domingo, 13 de maio de 2012

Preso palestino em greve de fome há 77 dias corre risco de vida



Milhares de palestinianos em greve de fome protestam contra as condições nas cadeias e as “prisões administrativas”, sem qualquer acusação. Thaer Halahleh, preso sem julgamento nem acusação, está em condição crítica.
Thaer Halahleh, preso sem julgamento nem acusação, está em condição crítica.
Thaer Halahleh, preso sem julgamento nem acusação numa prisão israelita, completou este domingo 77 dias sem comer.
"O meu irmão Thaer está numa situação crítica. O coração bate acelerado, os músculos contraíram-se e sangra pelas gengivas e lábios. Perdeu 30 quilos desde que parou de comer, pesava 85 e agora ficou com 55", descreveu Maher Halahleh em entrevista à Agência Efe.
Mona Nedaf, advogada da associação de defesa dos prisioneiros Adamir, visitou na sexta-feira o preso, de 33 anos, e disse que ele está com pressão alta, febre e vomita sangue. O médico da prisão informou sobre uma infeção em parte do corpo e advertiu que "morrerá a qualquer momento" se não se alimentar.
"Só em Israel é permitido deixar alguém preso durante anos sem sequer acusá-lo de alguma coisa", critica a mãe, Fátima, referindo-se à "prisão administrativa" prevista pela legislação do Estado judaico, situação em que Thaer se encontra há dois anos e que o Exército israelita utiliza para deter palestinianos por um prazo de seis meses prorrogável indefinidamente sem acusação formal.
Thaer é, junto a Bilal Diab, o prisioneiro que está há mais tempo sem comer, mas há outros cinco que estão também em situação crítica: Hassan Safadi (70 dias), Omar Abu Shalal (68) Mohamad Taj (57), Mahmoud Sarsak (56) e Jaafar Azzedine (53), internados na enfermaria da prisão de Ramllah, apesar dos apelos de organizações humanitárias para que sejam transferidos para um hospital civil.
Na mesma situação que estes sete, há entre 1.500 prisioneiros (segundo fontes israelitas) e 2.500 (segundo a Adamir) que iniciaram greve de fome no dia 17 de abril.
Amani Sarahna, porta-voz da Associação dos Presos Palestinianos, declarou à CNN que “os presos palestinianos em greve de fome protestam pelo tratamento que recebem nas prisões israelitas. Protestam contra a política de detenção administrativa de Israel e confinamento solitário dos prisioneiros durante meses. Protestam pelas multas arbitrárias impostas aos prisioneiros pelas autoridades israelitas e pela proibição de visitas familiares, especialmente para os de Gaza”.
As autoridades israelitas rejeitaram os pedidos da família Halahle e das de outros grevistas para visitá-los.
O exemplo de Khader Adnan
Esta onda mais recente de protesto de milhares de prisioneiros inspirou-se no êxito da greve de fome de Khader Adnan.
Em 17 de dezembro, Adnan, um padeiro palestiniano da Cisjordânia, foi preso no meio da noite e mantido em prisão administrativa. Adnan já havia sido detido e preso anteriormente em oito ocasiões e passou um total de seis anos nas prisões israelitas, sem nunca ter sido acusado de um crime.
Desesperado para evitar outro período indeterminado de prisão e abuso, Adnan começou uma valente greve de fome que durou 66 dias e finalmente terminou em 17 de fevereiro, depois que os seus advogados negociaram com Israel a sua liberdade em abril. Adnan – detido unicamente com base na sua filiação política na organização palestiniana Jihad Islâmica – quase morreu e demorou mais de 50 dias para recuperar-se totalmente. O caso de Adnan foi objeto de atenção mediática mundial, e Israel libertou-o no Dia dos Prisioneiros Palestinianos.
No momento da última prisão de Adnan havia outros 320 palestinianos em detenção administrativa, 21 dos quais são membros do Conselho Legislativo Palestiniano. Quando o jejum de Adnan estava na sua nona semana e a sua saúde se deteriorava, centenas de prisioneiros palestinianos uniram-se a ele, numa greve de fome solidária de um dia, a 13 de fevereiro. O resultado foi a deportação de 80 internos para a prisão de Negev, onde as condições do deserto são duras e a distância do local dificulta as visitas das famílias.
Os palestinianos também se manifestaram no exterior da prisão de Ofer, na Cisjordânia, onde as Forças Armadas israelitas os dispersaram com balas de borracha e gás lacrimogéneo. Estes tipos de armas foram também muito utilizadas contra manifestações não violentas de palestinianos nos territórios ocupados.
Se Adnan realizou a greve de fome mais longa até hoje, não foi o primeiro a utilizar essa tática para chamar a atenção para o seu caso e a política de detenções administrativas israelitas. De facto, para os prisioneiros palestinianos que não têm nenhum outro meio de protesto, a greve de fome é um dos poucos instrumentos disponíveis.


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