sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Legalização do aborto é debatida na web e silenciada na grande mídia





Jornalismo B

O Dia Latino-Americano pela Legalização do Aborto na América Latina e Caribe de 2011 foi marcado no Brasil por uma blogagem coletiva convocada pelas Blogueiras Femenistas e por um tuitaço (esforço concentrado na rede social e microblog Twitter) que manteve a hashtag #legalizaroaborto em 1º lugar nos Trending Topics Brasil – como expressão mais citada no Twitter – durante quase todo o dia.
Se por um lado o esforço virtual das feministas nas redes sociais foi um sucesso, não podemos dizer o mesmo dos demais meios de comunicação que sequer citaram o dia 28 de setembro, e isso vale também para a ampla maioria das chamadas redes da imprensa alternativa. Basta fazer um busca rápida no google para comprovar. Afora o próprio Blogueiras Feministas juntamente com os blogues individuais que atenderam ao chamado da blogagem coletiva, apenas a Revista Fórum – que republicou um texto da jornalista Karol Assunção, da Adital e um texto excelente do Túlio Vianna – e a Rede Brasil Atual – registrando a atividade das feministas em São Paulo – deram atenção ao assunto. Para os demais, passou batido.
O movimento feminista tem apenas três datas durante o ano em que concentra esforços e organiza coletivamente atividades e ações unificadas para terem o mínimo de destaque. São elas o 8 de Março – Dia Internacional da Mulher -, o 28 de setembro e o 25 de novembro – Dia Latino-americano de luta pelo fim da violência contra a mulher -, e até as pedras sabem disso. Não dar destaque vendo toda essa movimentação e barulho que fizemos é uma opção e sabemos disso.
Sabíamos também que a grande imprensa não tocaria no assunto. Afinal, para uma imprensa preconceituosa (vide o mico internacional pago no dia anterior com o título de Doutor Honoris Causa do Instituto Sciences Po, da França, concedido ao ex-presidente Lula) e com recortes claros de classe, não faz sentido divulgar uma luta que se preocupa com a vida de mulheres pobres e negras, as grandes vítimas de abortos mal feitos no país. Além de ser um assunto polêmico pelo seu viés moralista e religioso, sabemos que a grande imprensa só o usa quando lhe é útil, como no caso da campanha eleitoral de 2010 em que a então candidata Dilma Rousseff foi “acusada” de defender a legalização do aborto e criou-se um clima de pânico em torno da questão.
Mesmo sabendo que o assunto só foi explorado por um erro monumental da coordenação da própria candidata, que respondeu oficialmente num dos programas de tevê a um spam (a versão eletrônica dos boatos, algo muito comum em todas as campanhas eleitorais), o resultado para as mulheres e para a luta pela descriminalização do aborto no Brasil foi desastroso. O movimento feminista tem muito a recuperar nessa luta específica do aborto e demonstra estar disposto a isso. Falta apenas conseguirmos colocar o bloco pró-legalização do aborto na rua, tal e qual estamos fazendo com a marcha das vadias (slutwalk) – passeatas pelo fim da violência contra mulher, pelo direito de nos vestirmos como quisermos e pelo direito ao nosso corpo. Quem sabe não esteja aí o viés, o ponto comum, entre essas duas lutas tão necessárias do movimento feminista.
Os links dos principais posts que circularam através da hashtag#legalizaroaborto e #AbortoLegal (hahstag usada pelos demais países latino-americanos) estão no post Blogagem Coletiva Pela Descriminalização e Legalização do Aborto do Blogueiras Feministas. Além deles tivemos dois guest posts no blog Escreva Lola Escreva – “Fiz um aborto e não sofri” e “Fiz um aborto e quero respeito” -, um post excelente da Cynthia Semiramis “pela legalização do aborto” e o excelente texto do Dr. Drauzio Varella sobre “a questão do aborto“:
“Não há princípios morais ou filosóficos que justifiquem o sofrimento e morte de tantas meninas e mães de famílias de baixa renda no Brasil. É fácil proibir o abortamento, enquanto esperamos o consenso de todos os brasileiros a respeito do instante em que a alma se instala num agrupamento de células embrionárias, quando quem está morrendo são as filhas dos outros.”
Nesta blogagem coletiva o destaque vai para o texto da jornalista Amanda Vieira, que questionou: “e o desejo de ser mãe, onde fica?“, e chamou a atenção para o fato de que essa mesma sociedade que proibe o aborto e condena milhares de mulheres à morte por abortos mal feitos (as pobres e negras, porque as ricas e brancas o fazem confortavelmente assistidas em clínicas sofisticadas) não dá nenhuma assistência à maternidade. 
No tuitaço, um destaque especial ao Leonardo Sakamoto e ao Drauzio Varellaque além de manterem o bom humor, passaram o dia juntos conosco na hashtag respondendo a verdadeiros absurdos e argumentando sem rebaixar o debate ao nível das acusações que nos foram feitas.

*Niara de Oliveira é jornalista – 



Golpe de Estado patrocinado pelos EUA na Guatemala vem à tona mais de meio século depois

Disseminando a barbárie, sempre


Para saber mais sobre o golpe contra Jacobo Arbens, veja o documentário The War on Democracy, de John Pilger. O golpe contra a Guatemala, arquitetado pela CIA, marcou o início de uma nova fase do imperialismo estadunidense na América Latina, criou o know hall para assaltos futuros. Poucos anos depois foi a vez da Argentina, Brasil, República Dominicana, Bolívia, Uruguai, Chile. Países que foram violentados por governos genocidas, os mesmos que praticaram uma política de eliminação sistemática de opositores, massacrando mais de quinhentas mil pessoas em cerca de trinta anos. As ditaduras na América Latina representaram um único processo, patrocinado e incentivado pelos EUA, em parceria a elites locais delinquentes. O governo dos EUA DEVE se desculpar perante todos os países vitimados por governos gorilas capitaneados pela CIA. Prisão para TODOS os golpistas, sejam estes civis ou militares.   




O golpe patrocinado contra Arbens, pelos EUA e a CIA, veio à tona
EUA
Pela primeira vez em 57 anos o governo da Guatemala apresentou pedido oficial de desculpas por violações de direitos humanos contra o ex-presidente Juan Jacobo Arbenz Guzman, o Soldado do Povo. Arbenz, um dos ícones da revolução de 1944, foi derrubado pela CIA em 27 de junho de 1954 sob falsas acusações de ligações com o comunismo. A fraude da CIA protegeu a United Fruit Company, de Boston e hoje Chiquita Banana, da reforma agrária de Arbenz. Além disso, grupos norte-americanos que controlavam serviços, como estradas de ferro e bondes, estavam perdendo as concessões.
O golpe, orquestrado pelo Governo Eisenhower e pelos irmãos Dulles, da CIA e que eram diretores do conselho da empresa, forçou Arbenz a ir para o exílio. Os EUA instalaram uma junta governamental que impôs terror, repressão e silêncio aos cidadãos -­ 200 mil morreram e 1milhão fugiram do país. Após muitas décadas, um Acordo Amigável de Indenização foi assinado pelo Estado em maio de 2011. Além do pedido de desculpas, o governo também concordou em revisar os livros escolares para incluir Arbenz.
A biografia dele, segundo a agência francesa de notícias France Presse(AFP) também será reescrita, a ferrovia que ele construiu levará o seu nome e um novo programa educacional será criado para treinar os servidores públicos para que sempre levem em consideração as necessidades dos agricultores e dos povos indígenas, como foi feito por Arbenz durante seu mandato.




quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Congresso estadunidense aprova orçamento para um fim de semana

  E tem gente que toma a política dos EUA como exemplo, só os patetas do PIG mesmo


(Prensa Latina) O Congresso estadunidense aprovou hoje uma lei que financiará as atividades do governo durante o próximo fim de semana, com o fim de evitar sua total paralização.
 
A iniciativa aprovada antes pelo Senado passou as mãos do presidente Barack Obama para sua consideração.

Este passo indica que após a próxima terça-feira deve ser realizado uma nova votação que libertaria recursos para manter o funcionamento do governo até o dia 18 de novembro.

Segundo a página digital Politico.com, após vários dias de retórica partidária e "barulho pelo fechamento do governo", tomou à Câmera de Representantes tão só 20 segundos para aprovar uma resolução da despesa em curto prazo para manter o governo aberto para além do final do ano fiscal.

O presidente da Câmera John Boehner ofereceu seu apoio à medida provisória aprovada pelo Senado durante uma conferência do Partido Republicano.

Quando se retomar o debate na semana próxima, se espera que os republicanos façam qüestão de compensar qualquer financiamento novo para atender casos de desastres naturais com cortes a outros programas.

Os democratas fazem qüestão de dizer que os ditos fundos são uma emergência e que é mais importante financiar os esforços de ajuda primeiro, e depois se preocupar de onde vem o dinheiro.


PT filia até ex-integrantes do DEM e do PSDB


PT filia até ex-integrantes do DEM e do PSDB

Pra onde vai o PT hein...


Brasil 247

O PARTIDO DOS TRABALHADORES ABANDONA AS RESTRIÇÕES HISTÓRICAS E FILIA, EM SÃO PAULO, PREFEITOS QUE DEIXAM PARTIDOS OPOSITORES


O Partido dos Trabalhadores (PT) abandonou as restrições históricas para a inclusão de novos membros e anunciou um pacote de filiações que inclui até mesmo políticos remanescentes de siglas rivais, como PSDB e DEM. Nesta reta final do prazo estipulado pela justiça eleitoral para a filiação em partidos políticos dos interessados em se candidatar nas eleições municipais de 2012 - a data limite é 7 de outubro - pelo menos 57 lideranças de vários partidos, ou mesmo sem legenda, estão a caminho do PT no Estado de São Paulo.
De acordo com uma lista obtida com exclusividade pela Agência Estado, entre os novos filiados estarão o prefeito de Santa Lúcia, cidade na região de Araraquara, o tucano Antonio Carlos Abuabud Júnior. "Claro que aceitamos tucanos; o cara fez campanha para o Lula e o Mercadante e já tinha se convencido do nosso projeto", disse Edinho Silva presidente estadual do PT, sobre Abuabud Júnior.
"O namoro faz tempo que existe, minha ficha já foi levada ao PT, mas por problemas particulares, com o falecimento do meu pai, ainda não fechei essa questão", afirmou o prefeito, que foi convocado pela executiva do PSDB para prestar esclarecimentos sobre o assunto. "Acho que até o mês que vem resolvo isso, mas não estou tão preocupado, porque não sou candidato à reeleição", completou Abuabud Júnior.
Ao ser indagado sobre o fato de ter recebido ao menos seis integrantes ou ex-filiados do arquirrival DEM, Edinho rebateu: "o objetivo é ter lideranças que estão saindo de outros partidos para fortalecer o PT no Estado; são pessoas que fizeram a opção, apoiaram Dilma, ou defendem nossos projetos nas cidades", disse. Entre os ex-Democratas ou em processo de desfiliação do partido, estão o prefeito de Álvares Machado, Juliano Ribeiro Garcia e o vice-prefeito de Guarantã, Élio Piccello.
Aliados
Até mesmo aliados do PMDB foram alvos da investida petista. Entre eles o ex-candidato a prefeito de Praia Grande em 2008 e ex-presidente do PMDB local Alexandre Cunha, o qual tentará novamente comandar a cidade do litoral paulista, mas pelo PT, no próximo ano. O PMDB paulista agiu rápido à saída de Cunha, dissolveu o diretório do partido na cidade e trouxe o ex-tucano e ex-deputado estadual Cássio Navarro para comandá-lo interinamente. "O Cunha foi correto conosco, nos comunicou que estava saindo do PMDB rumo ao PT e trouxemos o Cássio para ou ser candidato a prefeito ou a vice do PSDB em 2012", disse o deputado estadual Baleia Rossi, presidente do PMDB paulista.
Edinho Silva rechaçou as informações de que existe um movimento dentro do PT para isolar apoiadores da pré-candidata à prefeitura de São Paulo, a senadora Marta Suplicy, em prol da candidatura do ministro da Educação, Fernando Haddad. "Isso não é verdade, pois derrotar a Marta é derrotar o PT, já que ela é nossa maior liderança na capital", afirmou.



quarta-feira, 28 de setembro de 2011

A batalha político-imobiliária pelo controle de Jerusalém


Carta Maior


Em 1947, logo após a divisão da Palestina, a ONU colocou Jerusalém sob mandato internacional. No ano seguinte, com a guerra da independência, Israel se apoderou do setor oeste da cidade, enquanto que o setor oriental passou para controle da Jordânia. Durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou Jerusalém Oriental. Hoje, à força de investimentos, compra de terras e restrições específicas aos palestinos, Jerusalém se move entre a modernidade de seu setor israelense e a pobreza da parte oriental. Jerusalém é o território de um combate imobiliário em cujo interior se movem as sombras da geopolítica. A reportagem é de Eduardo Febbro.

Cada pedra é um conflito, cada muro uma leda, cada rocha o rastro sagrado de algum Deus diferente: Jerusalém. Suprema, mágica, polifônica, acolhedora, juvenil, discriminatória e veloz. Capital “eterna” para os judeus, capital da palestina “histórica” para os palestinos, capital fundacional do cristianismo, Jerusalém é uma viagem dentro da viagem, um labirinto de ódio e de amor que está no centro da disputa territorial entre israelenses e palestinos, onde intervém corporações secretas, milionários norteamericanos, ritos religiosos corrompidos por dólares, capitais árabes bloqueados e uma política urbana de manifesto isolamento.

Uma mesma cidade, três religiões, islamismo, cristianismo, judaísmo, três histórias, dois nomes diferentes: Yerushalayim – a paz aparecerá – para os judeus, Al Qods – a santa – para os árabes. Nesta capital poliglota, de cruzes e contrastes, convergem os relatos fundadores das três religiões monoteístas: para os árabes, Jerusalém é, depois de Meca e Medina, o terceiro lugar santo do Islã. Para os judeus, Jerusalém é a cidade conquistada pelo rei Davi no ano de 1004 antes de Cristo, logo depois de Davi se unir às tribos de Israel. Para os cristãos, Jerusalém é o epicentro dos atos fundadores do cristianismo, o lugar onde Cristo viveu a paixão e a ressureição. Jerusalém, capital de quem? A resposta é inequívoca. Como diz Khaled, um comerciante da célebre rua Salah Ad Din, de Jerusalém Oriental: “é de quem tiver mais capital e poder para se apropriar dela”.

Em 1947, logo após a divisão da Palestina, a ONU colocou Jerusalém sob mandato internacional. No ano seguinte, com a guerra da independência, Israel se apoderou do setor oeste da cidade, enquanto que o setor oriental passou para controle da Jordânia. Mas durante a Guerra dos Seis Dias (1967), Israel anexou Jerusalém Oriental. Em 1950, a cidade foi declarada capital do Estado de Israel e, em 1980, a Knesset, Parlamento israelense, a elevou à condição de “capital eterna”. Hoje, à força de investimentos, compra de terras e restrições específicas aos palestinos, Jerusalém se move entre a modernidade de seu setor israelense e a pobreza da parte oriental. Um mundo estagnado, marcado pela ausência de infraestrutura urbana e falta de investimentos, e outro mundo desenvolvido, uma cidade moderna, luminosa e cuidada.

A fronteira entre a luz e a limpeza e o caos e a miséria é invisível. Basta descer até o começo de Jaffa Street, dobrar à esquerda, caminhar trezentos metros e, pronto, você está em outro planeta. Na parte leste da cidade não há cinemas, nem teatros, nem bares atraentes. Apesar de seu declarado laicismo, o prefeito de Jerusalém, Nir Barkat, mantem as limitações aos investimentos palestinos em Jerusalém. Ainda que representem 59% da população de Jerusalém Oriental, os palestinos só estão autorizados a construir em 13% desse setor. As permissões de construção demoram uma década para serem outorgadas. Isso leva os palestinos a erguer construções ou ampliar suas casas sem autorização, o que implica a imediata demolição desses puxados. 

As cifras sobre os investimentos municipais são eloquentes. Os palestinos representam 35% da população global, mas só entre 10 e 12% do orçamento municipal é utilizado para investimento em obras de infraestrutura no setor leste. Cerca de 80% das ruas corretamente asfaltadas e dos bueiros em bom estado estão na zona judia da cidade, onde também há 1.000 jardins públicos contra 45 em Jerusalém Oriental. Persiste uma inesgotável sensação de que tudo é feito para levar os palestinos a deixar Jerusalém.

Nada reflete melhor a complexidade da situação do que o bonde inaugurado em 2011. A linha percorre 14 quilômetros em ambos os sentidos, desde o bairro de Pisgat Zeev, em Jerusalém Leste, até Monte Herzl, na parte oeste. Em seu trajeto, a linha é uma espécie de bomba geopolítica: passa pelos bairros judeus construídos no setor de Jerusalém anexado logo depois da Guerra dos Seis Dias e onde a soberania do Estado de Israel não está plenamente reconhecida pela comunidade internacional. 

Em termos do direito internacional, a ocupação e a posterior anexação de Jerusalém Leste foram condenadas pelas resoluções 241, 446, 452 e 465 das Nações Unidas, além de contraria a quarta Convenção de Genebra. A guerra pela posse da cidade tem atores econômicos de peso que jogam entre as sombras e antecipadamente a carta que pode conduzir ao reconhecimento de um Estado Palestino com Jerusalém Leste como capital. Por isso, com lances de milhões, compram o máximo de áreas possíveis.

Os negócios da Richard Marketing Corporation deram lugar a um dos controversos episódios desta confrontação pelas pedras sagradas. A Richard Marketing Corporation é, na verdade, a cobertura da organização sionista Ateret Cohanim, atrás da qual se encontra o milionário norteamericano Irving Moscowitch. Há anos, a corporação vem se dedicando a comprar casas palestinas e áreas situadas na Cidade Velha de Jerusalém, ou seja, no olho do furacão: ali estão a Mesquita de Al-Aqsa (Maomé foi de Meca até a Mesquita de Al-Aqsa), o Domo da Pedra (os muçulmanos acreditam que Maomé subiu aos céus neste local), o Muro das Lamentações (o último vestígio do Templo de Jerusalém, que é o emblema mais sagrado do judaísmo), a Esplanada das Mesquitas e um sem número de edificações ligadas à história do cristianismo, entre elas o Santo Sepulcro.

A Cidade Velha, localizada em Jerusalém Oriental, está dividida em quatro setores: muçulmano, judeu, cristão e armênio. Ali a corporação colocou seus dólares para comprar casas palestinas, cristãs e, sobretudo, áreas e secessões negociadas com a Igreja Ortodoxa Grega. O patriarca Irineu primeiro, hoje recluso em sua espiritualidade, cobrou vários milhões por baixo da mesa em troca de um “aluguel” de 99 anos de um dos lugares mais emblemáticos da Cidade Velha, situado na Porta de Jaffa. Por curioso que pareça, partindo desde a Porta de Jaffa, a primeira placa indicando o Santo Sepulcro está escrito em vários idiomas, incluindo o hebraico, menos em árabe. 

Arieh King, um membro notório de Ateret Cohanim, levou anos comprando quantas casas aparecessem em seu caminho na Cidade Velha e em Jerusalém Oriental. Homem franco e sem rodeios, King está a frente da organização Israel Land Fund. Não tem nada a ocultar: “Jerusalém é o lugar mais importante do projeto sionista. Nós estamos comprando dos árabes para colocar judeus em seu lugar. Não aceitamos que Jerusalém seja dividida”. Arieh King é um autêntico agente imobiliário da judaização de Jerusalém e não esconde isso. Tem em seu “currículo” dezenas de casas compradas e – isso ele não confessa – acordos de compra e aluguel com várias congregações cristãs sensíveis ao dinheiro em cash. Nada o detém, nem sequer a compra de casas palestinas e, além do preço elevado que paga, consegue “a obtenção de um visto para que o vendedor vá para o exterior”.

A história de Arieh King merece um capítulo a parte. Sua atividade, financiada com fundos provenientes do mundo inteiro, tem o mérito da transparência ao mesmo tempo em que revela a luta pela posse da Cidade Santa. “Trabalho para o futuro da nação judia”, proclama sem titubear. Os cristãos palestinos denunciam essa política aplicada de judaização de Jerusalém. Árabes, muçulmanos e cristãos de Jerusalém viram a maneira pela qual, pouco a pouco, as casas situadas nas ruelas da Cidade Velha que levam ao Templo foram mudando de proprietário. 

A batalha imobiliária é uma corrida contra o relógio. Para retomar as negociações de paz, além das fronteiras de 1967, do fim da colonização e do retorno dos refugiados, a Autoridade Palestina reivindica como condição que Jerusalém Oriental seja a capital de um futuro Estado Palestino. Políticas de Estado, municipais e agentes privados participam dessa corrida. Jerusalém é o território de um combate imobiliário em cujo interior se movem as sombras da geopolítica.



terça-feira, 27 de setembro de 2011

Pão de Açúcar atrasa investigação de agressão e racismo contra crianças





Os advogados dos menores agredidos por um segurança acusam o supermercado Extra, que pertence ao Grupo Pão de Açúcar, de tentar impedir as investigações. A lista com o nome dos funcionários que trabalhavam no momento da ocorrência ainda não foi divulgada. Além disso, a empresa anunciou o desligamento do acusado, mas dias depois ele foi visto atuando na mesma loja.
O crime ocorreu no mês de janeiro, na unidade da Marginal Tietê, na Zona Leste da cidade de São Paulo. Em julho, a família de uma das crianças – identificada como “T” – recebeu uma indenização no valor de R$ 260 mil. Essa reparação foi negada aos outros dois garotos, segundo o advogado que os representa, Alexandre Oliveira Mariano.
“Não existe prova nenhuma no inquérito de que houve furto, já que existe um circuito fechado e nada foi constatado porque eles não têm a gravação. Agora estão fazendo de tudo para a abafar e uma das maneiras que estão utilizando é enrolar, não deixar apurar, fazer confusão no inquérito.”
Acusadas de furto, as crianças foram levadas a uma salinha e obrigadas a tirar as roupas. O advogado de “T”, Dojival Vieira, lembra que o menor foi chamado de “negrinho fedido”. Os outros dois receberam tapas no peito e nos órgãos genitais.
“Foram violados os artigos 230 e 232 do ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente]; foi praticado o crime de cárcere privado, pois as crianças foram levadas para uma salinha onde foram humilhadas, agredidas e ameaçadas; foi praticado, ainda, o crime de constrangimento ilegal, além, obviamente, do crime de injúria racial qualificada.”
Maior rede de comércio varejista, no último ano o Pão de Açúcar faturou R$ 36 bilhões. Recentemente, o dono do grupo, Abílio Diniz, tentou conseguir um financiamento de R$ 4 bilhões do BNDES para viabilizar uma fusão com o Carrefour.