segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Salve Sabotagem, herói do rap nacional


Brasil de Fato

O legado de Sabotage, a saudade de Maurinho

No dia 24 de janeiro de 2003 o maestro do Canão, referência à favela em que morava, deixava nosso mundo. Ele seria, no dia seguinte, a atração surpresa em uma das atividades do Fórum Social Mundial, onde nascia o jornal Brasil de Fato


   
   O rapper paulistano Mauro Mateus dos Santos, o Sabotage. Foto: 13 Produções
Na altura do número 3.100 da Avenida Água Espraiada, no Brooklin, zona sul de São Paulo, uma porta de madeira é o elo entre a imagem projetada pelo poeta e a realidade. Ali, na apertada, acanhada, acolhedora e mística favela do Canão, um corredor de aproximadamente 20 metros é o que liga todas as casas e serve de passagem aos moradores. No final dele, quatro jovens balançam o corpo ao som de País da fome, um dos sucessos musicais de Mauro Mateus dos Santos, o Maurinho, ou Sabotage.
O amor de Sabotage a sua comunidade o colocou no patamar de Alberto Caeiro, pseudônimo de Fernando Pessoa. Se o rio Tejo não é mais belo que o rio que corre pela aldeia do poeta português, também não há melhor lugar que a Favela do Canão. Com a força de sua música, Sabotage fez o pequeno vilarejo onde vivem 18 famílias ser quase tão conhecido quanto a Favela da Rocinha, com seus 70 mil habitantes.
Considerado uma lenda no movimento Hip Hop, Sabotage começou a carreira em 1998, fazendo parcerias com o grupo RZO [Rapaziada da Zona Oeste]. A partir daí, com estilo próprio de cantar e criatividade nas composições, o músico disparou até chegar às telas do cinema nacional. Participou do filme O Invasor (2001), de Beto Brant, e também de Estação Carandiru (2003), de Hector Babenco.
Sabotage ganhou, no final de 2002, o Prêmio Hutus como revelação do ano e personalidade do movimento Hip Hop. No entanto, a ascensão meteórica foi interrompida por quatro disparos à queima-roupa há dez anos. “Eu lembro até hoje o que o repórter falou na televisão: ‘Mauro Mateus dos Santos, conhecido como Sabotage, foi assassinado hoje por volta das seis da manhã’, lembra Wanderson Rocha, o Sabotinha, de 20 anos, filho mais velho do cantor.

   
Wanderson Rocha (Sabotinha) e Tamires Rocha, filhos de Sabotage.
Foto: Douglas Pereira Gomes
   
A filha do meio, Tamires Rocha, embora tivesse oito anos de idade, ainda recorda com detalhes aquela manhã do dia 24 de janeiro de 2003. Ela conta que estava junto de seu irmão se arrumando para ir à escola. “Foi aí que um vizinho nosso, o Diego, bateu na porta da nossa casa e disse que minha mãe tinha ligado e que era pra gente não sair. Foi quando, na televisão, falou ‘Sabotage’. O pai do Diego desligou a TV e falou pra gente subir para o quarto. Só que a televisão do quarto estava ligada, aí ouvimos a notícia. Meu pai tinha sido baleado”, lamenta Tamires.
Na data em que sofreu o atentado, Sabotage viajaria para Porto Alegre (RS), onde, no dia seguinte, seria atração surpresa em uma das atividades do Fórum Social Mundial. Coincidência ou não, no dia 25 de janeiro, em meio aos anseios dos povos por transformações estruturais na sociedade, nascia o jornalBrasil de Fato.

Exemplo

Chamado Maestro do Canão, Sabotage colecionou afetos no lugar onde viveu. “Nossa comunidade passou a ser reconhecida depois das músicas dele. Ele falava nossa realidade”, relata Tatiane Cristina, 32, moradora do Canão e amiga do rapper desde a infância. “Ele nunca mudou o jeito dele. Sempre foi humilde”, conta Lucilene Santos Almeida, que cuida do único comércio do local, um boteco. “Eu vi ele escrevendo a música Respeito é pra quem tem. Nossa, Maurinho era foda, chega até a arrepiar”, diz emocionada Vilma Maria, 33, que diz se sentir privilegiada pelo legado que Sabotage deixou à comunidade. “As crianças hoje em dia levam como exemplo as músicas dele. A gente também mudou bastante. A gente leva o que ele deixou no coração como exemplo, e vamos passando para as nossas crianças”, diz.
Maria Dalva, viúva do rapper, faz papel dobrado na educação dos filhos. Preocupada com o futuro de Wanderson, Tamires e Larissa, ela enaltece a importância do exemplo deixado pelo marido. “Sempre tem alguém oferecendo um caminho errado, e nessas coisas de rua e de crime o pai sempre é mais ouvido do que a mãe. Então eu não sabia, muitas vezes, como resolver isso. Mas graças a Deus nunca aconteceu nada. A maior herança que ele deixou para os filhos é a imagem dele”, desabafa.

Sabota Versátil

O cabelo espetado – inspirado no rapper americano Coolie –, o flow (estilo melódico) peculiar, a paquera com o cinema e o linguajar típico da malandragem transformaram Sabotage em uma personalidade insubstituível no rap. Mas o que mais chamou atenção em seu trabalho foi a versatilidade e a capacidade de dialogar com outros ritmos musicais.
Tais qualidades são destacadas pelo documentarista Ivan Vale Ferreira, que vem trabalhando no documentário Sabotage, o maestro do Canão, que retrata a vida e carreira do rapper.
Ferreira compara a morte de Sabotage com a de renomados artistas. Para ele, Maurinho, como era conhecido entre os amigos, tinha muito a doar para a música brasileira. “Pra mim é como se ele fosse Cássia Eller, Chico Science, pessoas que morreram no auge da carreira. Essa talvez seja a maior falta que ele faz, por ter pensado muito em fazer coisas diferentes e não ter tido tempo sufi ciente para realizar. A música nacional foi quem mais perdeu”, ressalta.
O documentário, que sairá pela 13 Produções, tem previsão de ser lançado ainda neste semestre e trará depoimentos de diversos músicos e pessoas ligadas a ele. O objetivo, segundo Ferreira, é demonstrar “a importância desse artista que misturou estilos e se tornou uma lenda após sua morte."

Radioagencia NP

Uma década sem Sabotage, talento resgatado de uma “boca”


Oportunidade de gravar CD foi decisiva para que Maurinho se tornasse um dos rappers mais conhecidos do Brasil. Moradores da Favela do Canão ainda não superaram a perda, e o engrandecem como artista e como pessoa

“Chegou lá e falou pra nós que estava ‘descabelado’. Ele tava armado e com uma par de papel de droga em cima.”
A descrição parece cena de um dos inúmeros filmes brasileiros que retratam o tráfico, mas o protagonista é um personagem da vida real: Mauro Mateus dos Santos, que em pouco tempo ficaria nacionalmente conhecido como Sabotage.
Parecia impossível, mas os rappers Rappin Hood e Sandrão foram até o ponto de venda de droga (“boca”) determinados a apresentar uma alternativa ao jovem, como narra o próprio Hood.
“Nós viemos te buscar. Você tem que largar esse bagulho, tio. Você vai com nós, irmão. Aí ele perguntou: ‘você está falando sério?’ eu disse que era isso mesmo! Nós vamos fazer uma corrida pra você gravar um CD. Aí mandou chamar o patrão, que enquadrou nós ainda. ‘Você vão levar o menino, mas e se um dia ele voltar aqui? Não vou dar trabalho pra ele, não! Aí a gente falou que ele não ia voltar. E o restante da história todo mundo conhece. Sabotage virou um dos maiores ícones do rap.”
Considerado uma lenda no movimento Hip Hop, Sabotage começou a carreira em 1998, fazendo parcerias com o grupo RZO (Rapaziada da Zona Oeste). A partir daí, com estilo próprio de cantar e criatividade nas composições, o músico disparou até chegar às telas do cinema nacional. Participou do filme “O Invasor” (2001), de Beto Brant, e também de “Estação Carandiru” (2003), de Hector Babenco.
Sabotage ganhou, no final de 2002, o Prêmio Hutus como revelação do ano e personalidade do movimento Hip Hop. No entanto, a ascensão meteórica foi interrompida por quatro disparos à queima-roupa há dez anos. Wanderson Rocha, o Sabotinha, de 20 anos, filho mais velho do cantor, lembra daquele dia como se fosse hoje.
“Eu lembro até hoje o que o repórter falou na televisão: ‘Mauro Mateus dos Santos, conhecido como Sabotage, foi assassinado hoje por volta das seis da manhã.'”
Na data em que sofreu o atentado, Sabotage viajaria para Porto Alegre (RS), onde, no dia seguinte, seria atração surpresa em uma das atividades do Fórum Social Mundial. Coincidência ou não, no dia 25 de janeiro, em meio aos anseios dos povos por transformações estruturais na sociedade, nascia o jornal Brasil de Fato.

Maestro do Canão

Chamado Maestro do Canão, Sabotage colecionou afetos no lugar onde cresceu. Com a força de sua música, fez a pequena comunidade onde vivem 18 famílias ser quase tão conhecida quanto a Favela da Rocinha, com seus 70 mil habitantes.
Passados 10 anos da trágica morte, moradores da Favela do Canão ainda não superaram a perda de Maurinho. São inúmeros os relatos que o engrandecem como artista e como pessoa.
Ele era extrovertido. Gostava muito de cantar.”
Maurinho foi do nada. O sonho dele foi realizado. Quando ele fez sucesso, ficou no auge mesmo, a gente perdeu ele”
Acho que nunca mais vai ter um ídolo daquele na comunidade que nem ele não vai ter mais não. As crianças hoje em dia levam como exemplo as músicas dele. A gente também mudou bastante. A gente leva o que ele deixou no coração como exemplo, e vamos passando para as nossas crianças. Eu vi ele escrevendo ‘Respeito é pra quem tem’. Nossa, Maurinho era foda. Até arrepia.”

Versatilidade

O cabelo espetado – inspirado no rapper americano Coolie –, o flow (estilo melódico) peculiar, a paquera com o cinema e o linguajar típico da malandragem transformaram Sabotage em uma personalidade insubstituível no rap. Mas o que mais chamou atenção em seu trabalho foi a versatilidade e a capacidade de dialogar com outros ritmos musicais.
Tais qualidades são destacadas pelo documentarista Ivan Vale Ferreira, que vem trabalhando no documentário “Sabotage, o maestro do Canão”, que retrata a vida e carreira do rapper.
Ferreira compara a morte de Sabotage com a de renomados artistas. Para ele, Maurinho, como era conhecido entre os amigos, tinha muito a doar para a música brasileira.
“Pra mim é como se ele fosse Cássia Eller, Chico Science, pessoas que morreram no auge da carreira. Essa talvez seja a maior falta que ele faz, por ter pensado muito em fazer coisas diferentes e não ter tido tempo suficiente para realizar. A música nacional foi quem mais perdeu.”

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