quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

O fim do Cine Belas Artes

Exemplo da sofisticação intelectual da classe média paulistana 

A falência dessa cidade não é apenas econômica e moral, é também intelectual. A classe média paulistana só quer saber de ir aquelas salas ultramodernas de cinema, portando baldes de pipoca e coca-colas de 2 litros. E o querem assistir? Alguma sequência da interminável série Harry Potter, algum desenho holywoodiano 3D, ou algum produto da Globofilmes, e afins. Isso quando não estão se mijando de rir com o humor fascista conhecido por Stand-up Comedy. Lixo, é disso que a classe média paulistana gosta! Querem consumir (é essa a palavra) algo que combine com seu intelecto, ou seja, enlatados made in EUA, ou Rede Globo. É o que sobrou de cultura nessa cidade. Quem possui bom gosto que se foda, está cada vez mais difícil encontrar espaços de cultura alternativa e sofisticada por aqui, e os que existem, estão fechando as portas, pois não proporcionam lucro aos capitalistas. Sim, estou puto, sempre frequentei o Cine Belas Artes, é um dos meus cinemas favoritos, vi filmes que marcaram minha vida nessa sala. 

O que progride nessa cidade além da conta bancária dos tucanos?   


Tradicional cinema paulistano, Cine Belas Artes fecha as portas no dia 27 

Famoso cinema de rua encerra as atividades depois de 68 anos. A partir do dia 14, local irá exibir duas retrospectivas de filmes clássicos.

'Medos privados em lugares públicos' está em cartaz há 3 anos e meio'Medos privados em lugares públicos' está em
cartaz há 3 anos e meio (Foto: Divulgação)
O Cine Belas Artes, um dos cinemas de rua mais tradicionais de São Paulo, irá encerrar as suas atividades em 27 de janeiro. A informação foi confirmada pela sua assessoria de imprensa nesta quinta-feira (6). O local deve virar uma loja.
Localizado na esquina da Rua da Consolação com a Avenida Paulista, o Cine Belas Artes funciona no mesmo local desde 1943, quando então era chamado de Cine Ritz.

O cinema é famoso por exibir filmes do circuito alternativo. Alguns estão há mais de um ano em cartaz, caso de "Medos privados em lugares públicos", que tem sessões diárias desde 13 de julho de 2007.
No final de março de 2010, o banco HSBC anunciou que deixaria de patrocinar o cinema. Desde então, seu proprietário André Sturm passou a procurar parcerias que mantivessem o local aberto. Em julho, em uma ação batizada de "Salve o Belas Artes", 16 restaurantes da cidade davam um ingresso - e uma sobremesa - aos consumidores que doassem R$ 5.
Segundo a assessoria de imprensa, Sturm tem a proposta de abrir um novo cinema com a mesma proposta do Belas Artes. Inclusive mantendo o Noitão, uma sessão mensal durante a madrugada em que o público assiste à três filmes na sequência, sendo o último surpresa.
A partir de 14 de janeiro, o Belas Artes irá exibir duas retrospectivas especiais: uma com grandes clássicos do cinema e outra dedicada a filmes marcantes que passaram pelo local. Serão exibidos dois longas por dia - sempre às 18h30 (clássicos) e às 21h (marcantes). No mesmo dia será realizada o último Noitão.
Para esta semana, o cinema irá tirar de cartaz os filmes "Dois irmãos", "O bom coração" e "A rede social". Estreiam "Além da vida", "Dieta mediterrânea" e "A árvore". Eles serão exibidos até o último dia do Cine Belas Artes, assim como "Medos privados em lugares públicos".

4 comentários:

  1. E assim São Paulo vai se tornando cada vez mais árida culturalmente. Vão-se os cinemas de rua, os espetáculos populares, o chamado circuito alternativo. Fica a massificação progressiva e cada mais acelerada da população. Assisti filmes ótimos no BA e sempre tinha gente antenada, que gostava de verdade de cinema e cultura em geral, que não era metida nem achava que bacana mesmo era Miami.
    Resta, agora, o Espaço Unibanco, na Augusta, como alternativa para filmes menos comerciais. Não tenho nada contra filmes comerciais - eles fazem parte do meu cardápio de vez em quando, pois é preciso um pouco de escapismo de vez em quando - mas era muito bom contar com as alternativas inteligentes que o BA oferecia, e também com seu público.
    Lembro bem das décadas de 80/90, quando ia ao Elétrico Cineclube, ao Cineclube Bijou (ia 5 vezes por semana ali, porque minha afiliação era a mais barata e não dava direito a ingresso no fim de semana), os cinemas classudos e decadentes da Ipiranga, o Comodoro na São João, e, fora da esfera cinematográfica, Lira Paulistana, grupo Rumo, Quinteto Violado na Sala Guiomar Novaes (no Centrão!) - São Paulo era a coisa mais interessante da vida cultural plural daquela época. Hoje os "multiplexos" da vida não oferecem muitas alternativas, o cardápio se restringiu, a massificação generalizante se instalou e uma quantidade assustadoramente enorme de pessoas fica com cara de patzo com óculos 3D diante da mais nova megalomania roliudiana na linha de - argh - "Avatar" e companhia.
    Posso soar ingênuo, mas apesar dos avanços bacanas que pudemos assistir nos últimos 20 anos em tecnologia e produção de conteúdo em diferentes mídias, parece que cada vez mais esses recursos se tornam borrões indiferenciáveis do plano de fundo banalizante e mediocrizante com o qual a sociedade dita formadora de opinião na vida cultural de nossa revestiu a nossa cidade.
    Desculpe a digressão. E choremos a morte de mais um cinema.
    Abs

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  2. Excelente comentário Flávio, muito boa sua menção sobre outros espaços culturais paulistanos, também extintos. A falência intelectual de nossa cidade abrange todas as áreas, cinemas, teatros, bares, galerias, quando não fecham, destroem a essência, mercantilizam, como é o caso da galeria do rock. É lamentável...
    abs!

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  3. Estou realmente chateado, foi no Ba que começei um anmoro que virou casamento, um lugar simbólico para mim, agora vai ficar somente na minha lembrança...

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  4. É realmente triste Coyot, frequentei muito o BA com minha namorada, temos boas recordações desse espaço, agora, ficará na poeira da memória. Em todo caso, bastaria um esforço mínimo por parte da prefeitura ou do do governo do estado para salvar nosso cinema, mas com esses vermes que nos governam, aqui em São Paulo, o que resta é lamentar.
    Abs!

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