quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Livro relembra o verão de 1987/88, em que latas de maconha apareceram no mar


Lata recheada de maconha é apreendida pela polícia durante o "verão da lata"
Aqui em SP, todo maconheiro com mais de 40 anos diz que fumou da lata, sei não... Em todo caso, quem fumou brisou.

A novidade veio dar à praia, naquele verão de 1987/88, na qualidade rara de maconha enlatada.
"Foi uma coisa fantástica, parecia um filme de ficção, você estava na praia e, de repente, aparecia uma lata cheia de maconha", conta o ator Marco Nanini.
E assim foi, do Rio ao Rio Grande do Sul: milhares de latas hermeticamente fechadas, sem rótulo, cada uma com cerca de 1,5 kg de cânhamo, começaram a ser avistadas, procuradas, compartilhadas. Nascia um fenômeno cultural: o "verão da lata".
O incrível episódio --que, na época, deu em samba, em gíria e em muita fumaça-- está sendo resgatado das brumas da memória por um livro recém-lançado, "Verão da Lata", do jornalista Wilson Aquino, e por uma série de projetos para TV e cinema.
"Foi uma experiência coletiva, um monte de gente teve contato com isso, então são várias histórias", diz Aquino, que começou a pesquisar o tema em 2005, após perceber que o evento ganhara ares de lenda urbana para os mais novos.
As primeiras latas começaram a surgir por volta do dia 20 de setembro de 1987, na costa paulista.



Segundo a Polícia Federal, eram o carregamento do pesqueiro Solana Star, barco de bandeira panamenha que havia saído da Austrália, parado em Cingapura para se abastecer com 22 toneladas de maconha e rumava para Miami, com escala no Brasil.
Apertados pelas autoridades brasileiras, que os caçavam em alto-mar a partir de um alerta da DEA (agência americana de combate às drogas), os tripulantes do Solana teriam se livrado do flagrante jogando a carga na água.
Com a ajuda dos ventos e das marés, as latas se espalharam por uma faixa de quase 3.000 km de litoral.
"Começou a correr no boca a boca: 'Está aparecendo um tesouro no Atlântico e a coisa é boa'", conta Maria Juçá, diretora do Circo Voador, no Rio, e autora da introdução do livro de Aquino.
Uma vez disseminada a novidade, a maioria das latas nem chegou à areia --pescadores, surfistas e alguns aventureiros (fora a polícia) iam buscá-las no mar.
"A galera ia cedinho para o mar, e eles entendem de vento e maré, então ficavam estrategicamente de olho, só esperando ver alguma coisa cintilando", diz Aquino.
À parte o inusitado da situação, a erva também ganhou fama por sua alta qualidade, segundo os usuários. Aquino, que entrevistou vários deles, diz que "os caras falam com uma saudade...".
"A primeira vez que a gente teve um negócio de alto nível foi com a maconha da lata. Tanto é que virou gíria popular, 'da lata' virou uma expressão para designar coisas muito boas", diz.
O cineasta Neville D'Almeida confirma que "a erva tinha uma qualidade excepcional":
"Era muito boa, todo mundo fumou. Uma vez eu estava no Arpoador [zona sul do Rio] e vi uma lata nas ondas, veio até a areia. As pessoas abriram, fizeram um 'baseado' e vários fumaram. Era o verão, fim de tarde, o sol se pondo, a beleza daquele lugar, foi um episódio emocionante."


VAMOS ABRIR A RODA

O caráter coletivo do consumo é outro fator que ajudou a propagar o mito.
Como a carga largada no mar era imensa --as estimadas 22 toneladas dariam para encher cerca de 15 mil latas-- e a PF apreendeu apenas 2.563 latas no país todo, havia muito a compartilhar.
"Todo mundo conhecia alguém que tinha um amigo com uma lata. O que era comum na época era a cerimônia de abertura da lata, quem tinha achado marcava um encontro", diz um cartunista paulista que fumou de uma lata achada em Ubatuba (SP).
"Virou uma febre essa coisa de se juntar nos fins de semana, se você não experimentasse, era uma pessoa fora de circuito", lembra Juçá.
"Toda semana tinha uma festa com uma surpresa que era consequência da lata: bolo, brigadeiro de maconha. Era a motivação do verão."

AUTOR: Wilson Aquino
EDITORA: Barba Negra
QUANTO: R$ 45 (240 págs.)




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