segunda-feira, 23 de maio de 2011

“O FMI mata! Só podemos rejeitá-lo”


Manifesto aprovado este domingo no Rossio acusa o resgate do FMI e da UE por “sequestrar a democracia e as nossas vidas” e afirma que a democracia real não existirá sob a ditadura financeira.
Momento da assembleia popular. Foto retirada do blog dos Precários Inflexívieis

A assembleia popular realizada este domingo no Rossio, em Lisboa, reunindo algumas centenas de pessoas que se têm mantido em vigília e passado a noite acampadas, aprovou o “Primeiro Manifesto do Rossio”. Os manifestantes decidiram manter o acampamento e convocaram uma nova assembleia popular para esta segunda-feira das 19h às 21h. O microfone estará aberto para os grupos de trabalho e para todas as pessoas que quiserem falar a partir das 18h.
O manifesto afirma que “A democracia real não existirá enquanto o mundo for gerido por uma ditadura financeira”, criticando o resgate do FMI e da UE por “sequestrar a democracia e as nossas vidas”. E questiona: “Porque é que temos de escolher viver entre desemprego e precariedade? Porque é que nos querem tirar os serviços públicos, roubando-nos, através de privatizações, aquilo que pagámos a vida toda?”
A seguir, o manifesto na íntegra.
1º Manifesto do Rossio
Os manifestantes, reunidos na Praça do Rossio, conscientes de que esta é uma acção em marcha e de resistência, acordaram declarar o seguinte:
Nós, cidadãos e cidadãs, mulheres e homens, trabalhadores, trabalhadoras, migrantes, estudantes, pessoas desempregadas, reformadas, unidas pela indignação perante a situação política e social sufocante que nos recusamos a aceitar como inevitável, ocupámos as nossas ruas. Juntamo-nos assim àqueles que pelo mundo fora lutam hoje pelos seus direitos frente à opressão constante do sistema económico-financeiro vigente.
De Reiquiavique ao Cairo, de Wisconsin a Madrid, uma onda popular varre o mundo. Sobre ela, o silêncio e a desinformação da comunicação social, que não questiona as injustiças permanentes em todos os países, mas apenas proclama serem inevitáveis a austeridade, o fim dos direitos, o funeral da democracia.
A democracia real não existirá enquanto o mundo for gerido por uma ditadura financeira. O resgate assinado nas nossas costas com o FMI e UE sequestrou a democracia e as nossas vidas. Nos países em que intervém por todo o mundo, o FMI leva a quedas brutais da esperança média de vida. O FMI mata! Só podemos rejeitá-lo. Rejeitamos que nos cortem salários, pensões e apoios, enquanto os culpados desta crise são poupados e recapitalizados. Porque é que temos de escolher viver entre desemprego e precariedade? Porque é que nos querem tirar os serviços públicos, roubando-nos, através de privatizações, aquilo que pagámos a vida toda? Respondemos que não. Defendemos a retirada do plano da troika. A exemplo de outros países pelo mundo fora, como a Islândia, não aceitaremos hipotecar o presente e o futuro por uma dívida que não é nossa.
Recusamos aceitar o roubo de horizontes para o nosso futuro. Pretendemos assumir o controlo das nossas vidas e intervir efectivamente em todos os processos da vida política, social e económica. Estamos a fazê-lo, hoje, nas assembleias populares reunidas. Apelamos a todas as pessoas que se juntem, nas ruas, nas praças, em cada esquina, sob a sombra de cada estátua, para que, unidas e unidos, possamos mudar de vez as regras viciadas deste jogo.
Isto é só o início. As ruas são nossas.


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