na qual as diferenças e assimetrias sociais e pessoais são imediatamente transformadas em desigualdades,
e estas, em relação de hierarquia, mando e obediência. É uma sociedade que por isso bloqueia a esfera pública da opinião como expressão dos interesses e dos direitos de grupos e classes sociais diferenciados e\ou antagônicos. Esse bloqueio não é um vazio ou uma ausência, mas um conjunto de ações determinadas que se traduzem numa maneira determinada de lidar com a esfera da opinião: os mass media monopolizam a informação, e o consenso é confundido com a unanimidade, de sorte que a discordância é posta como
ignorância ou atraso. As disputas pela posse da terra cultivada ou cultivável são resolvidas pelas armas e pelos assassinatos clandestinos. As desigualdades econômicas atingem a proporção do genocídio. Os negros são considerados infantis, ignorantes, raça inferior e perigosa, tanto assim, que numa inscrição gravada até pouco tempo na entrada da Escola de Polícia de São Paulo dizia: “Um negro parado é suspeito; correndo, é culpado”. Os índios, em fase final de extermínio, são considerados irresponsáveis (isto é, incapazes de cidadania), preguiçosos (isto é, maladaptáveis ao mercado de trabalho capitalista), perigosos, devendo ser exterminados ou, então, “civilizados” (isto é, entregues à sanha do mercado de compra e venda de mão-de-obra, mas sem garantias trabalhistas porque “irresponsáveis”). E, ao mesmo tempo, desde o romantismo, a imagem índia é apresentada pela cultura letrada com heróica e épica, fundadora da “raça brasileira”. Os trabalhadores rurais e urbanos são considerados ignorantes, atrasados e perigosos, estando a polícia autorizada a parar qualquer trabalhador nas ruas, exigir a carteira de trabalho e prendê-lo “para averiguação”, caso não esteja carregando identificação profissional (se for negro, além de carteira de trabalho, a polícia está autorizada a examinar-lhe as mãos para verificar se apresentam “sinais de trabalho” e a prendê-lo caso não encontre os supostos “sinais”). Há casos de mulheres que recorrem à Justiça por espancamento ou estupro, e são violentadas nas delegacias de polícia, sendo ali novamente espancadas e estupradas pelas “forças da ordem”. Isto para não falarmos da tortura, nas prisões, de homossexuais,  prostitutas e pequenos criminosos. Numa palavra, as classes populares carregam os estigmas da suspeita, da culpa e da incriminação permanentes. Essa situação é ainda mais aterradora quando nos lembramos de que os instrumentos criados durante a ditadura (1964-1975) para repressão e tortura dos prisioneiros políticos foram transferidos para o tratamento diário da população trabalhadora e que impera uma ideologia segundo a qual a miséria é causa de violência, as classes ditas “desfavorecidas” sendo consideradas potencialmente violentas e criminosas. Preconceito que atinge profundamente os habitantes das favelas, estigmatizados não só pelas classes média e dominante, mas pelos próprios domina dos: a cidade olha a favela como uma realidade patológica, uma doença, uma praga, um quisto, uma calamidade pública. É uma sociedade na qual a população das grandes cidades se divide entre um “centro” e uma “periferia”, o termo periferia sendo usado não apenas no sentido espacial-geográfico, mas social,  designando bairros afastados nos quais estão ausentes todos os serviços básicos (luz, água, esgoto, calçamento, transporte, escola, posto de atendimento médico). Condição, aliás, encontrada no “centro”, isto é, nos bolsões de pobreza, os cortiços e as favelas. População cuja jornada de trabalho, incluindo o tempo gasto em transportes, dura de 14 a 15 horas, e, no caso das mulheres casadas, inclui o serviço doméstico e o cuidado com os filhos.
É uma sociedade na qual a estrutura da terra e a implantação da agroindústria criaram não só o fenômeno da migração, mas figuras novas na paisagem dos campos: os sem-terra, volantes, bóiasfrias, diaristas sem contrato de trabalho e sem as mínimas garantias trabalhistas. Trabalhadores cuja jornada se inicia por volta das três horas da manhã, quando se colocam à beira das estradas à espera de caminhões que irão levá-los ao trabalho, e termina por volta das seis horas da tarde, quando são depositados de volta à beira das estradas, devendo fazer longo trajeto a pé até a casa. Freqüentemente, os caminhões se encontram em péssimas condições e são constantes os acidentes fatais, em que morrem dezenas de trabalhadores, sem que suas famílias recebam qualquer indenização. Pelo contrário, para substituir o morto, um novo membro da família – crianças ou mulheres – é transformado em novo volante. Bóias-frias porque sua única refeição – entre três da manhã e sete da noite – consta de uma ração de arroz, ovo e banana, já frios, pois preparados nas primeiras horas do dia. E nem sempre o trabalhador pode trazer a bóia-fria, e os que não trazem se escondem dos demais, no momento da refeição, humilhados e envergonhados. Por fim, é uma sociedade que não pode tolerar a manifestação explicita das contradições, justamente porque leva as divisões e desigualdades sociais ao limite e não pode aceitá-las de volta, sequer através da rotinização dos “conflitos de interesses” (à maneira das democracias liberais). Pelo contrário, é uma sociedade em que a classe dominante exorciza o horror às contradições produzindo uma ideologia da indivisão e da união nacionais, a qualquer preço. Por isso recusa perceber e trabalhar os conflitos e contradições sociais, econômicas e políticas enquanto tais, uma vez que conflitos e contradições negam a imagem mítica da boa sociedade indivisa, pacífica e ordeira. Contradições e conflitos não são ignorados e sim recebem uma significação precisa: são considerados sinônimo de perigo, crise, desordem e a eles se oferece uma única resposta: a repressão policial e militar, para as camadas populares, e o desprezo condescendente, para os opositores em geral. É uma sociedade em que vigora o fascínio pelos signos de prestígio e de poder, como se observa no uso de títulos honoríficos sem qualquer relação com a possível pertinência de sua atribuição, o caso mais corrente sendo o uso de “Doutor” quando, na relação social, o outro se sente ou é visto como superior (“doutor” é o substituto imaginário para os antigos títulos de nobreza); ou como se observa na importância dada à manutenção de criadagem doméstica cujo número indica aumento de prestígio e de status, etcetera.
A desigualdade salarial entre homens e mulheres, entre brancos e negros, a exploração do trabalho infantil e dos idosos são consideradas normais. A existência dos sem-terra, dos sem-teto, dos desempregados é atribuída à ignorância, à preguiça e à incompetência dos “miseráveis”. A existência de crianças de rua é vista como “tendência natural dos pobres à criminalidade”. Os acidentes de trabalho são imputados à  incompetência e ignorância dos trabalhadores. As mulheres que trabalham (se não forem professoras ou assistentes sociais) são consideradas prostitutas em potencial e as prostitutas, degeneradas,
perversas e criminosas, embora, infelizmente, indispensáveis para conservar a santidade da família.
Em outras palavras, a sociedade brasileira está polarizada entre a carência absoluta das camadas populares e o privilégio absoluto das camadas dominantes e dirigentes, bloqueando a instituição e a consolidação da democracia. De fato, fundada na noção de direitos, a democracia está apta a diferenciá-los de privilégios e carências. Um privilégio é, por definição, algo particular que não pode generalizar-se nem universalizar-se
sem deixar de ser privilégio. Uma carência é uma falta também particular ou específica que desemboca numa demanda também particular ou específica, não conseguindo generalizar-se nem universalizar-se. Um direito, ao contrário de carências e privilégios, não é particular e específico, mas geral e universal, seja porque é o mesmo e válido para todos os indivíduos, grupos e classes sociais, seja porque embora diferenciado é reconhecido por todos (como é caso dos chamados direitos das minorias). Assim, a polarização  econômico-social entre a carência e o privilégio ergue-se como obstáculo à instituição de direitos,  definidora da democracia. Acrescentemos a isso as duas grandes dádivas neoliberais: do lado da economia, uma acumulação do capital que não necessita incorporar mais pessoas ao mercado de trabalho e de consumo, operando com o desemprego estrutural; do lado da política, a privatização do público, isto é, não só o abandono das políticas sociais por parte do Estado, mas também o recrudescimento da estrutura histórica da sociedade brasileira centrada no espaço privado fortalecendo a impossibilidade para que a esfera pública possa constituir-se, pois antes que a distinção entre público e privado tivesse conseguido instituir-se, a nova forma do capital institui a indiferença entre o público e o privado. Política e socialmente, a economia neoliberal é o projeto de encolhimento do espaço público e do alargamento do espaço privado – donde seu caráter essencialmente anti-democrático –, caindo como uma luva na sociedade brasileira.
No caso do Brasil, o neoliberalismo significa: levar ao extremo à polarização carência-privilégio, a exclusão sócio-política das camadas populares, a desorganização da sociedade como massa dos desempregados; aumentar o espaço privado ocupado não apenas pelas grandes corporações econômicas e financeiras, mas também pelo crime organizado, o qual, diante do encolhimento do Estado, pode espraiar-se por toda a sociedade como substituto do Estado (proteção, segurança, emprego, privatização da guerra, privatização do uso da força, etc.); significa solidificar e encontrar novas justificativas para a forma oligárquica da política, para o autoritarismo social e para o bloqueio à democracia. Diante desse quadro, podemos dizer que as políticas sociais de afirmação dos direitos econômicos e sociais, contra o privilégio, e as políticas culturais de afirmação do direito à cultura, contra a exclusão cultural, constituem uma verdadeira revolução democrática no Brasil.


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

A mais completa tradução do paulista médio eleitor do PSDB


Discordo quando dizem que paulista é de direita, reacionário, conservador ao extremo.

Paulista é otário mesmo.

Vai sempre com a modinha, acha chique pensar como o patrão. Paulista é um tipo que terceirizou sua consciência política, não é mais capaz de formular um raciocínio político por conta própria, está sempre à espera do próximo editorial da Veja, da Folha, Estadão, e é claro, da Rede Globo. Para os endinheirados, Globonews, para o povão, Willian Bonner. 

Paulista é um tipo que põe em xeque o futuro de seus filhos porque não quer ficar mal com seus pares pensando e votando de forma diferente.

O Paulista não atribui ao governo do PSDB o ensino de péssima qualidade que seu filho semi-alfabetizado recebe.

O Paulista não se incomoda em pagar quase cem reais de pedágio para chegar a Ribeirão Preto, enquanto nas estradas federais se paga cerca de vinte reais para se chegar a Belo Horizonte.

O Paulista não se incomoda em amargar horas de seus dias sufocado no transporte público sucateado.

Não se incomoda de morrer a míngua em hospitais também sucateados.

Bom, sobre a USP, não há nem o que dizer, a única certeza é que os mesmos tucanos que estão destruindo esta Universidade certamente ganharam a maioria dos votos da comunidade USP. Conservadorismo e reacionarismo não são sinônimo de má gestão da coisa pública.  E os tucanos estão destruindo SP, em todos os sentidos, inclusive o intelectual e o moral.

Repito, o paulista (e paulistano) médio não é de direita, é apenas um completo tapado em termos políticos, completamente vulnerável ao discurso da mídia corporativa. Pra quem não é daqui, veja o vídeo abaixo e confira como se porta o típico otário paulista, sempre a procura de um espertalhão para lesá-lo, mas tudo bem, no fundo, no fundo,  ele gosta.   






PS: Meu... Ainda tem uns 30% de gente esperta nesse estado, gente que não cai no discurso fascistoide do PIG e consortes.