Prensa Latina | |
Um ano após o golpe de Estado em Honduras a crise política, econômica e social continua, e cresce a convicção de que uma saída ao conflito passa pela convocação de uma Assembleia Constituinte para refundar o país. Após o Haiti, Honduras é a nação mais atrasada do hemisfério ocidental, com mais de 70 por cento da população na pobreza, fenômeno acentuado na área rural, onde o índice atinge 85 por cento. Este país, de 7,5 milhões de habitantes, é também um dos com mais desigualdade e apenas 10 poderosas famílias controlam 90 por cento das riquezas. Quando no dia 28 de junho de 2009, o presidente Manuel Zelaya convocou uma pesquisa para conhecer a opinião da sociedade em torno de futuras reformas constitucionais, militares encapuzados, em aliança com a oligarquia, perpetraram um golpe de Estado. A lei primigênia da nação, aprovada em 1982 sob a tutela de uma ditadura, não responde aos interesses das maiorias e contém sete artigos pétreos que impedem realizar mudanças com respeito à forma de governo e distribuição dos recursos. Zelaya responsabilizou pelo golpe uma elite muito voraz que maneja Honduras política e economicamente, e se opõe a qualquer modificação à carta magna que afete seus interesses. "O golpe foi uma tragédia para Honduras e para a democracia latino-americana", reflexionou o ex-presidente ao recordar o cumprimento do primeiro ano de seu sequestro e desterro na Costa Rica. O regime de facto encabeçado por Roberto Micheletti, que usurpou o poder, desatou uma brutal repressão contra os opositores, suspendeu as garantias constitucionais e fechou e militarizou meios de comunicação. Durante os seis meses de ditadura registraram-se cerca de 4.200 violações aos direitos humanos, mais de 40 membros da resistência antigolpista foram assassinados, cinco jovens mortos em marchas pacíficas e houve mais de três mil detenções. Em uma tentativa de legitimar o golpe, o regime convocou eleições no dia 29 de novembro do ano passado e dois meses depois assumiu o poder Porfirio Lobo, do Partido Nacional. Mas o governo nascido sob o golpe de Estado é débil, enfrenta uma crescente ingovernabilidade, uma onda de violência sem precedentes e ainda não foi reconhecido por muitos países, sobretudo da América Latina. Desde a posse de Lobo, as organizações sociais registraram mais de 700 agressões por motivos políticos, entre elas os assassinatos de 12 dirigentes populares e nove jornalistas. Aqui prevalece o clima de impunidade, os autores do golpe não foram castigados e muitos de seus protagonistas ocupam atualmente postos chaves em instituições civis. A ruptura institucional fez o país retroceder aos piores anos das ditaduras da segunda metade do século passado, mas também colocou com força um novo ator na vida hondurenha: a Frente Nacional de Resistência Popular (FNRP). A FNRP sobreviveu à repressão, aos toques de recolher, ao fustigamento contra seus líderes e realiza marchas em todos os departamentos [estados] para recolher 1,2 milhão de assinaturas para exigir a volta de Zelaya e a convocação uma Assembleia Nacional Constituinte. "Foi um ano de luta, de protestos e de rejeição ao golpe de Estado e um ano de sofrimento da resistência, mas ao mesmo tempo é o surgimento da unidade popular", disse Juan Barahona, coordenador nacional da FNRP. A principal bandeira da FNRP é conseguir uma carta magna inclusiva, para o povo, que permita corrigir as enormes desigualdades sociais. "A luta da Frente é a mesma pela qual Zelaya foi derrocado", afirmou Barahona e acrescentou que o propósito é redigir uma nova constituição para fazer as mudanças políticas, econômicos e sociais que o país precisa e projetar Honduras para o futuro. |
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Honduras: há um ano do golpe, persiste a crise
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