sábado, 5 de setembro de 2009

Cinema brasileiro cresce 163% em 7 anos; público só aumenta 6,6%



Vermelho


A produção de filmes nacionais entre 2001 e 2008 aumentou 163%, mas o público desses mesmos filmes cresceu apenas 6,6%. Os cálculos, feitos a partir de dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine), mostram que o crescimento da indústria cinematográfica não é acompanhado pelo número de pagantes de ingressos.

Em 2001, foram produzidos 30 filmes nacionais. Já em 2008, o número saltou para de 79. Os dados de 2009 ainda não foram contabilizados. Desde o início do século 21, o principal salto ocorreu entre 2005 e 2006, quando, respectivamente, foram filmados 45 e 72 filmes.

O público, por outro lado, cresceu menos. Se 7.948.065 milhões de pessoas assistiram aos filmes brasileiros em 2001, 8.476.129 foram com o mesmo motivo aos cinemas em 2008. O crescimento foi de apenas 6,6 %, representando um número abaixo do melhor ano do cinema nacional no novo milênio.

O melhor ano do século para o cinema nacional, até agora, foi 2003. Mais de 22 milhões de pessoas viram as produções realizadas por estúdios brasileiros — ou seja, 2008 representa uma queda de 61% em relação ao melhor ano. Depois do pico de 2003, a curva de público caiu e estabilizou. No entanto, em 2008 configurou-se um crescimento de 159% em relação a 1995 — considerado o ano da retomada e marcado pelo filmeCarlota Joaquina, de Carla Camurati.

O sucesso de 2003 pode ser explicado pelo alto número de lançamentos de sucesso. Sete produções superaram um milhão de espectadores — Carandiru, Lisbela e o Prisioneiro, Os Normais e Maria — A Mãe do Filho de Deus, Xuxa Abracadabra, Didi — O Cupido Trapalhão e Deus É Brasileiro. Os sete longas-metragens foram produzidos pela Globo Filmes, que lidera o mercado nacional.

Desconsiderando a variação, mas apenas o ano de 2001 e 2008, é como se, hipoteticamente, cada novo filme lançado no período aumentasse o público nacional em apenas 10.785 mil pessoas. A cadeia produtiva também possui uma variação de crescimento maior no período. As distribuidoras de filmes nacionais aumentaram em 220%, e o número de salas cresceu 82,25%, quando comparamos 2001 com 2008.

Causas e efeitos

O diretor José Alvarenga Jr., que estreou Os Normais 2 há uma semana, acredita que um dos fatores da variação menor do público em relação à produção são as opções de restrição da linguagem cinematográfica que alguns cineastas fazem. Segundo ele, nem todos os realizadores têm o prazer de falar com o grande público.

“Apesar das boas intenções, um filme por ano se comunicou com a massa de 2003 para cá — um!”, afirma o cineasta. “É muito pouco. Para você ter um público que descobre que o cinema brasileiro é um grande prazer, você tem que ter quatro, cinco filmes encadeados. É isso que faz o cinema americano ser bom, porque daí você faz a sua escolha”, opina Alvarenga. Ele completa: “Falta para a gente ainda essa quantidade de filmes que tenham esse perfil de querer dialogar com o público grande”.

Para Ismail Xavier, professor do curso de Audiovisual da USP, há outras causas para o público não crescer, como “domínio do mercado por Hollywood desde os anos 1920; hábitos do público; verbas necessárias à publicidade, cada vez maiores; aspectos da vida urbana (insegurança) que mantêm as pessoas em casa; preço do ingresso do cinema — hoje, uma diversão de classe média”. Xavier acredita que “a distribuição é mesmo o maior gargalo, mas a exibição também é um problema — muitas cidades sem cinema e a concentração dos cinemas numa certa área nas grandes cidades”.

Na opinião de Álvaro de Carvalho Neto, produtor do filme Manhã Transfigurada, a questão está nas artimanhas da Lei de Incentivo. “Tem muito autor que prefere pegar o dinheiro do governo, filmar e não distribuir o filme. Ele não vai ter prejuízo”, ataca. Para Ismail Xavier, porém, “o fato de um filme já estar pago não significa que o cineasta não se interessa pela exibição, pois isto seria suicídio cultural”. Alvarenga diz que um diretor interessado apenas em ganhar dinheiro não fará um filme com qualidade.

Incentivo

O vale-cultura, projeto de lei do governo Lula, que pretende levar a população de baixa renda aos espetáculos culturais, pode ser uma saída para aumento do público do cinema. Os trabalhadores até cinco salários-mínimos terão um cartão mensal de R$ 50 que poderá ser gasto com cinema, teatro, CDs ou DVDs. “O vale-cultura é fundamental”, defende Alvarenga.

Segundo ele, “um dos problemas do cinema brasileiro é o ingresso que é caro para a classe desprivilegiada. Como essa classe consegue ter acesso ao cinema?”. Crítico da pirataria, ele aponta que “o vale-cultura reequilibra um pouco esse jogo, as pessoas passam a ter acesso ao conteúdo com a qualidade que ele foi pensado”.

Da Redação, com informações da
Abril.com




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