Eduardo Collen Leite, conhecido como Bacuri, foi morto há exatos 40 anos (Foto: Reprodução/Vermelho)
A Câmara Municipal de São Paulo concede nesta terça-feira (7) o título de cidadão paulistano, in memoriam, ao militante Eduardo Collen Leite, conhecido como Bacuri, morto há exatos 40 anos. Foi assassinado com apenas 25 anos, em 8 de dezembro de 1970. Dois meses antes, a sua suposta fuga foi divulgada na imprensa, o que para os demais presos políticos que se encontravam no Departamento de Ordem Política e Social (Dops) paulista significava que Bacuri estava condenado.
Segundo o livro Direito à Memória e à Verdade, editado em 2007 pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, o caso foi o primeiro a ser colocado em julgamento pela Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), "em função dos testemunhos e documentos que comprovam a premeditação de sua morte, conforme registrado no Dossiê dos Mortos e Desaparecidos".
Bacuri militou na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e chegou a liderar uma outra organização, a Resistência Democrática (Rede), que em 1970 se incorporou à Ação Libertadora Nacional (ALN). Participou de dois sequestros de diplomatas, do cônsul japonês em São Paulo e do embaixador alemão no Brasil. Mineiro de Campo Belo, era casado com Denize Crispim, que estava grávida quando ele foi preso – a filha, Eduarda, nasceu meses depois na Itália.
Os órgãos de repressão divulgaram uma versão de morte durante tiroteio, desmontada após a abertura dos arquivos do Dops. Foram dois meses de torturas, após a prisão pelo delegado Sérgio Paranhos Fleury. Mas a notícia ganhou manchete, como na extinta Folha da Tarde, do grupo Folha, que estampou na capa: Terror: Metralhado e Morto outro Facínora.
Conta o jornalista Elio Gaspari no livro A Ditadura Escancarada: "Bacuri chegou ao forte dos Andradas, no Guarujá, dentro de um saco de lona. Trancaram-no numa pequena solitária erguida na praia do Bueno e depois levaram-no para um túnel do depósito de munições, a três quilômetros de distância. Era certo que se houvesse algum seqüestro de diplomata, ele entraria na lista de presos a serem libertados. No dia 8 de dezembro, passadas menos de 24 horas do seqüestro, no Rio de Janeiro, do embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, uma Veraneio estacionou na entrada do depósito. Dela saltaram um major e dois tenentes. Foram ao banheiro onde Bacuri estava trancado e disseram-lhe que iam levá-lo ao hospital militar. Um soldado ajudava-o a encostar-se na pia para lavar-se quando o major mandou que saísse: ‘Escutei uma pancada. Não sei se era tiro ou o barulho de uma cabeça batendo na parede. Só sei que logo depois o corpo dele foi retirado do banheiro no mesmo saco de lona em que chegou’ (narrativa do soldado Rinaldo Campos de Carvalho). A polícia paulista informou que Bacuri, localizado, ‘ofereceu tenaz resistência a tiros’. Tinha 25 anos, e seu corpo foi abandonado no cemitério de Areia Branca, em Santos, com dois tiros no peito, um na têmpora e outro no olho direito”.
O projeto que concede o título de cidadão paulistano a Eduardo Collen Leite é de autoria dos vereadores Ítalo Cardoso e Juliana Cardoso, ambos do PT. A sessão está marcada para as 19h.
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