domingo, 19 de julho de 2009

41 anos da grande Greve de Osasco de julho de 1968






Ano passado se completou 40 anos de Greve de Osasco de 1968. A greve teve início em 16 de julho, durou cerca de cinco dias e terminou com a ocupação militar do município e intervenção no sindicato dos metalúrgicos local. Infelizmente as comemorações de 40 anos da greve, no ano passado, foram tímidas, dada a importância histórica do evento. As comemorações terminaram restritas a uma festa no sindicato dos metalúrgicos da cidade e a produção de um documentário praticamente artesanal. A cidade merecia mais, a memória do movimento operário local merecia mais.

Para se entender como foi organizada a greve é necessário conhecer o Grupo de Osasco, grupo formado por estudantes, operários e estudantes-operários. Estes jovens faziam oposição ao PCB, já adentraram a esquerda, ao menos a maioria, distantes das teses do partidão. Tais militantes estavam antenados a Revolução Cubana, as obras de Che Guevara e Regis Debray, e defendiam a derrubada da Ditadura através da luta, seja ela armada ou não. Até o AI-5, em 13 de dezembro 68, o Grupo de Osasco já dominava o CEO (Círculo Estudantil de Osasco), o Sindicato dos Metalúrgicos local, possuíam três vereadores aliados, estavam num adiantado movimento de criação de Associações de Bairro, além de estarem se expandindo para cidades vizinhas e para a zona oeste de São Paulo. O Grupo ministrava cursos de marxismo, teoria revolucionária e História do Brasil para trabalhadores, estudantes e donas de casa. Após o AI-5 as lideranças do Grupo de Osasco passaram a viver na clandestinidade, sendo que a maioria iria se engajar na VRP (Vanguarda Popular Revolucionária).

Segue abaixo algumas informações sobre a Greve de Osasco de julho de 68.

" (...) o grande feito organizado pela esquerda militante de Osasco foi a greve de julho. Essa greve veio se juntar aos grandes atos de repúdio a ditadura que desde março sacudiam o país. A começar pela grande greve de Contagem, paro relativamente bem sucedido; mais passeatas estudantis, ocupações de universidades, início das ações de guerrilha urbana; efervescência cultural, insubordinação política no congresso. Some-se a isso o maio francês; demais levantes estudantis na Europa, no México, no Japão, nos EUA. O início da ofensiva dos vietnamitas, acompanhada do aumento da contestação popular contra a guerra do Vietnã nos EUA, país que também assistia ao encrudecimento das lutas pelos direitos civis dos negros. Não esquecendo a movimentação revolucionária latino-americana pós Olas (Organização Latino-Americana de Solidariedade), formada em Havana um ano antes, com o objetivo de fomentar lutas revolucionárias no continente. Além da comoção pela recente morte de Che Guevara. Havia um clima revolucionário no ar que contagiava a juventude em âmbito internacional, e Osasco não esteve imune a essa vaga.

Pois bem, o sucesso do protesto do 1º de maio, somado ao clima de contestação corrente, ajudou na precipitação da greve local, que deveria ser deflagrada em novembro, época do dissídio coletivo. O aumento da insatisfação das bases levou a direção do sindicato dos metalúrgicos, articulados com as comissões de fábrica, a preparar a greve para 16 de julho. O plano era deflagrar a greve na Cobrasma, desta empresa o movimento se alastraria às demais fábricas de Osasco, espalhando-se por São Paulo e baixada santista, ultrapassando as fronteiras do Estado e se espraiando por todo o país. Essa greve era de caráter insurrecional, o objetivo último era o fim da ditadura, as reivindicações imediatas eram: aumento salarial de 35%, aumento de três em três meses de acordo com a elevação do custo de vida, contrato coletivo de trabalho por dois anos e reivindicações específicas de cada fábrica [1]. A greve se deu com ocupação de fábrica e detenção de diretores, mais de dois mil operários ocuparam a Cobrasma. Além desta também pararam a Braseixos, a Lonaflex, Barreto-Keller e Fósforo Granada. Contudo, ao contrário do que acontecera em Contagem, houve pouco espaço para negociação, a greve na Cobrasma durou apenas um dia, terminando com uma violenta invasão policial, com centenas de prisões. No dia seguinte algumas empresas tentaram aderir ao movimento, mas a violência da repressão aos operários da Cobrasma arrefeceu os ânimos. O Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco também foi invadido, e os operários que se encontravam reunidos na sede foram espancados e presos. O movimento durou cerca de cinco dias. Após a greve a diretoria do sindicato local foi destituída e ocupada por interventores, o movimento operário osasquense não voltaria mais ao modelo de organização e militância do biênio 1967-68".



[1] “Manifesto de balanço da greve de julho” ( José Ibrahim e José Campos Barreto) . In: A esquerda e o movimento operário – 1964-1984. p. 187


Um comentário:

  1. É Cappa...é preciso que resgatemos a memória e história daqueles que resistiram e lutaram por nós! Estào tentando sepultá-los na História, mas o historiador sabe ser rancoroso e fiel, e assim, mantemos viva a hitória de todos nós!
    Beijo!

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