Alguém ouviu falar desse documentário? É mais uma tentativa da elite branca e autoritária brasileira de recontar a nossa História. Vi apenas o trailer, mas já dá para se ter uma idéia do que se trata. Nele vemos figurinhas carimbadas, como Marco Antonio Villa, o historiador da Folha que nunca leu Marc Bloch, Demétrio Magnoli, o “especialista em tudo” do PIG (pela lógica tudo é nada) e aquele que se tornou o paraninfo da direita brasileira, FHC. O objetivo do documentário é claramente igualar guerrilheiros e Ditadura, mostrando que aqueles que resistiram aos golpistas pelas armas tiveram o castigo merecido, por serem um bando de terroristas. Mais uma vez é trazido a tona o caso de Orlando Lovecchio, um inocente útil usado como um joguete pelas viúvas da Ditadura. Não podemos resumir toda a ação guerrilheira dos anos de chumbo ao caso deste brasileiro vitimado por um atentado a bomba, claro que houve equívocos por parte das organizações armadas, mas querer compará-los aos golpistas é um ato vergonhoso, imoral.
O fato é que a batalha sobre a memória do período militar foi ganha pela esquerda, a própria designação Ditadura dá prova disso, e ninguém hoje em dia, em sã consciência, tem coragem de vir as claras defender o Golpe, a não ser meia dúzia de sites e blogs alucinados de extrema direita.
O período ditatorial brasileiro foi a época mais nefasta de nossa História, representou um retrocesso em termos sociais, foi uma tragédia para classe trabalhadora, condenou milhares de cidadãos a miséria e a exclusão, deu vida nova ao perene autoritarismo latente em nossa sociedade, multiplicou a prática do mandonismo. Destruiu uma série de direitos trabalhistas que haviam sido conquistados através de muita luta, vulgarizou as relações de classe no país, ampliou o fosso social traçando o panorama atual de nossas capitais, onde luxo e miséria convivem lado a lado. Desenvolveu um modelo de segurança pública selvagem, posto em prática por um sistema policial assassino, que a partir da Ditadura recebeu carta branca para barbarizar populações carentes de norte a sul do país, e assim o faz até os dias de hoje. É difícil numerar a quantidade problemas que temos em nossa sociedade, atualmente, que foram criados ou reforçados no período ditatorial.
Este documentário, produzido e dirigido por Daniel Moreno (?), concebido por uma obscura produtora, a Terranova Filmes, com financiamento desconhecido, soma-se a atual estratégia da direita brasileira de condenar todo e qualquer movimento social, a uma estratégia que visa dar sobrevida a um tipo de pensamento reacionário que aparentemente havia sido sepultado após 1988. Relativizar a Ditadura é tentar nos mostrar que aquele tempo não foi tão ruim quanto dizem, igualar repressão e resistência é fazer crer que toda violência praticada pelo Estado brasileiro nos anos de chumbo foi necessária, desqualificar a esquerda de quarenta anos atrás é desqualificar a esquerda dos dias de hoje. Não é preciso grande esforço para estender o que esta corja pretende com isto.
Em nota: se alguém souber mais informações sobre esse documentário é só comentar.
É a lógica do novo milênio. Desviar o pensamento daquilo que realmente seja o poder constituído para então poder desqualificar quem quer que seja que se manifeste contra o tal poder. Passam por cima da história e dos fatos históricos sem mais nem menos. E como boa elite que são, tentam roubar até a memória popular. Aliás, como fazem pelo menos há uns quinhentos anos...
ResponderExcluirPutz, lendo de novo e refletindo um pouco mais é que eu vi...
ResponderExcluirOnde tá quinhentos anos leia-se no mínimo três mil.
Acho perigoso colocar o problema nestes termos, se achar-mos que a coisa começou a milênios vamos concluir que o mundo sempre foi assim e não há o que fazer, nossos problemas são bem situados no tempo e podem e devem ser combatidos, o ser humano não nasce ruim, é corrompido pela sociedade.
ResponderExcluirUm abraço!
Opa! Sim, sem dúvida nenhuma que é perigoso imaginar-se que a inércia pode ser proveitosa. O negócio é que as formas de dominação evoluem junto com o tempo, e achar cada uma delas no nosso cotidiano é treta brava.
ResponderExcluirUm quê de idealismo, um pouco de filosofia e um tanto de história (algo do primeiro ano deve ter entrado na minha cabeça enquanto eu dormia no fundo da sala...) formam uma bela base pra gente poder entender alguma coisa nessa salada institucional chamada estado ocidental contemporâneo. Não lutar abertamente não significa conformar-se com a situação temporal propiciada pela sociedade. Na humilde, acho que o que a gente tá fazendo com nossos blogues já é bastante.
Saludos señor Casco!
Professor de História
ResponderExcluirCaramba quem seria capaz de fazer um documentário como esse? Só pessoas que não tem nenhum conhecimento de história, acho perigoso esse tipo de mensagem porque tenta apagar a História e o que realmente aconteceu, e isso é perigoso, na Alemanha tem até hoje as fabricas de mortes intactas e no Brasil ninguém está nem aí...