segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

EUA talvez ganhem guerra contra Irã, mas preço desta vitória pode ser inaceitável

Correio do Brasil


Irã
O Irã pode atacar bases e instalações dos EUA na região e conseguir facilmente o apoio de grupos como o Hamas e o Hezbollah
O Irã desempenha um papel crítico no Golfo Pérsico e, com a sua geografia estratégica, domina totalmente o Norte do golfo e o Estreito de Ormuz. Mas será que tem recursos suficientes para bloquear e reter aquela rota estratégica no caso de conflito militar?
Política de guerra assimétrica

O Irã é uma potência militar relativamente inferior em comparação com os EUA e outros países da Otan, mas tem a capacidade de proporcionar grandes golpes que para forças convencionais maiores são difíceis de conter.

O editor chefe da revista Defesa Nacional, Igor Korotchenko, acredita que a força militar do Irã não é capaz de alcançar uma vitória contra os EUA num confronto direto.
–No caso de um conflito militar global direto com o Irã, os EUA certamente assegurarão uma vitória–, disse ele. “Mas a questão é: a que custo?”.
Devido a medidas assimétricas que o Irã pode pôr em ação num conflito, o preço da vitória poderia ser inaceitável para os EUA, disse Korotchenko.
–O Irã pode atacar bases e instalações militares estadunidenses na região–, disse Korotchenko. “Eles podem utilizar elementos do Hamas e do Hezbollah, bem como outros movimentos radicais que estão prontos a apoiar o Irã. Podem desestabilizar a situação no Iraque. Estas seriam medidas assimétricas”.
Tendo ativos limitados em mãos, o Irã tem de desenvolver uma estratégia de guerra assimétrica. Portanto a guerra do Irã está orientada para a utilização do seu armamento em modos não convencionais e para a capitalização da geografia favorável do país.
A liderança do Irã adota uma “doutrina do não primeiro ataque” e, portanto, o Irã não tem lançado guerras na história moderna. A constituição iraniana proíbe o estabelecimento de quaisquer bases militares estrangeiras no país, mesmo para finalidades pacíficas.
A seguir à Revolução Islâmica de 1979, o Irã dividiu as suas forças armadas nos componentes regular e revolucionário. Isto significa que o Irã tem dois exércitos ativos: o Exército da República Islâmica do Irã (exército regular) e o Exército dos Guardas da Revolução Islâmica (Guardas Revolucionários, IRGC). O IRGC é uma força de armas combinadas com as suas próprias forças de terra, Marinha (IRGCN), Força Aeroespacial (IRGC-AF), Inteligência e Forças Especiais. Considerando que os militares regulares defendem as fronteiras do Irã e mantêm a ordem interna, os Guardas Revolucionários são destinados a proteger o sistema islâmico do país. Ambas as forças operam em paralelo e partilham instalações militares, mas o IRGC tem um estatuto mais elevado e uma preferência na recepção de material moderno.
A estratégia assimétrica demonstrou-se eficiente durante a Guerra Irã-Iraque (1980-1988). O Irã efetuou operações bate-e-foge com êxito utilizando grupos de pequenos botes contra navios que passavam através do Estreito de Ormuz. Combinada com a vasta colocação de minas no estreito, as táticas de guerrilha permitiram ao Irã afundar mais de 500 navios durante a guerra. Contudo, numa confrontação direta com uma frota estadunidense depois de uma mina iraniana ter danificado uma fragata dos EUA, a Marinha iraniana foi esmagada.
Hoje a IRGCN opera mais de 1500 pequenos botes, os quais podem ser facilmente escondidos na zona costeira e não precisam de um grande porto para serem abastecidos. A maior parte destes botes pode estar ou já está equipada com mísseis de alcance curto e com minas. Um ataque inesperado de um grupo destes botes pode deitar abaixo quase qualquer navio que ouse entrar em águas iranianas.
As forças do Irã são cobertas por uma rede vasta de mísseis anti-navios baseados na costa e por sistemas de defesa aérea. Sendo bastante vulnerável a uma campanha aérea séria, o Irã descentralizou sua estrutura de comando, melhorando, portanto, a resiliência das suas forças após um ataque inicial.
Eficiência inferior em batalha?
O Irã tende a manter o seu equipamento militar em boas condições, pronto para ser utilizado onde e quando necessário. Isto foi confirmado durante exercícios navais regulares do Irã. Em muitos casos o Irã utilizou ensaios para testar seus novos armamentos, tais como o novo míssil balístico de médio alcance, Chadr. O êxito deste último em testes de lançamento dia 3 de Janeiro fez o chefe da Marinha iraniana, almirante Habibollah Sayyari, declarar que a partir dali o Estreito de Ormuz estaria completamente sob o controle do Irã.
O Ghadr-110 é um míssil balístico de médio alcance concebido, desenvolvido e fabricado totalmente no Irã. É uma versão melhorada do míssil Shahab-3 com a manobrabilidade mais alta e um tempo de preparação mais curto, de apenas 30 minutos. O míssil tem um alcance de cerca de 2.100 quilômetros. Ele foi lançado em teste com êxito durante os últimos exercícios militares Velayat-90 entre 24/Dezembro/2011 e 03/Janeiro/2012.
O objetivo dos exercícios navais do Irã é não apenas flexionar seus músculos frente ao mundo mas também melhorar seu treino e proficiência militar e afinar a estratégia de conduzir operações dentro das suas águas territoriais.
Os militares do Irã têm uma quantidade significativa de hardware militar produzindo pelo ocidente, alguns com mais de 30 anos de idade, o qual é difícil fazer manutenção sob o embargo. A frota do Irã consiste de navios de concepção estadunidense, francesa e britânica. Os três maiores submarinos do Irã, os quais foram fornecidos pela Rússia, têm mais de 15 anos e não há relatos de qualquer grande revisão de manutenção a ser feita. A base da sua força aérea é constituída por jatos MiG-29 e SU-24 russos, e F-6 e J-7 chineses.
O Irã substitui ativamente o hardware estrangeiro descomissionado por armamento produzido internamente e aumenta constantemente sua eficiência militar.
Indústria militar
Após a revolução, o Irã encontrou-se gravemente isolado devido a sanções econômicas e a um embargo de armamento que lhe foi imposto pelos Estados Unidos, e teve de confiar principalmente na sua indústria interna de armas. O IRGC foi encarregado de criar a moderna indústria militar iraniana.
Hoje o Irã é capaz de produzir um vasto conjunto de armamento desde aviões com asas fixas, helicópteros, botes e submarinos bem como sistemas de radar e sistemas de defesa aérea refinados. Contudo, os sistemas que os EUA fornecem a aliados seus no golfo são muito mais avançados do que a tecnologia militar iraniana.
O Irã tem-se centrado no desenvolvimento de munições inteligentes, embarcações leves de ataque, minas e mísseis balísticos para neutralizar outras potências militares.
O Irã dedicou um bocado de esforço ao desenvolvimento dos seus próprios mísseis balísticos. Em anos recentes desenvolveu armas tais como os mísseis balísticos de médio alcance Fajr-3 e Kowsar, os quais tornaram-se a coluna dorsal do seu stock de mísseis estratégicos.
Para a sua força submarina, o Irã desenvolveu o torpedo de super-cavitação Hoot, alegadamente uma engenharia reversa do russo VA-111 Shkval.
O Irã fabrica localmente os sistemas de mísseis de defesa aérea Shahin e Mersad, os quais são versões melhoradas do sistema estadunidense MIM-23-Hawk da década de 1960. O Irã também sabe produzir e operar drones não manejados, os quais são utilizados para vigilância.
Força Aérea
A Força Aérea do Irã opera cerca de 200 aviões de combate, uns 120 de transporte e mais de 500 helicópteros. A lista de bases e aeroportos operados pelos militares do Irã inclui 14 bases tácticas da força aérea, 18 campos de pouso militares e 22 aeroportos civis que podem ser utilizados para finalidades militares.
A força aérea do Irã é constituída principalmente por aviões soviéticos e chineses, bem como aviões ex-iraquianos postos em serviço. Alguns dos aviões mais antigos são americanos, os quais a Força Aérea tem conseguido manter em serviço.
O Irã é capaz de produzir caças a jato de um só lugar Azarakhsh e Saeqeh de segunda geração, derivados do Northrop F-5 americano. Oficiais iranianos afirmam que o Saegeh é semelhante ao McDonnell Douglas F/A-18 Hornet de construção americana. Segundo relatos recentes o Irã tem cerca de 30 destes aparelhos em operação.
Todos os aviões iranianos são equipados com mísseis de fabricação local e não dependem de fornecimentos estrangeiros.
Força naval
Segundo fontes abertas, as forças navais do Irã têm um total de cerca de 26 submarinos, 4 fragatas, 3 corvetas, 24 embarcações de patrulha com mísseis, 7 navios lança-minas e mais de 270 embarcações de patrulha costeira.
Três dos submarinos do Irã são russos da classe Kilo, diesel-elétrico, destinados principalmente a operações anti-navio e anti-submarinas nas águas relativamente rasas do golfo.
O Irã também tem cerca de 17 pequenos submarinos produzidos internamente da classe Ghadir, capazes de disparar o torpedos Hoot de super-cavitação, os quais são uma ameaça significativa para navios e submarinos hostis.
O Ghadir é uma classe de mini-submarinos construídos pelo Irã especificamente para navegar dentro das águas rasas do Golfo Pérsico. O submarino está equipado com o equipamento militar e tecnológico mais recente e acredita-se que as suas capacidades sejam iguais às de tipos estrangeiros. Os submarinos da classe Ghadir são capazes de disparar rocket-torpedos Hoot de super-cavitação. Os submarinos Chadir também podem ser utilizados para instalar diversas operações especiais, tais como lançamento de minas.
Considerando que o Estreito de Ormuz é bastante raso e tem apenas dois estreitos canais navegáveis, não seria de modo algum um desafio bloquear a passagem estratégica, especialmente com a experiência do Irã em operações de lançamento de minas, afirma Korotchenko.
–Operações de lançamento de mina podem ser executadas de modo bastante encoberto e depois disso o Irã pode anunciar que o Estreito de Ormuz está bloqueado–, disse ele. “Além disso, o Irã é capaz de atingir petroleiros e outros navios dentro do estreito com mísseis anti-navio e disparados de botes velozes ou diretamente da costa”.
Programas balísticos e nucleares
A principal preocupação do ocidente são os programas de mísseis balísticos e nuclear iranianos. O Irã criou forças de mísseis balísticos armados que são capazes de atingir quaisquer aliados dos EUA e bases estadunidenses na região.
Afirma-se que o Irã acumulou vários milhares de mísseis balísticos móveis de alcance curto e médio. Os mísseis balísticos do Irã também poderiam ser configurados para transportar ogivas nucleares se o Irã puder desenvolvê-las.
O Irã ainda afirma que o seu programa nuclear é pacífico, mas muitos na comunidade mundial acreditam que é destinado a produzir armas nucleares. Segundo um de tais gurus, Anthony H. Cordesman do Center for Strategic and International Studies, é bastante possível que o Irã possa adquirir armas nucleares operacionais dentro dos próximos cinco anos.
Igor Korotchenko acredita que o Irã utilizaria seu poder balístico sem hesitação se exigido. A única questão que permanece é quão efetivamente isto funcionaria do lado da engenharia.
–Os mísseis balísticos Shahab-3 e os mísseis mais recentes baseados naquela tecnologia são de fato mísseis semi-estratégico–, disse ele. “É possível atacar instalações militares na região com aqueles mísseis, numa certa extensão. A questão é quão efetivamente o Irã utilizará suas unidades de mísseis. As unidades de mísseis são controladas pelos Guardas Revolucionários e estão incluídas na sua estrutura operacional”, acrescentou Korotchenko. “Portanto podemos esperar que pelo menos no contexto da prontidão moral, os homens dos mísseis iranianos cumprirão o seu dever profissional”.




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