quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Progressão continuada alastra analfabetismo funcional em SP, afirmam professores


Até quando São Paulo?


Este é um assunto que eu posso comentar com certa autoridade, pois fui professor da rede pública de São Paulo por três anos. Também já trabalhei no ensino superior, em faculdades privadas. Senti o desgoverno dos tukanus nos dois níveis. Dei aula para alunos do terceiro colegial que mal sabiam escrever, não eram capazes de redigir uma redação de oito linhas, pois não sabiam articular seu raciocínio, concatenar suas idéias. Não aprenderam, ano após ano foram sendo aprovados sem conhecimentos mínimos.

Também dei aulas para a sexta série, lembro de alunos que mal sabiam pegar no lápis, e nunca haviam escrito com uma caneta. Certa feita procurei uma diretora para informar sobre esse problema, alunos de sexta série que literalmente não sabiam ler e não eram capazes de realizar as atividades que eu passava em aula. A mesma então me disse: ah, passa um deseinho para eles colorir e tá bom! Não é piada, tampouco exagero.

Já na faculdade, deparei-me com alunos, que estavam estudando para serem professores, que mal sabiam escrever, também não eram capazes de redigir uma redação de duas folhas. Detalhe, muitos dos que passaram por minhas aulas no ensino superior já estão dando aulas na rede pública estadual.

Voltando aos meus tempos de professor estadual, sempre que entrava em sala de aula dava uma olhada no conteúdo passado pelos professores que me antecediam, e relaxados, não apagavam a lousa. Vi igualmente absurdos, lembro bem de uma professora de geografia que pôs no quadro negro uma relação das colônias de imigrantes que se estabeleceram em São Paulo, em sua relação, e colônia japonesa era maior que a Italiana. Isso é fato. Lógico, essa professora estudou na rede estadual paulista, sob o cajado dos tukanus.

É um circulo vicioso, o PSDB forma produtores e consumires de nível baixo, uso esses termos porque o que se pratica em São Paulo não é educação.

Claro que também conheci professores excelentes, muito esforçados, mas esses atuavam por conta, tinham subsídios para interpretar de forma crítica as propostas criminosas dos governos do PSDB, e contra as mesmas se rebelavam. Mas nem todos tem essa perspectiva, até por que, como dito acima, formaram-se sob os mesmos critérios "educacionais" que agora aplicam a seus alunos.

As políticas dos tukanus estão condenando gerações seguidas a um limbo intelectual, formando gerações inteiras de analfabetos funcionais, jogando milhões de cidadãos na ignorância a na obscuridade. Com essa política educacional, qual será o futuro deste Estado?



Rede Brasil Atual


O avanço sucessivo e sem interrupções dos alunos da rede pública no estado de São Paulo preocupa docentes. Jovens chegam ao ensino médio e à universidade com dificuldades para ler e escrever

Na sala de reuniões de uma escola da rede pública estadual de São Paulo, a professora de Língua PortuguesaPaula* comemora a evolução de um aluno da sexta série do ensino fundamental. "Ele escreveu o nome na capa do trabalho", mostra a docente a três colegas e à reportagem da Rede Brasil Atual. Ele começou a ler e escrever apenas neste ano. Até o início de 2010, o garoto de 12 anos sequer abria o caderno, afirma Cristina*, responsável pela disciplina de Biologia. A professora conta que não é difícil detectar os alunos considerados "analfabetos funcionais". "Ou ele avisa ou, na primeira leitura, eu vou perceber", indica a docente.

O principal motivo para esse tipo de deficiência de aprendizado está, na visão dos docentes ouvidos pela reportagem, no sistema de progressão continuada, em que o aluno precisa apenas se fazer presente em sala de aula para ser aprovado automaticamente. No máximo, os alunos podem ser retidos na quarta série, por um ano, depois eles vão seguir, mesmo sem o conhecimento necessário. Os entrevistados ainda apontam problemas de infraestrutura, de salário e distanciamento das famílias.

"É comum 30% dos alunos da sexta série não saberem ler e escrever", detecta Paula*, professora de Língua Portuguesa há 21 anos no magistério. A aprovação ano após ano, sem avaliação do conteúdo dominado pelo aluno permite que muitos estudantes terminem o ensino médio sem terem o conhecimento mínimo necessário, alerta Tomé Ferraz, professor de física e matemática das redes municipal e estadual de São Paulo.

"É a aprovação a qualquer custo", identifica. "Em São Paulo, a educação são dados estatísticos, é porcentagem para lá, porcentagem para cá, mas não se analisa como o aluno está terminando o ensino médio. Depois ele vai ser só mais um diploma", analisa o professor.

Paula conta que utiliza, nos primeiros dias de aula nas sextas séries em que leciona, ditado e produção de textos como ferramentas. A percepção do problema não demora. "Geralmente tem criança que entrega em branco, não sabe fazer nada do ditado", aponta. "Se eles vão escrever, por exemplo, 'bala', eles colocam qualquer letra", descreve.

Apesar de lecionar Biologia, Cristina faz um esforço pessoal para trabalhar a alfabetização com os alunos cuja atuação esteja comprometida. "Se eu alfabetizei meu filho de quatro anos, eu vou conseguir com um garoto de 12", afirma. Ela cita que os alunos têm enorme dificuldade com sílabas complexas como "tra" e "pla". "Eles conhecem formações silábicas básicas somente", acentua.

Na hora de avaliar alunos de sexta série, sem condições de ler e escrever com fluência, Cristina utiliza métodos diferenciados do restante da classe. "Faço avaliação com prova oral e análise comportamental, afinal se ele não compreende o teor da prova não consegue responder. Uma avaliação escrita envolve habilidade de leitura e escrita", explica.

Sem compreender bem o conteúdo das disciplinas, o aluno de Cristina e Paula, que iniciou o ano sem estar alfabetizado, também se mostra desmotivado. Em uma única aula de biologia de 50 minutos, Cristina pediu atenção ao garoto pelo menos cinco vezes.

Sem coerência


Rosana Almeida, professora de sociologia da rede pública estadual, enfrenta problema semelhante com alunos do 1º ano do Ensino Médio. "Eles conseguem construir a palavra, mas não a frase", diz. "Nós professores temos de aceitar que se a ideia dele foi certa, ele vai ser aprovado", critica. "O jovem entendeu o que você explicou, mas não sabe escrever".

Entre os principais problemas dos alunos que chegam ao ensino médio, Rosana cita que "não existe mais gramática, nem conjugação de verbo". Quando a professora pede para os alunos produzirem um texto, surge resistência. "Chega na quinta (série) não sabe escrever e não consegue acompanhar, passa para a sexta, sétima e oitava. Na oitava, tem um índice de indisciplina altíssimo porque ele, de novo, não consegue acompanhar", sustenta.

Paula confirma que os alunos que têm essa dificuldade acabam fazendo mais bagunça. "São os mais indisciplinados. Por não saberem nem ler, nem escrever eles não entendem nada, não participam da aula; o que resta é ficar bagunçando", desabafa. "No ensino médio, os estudantes produzem jogos de palavras sem sentido, sem coerência e coesão. Isso tem bastante, até na universidade", completa.

O motivo para haver uma parcela significativa de alunos que chegam ao ensino médio sem estar devidamente alfabetizados envolve, de um lado, alunos com problemas de deficiência intelectual e, de outro, o "abandono" do sistema educacional, na visão da professora. "Você tem uma sala superlotada, a professora trabalha com quem sabe ler e escrever e quem não sabe vai ficando para trás", expõe Paula.

Em matemática o problema se repete, jovens dominam as contas básicas, mas não sabem porcentagem, por exemplo. "Elas têm a capacidade de raciocínio lógico, mas fazer a conta para chegar ao resultado, as crianças não sabem", pontua Rosana.

Problema adiado


De 30 alunos da rede municipal da capital paulista, Tomé calcula que só dois teriam condição de estar no Ensino Médio, levando em conta o conhecimento em matemática. "Em física então, os professores vão ter muito problema, no ensino médio", relata. Para o docente os alunos da rede pública de São Paulo que se formarem serão "alguns no turbilhão".

Eduardo*, professor universitário, mestrando e pesquisador da geração Y – jovens nascidos a partir de 1980 –, analisa que os estudantes são vítimas de um círculo vicioso fatal para a vida profissional futura. A dificuldade inicial em ler e escrever, transforma-se em dificuldade de compreensão, de reunir informações e de se expressar diante do mundo, conceitua.

"Se o aluno não compreende frases inteiras, como ele vai resolver questões de matemática?" questiona. "Eles até sabem que 3 x 5 é 15, mas se você colocar na prova quanto é o triplo de 5 mais o dobro de 20, ele não vai saber", exemplifica. "Se questões básicas não estão resolvidas, a estrutura fica afetada e o conhecimento que vem depois não se concretiza", alerta Eduardo.

* Os nomes de alguns professores foram trocados a pedido dos entrevistados


Progressão continuada ou aprovação automática?


  • A progressão continuada, adotada a partir de 1998 em São Paulo, é um procedimento utilizado pela escola que permite ao aluno avanços sucessivos e sem interrupções, nas séries, ciclos ou fases, de acordo com a Agência EducaBrasil.
  • Para especialistas, é uma metodologia pedagógica avançada por propor uma avaliação constante, contínua e cumulativa, além de basear-se na ideia de que reprovar o aluno sucessivamente não contribui para melhorar seu aprendizado.
  • Sua aplicação, porém, transformou-se em sinônimo de "aprovação automática" dos alunos, segundo muitos professores e analistas.
  • Essa ideia leva em conta que a progressão foi adotada, no Brasil, sem se mudar as condições estruturais, pedagógicas, salariais e de formação dos professores.




2 comentários:

  1. Professora , concordo com a senhora em tudo, pois embora tenha também me formado até o magistério na Escola Pública e na Universidade Particular , me esforcei muito pra chegar aos 46 anos de idade e 23 de Magistério, passei por quase todas as fases da educação infantil, fundamental e média, ainda pretendo chegar ao nível superior, mas estudo até hoje e ainda sinto muitas dificuldades, e olha que eu fui do tempo em que havia reprovação!!!!
    Desde o inicio dessa dita progressão de "progredir" ou seja, regredir , que tenho muita pena dos alunos e já passei exatamente pelo mesmo problema na periferia de Guaianás ,quando falei pra diretora que queria alfabetizar 8 alunos da 6ª série analfabetos,pois sou Peb I , ela me disse que eu não poderia, iria fazê-lo gratuitamente e fora do meu horário de trabalho, desde então fui me desencantando com a educação, imagina como estou 11 anos após o ocorrido...Lembro-me da fisionomia da tal diretora até hoje, saí quase chorando e passei o aluno todo sofrendo com 8 alunos em uma sala que naõ liam um O com a quenga como dizem.
    Você deve estar pensando como descobri, não é???????? Desconfiei do desinteresse deles quando eu escrevia e quando falava ,então em um determinado dia, disse:hoje iremos fazer a leitura de um texto, vou chamar aqui um por um ...então tive certeza!!! Foi um choque!!!

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