quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vai um título 'tóxico' aí?



Kevin Spacey em cena de Margin Call: capitalismo selvagem. ...
Será que os bancos de investimentos têm algum código de ética? Pela crise de 2008, se deduz que não. Como no filme Margin Call, para se salvar da falência, os traders  de um banco venderam aos incautos seus títulos "tóxicos", numa operação trapaçeira e desonesta, não punida pelas bolsas de valores. O primeiro filme exibido na competição, no Festival de Berlim, pode ser definido como um retrato do capitalismo.
 
Os americanos também fazem filmes críticos do capitalismo, mas sem nomeá-lo, e tudo pode se perder como um caso isolado, envolvendo simplesmente pessoas. Margin Call trata de um tema bastante atual: a recente crise financeira dos sub-prime com falência de grandes bancos como o Lehman, nos EUA, e a necessidade dos países injetarem bilhões do dinheiro público em seus bancos, para salvá-los da liquidação.

Thriller

O filme, versando sobre um tema tão econômico, capaz de não interessar o grande público mesmo este sendo o mais afetado, toma aspecto final de um thriller. Mas o herói pode ser considerado como bandido, pois se não tivesse percebido e denunciado o buraco criado com a compra de um número excessivo de "ações podres ou tóxicas" e sem valor, como os títulos emitidos pelo banco Lehman ou hipotecas ou investimentos do banco suíço UBS, sua empresa de traders teria ido à falência.
 
Há também um happy-end mas não para os investidores que, algumas horas antes do crash, são induzidos a comprar pacotes de ações sem valor e a empresa de investimentos de Wall Street se livra assim dos títulos "tóxicos", e o patrão e seus altos funcionários poderão desfrutar ainda dos seus salários e bonus de milhões. Azar dos que compraram. Não fique com pena deles, pense nos que perderam suas casas nas hipotecas ou sub-primes e vivem em barracas de camping.

Predadores
O filme é de JC Chandor e deve ser visto porque mostra o clima selvagem entre os traders predadores, sem piedade uns com os outros. Sem piedade com a humanidade, pois são eles, os traders que fazem jogos nas bolsas para aumentar os preços dos produtos básicos da alimentação e do petróleo. Algo que pode colocar Gordon Gekko, do filme Wall Street, no chinelo.

Os atores são excelentes: Kevin Spacey, Zachary Quinto, Jeremy Irons e mesmo Demi Moore. A história, no alto de um daqueles altos edifícios em Manhatan, é a seguinte: um jovem analista, depois de estudar o ativo e passivo do banco de investimentos, descobre não haver mais reservas suficientes para cobrir seus títulos "tóxicos" de risco. A falência é iminente.

Trapaça

O chefe dos traders, capaz de chorar por um sua cadela doente, que lhe custa US$ 1 mil por dia ao veterinário, mas frio e implacável quando se trata de renovar sua equipe, convoca uma reunião noturna de crise, à qual comparece o chefão. Depois de ouvir a situação catastrófica, ele propõe a salvação: se desfazer tão logo abram as bolsas do máximo de títulos tóxicos e sem alertar aos compradores quanto à nulidade desses títulos.

Tudo se passa como o previsto, o banco passa para a frente seus títulos, numa verdadeira trapaça, legal nas bolsas, o chefe dos traders tem uma crise de consciência, mas tudo fica por isso mesmo. Depois da crise de 2008, tudo já se esqueceu e os bancos de investimentos continuam especulando nas bolsas. Apenas algumas leis foram mudadas. O filme não chega aí, mas sugere. E também não fala ser isso um dos traços do capitalismo, mas essa sacada fica por conta do espectador.



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