quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

México 2009: Um ano para esquecer





Já passou da hora do México entrar na onda popular-democrática que vem varrendo a América Latina, para horror das elites brancas continentais. Há que se recuperar toda tradição revolucionária de um país que já foi vanguarda nas Américas.
Viva Zapata!
Viva Villa!
Viva México cabrones!



Foi um ano negro. De terror, violência e recessão. E por se fosse pouco, sob a pressão dos Estados Unidos, cuja comunidade de inteligência identificou o México como um Estado frustrado.

Ademais, o país foi o dramático epicentro da influenza A/H1N1, que chegou acompanhada do vírus do medo e a incerteza.

Ao que se somou uma eleição intermediária salpicada por uma guerra de lodo e terrorismo midiático, com saldo final negativo para a Partido Ação Nacional (PAN), o do presidente Felipe Calderón.

No ano começou com um bombardeio constante dos responsáveis por diferentes agências de inteligência dos Estados Unidos, entre elas a do Pentágono e a CIA, que emitiram mensagens alarmistas sobre a violência criminosa no México.

Uma violência que estaria colocando ao país à beira do "caos", e que em curto prazo o localizariam como um Estado frustrado, e, como tal, susceptível de uma intervenção militar "humanitária" dos Estados Unidos, como na ex-Iugoslávia.

Para remediar o mau, a receita preventiva foi estendida pelo almirante Michael G. Mullen, chefe do Estado Maior Conjunto dos Estados Unidos: México deveria seguir o exemplo da Colômbia.

Assim surgiu a Iniciativa Mérida como símil do Plano Colômbia que converteu a esse país em uma plataforma militarizada do Pentágono no coração da América Latina.

Nesse contexto aconteceram vários encontros formais entre Barack Obama e Felipe Calderón, um em janeiro e outro em abril, que não arrojaram nenhum acordo visível nem anúncio espetacular.

A metade de ano, a chancelaria mexicana estendeu o beneplácito para que Carlos Pascual, especialista em Estados frustrados, situações de crise e golpes suaves, se desempenhasse como embaixador dos Estados Unidos no México. Como disse então a ex-chanceler Rosario Green, "o mensageiro é a mensagem".

Ao vínculo bilateral com Estados Unidos, fator determinante dada a estrutural dependência econômica, comercial e financeira do México de seu assimétrico vizinho, se somaria a começos de ano um anúncio agoureiro, que proviu do mega-milionário Carlos Slim Helú.

O presidente do Grupo Carso, que tem como navios insígnias a Telefones do México e América Móvel, disse que sem ser "catastrofista", o pior em matéria econômica estava por chegar.

Afirmou que se cairia o produto bruto interno (PIB), teria quebra de empresas grandes, médias e pequenas, fechariam comércios e aumentaria o desemprego como não se tinha visto no país desde a crise do 29.

Para baixar a "mortandade" de empresas, recomendou virar à economia interna. E em referência implícita às políticas neoliberais do chamado Consenso de Washington, disse que após 26 anos lhe chamava a atenção que no México se seguisse com os "dogmas".

Aos "males" anteriores se somaria, em abril, o "flu" mexicano, rebatizado por razões políticas como vírus A/H1N1, que durante duas semanas sumiu ao país em uma demagogia atemorizante e de saturação, que incluiu a manipulação de cifras, o engano e a distorção informativa.

Recessão mediante, os avisos premonitórios de Slim teriam verificação em novembro seguinte, quando a Cepal, a OCDE e o Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, fortaleceriam suas críticas ante os saldos percentuais da crise e seu mau manejo pelo governo.

Comparado com países de desenvolvimento similar, como Brasil e Austrália, México reagiu de maneira tardia e debilmente, disse Stiglitz, e advertiu que os aumentos aos impostos ao valor agregado (IVA) e sobre a renda (ISR), que entrarão em vigor em 2010, terão um "efeito muito negativo" na economia mexicana.

A sua vez, dados da OCDE e a Cepal indicaram que o desemprego no México se prolongará até meados 2010, que a taxa de desocupação nesse então será de 6.5%, "mais elevado que antes da crise", e que dos nove milhões de novos pobres na região, mais da metade são mexicanos. Mas também se romperam marcas em matéria de violência. O índice de executados unidos às atividades da economia criminosa atingiu um novo recorde em julho, com 4.300 nos primeiros sete meses do ano (sete mil a começos de dezembro), e mais de 16 mil nos três anos de gerenciamento da atual administração.

Segundo um relatório da Secretaria da Defesa Nacional, a "guerra" ao narco abarca já a 17 das 32 entidades federativas. E o pior é que isto recém começa.


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