Barco com refugiados vindos da Líbia ficou à deriva por 16 dias; ONGs pedem investigação
AFP
Segundo as informações publicadas com exclusividade pelo jornal, um barco com 72 passageiros, incluindo mulheres e crianças, além de refugiados políticos que fugiam da Líbia, ficou à deriva no Mediterrâneo por pelo menos 16 dias. Os migrantes tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa, no final de março.A Otan (aliança militar do Ocidente) ignorou os apelos de um grupo de migrantes africanos que tentava chegar à Itália no final de março, deixando 61 pessoas morrerem de sede e fome, à deriva, no mar Mediterrâneo. A denúncia foi feita neste domingo (8), pelo jornal britânico The Guardian.
Por meio de um porta-voz, a Otan negou ter sido acionada pelos migrantes. A organização disse ainda que seus navios estão prontos para atender qualquer pedido de ajuda.
Segundo o The Guardian, apenas 11 pessoas sobreviveram, enquanto todos os outros morreram de fome e de sede. Após dias de esforço, os refugiados conseguiram voltar para a cidade de Misrata, na Líbia, no último dia 10 de abril. Um dos 11 sobreviventes morreu logo que o grupo chegou à costa do país africano, que sofre com uma guerra civil. Um segundo sobrevivente foi preso por forças de segurança do ditador Muammar Gaddafi, morrendo na cadeia após quatro dias.
Um dos sobreviventes, identificado pelo The Guardian como Abu Karke, disse que a Otan não fez nenhum esforço para resgatá-los, mesmo após o barco ter feito contato por rádio com helicópteros da aliança e navios da Marinha italiana.
Ele relatou que a embarcação chegou a fazer contato com militares de nacionalidade não identificada em um helicóptero, que chegaram a despejar suprimentos e prometeram o resgate que nunca veio. Em outro episódio da história de terror, Karke afirma que o barco chegou a ficar muito próximo de um porta-aviões da Otan, sem receber atenção.
O barco deixou Trípoli, capital da Líbia, no dia 25 de março, levando 72 passageiros de diferentes nacionalidades africanas, entre eles 23 mulheres e duas crianças. O objetivo da viagem era chegar até a Itália, a cerca de 280 km do ponto de partida, porém o barco se viu sem combustível após 18 horas de viagem.
Caso revolta entidades de direitos humanos
Organizações de direitos humanos e de apoio a refugiados exigem que o caso seja investigado. Enquanto isso, a porta-voz do Acnur (entidade ligada à ONU para refugiados internacionais), Laura Boldrini, pediu maior cooperação entre militares e embarcações comerciais no Mediterrâneo para ajudar a salvar outras vidas.
- O Mediterrâneo não pode se tornar um ‘velho oeste’. Aqueles que não ajudam pessoas em perigo em alto mar não podem continuar impunes.
O diretor da organização de apoio a refugiados Habeshia, Moses Zerai, um padre natural da Eritreia (país do leste africano), que vive em Roma, chamou o incidente de “crime” e deu a entender que houve preconceito. Segundo o The Guardian, ele foi um dos últimos a manter contato com a embarcação antes do telefone por satélite dos migrantes ficar sem bateria.
- Houve uma abdicação de responsabilidade que acabou deixando mais de 60 mortos, incluindo crianças. Isso constitui um crime, e é um crime que não pode sair impune só por que as vítimas eram de origem africana e não turistas em um cruzeiro.
A lei marítima internacional obriga que qualquer embarcação, inclusive navios militares, respondam a quaisquer chamados de socorro em alto mar.
Apenas em 2011, mais de 30 mil migrantes africanos fizeram a travessia do mar Mediterrâneo tentando fugir das tensões em países como Tunísia e Líbia. Acredita-se que cerca de 800 morreram apenas nos últimos quatro meses tentando fazer o percurso.
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