sábado, 25 de setembro de 2010

A USP cada vez mais distante. Mais de 65% dos candidatos a uma vaga na instituição estudaram integralmente em escolas particulares

Na USP dos tucanos não entra pobre


A pá de cal foi a abolição do reforço da pontuação do Enem na média final do vestibular. Só passei na USP com os pontos do Enem, caso contrário não teria entrado.  Muitos colegas, que como eu, estudaram em colégios públicos a vida toda, entraram na USP da mesma forma. Estou a dez anos na universidade, e a cada ano vejo o perfil dos novos alunos se elitizar mais. Não me reconheço mais entre os novos estudantes, o número de negros caiu, não se vê mais a rapaziada da periferia. Só se vê uma molecada com cara de seriado da Rede Globo, a tal elite branca citada pelo Lula. Vai ver é por isso que a direita está cada vez mais forte na USP, daqui a pouco eles ganham o DCE. Universidade pública do jeito que os tucanos gostam, apartada do povo, aburguesada e metida a besta, de costas para a sociedade, nos braços do mercado. E o novo reitor, imposto pelo "democrata" do PIG José Serra, diz que vai fechar uma série de cursos de "baixa procura". Ou seja, baixa procura pelo mercado. E assim a USP vai.



De pouco adiantou a oferta de isenções da taxa de inscrição da FUVEST para alunos de escolas públicas, o programa de Embaixadores e o tímido INCLUSP (Programa de Inclusão Social da USP). Mais uma vez, os dados mostram que a maior parte dos candidatos às suas vagas estudou, total ou parcialmente, no estudo básico, em escolas particulares.

Mais de 65% dos candidatos deste ano só frequentaram escolas particulares. Se somarmos aqueles que passaram parte do ensino básico em escolas particulares aos que estudaram fora do Brasil, temos quase 72% dos candidatos.
O baixo número de candidatos advindos de escolas públicas na FUVEST tem um motivo simples e claro. Ano a ano, os jovens de menor renda sentem que a USP é uma realidade cada vez mais distante. A esmagadora maioria destes estudantes não se sente “habilitado” para prestar seu vestibular e frequentar suas salas.
Vários são os motivos. A USP realmente tem se comportado como uma instituição elitista. Em uma de suas últimas tentativas de inclusão, criou um campus na Zona Leste. A lógica daqueles que planejaram a nova escola era de que parte dos moradores de áreas mais “nobres” não estaria disposto a fazer um curso em um bairro da periferia. Os resultados não foram bem estes. A USP da Zona Leste está muito mais para uma “USP Ayrton Senna”. É muito mais rápido para quem mora no centro ou no Jardins chegar até lá do que para quem mora em uma das áreas periféricas da cidade. E, além de tudo, a unidade é uma ilha, em que não é permitida a entrada nem mesmo aos moradores de bairros vizinhos.
O número de vagas também tem deixado a desejar. O Estado de São Paulo tem pouquíssimas vagas em Universidades Federais. Este número tem ampliado um pouco por causa do REUNI e da criação da UFABC, mas é, proporcionalmente ao número de habitantes, um dos menores do Brasil. Restou às públicas estaduais oferecer mais vagas.
A USP é a que tem mais vagas. Desde 1989, as estaduais paulistas possuem vinculação orçamentária. Hoje, 9,57% do valor arrecadado com o ICMS vão para elas. Isto quer dizer que quando a arrecadação cai os recursos diminuem, e que quando a arrecadação sobe eles aumentam. Vinte anos atrás, quando começou a vinculação, a USP oferecia 6.780 vagas. Hoje oferece 10.652. Neste período, a arrecadação de ICMS mais do que dobrou, os recursos para a Universidade aumentaram, a população de São Paulo e do Brasil cresceu e o número de vagas não acompanhou essas mudanças.
Em alguns cursos, é quase impossível um aluno de escola pública passar. Em direito, medicina, relações internacionais e jornalismo, só encontramos alunos advindos de umas poucas escolas particulares tradicionais.
Depois da criação ProUni, o aluno do Ensino Médio da rede pública começou a notar que é muito mais fácil ele conhecer alguém que está cursando uma Universidade Particular sem pagar do que cursando uma pública. O sonho do Ensino Superior sem custo, e a consequente conquista de um bom emprego, deslocou-se da esperança de passar na USP para a possibilidade, muito mais plausível, de obter uma boa nota no ENEM e ganhar uma vaga no ProUni.
O cômico, ou absurdo, da situação, é que a reitoria da Universidade apresentou nesta semana a proposta de extinguir os cursos de menor concorrência (baixa demanda, nos termos da Universidade). Ora, são justamente estes os cursos em que a maioria dos alunos vêem do ensino básico público.



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