Para a Organização, o kit homofobia “contribuirá para a redução do estigma e da discriminação”
A distribuição de kits informativos de combate à homofobia nas escolas públicas ganhou mais apoio nesta semana. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) deu parecer favorável ao material que, na sua avaliação, “contribuirá para a redução do estigma e da discriminação, bem como para promover uma escola mais equânime e de qualidade”.
Atualmente o material está sob análise do Ministério da Educação (MEC). O kit homofobia, como vem sendo chamado, foi elaborado por entidades de defesa dos direitos humanos e da população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis) a partir do diagnóstico de que falta material adequado e preparo dos professores para tratar do tema. O preconceito contra alunos homossexuais tem afastado esse público da escola, apontam as entidades.
“Todas as pesquisas mostram que em torno de 40% da população escolar têm preconceito com esse público. O material vai ensinar os professores a trabalhar isso”, defendeu Toni Reis, presidente da ABGLT. O kit é formado por cartazes, um livro com sugestão de atividades para o professor e três peças audiovisuais sobre o tema. O material foi elaborado pelo projeto Escola sem Homofobia, a partir de seminários e de uma pesquisa aplicada em escolas públicas.
A previsão é que o material fosse distribuído a 6 mil escolas, mas começou a enfrentar resistência em alguns setores da sociedade. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) quer convidar o ministro da Educação, Fernando Haddad, para prestar esclarecimentos no Congresso e permitir que os parlamentares tenham acesso ao material. Ele é contra a proposta e promete mobilizar a bancada religiosa para impedir a distribuição dos kits.
“Isso [o material] é um estímulo à homossexualidade, à promiscuidade e uma porta à pedofilia”, afirmou. Segundo ele, caso os kits cheguem às escolas, os próprios pais não deverão permitir que os vídeos sejam exibidos. “Eu já tenho apoio de pais e diretores que me procuram preocupados e vão acionar o corpo docente”, acrescentou. O MEC não se posicionou sobre o assunto.
Para Toni, a posição dos fundamentalistas religiosos é preconceituosa porque o material sequer foi divulgado. Algumas pessoas puderam ver parte dos vídeos que criaram a polêmica. Um deles, chamado Encontrando Bianca, conta a história e os dilemas de convivência no ambiente escolar de um menino que se vê mulher e se descobre travesti. O Conselho Federal de Psicologia também deu parecer favorável às obras, considerando-as adequadas à faixa etária indicada.
Para a pesquisadora em sexualidade e professora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) Claudiene Santos, a polêmica existe porque ainda há a crença de que a homossexualidade pode ser ensinada ou incentivada pela escola. “Na verdade, o que está se discutindo é uma diversidade que já existe, não foi a escola que inventou. Há um temor da sociedade quando se mexe naquilo que se entende como padrão ou o que chamamos de sexualidade hegemônica”, explicou.
Mesmo com as resistências, ela acredita que o material chegará aos professores e alunos. “A escola é um espaço privilegiado para a promoção dos direitos humanos, mas há uma dificuldade do professor em ter acesso a esse conhecimento. Muitas vezes, há omissão por parte das escolas em coibir qualquer tipo de discriminação, que termina em práticas violentas. Na medida em que você não faz nada, você concorda com aquilo [a homofobia]”, afirmou.
A pesquisadora apontou que afastada da escola pelo preconceito, a população LGBT acaba marginalizada, sem acesso a bons empregos ou à qualificação profissional. “Será que todo travesti gosta de ir para a prostituição ou a gente não dá espaço para que essas pessoas tenham acesso aos direitos que todo cidadão tem?”, questionou.
Em 2009, a Agência Brasil publicou um especial sobre homofobia nas escolas que mostra que o preconceito está presente nas salas de aula e prejudica o desempenho dos alunos vítimas de discriminação.
A bancada fundamentalista religiosa é preconceituosa não só pela ignorância dos fatos em si, mas porque negam que entre seus pares existam comportamentos que podem ser classificados como "socialmente" não admissíveis. A maior parte dos mesmbros de minha família é de evangélicos, grande parte com escolaridade mínima e sem acesso a bons empregos e sem diploma de nível superior; entretanto são reprodutores contumazes e alguns possuem um histórico de adultério e de filhos ilegítimos tão grande que faria corar qualquer bom cristão. Onde está a "moral" tão propagada pela igreja que fecha os olhos para o adultério e a ilegitimidade de crianças que nascem no seio de sua comunidade? Até quando iremos conviver com a hipocrisia e a intolerância que se fundamenta (se é que isso é possível)em dogmas que seus próprios pregadores não conseguem seguir?
ResponderExcluirQuando a espiritualidade e a fé, que são exclusivamente do âmbito pessoal e individual, são usadas como argumento político, doutrinador e restritor das liberdades civis é preciso que nos detenhamos e pensemos criticamente sobre esses discursos pré-fabricados que distorcem violentamente essas duas ideias.
Há uma maciça pregação do "amor", que em Deus é incondicional, mas que na maioria de seus seguidores "oficiais" é seletivo e desrespeitoso. Não acho, pessoalmente, que o mundo precise de mais amor. O mundo precisa, de fato, é de respeito. Não importa a cor, a orientação sexual, política, filosófica ou religiosa de um indivíduo, mas sim a capacidade que temos de, apesar das diferenças e contradições, sermos capazes de conviver com base no respeito mútuo.
Enquanto poucos poderosos (ou com ilusão de poder) continuarem se achando os únicos detentores de verdades absolutas não teremos como conviver pacificamente.
Não me interessa quais são suas preferências sexuais (a menos que eu esteja sexualmente interessado). Da mesma forma que não me interessa se você gosta mais de fígado, moela ou coração de galinha. Se dois homens ou duas mulheres se amam, ótimo! São pessoas realizando plenamente seu direito de viver e amar. Que questionamento moral podemos fazer dessas pessoas só por causa de sua orientação? Que são promísucos? E os casados dentro dos preceitos religiosos que mantêm relacionamentos extra-conjugais? E os que violentam seus filhos na intimidade do lar e posam de pessoas de bem para a sociedade?
Grande comentário Flávio, por mais que os fundamentalistas hipócritas esperneiem, eles não conseguirão barrar o avanço da democracia plena no Brasil, morrerão junto com seus preconceitos.
ResponderExcluirAbs!