segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Por que conhecer a história da L’Oreal? Porque você merece.


Nazistas em Paris, 1940


Este blog recomenda também a leitura do livro Os Labirintos

do Fascismo, do professor João Bernardo, que também trata

da ascensão e da manutenção da extrema-direita francesa,

encabeçada pelo dono da L'Oreal, cujos herdeiros estão na

ativa até os dias de hoje. Mas esse livro não trata apenas da

França, faz um levantamento de todos os movimentos e ex-

periências fascistas que se desenvolveram mundo afora, da

Argentina ao Japão,do Brasil ao Egito. Excelente leitura.





Do apoio ao regime nazi aos atuais negócios à custa dos

territórios roubados na Palestina, podemos dizer que a grande

especialidade deste gigante é mesmo a maquilhagem.


Aparentemente está tudo calmo após o escândalo que denunciou as perigosas relações entre a mulher mais rica de França, Lilliane Bettencourt, e o presidente francês, Nicolas Sarkozy. Muito se escreveu sobre Sarko, quase nada sobre o gigante da cosmética, a L’Oreal. E é precisamente sobre o negócio da cosmética que quero falar, uma das práticas mais rentáveis à escala global que a história desta grande multinacional nos conta. Entre assombro e lógica é maquilhando-se e escolhendo quem detém mais poder que se chega ao topo.

O segredo das grandes multinacionais reside em dois factores: aplicar a lei do mais forte sobre os mais fracos e escolher sempre as melhores amizades. Assim é a história deste gigante fundado em 1907 pelo pai de Lilliane, Eugéne Schueller. Rapidamente, este químico de formação descobre como fazer bons negócios e aproveita os feridos da Grande Depressão para comprar empresas como a Monsavon, as tintas Valentine, os champôs Dop ou a revista Votre Beauté.

Mas as ligações perigosas começam com o aproximar-se da 2ª Guerra Mundial e a ascensão do nazi-fascismo na Europa, do qual Schueller era um grande admirador e teórico. Funda nos anos 30 uma organização de extrema-direita na qual forja importantes amizades: François Mitterrand ou André Bettencourt, futuro marido da sua filha Lilliane. A Organização Secreta de Acção Revolucionária Nacional (OSARN), rapidamente alia-se à Alemanha de Hitler e à Itália de Mussolini, servindo a causa colaboracionista em França ou abrindo caminhos para a Espanha de Franco, pelos quais circularam armas que ajudaram à vitória contra a República durante a Guerra Civil.

Chegando a 1940 Schueller funda o Movimento Social Revolucionário, MSR, com o beneplácito do director da Gestapo, Reinhardt Heydrich. No seu programa, escrito na sede do MSR – os escritórios da L’Oreal – proclamava-se: Nós queremos construir a nova Europa em cooperação com a Alemanha nacional-socialista e todas as outras nações europeias libertas do capitalismo liberal, do judaísmo, do bolchevismo e da franco-maçonaria (…) regenerar racialmente a França e os franceses…
Por seu lado André Bettencourt já é o chefe francês da Propaganda Staffel e trabalha directamente para Joseph Goebbels, para a Wehrmacht e para a Gestapo. É por ele que passam todas as publicações, dirige a publicação La Terre Française, revista nazi onde Schueller tem publicações regulares. Corre bem a guerra para os nazis, correm bem os negócios para a L’Oreal.

Mas a L’Oreal começa a perceber que a maquilhagem é mesmo o seu forte e lentamente, com o aproximar do final da guerra começam a aperceber-se da iminente derrota nazi. Então Bettencourt parte para a Suiça com o intuito de “arianizar” a Nestlé, que ainda hoje detém cerca de 25% do capital do grupo L’Oreal. Bettencourt começa a procurar novas amizades nos futuros vencedores e reúne-se com Allen Dulles, agente secreto do governo dos EUA, mais tarde director da CIA.

Com o fim da guerra e a vitória dos Aliados, começam as perseguições aos nazis franceses, mas Mitterrand e Bettencourt salvam Eugène Schueller. A L’Oreal torna-se no refúgio de velhos amigos e Mitterrand é nomeado director da revista Votre Beauté. A impunidade reina na Europa e os negócios da L’Oreal conhecem novas fronteiras. Henri Deloncle, irmão de Schueller, funda a L’Oreal Espanha com a ajuda da Opus Dei. Jacques Corrèze torna-se patrão da L’Oreal nos Estados Unidos e André Bettencourt acaba o namoro casando-se finalmente com a filha única de Eugène Schueller, Liliane.

André Bettencourt, seguidor do grande império, não tarda em ajudar as suas amizades. Dos tempos em que era responsável da propaganda nazi, resta o seu escritório, oferecido à Opus Dei para fazer uma residência. Como jornalista a sua carreira é brilhante, passando várias vezes pela política. Os leitores da extinta La Terre Française podem agora deleitar-se com a nova revista Journal Agricole. Na política, aproveitando a sua experiência em propaganda, François Mitterrand cria a figura do Secretário de Estado da Informação para colocar o seu amigo no posto que ocupa entre 1954 e 1955, o tempo necessário para forjar toda a nova imprensa francesa. Até aos anos 80, estes dois homens são inseparáveis, alimentando-se um do outro. Alimentando a L’Oreal e alimentando um negócio que não pára de crescer.
A L’Oreal e os dias de hoje.

Claro que a história não acaba aqui e para insistir no facto de que a maquilhagem é a grande especialidade deste gigante, deixamos mais umas linhas para as relações com Israel.

Se nos anos 80 a empresa via com a Liga Árabe esperanças de futuro, nestes temos é com o governo de Israel que se fazem grandes negócios sangrentos. E se antes apoiaram um boicote contra Israel, hoje é com este país que têm grandes amizades e interesses. Como o prova o louvor recebido do Congresso Judeu Americano em 1995 por chegar a acordo com a “Office of Anti-Boycott Compilance”, pagando 1,4 milhões de dólares ao Tesouro dos Estados Unidos por terem pertencido ao grupo de boicote.

Agora é na Baixa Galileia, em territórios roubados ao povo palestino que a L’Oreal tem a sua fábrica e produz o “Natural Sea Beauty”, um produto conseguido pelo livre acesso que a empresa tem ao mar Morto. A colaboração estreita com o Weizmann Institute of Science em Israel é outra prova que a empresa só se dá bem com negócios assassinos. Este lugar dedica-se a investigações secretas no âmbito do desenvolvimento nuclear, bem como de armas químicas e biológicas ao serviço do exército israelita. Gad Propper, presidente da L’Oreal Israel foi também o fundador da Câmara de Comércio Israel – U.E.
Ficamos por aqui, porque o que ainda cabe aqui, daria para muito mais. Ficamos com uma ideia deste gigante, em que escolher quem manda é a alma do negócio. Saber mudar de cor e de cara é altamente rentável.

Ficamos agora do lado da coerência política e da afirmação de valores. “Nós sempre defendemos a causa dos mais fracos e dos desfavorecidos e seguiremos a nossa campanha na defesa da justiça e dos direitos humanos.” São estes os valores afirmados pela Body Shop, reconhecida pela sua ética. São estes os valores da nova ordem mundial: a Body Shop pertence ao grupo L’Oreal. A maquilhagem, como vimos ao longo desta história é mesmo o seu forte. Só nós, criando diálogo e despertando consciências podemos virar uma página mais sã. Criando alternativas de consumo, desde as nossas necessidades e não pelas necessidades impostas por este negócio sujo.





Um comentário:

  1. Depois dizem que processo histórico não existe ou que é "paranóia de conspiração"...

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