Hélio Bicudo declara apoio ao delegado Fleury

Hélio Bicudo se aproxima daqueles que sempre combateu

Hélio Bicudo foi o único brasileiro a desafiar o delegado Sérgio Paranhos Fleury e sobreviver. Foi uma das únicas vozes a condenar a brutal repressão da Ditadura imposta a seus adversários. No arrefecer do regime militar, ajudou a fundar o PT. Destacou-se como um dos maiores defensores dos Direitos Humanos no Brasil. Pois bem, Hélio Bicudo, assim como muitos hoje em dia, mudou de lado. Declarou seu voto a Serra, e justifica: 

(...) o continuísmo do PT no poder não é democrático" e a "alternância de poder é uma característica da democracia”.

"Se nós deixarmos que a candidata Dilma vença, essas eleições, nós vamos ter aqui no Brasil um sistema mexicano" (...)"

O jurista defende sua escolha baseado num conceito abstrato de democracia, fala em alternância, como isso por si só justificasse o voto no PSDB. Se fosse Paulo Maluf o candidato, Hélio Bicudo agiria da mesma forma? Não se trata de uma questão de alternância partidária, e sim de dois projetos distintos de país. Ou prosseguimos no caminho da completa emancipação política, com crescimento, distribuição de renda, e presença internacional; ou retornamos a condição de semi-colônia, ao modelo neoliberal excludente dos anos 90. Hélio Bicudo sabe disso, tem discernimento suficiente para não se deixar envolver pelo terrorismo religioso. Se  sabe, por que tomou essa posição?

O eminente jurista tem conhecimento da frente de extrema-direita que se formou em torno da candidatura tucana?

Sabe que grupos que deram suporte a repressão, tomando parte pessoalmente na perseguição, captura, tortura e aniquilamento dos opositores a Ditadura, e dos deserdados do sistema, estão comprometidos até a alma com a candidatura de José Serra?

Fala em democracia, acaso não tem conhecimento sobre o modos operandi de José Serra? Sua prática totalitária com relação a imprensa? A forma como dialoga com os movimentos sociais (no base do cassetete); a maneira como passa por cima inclusive de membros de seu próprio partido?

Concorda com a forma torpe de campanha levada a cabo pelos apoiadores de José Serra, a maneira sórdida com a qual exploram politicamente a fé alheia? Concorda com a onda de boatos e baixarias contra a candidata do PT?

Não lhe constrange saber que o grosso do eleitorado tucano é composto por pessoas que afirmam que os Direitos Humanos consistem na defesa de bandidos, ou de "vagabundos", como costuma relinchar a classe média paulistana?

Não teme o Brasil que pode surgir com um governo apoiado pela extrema-direita, composta por radicais com sede de sangue, ansiosos em ir para cima da esquerda e de todos os movimentos sociais?

Hélio Bicudo não se sente incomodado pelo clima guerra santa construído pelos signatários do PSDB, resgatando fantasmas do passado e estimulando o ódio político-religioso?

Para completar, quero fazer uma pergunta de ordem pessoal ao respeitado jurista: se o delegado Fleury estivesse vivo, em que o senhor acha que ele votaria nas eleições de 31 de outubro?