Se não me falha a memória, o ano era 1983, um domingo, estávamos alvoroçados diante do grande acontecimento que se daria naquela noite, no Fantástico, programa que naquela época dava sentido as nossas noites dominicais. Na sala de casa estávamos minha irmã, eu e um grupo de crianças da vizinhança que haviam recebido permissão dos pais para assistir TV em casa. O evento assumira tal proporção entre a molecada, que os pais fizeram uma concessão, e como boa parte dos garotos e garotas ali presentes não tinham TV em casa, socializamos nosso aparelho. Mal podíamos esperar, o Fantástico anunciara a semana toda o grande evento, a estreia do clipe Thriller de Michael Jackson. Eu particularmente já "viajara" no clipe de Billie Jean, a batida desta música não deixava minha mente, o clipe também era fantástico, era um garoto e não conseguia entender o efeito que aquela música possuía sobre mim, eu simplesmente enlouquecia com esse som, saia dançando pela casa feito louco. Naquele tempo não havia muita opção para se acompanhar música na TV, o único programa especializado em vídeo clipe era o Som Pop, do Kid Vinil. Não perdia um, depois de Billie Jean adquiri verdadeira obsessão por programas de video clipe, e também me apaixonei por essa linguagem, esse formato de contar uma história. Pois bem, excitadíssimos acompanhávamos o Fantástico, e o programa a enrolar para segurar audiência, se não me engano havia também o fato do clipe ser impróprio para menores, conter cenas fortes, assustadoras, ao menos para aquela época. E finalmente o clipe foi anunciado, lá pelas tantas. Silêncio absoluto na sala, até minha mãe veio ver. Quando o clipe terminou estávamos boquiabertos, aquilo era algo espectacular demais para garotos do interior, ninguém tomava a palavra, não havia o que dizer, era como se não fossemos mais os mesmos. Só muito tempo depois, quando ouvi falar em Indústria Cultural e Sociedade do Espetáculo, entendi o que senti, o que sentimos naquela noite. Mas ainda assim a música não era melhor que Billie Jean, foi isso que senti, mas não tive coragem de mencionar isso ao longo da semana que passamos discutindo o clipe. Depois desta noite nunca mais vimos vídeo clipes da mesma maneira, ficamos mais exigentes.
Esta é a experiência mais forte que me vem a mente quando penso em Michael Jackson, a forma como ele esteve presente em minha infância. Quando soube de sua morte hoje não senti muita coisa, para mim ele já estava morto a muito tempo, foi tragado pela fama, viveu mais para os outros que para si, e visivelmente não foi feliz. A morte de Michael Jackson marca o fim de uma era, atualmente, após a revolução digital, não há mais espaço para mega astros como Michael Jackson, nenhum disco venderá mais que Thriller, o mercado fonográfico está cada dia mais pulverizado, diversificado, o mercado encolheu para os artistas, que cada vez mais tem que se voltar a públicos específicos, e procurar formas alternativas de divulgação.
Minha esposa sempre disse que tinha pena do Michael Jackson, acho que eu também, de toda forma, sua contribuição para a cultura mundial é inestimável, durante muito tempo se falará sobre sua vida, sua carreira musical e sua influência para a cultura pop. Quanto a mim, prefiro guardar a imagem do Michael Jackson do disco Thriller para trás, e não a imagem daquilo que ele se transformou no fim de sua vida.
Diabos! Mas eu juro que ainda tava esperando "a grande volta de Michael Jackson"
ResponderExcluirMas a morte do michael jackson não é só o fim do artista. É bem o fim de uma era.
"Não perca essa noite o clipe do Michael Jackson no Fantastico"
Hoje morreu Michael Jackson, o rei do Pop. O Fantastico já morreu a uns 10 anos. E o pop se ainda existe, definitivamente não quer ser identificado.
O pop está por aí sim, só que se degenerou e vem se degenerando cada vez mais, a decadência de Michael Jackson seguiu a decadência do pop, e vice e versa, o pop é um zumbi a nos incomodar.
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