sexta-feira, 17 de junho de 2011

Chile: Milhares de estudantes e professores protestam contra Piñera


 
Cerca de cem mil em Santiago e noutras cidades chilenas deixaram claro o descontentamento com a situação da educação pública no Chile. Participam todos os sectores da educação.
 
 
 
A imagem mais imponente que se repetirá nesta sexta-feira nas capas de todos os jornais chilenos serão as 70 mil pessoas, segundo cifras oficiais (100 mil, segundo os manifestantes), que saíram para protestar na principal avenida de Santiago: a Alameda. A cena repetiu-se em Valparaíso, Concepción, Temuco, Valdivia, Arica, San Antonio, Chillán e Antofagasta, as mais importantes cidades chilenas e onde a cidadania se encarregou – mais uma vez – de recordar ao governo direitista de Sebastian Piñera que há descontentamento, frustração e raiva; que o governo de excelência que prometeram não existe.
A convocatória da Confederação de Estudantes do Chile (Confech), que agrupa todas as universidades tradicionais do país, juntamente com o Colégio de Professores, superou todas as expectativas, que giravam em torno de 20 mil pessoas. Mas pouco a pouco, por volta das 11 horas, começou a chegar muita gente à Praça Itália, lugar que separa a Santiago mais rica da cidade da classe média e centro nevrálgico de manifestações na capital. Em seguida, a massa humana caminhou tranquilamente até a Praça dos Heróis, muito próximo do Palácio de La Moneda. Ali se realizou um comício central, os discursos foram pronunciados quase nas barbas no ministro da Educação, Joaquín Lavín, e do próprio Piñera.
A manifestação de ontem une-se a outras marchas convocadas pelos ambientalistas e onde a cidadania em geral participou na rejeição ao projecto que pretende construir hidro-elétricas na Patagónia, e ao menos massivo, mas também muito significativo, protesto dos estudantes do secundário realizado na semana passada e que reuniu cerca de 7 mil “pinguins” (alcunha desses estudantes).
O “tac tac” dos passos soava em uníssono, enquanto a maré humana avançava sob o olhar atento dos carabineiros que esperavam o primeiro sinal de desordem para reprimir. A longa fila estava colorida de diversos cartazes, faixas, lenços e batucadas, deixando claro, ruidosamente, o descontentamento com a educação pública e exigindo mudanças como o fim do lucro nas escolas, maior igualdade e gratuitidade no ensino.
Um dos rostos visíveis era de Jaime Gajardo, presidente do Colégio de Professores, secundado por Camila Vallejos, presidenta da Federação de Estudantes da Universidade do Chile (FECH) e por um grande número de estudantes secundaristas que, desde a semana passada, se mantêm mobilizados, ocupando quase 240 estabelecimentos escolares e negando-se a suspender as ocupações para sentar-se e conversar como propôs o governo. “Exigimos o mesmo, educação pública para o Chile, pelo fim do lucro na educação, que o Estado recupere o seu papel, que se privilegie o público sobre o privado, mais democracia nas escolas e universidades e que se avance rumo a uma educação de qualidade e não elitista como é agora”, detalhou Gajardo.
Neste sentido, fez uma comparação com a grande rebelião contra o sistema educacional protagonizada em 2006 pelos estudantes do secundário, facto conhecido como “pingüinazo” e que custou a cabeça de um ministro, pôs em xeque a administração de Bachelet e conseguiu colocar na agenda política do país o tema educacional.
“A diferença é que, agora, participam todos os sectores da educação”, disse ainda Gajardo. “Aqui se expressa o movimento social, uma expressão que é transversal, legítima, de mais de 100 mil manifestantes”, acrescentou Camila Vallejos. “Alguns disseram que o povo não quer manifestações, mas hoje são mais de 100 mil pessoas dizendo que querem se manifestar, sim, que querem participar para recuperar a educação pública e para que o Estado assuma seu papel de garantir o direito à educação”, agregou.
A dirigente universitária disse ainda que “hoje não nos serve dialogar porque as coisas são claras. Nós exigimos que se respeite a lei, que diz que não se pode lucrar com a educação e isso não está sendo respeitado e não tem havido vontade política para que seja respeitada”.
No comício central estiveram presentes representantes da oposição e dos ecologistas. “É como se todo o Chile estivesse na marcha. Há gente de todo tipo que está reclamando, isso parece-me maravilhoso”, sustentou María José, uma jornalista recém egressa de uma universidade privada e que está desempregada. José Luis, motorista de caminhão, de passagem por Santiago, afirmou: “tenho quatro filhos e só posso pagar universidade para um, o resto deverá começar a trabalhar assim que puder. Por isso venho reclamar e apoiar esses jovens”. Mas como tem sido a tónica das últimas manifestações, grupos isolados de manifestantes confrontaram-se com os carabineiros, que os reprimiu com cassetetes, jactos de água e bombas de gás lacrimogéneo, em plena Alameda, próximo ao Ministério da Educação.
As desordens aproximaram-se do Palácio de La Monde onde alguns “encapuçados” lançaram pedras, paus e bombas molotov contra o pessoal das Forças Especiais.
Agora os estudantes avaliam a marcha e continuam a analisar os caminhos a seguir, uma jornada que está longe de ser concluída, enquanto as portas do Ministério da Educação não se abram sem condições.


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