terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

É necessário uma revolução popular na Arábia Saudita para conquistar a democracia e garantir direitos para as mulheres.

Mulher árabe condenada a 90 chicotadas por motivo banal


Onde está a comoção do PIG? Todos apontam o dedo contra o regime iraniano, que também é duro com as mulheres, mas ninguém fala nada sobre o que se passa na Arábia Saudita. Esse reino é sem dúvida um dos piores lugares do mundo para as mulheres. No feudo dos Al Saud, frequentemente mulheres são condenadas a morte, por motivos os mais banais possíveis, além dos castigos físicos que são impostos perante a menor falta, pelos os critérios sauditas. Não se vê comoção na mídia internacional, lacaia de Washington. Só um levante popular poderia por fim a pior ditadura do mundo, mas queridinha do mídia internacional, submissa aos petrodolares e eternamente servil aos ditames do Pentágono.


Roberto Porto, Direto da Redação
  

Coitada da mulher na Arábia


É possível que as coisas na Arábia Saudita tenham melhorado desde que lá estive a trabalho, em Jeddah (capital administrativa), às margens do Mar Vermelho. Mas não duvido de que tudo esteja como antes, no severo islamismo que domina o país, um dos maiores produtores de petróleo do mundo. A família real, que vive em Riad (capital geográfica, em meio ao deserto) segue subserviente aos americanos, que mandam e desmandam na Aramco (Companhia de Petróleo do país), o consumo de bebidas alcoólicas continua terminantemente proibido – sujeito a castigos terríveis – e a água potável inexiste num país totalmente dominado por areias e alguns camelos.

A água de Jeddah é salobra, extraída do Mar Vermelho por usinas gigantescas, que lhes tiram a salinidade e a deixam com um gosto estranho. Em poucas e resumidas palavras, a água dos banheiros e piscinas vem do Mar Vermelho, que de vermelho não tem nada, é quase negro. Já a água dos restaurantes é a francesa Evian, até porque, mesmo islâmicos, ninguém é de ferro para engolir aquela água de gosto estranho. As ruas não têm nomes, calçadas ou números nas casas e edifícios. Você pega um táxi, dá um ponto de referência – Hotel Khandara, por exemplo – e o motorista vai direto ao local, em meio a um buzinaço sem qualquer sentido.

Com seis horas a mais do que o horário de Brasília, sempre sobrava um tempo para um mergulho na piscina do hotel – água morna, tal o calor de 40 graus – e eu, Ary Gomes (fotógrafo) e Márcio Guedes decidimos esquecer o frio que fazia na Europa, de onde viemos e para onde iríamos de volta. E foi na piscina do Hotel Khandara que descobri que as mulheres não podem tomar banho na mesma água utilizada pelos homens. Havia um pequeno grupo delas – americanas – todas vestidas em maiôs discretíssimos, jogando cartas protegidas por um guarda-sol. Calculei que deviam ser mulheres de técnicos da Aramco, pois a Arábia não permite turismo.

Não permite turismo nem fotografias dos árabes, alegando que uma foto roubaria a alma do cidadão. Ary, então, sempre com a máquina escondida, ia fotografando o que podia, desde que as fotos fossem entre nós mesmos. Nem mesmo as americanas jogando cartas podiam ser flagradas – uma espécie de ditadura do islamismo. Tentamos de tudo, mas sempre havia um árabe de plantão ameaçando tomar a máquina fotográfica. Mas lá mesmo em Jeddah soube de drible nos costumes.

Os príncipes tinham no aeroporto um Boeing 707 sempre pronto para decolar para Londres. Na capital inglesa, além de um bordel exclusivo, afastado da capital, cometiam saliências à vontade e enchiam o pote de uísque escocês. Uma semana depois, com o avião repleto de compras – as mais variadas, menos uísque – regressavam satisfeitos a seus palácios e suas variadas mulheres. Mais tarde, passando por Londres, pude verificar que diversas ruas londrinas e lojas tinham seus nomes em inglês e árabe – e concluí que os antigos beduínos, enriquecidos pelo petróleo, eram useiros e vezeiros turistas na capital inglesa.

Mas, na Arábia, propriamente dita, mulher não tem vez. Só se houver uma revolução nos costumes, o que não acredito.




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