sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Por que Putin está ganhando a Nova Guerra Fria?

José Cruz / Agência Brasil
É dito sobre os Russos que eles tomam um longo tempo para selar seus cavalos, mas eles cavalgam incrivelmente rápido. Depois de cuidar pacientemente daeconomia russa colapsada de volta à saúde de 1999 a 2007, Putin começou a ir de encontro com a cerca ocidental em seu país. Na Síria, Criméia e Ucrânia, o ocidente encarou derrotas humilhantes e se desfez em sua aproximação. Na aposta alta do jogo da energia, serão os dutos Russos - não os ocidentais - que irão dominar a território Euro-asiático. 
 
Um exercício mais instrutivo seria tentar entender como Putin conseguiu manter a Rússia a frente no jogo. 
 
Mais do que qualquer outro líder, o presidente Russo em virtude de sua experiência na KGB (serviço secreto russo) entende como os EUA operam. O modus operandi americano - em sintonia com o britânico - é o de oeganizar golpes, rebeliões e contra-revoluções em países onde líderes nacionalistas chegam ao poder. Irã, Chile, Equador, Venezuela, Panamá e Ucrânia são os exemplos clássicos.
 
John Perkins escreve em Confissões de um Assassino Econômico (2004) como ele e outros "matadores de aluguel" foram enviados à países em desenvolviemnto como consultores para subornar ou coagir diplomatas, economistas, administradores e políticos para entrarem no jogo americano. Frequentemente eles têm sucesso, mas se falhassem a CIA iria enviar os 'chacais' - assassinos profissionalmente treinados que iriam arquitetar as mortes daqueles que se colocaram na frente do caminho da dominação americana.
 
Essa manobra dos matadores econômicos foi tão efetiva em criar as repúblicas de bananas que os EUA raramente tinham que ir pra cima. Dentre as raras ocasiões que os EUA tiveram que usar o exército em busca de objetivos comerciais está o Iraque, e de certa forma a Líbia.
 
Putin sabe que os EUA tentaram - e vão continuar a tentar - mudar o regime na Russia. Como um ex-oficial da KGB baseado na Alemanha Oriental, ele sabe que os matadores estão procurando por uma oportunidade. E isso é exatamente o porquê de ter expulsado as agências desonestas USAID e o Conselho Britânico: ambas são frontes para os serviços secretos Anglo-americanos.
 
"Uma das coisas a se entender é que ele em particular estudou contra-inteligência, o que é a chave para entender porque ele é um jogador crítico," escreve Joaquin Flores para o website Centro Para Estudos Sincréticos. "Contra-inteligência não é somente achar espiões, mas sim contrariar o trabalho dos outros agentes que estão incorporados ou daqueles cujo trabalho envolve se incorporar a uma instituição para destruí-la por dentro."
 
Paralela à Guerra Fria estão as operações obscuras americanas. A economia dos EUA - e de sua companheira Grã-Bretanha - é uma economia de guerra. O conselheiro do Kremlin Sergei Glazyev disse em uma mesa redonda em Junho em Moscou: "Os americanos ganharam com todas as guerras na Europa - 1a GM, 2a GM, Guerra Fria. As guerras na Europa são os meios de seu milagre econômico, sua própria prosperidade."
 
A bagunça contínua na Ucrânia é um pretexto claro para puxar a Rússia para uma confrontação militar direta com as forças armadas Ucranianas, afim de criar uma guerra regional na Europa.
 
A resposta Russa tem duas vias. Uma, recusando entrar em uma guerra com a Ucrânia, deixa os EUA frustrado. A inatividade de Washington na Ucrânia foi brilhantemente descrita por um general chinês como um sintoma da estratégia de "disfunção erétil" americana.
 
Segundo, Putin está empregando estrategias assimetricas para parar - e eventualmente extinguir - o império americano. Um elemento chave dessa estratégia é o de atacar o pilar chave do poder americano - o dólar. A Rússia - com o apoio de companheiros do BRICS -China, India, Brasil e África do Sul - está se afastando do comércio dominado pelo dólar, um passo que irá impactar a economia americana em crescimento.
 
De acordo com o portal financeiro Zero Hedge:
 
"As contra-medidas de Glazyev miram especificamente na força da máquina de guerra americana, isto é, a imprensa impressa federal. Os conselheiros de Putin propõem a criação de 'uma aliança anti-dólar vasta' de países dispostos e capazes de deixar o dólar de lado no comércio internacional. Membros da aliança iriam também evitar manter as reservas monetárias em instrumentos em dólar. Uma coalizão anti-dólar seria o primeiro passo para a criação de coalizão anti-guerra que pode ajudar a dar um fim à agressão americana."
 
A Ucrânia poderia eventualmente se tornar na catalisadora do divórcio dos EUA com a Europa. Isso porque as sanções contra a Rússia estão ameaçando casas de negócios na Alemanha e em outros países do oeste europeu, os quais com o tempo desenvolveram ligações profundas com a economia russa. "De algum modo supreendente para Washington, a guerra pela Ucrânia deve logo se tornar uma guerra pela independência da Europa dos EUA e uma guerra contra o dólar," diz o Zero Hedge.
 
Moscou também está promovendo mudanças institucionais. O novo Banco do Desenvolvimento de $100 bilhões, comandado também pelo BRICS, não irá somente contrariar a influência das instituições de empréstimo ocidentais, mas também irá parar o fluxo de dinheiro dos países em desenvolvimento para o ocidente.
 
O atual sistema de empréstimos é enviesado a favor dos países ocidentais porque os empréstimos do Banco Mundial e do FMI vêm com um cesto de condições. Por exemplo, quando os dois oferecem um empréstimos, pode ser usado para adquirir bens e serviços somente do ocidente. Ou o empréstimos podem ser usados apenas para construir represas, mas não, digamos, para beber a água.
 
Claro, o material e o conhecimento para a construção de represas terão que vir dos EUA e Europa. E quando a oferta de água potável é baixa, cria-se demanda para garrafas de água e refrigerantes. O novo banco irá, com isso, atacar o ocidente aonde dói mais, no bolso. 
 
Mesmo com Putin fazendo todos os movimentos certos no quadro político, seus oponentes não estão de braços cruzados assistindo seu império se montar. O rublo Russo está sendo martelado até quando o preço do petróleo está sendo guiado para o solo pelos Sauditas na licitação de seus suseranos americanos. Sem supresas aqui - os americanos irão tentar enfraquecer a Rússia por ser o único país que se encontra no meio entre Washington e a dominação mundial.
 
No entanto, Putin é um judoca que sabe como usar a força do seu oponente contra o próprio oponente. Ele sabe que os dias fáceis do ocidente acabaram e que não estão em posição de atacar o exército russo. Está contente em assistir os americanos se excederem - atacando a Rússia e simultaneamente tentando conter a subida irresistivel do BRICS.
 
Putin tem a sorte de ainda ter o apoio dos seus companheiros dos BRICS em sua briga com o ocidente. Tanto India quanto a China concordam que Moscou tem interesses legítimos na Ucrânia e na Criméia. Recentemente, o BRICS incomodou a Austrália pela sua proposta de banir Putin da cúpula do G20.
 
Tais confirmações de apoio estimularam Putin a mostrar o dedo do meio ao ocidente. Em 2012, sem preocupações, não compareceu à cúpula do G8 e ainda esse ano, meramente esboçou uma emoção quando o G8 voltou a ser G7 - a configuração pré-Guerra Fria. (Com membros como o Canadá, o G7 é uma piada.)
 
Se a história nos ensinou algo, é que a Rússia tem o hábito de triturar seus inimigos. Depois de Napoleão e Hitler, pode ser a vez dos americanos reconhecerem os perigos de atrair o predador.

Observação do Blog: Como diria o Professor Wilsão " não mexa com os russos!", o último a vencer os russos foi Gengis Khan, e isso foi há  mais de mil anos. Muita Treta...




 

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Pobreza e desigualdade social só aumentaram no lado oriental da Alemanha depois de 24 anos de instauração do capitalismo


O que dirão certos setores da esquerda sobre isso?

Según una encuesta de la empresa Infratest dimap, que se realizó durante medio año con la participación de 50.000 personas, casi un cuarto de siglo después de la caída del muro de Berlín y la reunificación, existen desigualdades sociales importantes en el país que se agudizan en el Este.
En el estudio, que fue elaborado para el canal público de televisión ARD, los participantes tenían que responder en una escala de cero hasta diez “si usted está satisfecho con su situación actual de vida”.
Los resultados muestran un evidente malestar social entre la clase trabajadora. Tras la reunificación hubo un fuerte proceso de desindustrialización en el Este del país, lo que actualmente afecta a la economía en esta región.
Y es que parece ser que el abrazo al “libre mercado” no ha llevado demasiado progreso y bienestar social a la Alemania del Este, que durante la época comunista no sabía lo que eran los actuales comedores sociales, debido a que había trabajo, sanidad y educación gratuita.
Fue a raíz de la instauración del capitalismo cuando los alemanes del Este comenzaron a sufrir el desempleo, el hambre, la pobreza y la creciente desigualdad social.

Aumento de la pobreza

Estadísticas alemanas y europeas muestran que uno de cada seis alemanes corre el riesgo de caer en la pobreza.
El 16,1 por ciento de los alemanes, es decir 13 millones de personas están a punto de hundirse en la pobreza relativa.
Las cifras muestran que contrario a las declaraciones de la canciller Angela Merkel, la pobreza relativa está en aumento en Alemania, informó la Oficina Federal de Estadística de Alemania (Destatis) y la oficina de estadísticas de la Unión Europea (UE), Eurostat.
El informe declara que las mujeres alemanas podrían ser las más vulnerables a caer en la pobreza (menores de 18 años es de 15,7 por ciento) que los hombres (14,8 por ciento).

sábado, 8 de novembro de 2014

Torquato Neto, o Nosferatu do Brasil


Torquato Neto foi um dos mais viscerais poetas brasileiros, a extrema-esquerda do movimento tropicalista, artista breve e genial, abaixo uma amostra de sua intensidade.

Explicação do Fato:

Parte I

Impossível envergonhar-me de ser homem.
Tenho rins e eles me dizem que estou vivo.
Obedeço a meus pés
e a ordem é seguir e não olhar à frente.
Minúsculo vivente entre rinocerontes
me reconheço e falho
e insisto.
E insisto porque insistir é minha insígnia.
O meu brasão mostra dois pés escalavrados
e sobram-me algumas forças: sei-me fraco
e choro.
E choro e nem assim me excedo na postura humana:
sofro o corpo inteiro, pendo e não procuro
a arma em minhas mãos.
Sei que caminho. É só.
Joelhos curvam-se, amaziam ao chão que queima
e me penetra e eu decido que não posso
envergonhar-me de ser homem.
A criança antiga é dique barrando o meu escôo
e diz que não, não me envergonhe.
Não me envergonho.
Tenho rins mãos boca orgão genital e
glândulas de secreção interna:
impossível.
No entanto sinto medo
e este é o meu pavor.
Por isso a minha vida, como o meu poema,
não é canto, é pranto
e sobre ela me debruço
observando a corcunda precoce
e os olhos banzos.

Parte II

Também tenho uma noite em mim tão escura
que nela me confundo e paro
e em adágio cantabile pronuncio
as palavras da nênia ao meu defunto,
perdido nele, o ar sombrio.
(Me reconheço nele e me apavoro)
Me reconheço nele,
não os olhos cerrados, a boca falando cheia,
as mãos cruzadas em definitivo estado, se enxergando,
mas um calor de cegueira que se exala dele
e pronto: ele sou eu,
peixe boi devolvido à praia, morto,
exposto à vigilância dos passantes.
Ali me enxergo, à força no caixão do mundo
sem arabescos e sem flores.
Tenho muito medo.
Mas acordo e a máquina me engole.
E sou apenas um homem caminhando
e não encontro em minha vestimenta
bolsos para esconder as mãos, armas, que, mesmo frágeis,
me ameaçam.
Como não ter medo?
Uma noite escura sai de mim e vem descer aqui
sobre esta noite maior e sem fantasmas.
como não morrer de medo se esta noite é fera
e dentro dela eu também sou fera e me confundo nela e
ainda insisto?
Não é viável.
Nem eu mesmo sou viável, e como não? Não sou.
O que é viável não existe, passou há muito tempo
e eram manhãs e tardes e manhãs com sol e chuva
e eu menino.
eram manhãs e tardes e manhãs sem pernas
que escorriam em tardes e manhãs sem pernas
e eu sentado num tanque absurdamente posto no meio da rua, menino sentado sem a preocupação da ida.
E era todo dia.
Havia sol
e eu o sabia
sol: era de dia
Havia uma alegria
do tamanho do mundo
e era dia no mundo.
Havia uma rua
(debaixo dum dia)
e um tanque.
Mas agora é noite até no sol.

Parte III

Vou à parede e examino o retrato,
irresponsável-amarelo-acinzentado-testemunha.
Meus olhos não se abrem e mesmo assim o vejo.
E mesmo assim te vejo, ó menino, encostado à palmeira de tua praça
e sem querer sair.
E mesmo assim te penso dique,
desolação de seca na caatinga, noite de insônia,
canção antiga ao pé do berço,
prata
fósforo queimado
poço interminável, seco.
Ouço teu sorriso e te obedeço.
Eu que desaprendi a preparação do sorriso
e não o consigo mais.
Estou preso a ti, ainda agora,
apesar do cabelo escurecido,
as mãos maiores e mais magras
e um súbito medo de morrer, amor à vida, tolo.
tenho preso a ti a palavra primeira
e o primeiro gesto de enxergar o espelho:
ouço-te, sou mais desgosto em mim, imcompreensível.
À tua ordem decido não envergonhar-me de existir
nesta forma disforme e de osso
carne
algumas coisas químicas
e uma vontade de estar sempre longe,
visitando países absurdos.
Não posso envergonhar-me de ser homem.
tenho um menino em mim que me observa
e ele tem nos olhos
(qual a cor?)
todas as manhãs e tardes e manhãs com sol e chuva
e eu menino, que me alumiava.
Tenho um menino em mim e ele é que me tem:
por isso a corcunda precoce
e os olhos banzos: tenho o corpo voltado à sua procura
e meu olhar apenas toca, e leve,
a exata matriz da calça
molhada em festa vespertina da bexiga.
Pílulas do tipo deixa

Abaixo, curta metragem com nosso poeta, produzido por Ivan Cardoso em 1970


segunda-feira, 3 de novembro de 2014

É preciso articular uma frente antifascista, antes que seja tarde, especialmente aqui em SP

Abaixo a ditadura e o fascismo!


São Paulo cada vez mais se firma como uma espécie de Munique brasileira. Como é bem sabido, Munique foi o centro do partido nazista, desde o surgimento do movimento, no começo dos Anos 1920, até a derrocada final do Terceiro Reich, em 1945. Parece que São Paulo cumpre o mesmo papel nos dias de hoje. Por aqui vemos uma elite branca e hidrófoba, disposta a tudo (contra o que elas não sabem direito), igualmente ao que se testemunhou na Alemanha após os levantes espartaquistas, entre 1918 e 1923. O pior é que no Brasil não vemos nada parecido, as instituições, a economia e a democracia se encontram sob controle. Contudo, uma gangue de publicistas da barbárie teimam em insuflar os ânimos dos setores mentalmente doentes de nossa sociedade.

O ovo da serpente já chocou, e a mídia golpista deixa claro que não recuará em seus anseios antidemocráticos. Todo mundo sabe como essa história termina, e assim como se verificou na Alemanha e na Itália, a burguesia acha que pode controlar a besta depois de parida. Infeliz engano, todos os regimes extrema-direita levaram a sociedade como um todo rumo a um abismo de barbárie, intolerância e irracionalidade, jogando populações inteiras no desespero.

Existem extratos de nossa sociedade – paulista e nacional – sedentos de sangue. Eles querem o caos, querem ver os aparatos repressivos nacionais ainda mais genocidas, até mesmo porque eles dificilmente teriam coragem de por mãos a obra para defender suas ideias criminosas. Sonham em assistir massacres no conforto de suas salas com ar condicionado, e depois dar salves a PM, como o fazem desde sempre.

Contra esse tipo de gente precisamos nos organizar. Não pertenço a nenhum movimento organizado, mas estou disposto a colaborar, da forma que estiver ao meu alcance. As marchas convocadas pelo Levante Nacional da Juventude são um primeiro passo, mas precisamos nos organizar de forma efetiva e duradoura, pois eles não vão desistir. 

As primeiras manifestações pedindo golpe, no começo dos anos sessenta, também foram pequenas como as vistas no sábado, contudo, as vésperas do assalto ao poder, em 1964, já reuniam meio milhão de pessoas. No dia 2 de abril de 1964, uma marcha reunindo 1 milhão de pessoas, no Rio de Janeiro, deu legitimidade aos golpistas para seguir com sua infâmia. Temos que enfrentá-los a altura!   

No pasarán!




Segue abaixo um vídeo que dá mostras de como se deve combater o fascismo, apenas uma sugestão.




sábado, 1 de novembro de 2014

Walter Benjamin, "O caminho do sucesso em treze teses"


1 – “Não existe nenhum grande sucesso a que não correspondam esforços reais. Mas seria um  erro admitir que esses esforços sejam sua base. Os esforços são sua conseqüência. Conseqüência da elevada auto-estima e disposição para o trabalho daquele que se vê reconhecido. Por conseguinte, uma grande exigência, uma hábil réplica e uma feliz transação são os verdadeiros esforços subjacentes aos verdadeiros sucessos.”;


2 – “Satisfação dada por meio da remuneração paralisa o sucesso, satisfação dada por meio do esforço o aumenta. Salário e esforço estão nos pratos de uma balança: todo o peso do amor-próprio deve cair no prato do esforço, assim o prato do pagamento vai sempre subir rapidamente”;



3 – “Só podem ter sucesso por muito tempo aqueles que em sua conduta são guiados por motivos transparentes. A massa destroça qualquer sucesso tão logo este lhe pareça opaco, sem valor instrutivo ou exemplar. É evidente que esse sucesso não precisa ser transparente no sentido intelectual. Qualquer teocracia demonstra isso. Ele apenas deve se ajustar a uma idéia, ou melhor, a uma imagem, logo, ao padre o confessionário, ao general a condecoração, ao financista o palácio. Quem não paga seu tributo ao tesouro de símbolos da massa deve fracassar.”;



4 – “Quanto mais claro, inequívoco, evidente, maior o afeto do público; maior é o raio de ação de uma manifestação intelectual, tanto mais público aflui para ela. Desperta-se “interesse” por um autor, isso quer dizer: começa-se a procurar sua fórmula e a expressão mais primitiva desta”;



5 – “A referência à posteridade foi uma maneira de exercer pressão no sentido de consolidar a posição do escritor na sociedade. Todas as épocas anteriores são unânimes na convicção de que os contemporâneos guardam as chaves que abrem as portas da fama póstuma. E hoje isso é tanto mais válido – por ser menor a vontade e o tempo que cada geração emergente pode ter para processos de revisão.”;                                                                                       



6 – “Fama, ou melhor, sucesso, tornou-se obrigatório e já não significa hoje ‘superação,’como antes. Numa época em que qualquer escrivinhação miserável se divulga em milhares de exemplares, resulta simplesmente um estado de agregação da literatura.”;



7 – “Condição da vitória: alegria pelo sucesso exterior como tal, alegria pura, desinteressada, que melhor se manifesta no fato de que alguém tenha prazer no sucesso – mesmo se for de um outro e precisamente se for imerecido. Um senso de justiça farisaico é um dos maiores obstáculos para o progresso.”;



8 – “Muita coisa é inata, mas muito é feito pelo treinamento. Ninguém será bem-sucedido se se poupar, se só mergulhar fundo nos temas maiores e se não estiver em condições de se empenhar até o extremo por causas insignificantes.”;



9 – “Em toda prova, as maiores chances não estão com o candidato mais bem preparado, mas com o improvisador. Pela mesma razão, quase sempre são as questões secundárias, as coisas de menor importância que decidem. O inquiridor que temos à nossa frente exige, antes de tudo, que o enganemos acerca de sua função. Se conseguimos isso, então ele nos fica agradecido e pronto a perdoar muita coisa”;



10 – “Um gênio qualquer mora dentro de todo bem-sucedido. Também o sucesso é um encontro marcado: encontra-se no lugar certo, na hora certa. Isso significa: compreender a língua na qual a sorte faz seu acordo conosco. Como é que alguém que nunca ouviu essa língua pode julgar a genialidade do coroado de êxito? Para ele tudo é por conta do acaso. Não lhe ocorre que aquilo que assim denomina é, na gramática da sorte, o mesmo que, na nossa, o verbo irregular, ou seja, o rastro não apagado duma força primitiva.”;



11 – “A estrutura de todo sucesso é, no fundo, a estrutura do acaso.”;



12 – “Pode-se blefar, mas nunca se deve sentir como um blefador. É fundamental ter consigo aquela boa-fé que nunca falta aos mais astutos impostores, mas quase sempre aos pobres-diabos.”;



13 – “O fato de que o segredo do sucesso não mora no espírito é revelado pela expressão ‘presença de espírito’. Assim, não é o Quê nem o Como, mas só o Onde do espírito que determina. Que ele esteja presente no momento e no espaço, penetrando o tom de voz, o sorriso, o olhar, o gesto. Pois, presença de espírito só o corpo é que cria!”;



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Walter Benjamin. “O caminho do sucesso em treze teses” in Rua de Mão Única – Obras Escolhidas II. São Paulo, Brasiliense, 1987.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Aécio Never é maluco sem nenhuma beleza


Aécio Never é o mais vulgar, poltrão e desqualificado dos candidatos a presidência expelidos pela burguesia. É surpreendentemente patético, assim como todos os seus eleitores. Mas existe um lado bom em Aécio, é um prato cheio para blogueiros, twitteiros, facebookeiros e afins, empenhados e barrar o avanço do fascismo, e é claro, trollar seu principal representante. Eis uma amostra daquele que segundo FHC representa a porção “bem informada” dos brasileiros.  

Aécio Never doidão e um pouco mais




Oncoto?


Te considero pra caralho!


Me segura que eu to dando um troço 


Ressaca da porra, e ainda tenho que trabalhar assim...


#h&@!!!!XXX


Aha, e tem mais






domingo, 12 de outubro de 2014

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.


O estado de São Paulo vem sendo tomado por uma onda conservadora de largas proporções. Uma onda que persiste e se expande. Diversos pensadores de esquerda se interrogam sobre como a direita tem mantido, ao longo de décadas, a hegemonia sobre este estado. De fato, a extrema-direita controla o estado de São Paulo desde os tempos dos barões do café. Mas essa elite dirigente, sobretudo após a industrialização, sempre se deparou com uma tenaz resistência por parte da classe trabalhadora. Sempre foi denunciada pela militância política e intelectual de personalidades como Caio Prado Junior, Antônio Candido, Florestan Fernandes, Paulo Emílio Sales Gomes, dentre tantos outros.

Abaixo, elencamos um breve histórico das lutas sociais ocorridas em SP, uma região que possui muita tradição de esquerda. Um lugar que foi cenário de tantos atos heroicos de resistência, jamais irá se acomodar perante a ascensão do fascismo.


Primeira década do Século XX – introdução e disseminação do anarquismo e do socialismo entre os operários, surgimento da classe trabalhadora organizada, dos sindicatos, formação de uniões operárias, congressos e as primeiras greves, especialmente na capital paulista e na baixada santista.

1917 – Greve geral anarcosindicalista,  primeira manifestação de massas vista no país, durante um mês a cidade ficou sobre controle operário.

1924 – Levante tenentista comandado por Isidoro Dias Lopes e Miguel Costa, por mais de um mês a cidade foi controlada pelos revoltosos. A reação do governo central foi feroz, e a capital paulista foi duramente bombardeada, inclusive por aviões, sendo que os bairros populares foram o alvo preferencial das tropas de Arthur Bernardes.

1935 – Uma frente unindo comunistas (PCB), trotskistas, anarquistas e socialistas dissolveu a bala uma tentativa de realização de uma grande marcha por parte dos integralistas, na Praça da Sé. Dezenas de pessoas acabaram mortas, a maioria integralista, frustrando os planos de Plínio Salgado de reeditar no Brasil uma “marcha sobre Roma”.

1945-47 – Intensa atividade operária-sindical e popular, organizada sobretudo pelo PCB, com aumento no número de greves, formação de conselhos populares, comissões de bairro.

1953 – Greve do 300 mil, durante várias semanas a cidade foi paralisada pelos trabalhadores, a repressão foi feroz e vários operários foram assassinados, no entanto, o lado da repressão também teve suas baixas. Após o término do movimento, o direito de greve foi reconquistado (proibido antes do Estado Novo, iniciado em 1937), e o Ministro do Trabalho, Joao Goulart, concedeu 100% de aumento para o salário mínimo.

1957 – Greve dos 700 mil, também vitoriosa. Desta greve surge o PUI (Pacto de Unidade Intersindical), embrião de uma futura central sindical, o PUI representou um movimento de ofensiva da classe trabalhadora paulista e nacional.

1962 – IV Encontro Sindical Nacional, realizado em SP, desse encontro surge o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), primeira central sindical brasileira, organizada pelos próprios trabalhadores.

1963-1964 – Dezenas de Greves operárias, greves estudantis, reforço nas ações dos movimentos articulados pelas associações de cabos e soldados das Forças Armadas, grupos que tinham ligações com a esquerda. A combatividade das classes populares assustou a burguesia, e esta classe optou por rasgar a Constituição e tomar o poder por meio de um golpe de estado em 1964.   

1966 – Setembrada estudantil, mobilização nacional em protesto contra a ditadura civil-militar, com forte atuação na cidade de São Paulo e em Osasco.

1968 
  • ·         Mobilização estudantil, com centro na Maria Antônia, principal campus da USP no período. Entre março e outubro ocorreram incontáveis protestos, marchas e passeatas promovidas pelos estudantes paulistas. O prédio de Maria Antônia foi ocupado em julho, e desocupado apenas em 3 de outubro, data a invasão e destruição das instalações da USP Maria Antônia, em ação que reuniu a repressão estatal e o CCC (Comando de Caca aos Comunistas). O CRUSP (Conjunto Residencial dos Estudantes da USP), ocupado desde 1963, permaneceu como território livre até dezembro, quando foi invadido e desocupado pela repressão, a mesma que prendeu e espancou centenas de estudantes que se encontravam no CRUSP. Em outubro foi dissolvido o Congresso da Ibiúna, organizado pela UNE e pela UEE (União Estudantil Estadual) paulista. A ação policial resultou em centenas de estudantes presos.  


  • ·         Em julho, uma greve insurrecional eclodiu em Osasco, grande SP, e a empresa Cobrasma foi ocupada pelos trabalhadores. Em menos de doze horas a empresa ocupada foi invadida pelos militares, e centenas de trabalhadores foram espancados e confinados em um ginásio local. Outras empresas da cidade que também se encontravam paralisadas tiveram o mesmo destino da Cobrasma. No dia posterior ao início da greve, o Sindicato dos Metalúrgicos local, ocupado por trabalhadores, também foi invadido. Operários, operárias, esposas e filhos pequenos de grevistas que se encontravam no sindicato foram barbaramente atacados pela repressão.




  • No final do ano, são organizados os dois principais agrupamentos guerrilheiros em atuação no país, a ALN (Ação Libertadora Nacional), formada a partir de uma cisão do PCB, liderada por Carlos Marighela, e a VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), organizada por militantes oriundos da ORM-Polop (Organização Revolucionaria Marxista) Política Operária, do MNR (Movimento Nacionalista Revolucionário, formado por militares cassados em 1964), e o Grupo de Osasco.


Anos de Chumbo (1968-1975) – Intensa atividade guerrilheira na cidade, com a proliferação de diversos grupos de guerrilha. Dezenas de assaltos a banco, sequestros e justiçamento de agentes da repressão. A ALN atua em conjunto com o MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de outubro) no sequestro do embaixador estadunidense em setembro de 1969. A VPR realiza três grandes sequestros (Consul japonês e embaixadores da Alemanha e Suíça), ações que livraram da cadeia mais de cem guerrilheiros presos.

1975-76 – Assassinatos de Wladimir Herzog, jornalista, e Manuel Fiel Filho, operário. A morte de Herzog gerou comoção e revolta, e foi denunciada pela igreja católica local, em franca oposição a ditadura, liderada por figuras como Dom Paulo Evaristo Arns.

1978 – Início do ciclo de greves do ABC, destas mobilizações brotará a liderança de Luís Inácio Lula da Silva. As greves do ABC foram o primeiro ato frontal de resistência à ditadura desde a decretação do AI-5 em 1968. As mobilizações paulistas reativam o movimento operário brasileiro.

Início dos Anos 1980 – Nessa conjuntura são criados o PT e a CUT, a UNE retoma suas mobilizações, e o movimento Diretas Já! coloca a ditadura contra a parede. São Paulo assiste a manifestações que chegaram a reunir 1 milhão de pessoas.


Após a frustação da derrota do movimento Diretas Já!, uma certa letargia tomou conta dos grupos capazes de organizar movimentos de massa em SP. Contudo, a mobilização de esquerda jamais cessou nesta cidade e estado. Minorias políticas passaram a se organizar, grupos LGBT, o movimento feminista, anarquista, o movimento negro, sem terras, sem teto, etc. A atual fase assiste a proliferação da militância digital, via blogs e sites de esquerda, e a esquerda de SP tem tido presença ativa nesse processo. 

Sim, temos tradição de esquerda aqui em SP, resistimos a todas as ditaduras, desde a dos barões do café, até a dos tecnocratas da Avenida Paulista.

O vídeo abaixo fala da resistência e da luta de morte da guerrilha contra o sistema repressor e genocida da última ditadura civil-militar. São Paulo, durante os Anos de Chumbo, foi o centro da resistência ao regime protofascista dos militares e da burguesia.