Chacina de Houla, que terminou com 108 mortos, aumentou a pressão sobre Bashar Al Assad; reportagem diz que mortes tiveram motivação étnica
É preciso muita atenção sobre o que se passa na Síria, a vida de milhões de pessoas está em jogo.
No dia 25 de maio deste ano, a imprensa internacional noticiou um violento massacre ocorrido na cidade de Houla, no oeste da Síria. No total, 108 pessoas teriam sido mortas, boa parte delas executadas, sendo 34 mulheres e 49 crianças. Foi a senha para que a ONU e as potências ocidentais aumentassem a pressão sobre o governo de Bashar Al Assad, rapidamente responsabilizado pela matança. Dezenas de países expulsaram diplomatas sírios em protesto e, pela primeira vez, líderes como o presidente francês François Hollande falaram abertamente em uma intervenção estrangeira na Síria.
Um mês depois, no entanto, um dos maiores jornais da Alemanha revela que a história pode não ter sido bem assim. Segundo o Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre não teria sido obra de forças leais a Assad, como amplamente divulgado, mas por membros do ELS (Exército Livre da Síria), um dos grupos de rebeldes armados que há quase um ano e meio enfrentam o governo, com o apoio explícito de países como Estados Unidos e Reino Unido.
Em duas reportagens publicadas nos dias 7 e 13 de junho, o diário alemão relata que a maior parte das vítimas do massacre fazia parte de duas tradicionais famílias xiitas e alauítas de uma aldeia de Houla, vilarejo que fica próximo da cidade de Homs – principal enclave das forças oposicionistas. Eles teriam sido mortos por integrantes do ELS, militares de orientação sunita que desertaram do Exército sírio desde que o conflito começou.
Segundo relata o enviado do Frankfurter Allgemeine Zeitung à Síria, a região tem histórico de conflitos sectários e rivalidades familiares. “Dos nomes dos civis mortos, 84 são conhecidos. Estes são os pais, mães e 49 crianças da família Al Sayyid e dois ramos da família Abdarrazzaq”, diz a reportagem assinada por Rainer Hermann.
"Os membros da família foram alvejados e mortos com uma única exceção. Nenhum vizinho ficou ferido”, continua o correspondente, observando que foi uma execução bem planejada, que exigiria conhecimento do local.
O repórter ouviu o único sobrevivente da chacina, um menino de 11 anos chamado Ali, membro da família Al Sayyid, que descreveu os assassinos como “homens de cabeças raspadas e barbas longas". Segundo o jornalista, essas características apontam para "jihadistas fanáticos" e não para a "milícia Shabiha", que apoia Assad.
A versão hegemônica para o que ocorreu em Houla foi difundida especialmente pelo relato dos jornais The Observer (britânico) e pelo alemão Der Spiegel, que ouviram como principal fonte um integrante do grupo rebelde, que alegou ter deserdado após o massacre.
De acordo com o relato do Frankfurter Allgemeine Zeitung, o massacre em Houla representaria a divisão étnico-religiosa que marca o conflito sírio, já que o presidente Bashar Al Assad pertence à minoria alauíta, que vem dominando a política no país nas últimas décadas, enquanto os insurgentes são em sua maioria da corrente sunita, que por sua vez é rival do ramo xiita do islamismo.
Apesar de não ter repercutido internacionalmente, a reportagem do jornal alemão publicada em 7 de junho gerou a reação de um grupo oposicionista baseado em Houla, que, falando em nome da comunidade, publicou uma carta aberta acusando o repórter Ranier Hermann de ter “inventado mentiras” sobre o crime. O comunicado diz que o jornalista não procurou o grupo opositor na cidade e que as famílias chacinadas eram da etnia sunita.
Essa não é a primeira vez que o massacre de Houla é alvo de polêmica na imprensa internacional. O jornal The Telegraph acusou a rede britânica BBC de publicar uma foto antiga da Guerra do Iraque para ilustrar o crime. A imagem, que mostra uma pilha de corpos cobertos por lençóis brancos, foi tirada pelo fotógrafo Mauro di Lauro, da agência Getty Images. Na legenda da foto publicada em seu site, a BBC diz que a imagem foi enviada por um “ativista” e não poderia ter sua autenticidade comprovada.
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