segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

No Chile, plataforma coletiva de vídeos mantém acesos protestos estudantis. Cineastas reconhecidos ou não podem difundir produções sobre a educação


Cidadãos apáticos e gerações perdidas são expressões que costumam fazer parte de discursos sobre os jovens que vieram ao mundo depois daqueles que saíram às ruas lá pelos anos 60 e 70. Mas a generalização, por sorte, não serve para descrever os protagonistas das manifestações estudantis que marcaram o ano de 2011 – e cujos desdobramentos são nossa realidade ainda hoje, já que a luta está longe de acabar.

Manifestações estudantis, como esta, em Parque Almagro, Santiago, protagonizaram o ano de 2011 no Chile

No Chile, que esteve no centro desse processo, e em países que se inspiraram no seu exemplo, como a Colômbia, as tais manifestações aconteceram com altas doses de criatividade: desfilou-se, fez-se arte na rua, buscou-se referências do passado que continuam vigentes para pensar um melhor futuro. Agora, começamos a assistir ao caminho inverso: a arte anda inspirando a causa.

Um exemplo dessa tendência é o projeto online CinEducación, lançado no fim do ano passado e ainda vigente. Através dele, cineastas reconhecidos ou cidadãos com câmeras na mão podem difundir vídeos de um a quatro minutos contendo sua visão sobre a educação, as manifestações, as repressões que elas desencadeiam etc. E não só do Chile: o convite é extensivo ao mundo inteiro, como fica claro no site, onde fica disponível todo o material enviado.


Uma das produções, chamado "Resumo dos Movimentos Estudantis no Chile":


A plataforma defende os mesmos motivos da luta estudantil: garantir educação de qualidade e gratuita para todos e invalidar os modelos governamentais latino-americanos que veem a educação como um bem de consumo e não um direito humano fundamental.

De volta a 1968

Entre os realizadores engajados no projeto está Chris Maker, hoje com 90 anos. Junto com Godard, Resnais e Garrell, Maker fez parte do combo de cineastas franceses que se mobilizou para expressar sua visão sobre o Maio de 68, lançando na época o “Cinétracts”. Entre essa iniciativa e a chilena, as diferenças são duas básicas: no primeiro caso, não participava quem não era do Cinema e, além disso, os filmes naquela época não viajavam tanto, sem o apoio da internet com suas redes sociais. Agora, o público está no centro do processo.

Também se mobilizaram, enviando seus vídeos e divulgando o projeto, alguns cineastas latino-americanos de renome, como Patricio Guzmán, Gael García Bernal, Pablo Larraín, Ignacio Agüero, Willem Dafoe e Cristián Jiménez. Do Brasil, a artista Verônica Cordeiro se uniu à empreitada.

Longa vida

Segundo os responsáveis pela plataforma, organizada pelo OVERLAP (Laboratório de Antropologia Audiovisual) com distintos apoios e patrocínios, o plano é converter alguns dos vídeos recebidos (os selecionados) em um longa-metragem documental que será lançado em 2012 em festivais, salas de cinema e em DVD.

Quem sabe assim, com esforços de debate amplo e coletivo, o nome Cineducación só faça sentido para a soma de Cine e Educación– e não nos recorde uma histórica condição de “cineducación”. 



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