segunda-feira, 4 de março de 2013

Disponível para download a dissertação "O Grupo (de esquerda) de Osasco. Movimento estudantil, sindicato e guerrilha (1966-1971)". Ditadura Nunca Mais!


Greve da Cobrasma, 16 de julho de 1968


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          A presente dissertação tem por objetivo discutir a trajetória do Grupo de Osasco[1], movimento formado por estudantes, operários, e estudantes-operários, a maioria na faixa dos vinte anos de idade, organizados no município cujo nome vem expresso na indicação do grupo. Tal movimento ganhou notoriedade após a greve insurrecional de julho de 1968, última paralisação de envergadura verificada na década de sessenta. Contudo, suas atividades não se restringiram a esse evento. Os militantes articulados no GO se fizeram presentes no meio político de sua cidade de forma abrangente entre 1966 e 1968. 

               Em sua breve trajetória, o grupo em análise se pautou por ideias de cunho revolucionário, de matriz marxista-leninista, mescladas a correntes de pensamento em voga no período, como o guevarismo-debraysmo. Por sua pouca experiência teórica e organizativa, o GO, através de seus representantes, não foi capaz de definir uma linha político-teórica sólida. O que unia esses ativistas era uma oposição radical a ditadura civil-militar brasileira, o desejo em interferir nos rumos políticos de sua realidade, e um interesse difuso pela teoria marxista. Outro ponto que vale salientar é o fato da maioria dos membros do grupo terem adentrado o universo da esquerda nacional distantes das teses do PCB. Sua evolução, em sentido revolucionário, apresentou contornos distintos, iniciou-se num momento posterior ao golpe de 1964. Os rancores da esquerda mais jovem diante do imobilismo dos comunistas perante o assalto ao poder esteve presente nesse agrupamento desde seus primórdios.

              As atividades do GO não se restringiram a sua cidade, os mesmos estiveram presentes, através dos aparelhos políticos sob seu controle, nas movimentações estudantis do efervescente ano de 1968, em ações conjuntas junto a entidades estaduais e federais, como a UEE-SP e a UNE; nos debates em torno da oposição sindical ao regime militar, com destaque para sua atuação nos trabalhos de construção (e dissolução) do MIA (Movimento Intersindical Anti-arrocho). Posteriormente, já em situação de clandestinidade, militantes do grupo participaram das articulações em torno da formação da guerrilha urbana em São Paulo, e de suas cisões posteriores.  

              Compreendemos o GO como um movimento social[2] em construção, um “organismo” em sentido gramsciano, “um elemento complexo da sociedade no qual já tenha tido início a concretização de uma vontade coletiva reconhecida e afirmada parcialmente na ação”[3]. Neste excerto Gramsci se refere a formação do “partido político”, o aglutinador das “vontades coletivas”. O GO não teve tempo para se estruturar enquanto partido ou movimento político coeso, com diretrizes e programa definido, visto que seu período de atuação foi curto. Em sua cidade, tornou-se uma das principais forças políticas na segunda metade dos anos 1960. Após seu ingresso na Vanguarda Popular Revolucionária, os jovens ativistas de Osasco se diluíram no intrincado jogo de poder interno a essa organização, cerrando fileiras junto às tendências que possuíam maiores afinidades com suas proposições de cunho obreirista, condizentes com suas origens de estudantes-operários. 

               Como dito acima, o GO se tornou conhecido após a greve de julho de 1968, evento que se notabilizou mais pela repressão feroz com que foi contido, do que por seus efeitos imediatos. Essa greve fez parte da vaga de oposição ao regime que tomou conta do país no ano do AI-5, somou-se as manifestação de massa empreendidas pelo ME nas principais capitais brasileiras, e a efervescência cultural galvanizada pela onda de contestação jovem observada em nível internacional. Somou-se também ao movimento paredista de Contagem e outras paralisações de menor monta, eclodidas em pontos distintos do território nacional, e ao início das atividades da guerrilha urbana no Brasil.

                Após a Greve de Osasco, o crescente processo de politização orientado pelo GO em sua região foi bloqueado. As vésperas da paralisação da Cobrasma[4], tal grupo controlava o movimento estudantil local, o Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região, boa parte das comissões de fábrica espalhadas pelas empresas da localidade;  contava com três vereadores aliados, e trânsito junto ao prefeito da cidade. Organizados pelo grupo, cursos de iniciação ao marxismo eram ministrados para trabalhadores e estudantes, além de atividades culturais de viés proletário. Em fase inicial, havia um trabalho de formação de associações de bairro, voltadas especialmente ao operariado local, dentro dos parâmetros políticos do GO. Após o AI-5, tais iniciativas foram suprimidas por completo, e Osasco se tornou uma das cidades mais vigiadas pela repressão no Brasil.





[1]    Essa designação é utilizada por Antonio Roberto Espinosa, uma das principais lideranças de esquerda do município no período em estudo. José Ibrahim, eleito presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco em 1967, costuma se referir ao grupo como Grupo de Esquerda, assim como o fez Francisco Weffort. Roque Aparecido da Silva, outra importante liderança local, utiliza a expressão Grupo de Esquerda de Osasco. Optei por utilizar Grupo de Osasco, pois seu caráter de esquerda já vem enunciado no título de meu projeto. Doravante este grupo será indicado pela sigla GO.

[2]    Gianfranco Pasquino, no verbete “Movimentos Sociais”, presente no Dicionário de Política organizado por este autor em parceria com Norberto Bobbio e Nicola Mateucci, a partir das proposições de A. Melucci, propõe “uma distinção entre movimentos reivindicatórios, movimentos políticos e movimentos de classe, baseada nos objetivos perseguidos. No primeiro caso, trata-se de impor mudanças nas normas, nas funções e nos processos de destinação dos recursos. No segundo, se pretende influir nas modalidades de acesso aos canais de participação política e de mudança nas relações de força. No terceiro, o que se visa é subverter a ordem social e transformar o modo de produção e as relações de classe. A passagem de um tipo a outro depende de numerosos fatores, dentre os quais não é de somenos importância o tipo de resposta que o Estado pode dar, bem como da capacidade dos movimentos em aumentar seus seguidores e em incrementar suas exigências”. Ao longo de sua trajetória, o GO flutuou entre as três modalidades de movimentos sociais expostas acima, adotando uma postura mais radical a partir da emersão do grupo na luta armada. BOBBIO, Norberto Et alii (org). Dicionário de Política. 7ª Ed. Brasília-DF: Editora da Universidade de Brasília, 1995. p. 787-791.

[3]    GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Vol. 3. Edição e tradução Carlos Nelson Coutinho Et alii. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 16

[4]    Companhia Brasileira de Materiais Ferroviários, maior empresa de Osasco no período em estudo, principal palco de atuação do GO junto ao operariado de sua cidade. Na terceira seção deste trabalho abordaremos a história e a importância desta empresa para o município de Osasco.  



Desocupação da Cobrasma, empresa de Osasco, subúrbio industrial de São Paulo



Zequinha Barreto, estudante-operário e revolucionário atuante em Osasco,  assassinado pela ditadura ao lado de Carlos Lamarca em 1971


Veja também o documentário Greve de 68




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