domingo, 8 de novembro de 2009

Aurora Furtado, presente!





Aurora Furtado nasceu em 13 de junho de 1946, em São Paulo-SP, filha de Mauro Albuquerque Furtado e Maria Lady Nascimento Furtado. Estudante de Psicologia na Universidade de São Paulo, era a responsável pela imprensa da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, com ativa militância no movimento estudantil dos anos 1967/68. O trecho abaixo foi retirado do livro Em Câmara Lenta, de Renato Tapajós, narra os últimos e heróicos momentos de Aurora, guerrilheira da ALN (Ação Libertadora Nacional), organização fundada por Carlos Marighella.


(...) Evitando as ruas mais movimentadas, procurou uma que desse diretamente na avenida. Quando já estava quase na metade, ele percebeu que a rua estava bloqueada por uma batida policial. Olhou para os lados e percebeu que não havia por onde escapar: atrás, outros caros já paravam, cortando a possibilidade de manobrar e fugir pela contramão. Parou o carro lentamente. Ela, a seu lado, mantinha a fisionomia calma, quase confiante. Um policial aproximou-se lentamente. Estavam em ordem. Com os documentos na mão, o policial deu a volta no carro, olhou pela janela onde ela estava, examinando o interior do carro para ver se havia algo de suspeito. Ela sorriu timidamente, como que acanhada com o exame. No banco traseiro, um outro companheiro segurava uma maleta escura; o policial pediu para ver o que tinha na maleta e na maleta tinha uma metralhadora; ela se voltou para trás. Sua mão descreveu um longo arco em direção ao banco traseiro, mas interrompeu o gesto e desceu suavemente na abertura da bolsa, escondida entre os dois bancos da frente, pouco atrás do freio de mão. E num movimento único, corpo, rosto, e braço giraram novamente, o cabelo curto sublinhando o levantar da cabeça, os olhos, agora duros, apanhando de relance a imagem do policial que bloqueava a porta. O revólver disparou, clarão e estampido rompendo o silêncio. O policial, atingido na testa, foi lançado para trás, rolando no chão. As portas do carro se abriram simultaneamente e os três saltaram, disparando suas armas e correndo cada um para um lado, por entre os carros parados no bloqueio que ocupavam toda a rua. Ela atirou outra vez e outro policial que levantava uma metralhadora, caiu. Ela correu por entre os carros e quase todos os policias foram atrás dela, atirando sempre. Ela saiu da área do bloqueio, correndo pela margem de um barranco, enquanto ele, dobrando uma esquina em outra direção, conseguia escapar. Ela corria e atirava para trás, o vento batendo e seus cabelos. A carga do revólver se esgotou e ela continuou em sua corrida. Os policias pararam de atirar e um deles conseguiu alcançá-la, segurado-a pelo braço. Ela se voltou e bateu com a coronha do revólver na cabeça do policial. Este lançou-se sobre ela e ambos rolaram pelo barranco. Ao chegarem embaixo, ela se levantou, tentando livrar-se do policial com um pontapé em seu estômago. No entanto ele agarrou sua perna e enquanto ela procurava não perder o equilíbrio, outros policiais chegaram. Cercaram-na e caíram sobre ela, acertado socos em seu rosto, pontapés em suas costas, tentando segurá-la. Ela se debateu com violência , mas uma forte coronhada em sua nuca a fez tontear." (pp. 143-144)

A sanha assassina dos verdugos da burguesa nacional foi brutal contra Aurora.

Foi presa em 9 de novembro de 1972, na Parada de Lucas, Rio de Janeiro, em batida policial realizada por uma patrulha do 2º Setor de Vigilância Norte, após rápido tiroteio, em que morreu um policial.

Após correr alguns metros e se esconder em vários lugares, Aurora foi aprisionada, viva, dentro de um ônibus onde havia se refugiado momentos antes.

Foi torturada desde o momento de sua prisão, inclusive na presença de vários populares que se aglomeravam ao redor da cena. Aurora foi conduzida para a Invernada de Olaria. Lá, foi torturada nas mãos dos policiais do DOI/CODI e integrantes do famigerado “Esquadrão da Morte”.

Aurora viveu os mais terríveis momentos nas mãos daqueles carrascos, que além dos já tradicionais pau-de-arara, sessão de choques elétricos, somados a espancamentos, afogamentos, queimaduras, aplicaram-lhe a “coroa de cristo”, ou “torniquete”, que é uma fita de aço que vai gradativamente sendo apertada, esmagando aos poucos o crânio.

No dia 10 de novembro, Aurora morreu em conseqüência dessas torturas. Seu corpo chegou ao IML/RJ como ‘desconhecida’, pela Guia n° 43 da 26ª D.P.

Após prendê-la e torturá-la, jogaram seu corpo crivado de balas na esquina das Ruas Adriano com Magalhães Couto, no Bairro do Méier (RJ). A versão oficial divulgada pelos órgãos de segurança era de que a morte de Aurora seria conseqüência de uma tentativa de fuga, quando era transportada na rádio-patrulha que a prendera. Ao tentar fugir, Aurora teria sido baleada e morta.



Aurora morreu lutando, não se curvou aos gorilas, demonstrou uma coragem fora do comum em sua hora fatal. Não obstante, era uma menina doce e meiga, uma idealista que amava a humanidade, e por esta estava disposta a sacrificar sua própria vida. E assim o fez. Aurora Furtado é exemplo de coragem e bravura, representa a força da mulher brasileira.


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