E se reclamar, é pau!
De acordo com Lúcio Gregori, enquanto o transporte for entendido como um negócio, os aumentos de tarifas vão continuar a ocorrer
Até a primeira quinzena de janeiro foram registrados reajustes nas tarifas dos ônibus municipais em pelo menos quinze grandes cidades brasileiras e há a previsão de que as passagens de seis cidades ainda sejam reajustadas. Em três cidades o aumento ocorreu já no final de 2010.
Das dez maiores regiões metropolitanas pelo menos 6 anunciaram aumento. Mais de 56 milhões de pessoas que vivem nas regiões com grande densidade populacional estão sendo afetadas pelos reajustes das passagens.
O engenheiro Lúcio Gregori, que foi secretário de transportes da cidade de São Paulo entre 1990 e 1992, durante a gestão da prefeita Luiza Erundina (então no PT), explica que os aumentos das passagens são resultado do modelo de transporte adotado em nosso país. “O transporte é um negócio como qualquer outro e como tal tem que ter as correções dos preços cobrados para corrigir os custos crescentes”, completa.
Na opinião do engenheiro, a única forma de reverter esse quadro é haver uma mudança do pensamento coletivo em que o transporte urbano deixe de ser entendido como um negócio e passe a ser tratado como um direito da população.
“O transporte público tem que ser tratado como um direito, assim como saúde e a educação. Para chegar a um hospital e ser atendido, você precisa do transporte. Para ir à escola, você precisa do transporte”, defende Gregori.
Segundo o ex-secretário de transportes, discutir se o reajuste das tarifas foi justo ou injusto não resolve o problema, porque revela a aceitação do modelo de transporte como um negócio.
Gregori defende que o transporte seja custeado pelo poder público como os demais direitos básicos. Segundo ele, a solução passa pelo seguinte pensamento: a tarifa, num primeiro momento, deve ser subdidiada no máximo percentual possível e, a longo prazo, no seu valor total.
Hoje o subsídio existe em muitas cidades e, mesmo assim, as tarifas continuam a ser cobradas e reajustadas regularmente.
Na cidade de São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) além de anunciar um reajuste de 11,11% nas tarifas dos ônibus municipais, que passou a vigorar no dia 5 de janeiro, disse também que o subsídio para o setor deve ficar em torno de R$ 600 milhões. No entanto, no orçamento municipal de 2011, os vereadores governistas autorizaram o Executivo a usar até R$ 743 milhões para bancar as despesas referentes às compensações tarifárias.
Mobilização
Gregori defende que a discussão que deve ser feita pela sociedade não é sobre se é justo ou não o aumento da tarifa. Segundo ele, deve-se discutir a questão da mobilidade urbana no país como um todo e o entendimento que se deve ter em relação ao transporte coletivo. “Enquanto o transporte coletivo for entendido como negócio e não como um direito, essa discussão, se a tarifa é justa ou não, não acabará nunca”, lamenta.
Além disso, o engenheiro aponta como forma de mobilização os protestos de rua, mas explica que a opção em se aplicar os reajustes nessa época do ano, em que grande parte da população está em período de férias, tem um caráter político, justamente porque espera-se pela desmobilização de setores importantes para a luta contra o aumento das passagens, como os estudantes. “A sociedade está mais desmobilizada, é o momento oportuno”, conta.
Desde que foram anunciados os aumentos nas tarifas dos ônibus protestos têm sido realizados em algumas cidades e espera-se que eles ganhem mais força com a volta às aulas, no próximo mês.
Em São Paulo (SP), na última quinta-feira (13), a polícia militar reprimiu duramente uma manifestação realizada pelo Movimento Passe Livre (MPL), resultando em 30 militantes detidos e 10 feridos. O mesmo ocorreu em João Pessoa (PB), onde dois estudantes acabaram feridos no confronto com a PM. Protestos também têm sido realizados em Salvador (BA), pelo movimento chamado Revolta do Buzu 2011.
Na próxima quinta-feira (20), o MPL de São Paulo realizará mais uma manifestação. O ato contra o aumento das passagens será realizado na Praça do Ciclista, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Consolação, a partir das 17 hs.
Veja na tabela abaixo como ficarão os novos valores das passagens de ônibus:
Cidades com tarifas já reajustadas:
Soma da população afetada: 47. 755 milhões de pessoas, seguindo os dados do IBGE.
CIDADES | Tarifa antiga | Novo valor | Data do reajuste |
BAHIA | |||
Salvador | R$ 2,30 | R$ 2,50 | 02/01/11 |
ESPÍRITO SANTO | |||
Vitória | R$ 2,15 | R$ 2,30 | 03/01/11 |
MINAS GERAIS | |||
Belo Horizonte (tarifa predominante) | R$ 2,30 | R$ 2,45 | 29/12/10 |
Poços de Caldas | R$ 2,00 | R$ 2,30 | 15/12/10 |
PARAÍBA | |||
João Pessoa | R$ 1,90 | R$ 2,10 | 03/01/11 |
PERNAMBUCO | |||
Recife (tarifa predominante) | R$ 1,85 | R$ 2,00 | 09/01/11 |
RIO DE JANEIRO | |||
Rio de Janeiro (ônibus intermunicipais) | R$ 2,35 | R$ 2,50 | 02/01/11 |
RIO GRANDE DO SUL | |||
Pelotas | R$ 2,20 | R$ 2,35 | 12/12/10 |
Ijuí | R$ 1,90 | R$ 2,10 | 09/01/11 |
Santa Maria | R$ 2,00 | R$ 2,20 | 26/10/10 |
SANTA CATARINA | |||
Joinville | R$ 2,30 | R$ 2,55 (compra antecipada) | 05/01/11 |
R$ 2,70 | R$ 2,90 (compra embarcada) | 05/01/11 | |
SÃO PAULO | |||
Campinas | R$ 2,60 | R$ 2,85 | 16/01/11 |
São Paulo | R$ 2,70 | R$ 3,00 | 05/01/11 |
Guarulhos | R$ 2,65 | R$ 2,90 | 05/01/11 |
Santo André | R$ 2,65 | R$ 2,90 | 03/01/11 |
São Caetano | R$ 2,30 | R$ 2,75 | 01/01/11 |
Diadema Osasco | R$ 2,50 R$ 2,70 | R$ 2,80 R$ 3,00 | 01/01/11 05/01/11 |
Cidades com previsão de reajuste
Soma da população afetada: 8.912 milhões de pessoas, seguindo os dados do IBGE.
CIDADES | Tarifa antiga | Novo valor |
AMAZONAS | ||
Manaus | R$ 2,25 | A definir |
PARANÁ | ||
Curitiba | R$ 2,20 | A definir |
RIO GRANDE DO NORTE | ||
Natal | R$ 2,00 | R$ 2,30 |
RONDÔNIA | ||
Porto Velho | R$ 2,30 | R$ 2,60 |
SANTA CATARINA | ||
Florianópolis | R$ 2,20 (cartão) | R$ 2,52 (cartão) |
R$ 2,95 (dinheiro) | R$ 3,12 (dinheiro) | |
SERGIPE | ||
Aracaju | R$ 2,10 | R$ 2,45 |
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