terça-feira, 29 de setembro de 2009

Venezuela e Colômbia na fronteira da tensão




Recentemente, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou que comprou mísseis e mais de 90 tanques de guerra da Rússia. O reforço armamentista é uma resposta ao acordo entre Estados Unidos e Colômbia, que permite aos estadunidenses instalar sete bases militares no país colombiano. Em agosto, Chávez qualificou o acordo como "declaração de guerra" contra a chamada revolução bolivariana, promovida pelo presidente venezuelano na América Latina.

Em entrevista à Radioagência NP, o professor de geografia política da Universidade de São Paulo (USP), André Roberto Martin, avaliou como preocupante a atual relação entre Venezuela e Colômbia. Para ele, o acirramento de conflitos poderia levar a uma guerra entre os países.

Radioagência NP – Professor, a preocupação de Chávez em querer se armar é pertinente?

André Roberto Martin – Sem dúvida. Nenhum país se sentiria confortável tendo os Estados Unidos na sua porta apoiando com dinheiro e armamentos a Colômbia. Ainda mais, considerando que este país vive um processo muito complicado, está em uma guerra civil interminável, que desde 1948 vem se arrastando. É óbvio que a intervenção americana desequilibra e por isso os países precisam se armar.

RNP – Como o senhor avalia a relação entre Venezuela e Colômbia?

ARM – Ela está no pior nível possível. Desde que a Colômbia adotou a postura associada ao governo Bush em não negociar com a guerrilha – as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] –, Chávez ficou sem muita função, já que ele era o interlocutor entre o governo colombiano com a própria Farc. Rompido esse triângulo, a situação entre os dois países ficou mais tensa. Isso tem sido a grande preocupação no momento, pois o apoio explícito dos Estados Unidos a essa postura, mesmo agora no governo Obama, não deixa de surpreender.

RNP – Como a posição dos Estados Unidos interfere neste acirramento entre os dois países latinos?

ARM – Estão com uma posição muito branda com relação ao golpe em Honduras, estão militarizando cada vez mais a situação na Colômbia. Isso tenciona os regimes mais a esquerda, a luta ideológica fica mais acirrada. Esse é o problema, estamos em uma escalada de radicalização, que começa com esse golpe em Honduras e avança com as bases americanas na Colômbia. O clima fica mais tenso na America Latina, quando se esperava do presidente Obama uma posição diferente. O que está difícil e parece ser uma coisa orquestrada é que de uns tempos para cá, a posição da Colômbia endureceu e a posição dos golpistas de Honduras também está muito truculenta. O que significa que eles estão apostando em um apoio firme estadunidense.

RNP – A TV colombiana estaria estimulando a rivalidade entre Venezuela e Colômbia. O clima é de guerra fria?

ARM – Não é de hoje. É histórica a relação de amor e ódio entre venezuelanos e colombianos, que queriam formar uma única pátria. No momento da independência, o projeto era o da Grande Colômbia [Estado existente entre 1819 e 1931, criado pelo Congresso de Angostura]. Isso não se concretizou. Desde lá, a situação entre os vizinhos não é das melhores. Há momentos mais tranquilos e outros mais tensos. É de qualquer modo uma fronteira problemática na América do Sul, mas como isso se cruza com o problema interno colombiano e com a intervenção de uma potência estrangeira fora da região, tudo se torna ainda mais complicado.

RNP – O governo da Venezuela quer doar ao Equador uma frota de aviões de combate. O presidente Chávez estaria querendo ajudar na defesa territorial do Equador na zona da fronteira com a Colômbia?

ARM – Acredito nessa possibilidade. Vamos ser realistas, o regime do Equador é dos regimes chamados bolivarianos. No caso, o Equador está cercado de regimes inimigos. Colômbia e Peru fazem um cerco ao Equador, e do lado do Oceano Pacífico tem os Estados Unidos. Então, o Chávez apoiar de alguma maneira o Equador não me parece irrealista.

RNP – É possível uma guerra entre Venezuela e Colômbia?

ARM – Acho que são duas as possibilidades mais concretas de conflito armado na America do Sul. Uma entre Peru e Chile, em uma fronteira mal definida que é fruto de disputa até hoje, desde a Guerra de Salitre [na qual o Peru, aliado à Bolívia, viu-se derrotado frente ao Chile que invadiu o país boliviano]. E o outro caso realmente é o da Colômbia e Venezuela. Esta ainda é uma possibilidade ainda mais perigosa, porque ela é ideológica. O Equador também é outro problema por conta da mudança política no país e como ele é uma espécie de ilha – pois está cercado de “regimes adversários” – tem problemas na fronteira com a Colômbia e com o Peru. Então, este seria o terceiro caso na ordem de problemas. Mas, sem dúvida nenhuma, em primeiro lugar está Colômbia e Venezuela.

De São Paulo, da Radioagência NP, Desirèe Luíse.



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