segunda-feira, 3 de maio de 2010

Grécia: Nova greve geral marcada para quarta-feira



Todo apoio aos trabalhadores gregos!




Esquerda grega apela a uma mobilização europeia contra o ataque conduzido pela finança europeia. Principais centrais sindicais avançam para uma greve geral na próxima quarta-feira. Depois de um Primeiro de Maio em que os gregos disseram nas ruas que não aceitam ser as vítimas do plano de austeridade imposto pela finança europeia, as principais centrais sindicais avançam para uma greve geral na quarta-feira enquanto se mantêm protestos contínuos, apesar da repressão policial. O partido Sinapismos e a coligação de esquerda Syriza exigem a convocação de um referendo sobre as medidas e lançam um apelo a uma acção coordenada de resistência em toda a Europa porque se os gregos são hoje as vítimas, "amanhã serão todos os povos europeus". A esquerda unitária no Parlamento Europeu, GUE/NGL, apela à solidariedade com o povo grego e apoia a greve geral: "Não vamos pagar a crise dos patrões".

O Banco Central Europeu, o FMI e os governos dos países da Zona Euro aprovaram domingo o chamado "plano de resgate", também chamado de "ajuda financeira" à Grécia para que o governo deste país consiga reduzir o défice público dos 8,1 por cento calculados para final deste ano até 2,6 por cento em 2014. Um "tratamento de choque" segundo a linguagem mediática de inspiração tecnocrática que permitirá ao executivo do socialista Papandreu recorrer a 110 mil milhões de euros em três anos - 30 mil milhões por conta do FMI e respectivas exigências e 80 mil milhões da responsabilidade dos países da Zona Euro distribuídos proporcionalmente de acordo com a importância de cada um no Banco Central Europeu. Portugal, cuja qualidade de crédito foi mais uma vez rebaixada pelas empresas de rating, terá de contribuir, através dos seus cidadãos, com dois mil milhões de euros.

A aplicação das "medidas de austeridade" impostas aos gregos por conta deste dinheiro serão fiscalizadas de três em três meses pelos emprestadores. Os mercados não tiveram qualquer reacção especial a estas decisões, mantendo-se "desconfiados", segundo os peritos, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, afirma que a "solução" para a Grécia não pode ser encarada como um "precedente" em relação a outras situações que venham a registar-se.

As medidas impostas pelos financiadores - e que o primeiro ministro grego se recusa a debater até no próprio Parlamento onde tem uma confortável maioria absoluta - formam um pacote amplo que atinge especialmente as classes média e baixa. Entre elas figuram a subida do IVA de 21 para 23 por cento, aumentos de 10 por cento dos impostos sobre combustíveis, álcool e tabaco, idade de reforma aos 65 anos, impossibilidade de abandonar o trabalho antes dos 60 anos, congelamento dos salários da função pública até 2014, eliminação dos subsídios de férias e 14º mês a partir dos três mil euros e redução a mil euros nos casos dos salários inferiores, privatizações em vastas áreas de serviços públicos, reduções significativas dos investimentos na rede hospitalar e serviços de saúde. Com estas medidas, adoptadas das recomendações de índole neoliberal, o governo calcula aforrar 30 mil milhões de euros até 2012, além de 10 mil milhões como "reserva de estabilidade para garantir a solvência do sistema bancário".

Devido a esta "terapia de choque", a economia deverá contrair-se quatro por cento este ano, contra os 0,3 por cento anteriormente previstos, o que significará uma estagnação de actividade que afectará ainda mais os mais desfavorecidos. A vaga de privatizações provocará efeitos negativos suplementares pois suscitará fortes aumentos de preços em serviços que são utilizados sobretudo pelos estratos populacionais com os salários congelados. O desemprego vai continuar a crescer em elevado ritmo, o que é reconhecido pelo governo ao estabelecer uma taxa que permite às empresas realizarem despedimentos periódicos desde que não sejam superiores a dois por cento da força de trabalho.

Depois dos últimos agravamentos das medidas de combate ao défice o governo perdeu um dos argumentos que mais utilizava na propaganda: o de ter as sondagens a seu favor.

A situação inverteu-se. Mais de metade da população diz-se disposta a sair às ruas para defender os direitos afectados por estas medidas e mais de 61 por cento estão agora contra as práticas governamentais.

As centrais sindicais ADEDY, do sector público, e GSEE, do sector privado, convocaram uma greve geral para quarta-feira na sequência de manifestações muito fortes no Primeiro de Maio e que transmitiram a certeza de que os gregos não estão dispostos a aceitar esta ofensiva sem lutar por caminhos alternativos contra a crise.

Enquanto abundam os sinais de que pode vir a existir uma vaga de emigração em massa do país, manifestações sectoriais mantêm-se desde o fim de semana, prevendo-se ainda que as acções da polícia contra grupos radicalizados possam gerar uma instabilidade susceptível de expandir o clima de animosidade.

A esquerda unitária no Parlamento Europeu, grupo GUE/NGL, emitiu uma declaração apoiando a greve geral na Grécia e apelando à solidariedade em toda a Europa. "Não vamos pagar pela crise dos patrões", afirma. "Enquianto os governos europeus estão divididos quanto ao modo como lidar com a crise na Eurozona, que se aprofunda, estão unidos sobre quem deve pagar a crise", acrescenta. O GUE/NGL sublinha que "os trabalhadores gregos estão a ser alvos de ataques selváticos contra a sua qualidade de vida; os trabalhadores em Portugal, Espanha e Irlanda enfrentam semelhantes ataques, bem como os trabalhadores em toda a Europa".

"Apelamos a uma posição unida dos trabalhadores através da Europa", afirma o GUE/NGL, "para responder ao FMI, aos mercados financeiros internacionais e aos políticos neoliberais da Europa com a declaração: Não vamos pagar a crise".

"Há outros caminhos"

Numa carta dirigida ao presidente do Partido da Esquerda Europeia, o partido grego Synapismos e a coligação de Esquerda Syriza advertem que as medidas impostas são "uma escolha desastrosa para a Grécia e traduzem desenvolvimentos negativos para todos os povos da Europa" traçados pelas "forças dominantes na Europa dirigidas pelo sistema financeiro europeu, pelo Banco Central Europeu e pelo governo alemão de Angela Merkel em colaboração com o governo grego de Papandreu".

"O povo grego vê-se agora obrigado a pagar os custos de uma crise pela qual não têm qualquer responsabilidade", pelo que o Sinapismos e a coligação Syriza defendem outras opções. Entre elas, sublinha-se na carta, a convocação de um referendo para que os gregos possam pronunciar-se sobre a situação; e também a definição de "medidas de acção e colaboração" europeias de apoio ao povo grego que deverão ter ainda em conta a necessidade de "desenvolver lutas através da Europa contra o ataque de que o nosso povo é vítima hoje e de que todos os povos da Europa poderão ser vítimas amanhã".

Alexis Tsipras, presidente do Sinapismos e da coligação Syriza, assegura na carta que "os trabalhadores gregos assumem agora o importante dever de resistir a estas decisões, em nome das gerações futuras, em nome dos trabalhadores e povos da Europa".





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