De olho no objetivo de encerrar seu mandato tendo visitado 25 países africanos, o presidente Luis Inácio Lula da Silva disse neste sábado que a decisão de “se reencontrar com o continente africano” não é dele nem de nenhum ministro, e que o próximo ocupante do Planalto vai ter de fazer “ainda mais” para aproximar os países dos dois lados do Atlântico.
O presidente, que durante sua visita deve formalizar o perdão da dívida de Cabo Verde com o Brasil, no valor de US$ 3,5 milhões, fará um giro por outros cinco países: Guiné Equatorial, Quênia, Tanzânia, Zâmbia e África do Sul.
Iniciando a viagem, o presidente discursou na abertura de uma cúpula entre o Brasil e a comunidade econômica do oeste africano – CEDEAO, formada por 15 países – e arrancou aplausos quando pediu licença à plateia para improvisar o que será uma de suas últimas participações como presidente brasileiro em uma reunião internacional de líderes africanos.
“O Brasil, não apenas pela vontade do presidente Lula, tomou uma decisão política de se reencontrar com o continente africano”, disse. “Nós não temos como pagar, nós não temos como mensurar em dinheiro a dívida histórica que o Brasil tem com o continente africano.”
“Quando eu pedi perdão à África em nome do brasileiro (em 2005), é muito mais do que uma frase de efeito. É um sentimento de um cidadão brasileiro, governante do Brasil, que reconhece que o Brasil não seria o que é se não fosse a participação de milhares de africanos na construção de nosso país”, prosseguiu o presidente.
“Independentemente de o Lula ser presidente do Brasil, quem vier depois de mim está moralmente, politicamente e eticamente comprometido a fazer muito mais.”
Abrindo espaços
Tradicionalmente, o presidente bate na tecla de que a cooperação entre a África e o Brasil é particularmente positiva para o continente africano, porque tal relação se dá sobre uma base de solidariedade.
É com esse caráter que o Brasil procura se diferenciar do que já é oferecido pelos países desenvolvidos e até mesmo países emergentes, como a China.
Os chineses são de longe os que alimentam relações comerciais mais intensas com a África. O comércio entre a China e os países africanos já supera US$ 100 bilhões, cerca de quatro vezes mais que o Brasil.
A seu favor, o governo brasileiro cita um crescimento estelar nos últimos sete anos – os da era Lula. Entre 2002, início do governo, e 2009, o comércio saltou de US$ 6 bilhões para US$ 24 bilhões entre o Brasil e o continente.
Em particular com o grupo de 15 países do oeste africano, o comércio foi de US$ 1,8 bilhão para US$ 6,8 bilhões no mesmo período.
Além do quê, em várias ocasiões porta-vozes dos países africanos expressaram sua indignação com o fato de a China investir em projetos no continente, mas importar a mão-de-obra requerida para os empreendimentos – anulando assim um dos benefícios mais evidentes do investimento externo, a criação de empregos.
Já o Brasil, como lembrou o presidente, está criando na cidade de Redenção, no Ceará, uma universidade para 10 mil alunos – 5 mil brasileiros e 5 mil africanos – que deverá capacitar jovens africanos com o objetivo de que eles voltem para o continente e engrossem “os quadros de que a África tanto precisa” para se desenvolver.
O presidente também citou parcerias na área agrícola, incluindo 35 projetos que o escritório da Embrapa, a agência agrícola brasileira, desenvolve em 16 países africanos, totalizando US$ 10 milhões.
O representante regional da Embrapa em Acra, Gana, Leovegildo Lopes de Matos, disse à BBC Brasil que a transposição de experiências do Brasil para a savana africana “mudará a forma como os países africanos veem a cooperação agrícola”.
As parcerias neste setor inauguraram o que o governo brasileiro já chama de “diplomacia sul-sul-norte”, na qual recursos de países desenvolvidos alimentam as iniciativas acertadas entre países em desenvolvimento.
Ao falar durante o encontro entre o Brasil e os países africanos, o presidente da comissão executiva da CEDEAO, James Victor Gbeho, disse que as parcerias com o Brasil são “sem precedentes”.
“Entretanto, o relacionamento não pode ser apenas sentimental”, afirmou. “Desejamos uma relação dinâmica que melhore os padrões de vida de nossos povos.”
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