sexta-feira, 21 de maio de 2010

Filme sobre independência da Argélia provoca protestos em Cannes


Cena de Batalha de Argel, um dos maiores filmes da História

Ao contrário do que muita gente pensa, o grande pólo exportador de técnicas de tortura e contra-insurreição para o Ocidente não foram os EUA, e sim a França. Primeiro tais técnicas começaram a ser aperfeiçoadas na Indochina, após a surra que os franceses levaram em Dien Bien Phu, o exército francês transportou sua experiência em infâmia para a Argélia. No processo de independência argelino, liderado pela FLN (Frente de Libertação Nacional), cerca de um milhão de pessoas foram assassinadas, boa parte sob tortura. Quem assistiu ao filme Batalha de Argel sabe do que estou falando. O genocídio argelino fez cair de vez a máscara esnobe da burguesia francesa, tão criminosa quanto as demais, com o diferencial de ser mais metida a besta. Este novo filme sobre a barbárie francesa na Argélia parece seguir a mesma linha da obra de Gillo Pontecorvo, que figura entre os grandes diretores de cinema do século XX.




Um filme sobre a luta sangrenta pela independência da Argélia estreou na sexta-feira em Cannes em meio a segurança policial intensa, enquanto manifestantes do lado de fora protestavam, dizendo que o filme macula a memória do Exército francês.

Hors la Loi (Fora da Lei), pela equipe responsável pelo premiado Dias de Glória, de 2006, completa a seleção oficial e acrescenta um elemento de controvérsia ao maior festival de cinema do mundo.

Quase cinco décadas após a independência da Argélia, em 1962, o diretor Rachid Bouchareb trata de uma questão que ainda é altamente delicada na França, mas disse que sua intenção é provocar discussões, e não confrontos.

– Eu sabia que o passado colonial e a relação com o passado colonial entre França e Argélia ainda é muito tensa, mas acho que as reações e tudo o que vem sendo dito, antes mesmo de alguém assistir ao filme, têm sido excessivas.

Como se para destacar o que ele disse, policiais de choque se postaram diante do Palais des Festivals enquanto centenas de manifestantes portando bandeiras, entre eles veteranos militares e partidários da Frente Nacional, de extrema direita, passaram em passeata pela prefeitura de Cannes.

– Queremos deixar claro com nossa manifestação que é intolerável que dinheiro público francês seja usado para macular o Exército francês e as ações da França na Argélia –, disse o ex-senador francês e veterano de guerra Jacques Peyrat.

Milhares de pessoas morreram na brutal guerra de independência da Argélia, um conflito que deixou feridas profundas ainda abertas na Argélia e na França.

Mas Bouchareb disse que espera que o país ajude a fomentar um debate aberto e que "depois disso precisamos passar para outra coisa".

Não há razão pela qual gerações posteriores tenham que herdar o passado desta maneira."

Hors la Loi trata de um tema que decorre de Dias de Glória, do mesmo diretor, que contou a história de soldados do norte da África que combateram pela França na 2a Guerra Mundial.

O filme foca três irmãos, representados por Jamel Debbouze, Roschdy Zem e Sami Bouajila, três dos quatro atores de Dias de Glória, que receberam um prêmio coletivo de melhores atores em Cannes em 2006.

Bouchareb inicia a história em 1925, quando uma família argelina é expulsa de suas terras ancestrais depois de as terras serem dadas a um colono europeu.

Ele mostra um incidente notório ocorrido em 1945, quando tropas francesas abriram fogo contra manifestantes pró-independência, desencadeando uma explosão de violência na qual foram mortos milhares de argelinos e cerca de 100 europeus.

A parte principal da história acontece na França, para onde a família se muda, indo viver em uma favela nos arredores de Paris, e mostra a brutalidade da polícia francesa e também a violência fria do movimento pró-independência argelina FLN.

Mas os criadores do filme negam que Hors la Loi seja antifrancês e disseram que não acreditam que a maioria dos franceses o enxergará assim.

– A França é um grande país, e este filme vai contribuir para a memória histórica –, disse Tarak bem Ammar, um dos co-produtores.


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