O cobre
Ao cobre chamávamos de chileno
porque nascia de chilenas mãos
e nosso território estava pleno
do subterrâneo sol cordilheirano,
do cobre que não estava destinado
aos piratas norte-americanos.
Até que ianquizado até o umbigo
o presidente Frei, múmia-cristã,
presenteou nosso cobre ao inimigo.
Mas minha pobre Pátria intransigente
esperou entre o saque e as escórias,
entre Chuquicamta e El Teniente,
a hora de acordar, e se compreende
que, com o pavilhão da vitória,
de um só golpe Salvador Allende,
das presas norte-americanas
resgatou o cobre, para sempre agora,
devolvendo-o ao Chile soberano.
A herança
Assim Nixon comanda com napalm,
assim devasta raças e nações,
assim governa o triste Tio Sam:
com assassinos em seus aviões
ou com dólares verdes que reparte
entre politiqueiros e ladrões.
Chile, te colocou a geografia
entre o oceano e a primavera,
entre a neve e a soberania
e tem custado o sangue da gente
lutar pelo decoro. E a alegria
era delito em tempo precedente.
Recordam dos massacres miseráveis?
deixaram-nos a pátria malferida
a golpes de correntes e de sabres!
Pablo Neruda. Incitação ao Nixonicídio e Louvor da Revolução Chilena. Rio de Janeiro: Livraria Francisco Alves Editora, 1980. Tradução Olga Savary.
Este foi o último livro de Neruda, escrito em Ilha Negra (Chile) em janeiro de 1973. O poeta morreria no mesmo ano, em 22 de setembro, doze dias após o golpe militar contra o governo de Allende (11 de setembro de 1973).
Grande Pablo Neruda!
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