sábado, 29 de maio de 2010

EUA: Empresas lucram com a guerra permanente


A máquina de guerra não pode parar



Neste Memorial Day, lembremo-nos que, enquanto milhares de pessoas morreram e centenas de milhares ficaram feridas, os fornecedores de defesa militar privados estão a prosperar com o negócio da guerra.
Por Bill Quigley

A lei dos EUA proclama oficialmente o Memorial Day1 “como um dia de oração pela paz permanente”.

No entanto, os EUA estão muito mais próximos da guerra permanente do que da paz permanente. As empresas estão a obter lucros com as guerras e a fazer lóbi sobre os políticos para obter mais. Os EUA, e o resto do mundo, não têm dinheiro para arcar os crescentes custos humanos e financeiros da guerra permanente.

Primeiro lugar na guerra

Não há dúvidas de que os EUA são o número 1 da guerra. Neste próximo ano, os EUA irão gastar 708 mil milhões de dólares na guerra e outros 125 mil milhões de dólares com Assuntos de Veteranos de Guerra – mais de 830 mil milhões de dólares. Num distante segundo lugar está a China, que gastou cerca de 84 mil milhões de dólares com as suas forças armadas em 2008.

Os EUA lideram também mundialmente a venda de armas letais ao exterior, vendendo cerca de uma em cada três armas a nível mundial. Os maiores clientes dos EUA? Coreia do Sul, Israel e os Emirados Árabes Unidos.

O nosso país tem 5% da população mundial mas responde por mais de 40% dos gastos em todo o mundo com armamento.

Prejuízos

Os EUA não respeitam os seus soldados ao manter uma guerra permanente. A guerra está a triturar as nossas crianças. As guerras no Afeganistão e no Iraque custaram mais de 5.000 vidas americanas e dezenas de milhares de outras vidas nesses países. Mais de 20% daqueles que se encontram nas nossas forças armadas e que serviram nessas duas guerras, 320 mil pessoas, têm danos cerebrais de traumas de guerra. As taxas de suicídio aumentaram cerca de 26% nos veteranos masculinos, na faixa etária entre os 18 e os 29 anos, de acordo com o mais recente estudo do Departamento dos Assuntos de Veteranos de Guerra. As hospitalizações por doenças mentais são actualmente as causas principais dos internamentos hospitalares por parte das forças armadas, à frente de motivos relacionados com ferimentos. Em qualquer momento, serão mais de 100 mil veteranos sem-abrigo a viver nas ruas do nosso país.

O aumento dos custos com a guerra

Desde 2001, os EUA gastaram mais de 6 biliões de dólares (um bilião é um milhão de milhões) com a guerra e nos preparativos para a guerra. Isso é cerca de 20 mil dólares por cada mulher, homem e criança nos EUA. Só o Iraque e o Afeganistão juntos já custaram a cada contribuinte nos EUA mais de um bilião de dólares desde 2001.

Sem fim à vista

No princípio deste mês, o General da Marinha James Cartwright, vice-presidente do Estado-Maior das Forças Armadas, declarou ao Army Times que os EUA podem esperar a continuação da guerra “por muito tempo”.

Em nome desta guerra perpétua contra o terrorismo, os EUA ainda aprisionam centenas de pessoas sem julgamento em Guantánamo, mantêm presas outras centenas em prisões nas bases e em detenção secreta por todo o mundo, tentam evitar julgamentos constitucionais para qualquer pessoa acusada de terrorismo, admitem estar a tentar assassinar um cidadão americano clérigo muçulmano no Iémen, e lançam ataques com aviões não-tripulados no Iraque, no Afeganistão, no Paquistão e no Iémen, matando civis e suspeitos sempre que o decidem.

Quem lucra com a Guerra permanente?

Um ponto de apoio para a Guerra permanente vem das empresas nos EUA que fazem abertamente lóbi para que mais e mais dinheiro seja investindo na guerra. Porquê? Porque retiram gigantescos benefícios dos contratos com o governo.

O presidente Dwight Eisenhower, que acreditava em forças armadas fortes, advertiu os EUA para este facto no seu discurso de despedida à nação em 1961.

“Nas esferas da governação, devemos proteger-nos contra a aquisição de uma influência indesejada, procurada ou não, por parte do complexo militar-industrial. Existe, e permanecerá, o potencial para um surto desastroso de poder mal concentrado. Não devemos nunca permitir que o peso desta conjugação ameace as nossas liberdades ou o processo democrático.”

A guerra é um grande negócio

A guerra é um enorme negócio. As pessoas sabem que as empresas privadas estão a ganhar muito com a guerra. Em Janeiro de 2010, o Serviço de Investigação do Congresso revelou que existem pelo menos 55 mil seguranças privados armados no Iraque e no Afeganistão, e talvez possam ser mais – 70 mil só Afeganistão.

Mas muito mais dinheiro está disponível para fornecedores de defesa militar. Só em 2008, os dez principais fornecedores de defesa militar receberam cerca de 150 mil milhões de dólares em contratos federais. Estas empresas gastaram milhões de dólares para financiar outros tantos milhares de milhões em fundos federais e contrataram líderes ex-militares e ex-oficiais para ajudá-los a lucrar com a guerra.

Olhemos, por exemplo, para o top três dos fornecedores de defesa militar, Lockheed Martin, Boeing e Northrop Grumman. Eles demonstram a razão de a guerra perpétua ser lucrativa e de esta continuar.

A Lockheed Martin

A Lockheed Martin é o maior fornecedor de defesa militar no mundo, com 140 mil empregados, lucrando anualmente mais de 40 mil milhões de dólares, mais de 35 mil milhões vindos do governo dos EUA. A Lockheed Martin gaba-se de ter aumentado o seu pagamento dos dividendos em mais de 10% pelo sétimo ano consecutivo – em perfeita articulação com o aumento dos gastos com a guerra por parte dos EUA. O seu presidente, Robert Stevens, recebeu mais de 72 milhões de dólares em prémios nos últimos três anos.

O conselho de directores da Lockheed inclui um antigo Secretário da Defesa, um antigo Comandante da Força Aérea dos EUA do Comando Estratégico dos EUA, um antigo deputado eleito para a Segurança Interna e um antigo Comandante da Aliança Suprema Europeia. Os membros deste conselho recebem mais de 200 mil dólares por ano em prémios. O seu comité de acção política deu mais de um milhão de dólares por ano aos candidatos federais em 2009, e é consistentemente um dos comités de acção política que mais gasta nos EUA. Eles apelam a todos os membros do Congresso porque têm estrategicamente operações em todos os 50 estados. E, desde 1998, a Lockheed gastou mais de 125 milhões de dólares para fazer lóbi no Congresso.

A Northrop Grumman

A Northrop Grumman é uma empresa estimada em 33 mil milhões de dólares, com 120 mil empregados. Em 2008, recebeu cerca de 25 mil milhões de dólares em contratos federais. O seu presidente, Ronald Sugar, recebeu mais de 54 milhões de dólares em prémios nos últimos três anos.

O conselho da Northrop inclui um antigo Almirante da Marinha, um antigo membro que exerceu um cargo no Congresso durante 20 anos, um antigo presidente do Estado-Maior das Forças Armadas, um antigo comissário da Segurança e da Comissão de Conversão entre diversas moedas e um antigo oficial da Marinha dos EUA. Os membros deste conselho recebem mais de 200 mil dólares por ano cada um deles. O seu comité de acção política mobilizou mais de 700 mil dólares em doações de campanhas federais em 2009. Desde 1998, gastou mais de 147 milhões de dólares para financiar o Congresso.

A Boeing

A Boeing tem 150 mil empregados e lucrou mais de 23 mil milhões de dólares em contratos federais em 2008. Com uma receita de 68 mil milhões de dólares em 2009, o seu presidente, James McNerney, recebeu mais de 51 milhões de dólares durante os últimos três anos. O membros da administração receberam bem mais de 200 mil dólares por ano. Os directores da Boeing incluem um antigo Secretário do Comércio dos EUA, um antigo funcionário de chefia da Casa Branca, um antigo vice-presidente do Estado-Maior das Forças Armadas e um antigo embaixador dos EUA e representante do Comércio dos EUA. Tem o décimo maior comité de acção política, contribuindo com mais de um milhão de dólares para candidatos federais em 2009. Desde 1998, gastou 125 milhões de dólares para financiar o Congresso.

É tempo de terminar a guerra permanente

Estas empresas recebem milhares de milhões de dólares do governo e lucram com o nosso estado de guerra perpétua. Elas reciclam parte das receitas para financiar as mesmas pessoas que lhes deram essas receitas, e contratam ex-militares e oficiais do governo para ajudá-las a aligeirar o processo. Os seus líderes recebem dezenas de milhões de dólares com o seu trabalho.

Os biliões de dólares que custa a manutenção da guerra estão a esgotar a economia dos EUA. Ainda assim, onde estão as vozes no Congresso, democratas ou republicanos, que falam seriamente em reduzir drasticamente os gastos com as Forças Armadas? O presidente Obama e os democratas estão na prática a dar continuidade às políticas da guerra permanente dos anos de Bush. A mudança é urgente.

Lembremo-nos, neste Memorial Day, que, enquanto milhares de pessoas foram enterradas e centenas de milhares ficaram feridas, os fornecedores de defesa militar privados estão a prosperar e a lucrar com o crescimento do negócio da guerra.

Os EUA não deverão apenas lembrar os seus mortos, mas trabalhar para reverter a guerra permanentemente lucrativa que promete acrescentar mais nomes aos mortos e feridos neste país e por todo o mundo.

24 de Maio de 2010

Bill Quigley é Director Legal no Centro para os Direitos Constitucionais e professor de Direito na Loyola University New Orleans. Quigley77@gmail.com

Tradução de Sara Vicente para o Esquerda.net

1Feriado nos Estados Unidos celebrado na última segunda-feira de Maio (31 de Maio em 2010), que evoca os homens e mulheres que morreram enquanto estavam em serviço militar. Originalmente dedicado aos mortos da Guerra Civil, o seu âmbito foi ampliado depois da I Guerra Mundial.



2 comentários:

  1. agora ficou claro que os EUA junto com ISRAEL,mais os comtranbadistas de armas precisam de uma guerrinha aqui outra acola,senão cade o lucro,é igual aos planos de saude,que são a indústria da morte,numca cobrem nada a não ser nossa carteira é lógico....

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