Funcionários públicos da Grécia estão encenando um novo
protesto contra o plano do governo de demitir dezenas de milhares de
trabalhadores nesta quarta-feira. O governo anunciou que dezenas de
milhares de funcionários públicos irão perder o emprego, como parte das
medidas de austeridade acordadas com os credores internacionais da Grécia.
Os funcionários públicos também estão protestando contra o plano de
privatização do gabinete que dizem que também coloca seus trabalhos na
linha.
A crise financeira e económica teve consequências diretas na saúde
nos gregos, com o número de ataques cardíacos a disparar, sobretudo
entre as mulheres e as pessoas com mais de 45 anos, indica um estudo que
será apresentado no encontro científico anual do Colégio Americano de
Cardiologia, em São Francisco, nos EUA.
O estudo partiu da análise de 22.093 episódios clínicos que foram
tratados pela unidade de Cardiologia do Hospital Geral de Kalamata o
único com Cardiologia na Zona Sudoeste do país entre 2004 e 2011. Neste
intervalo de oito anos, os autores dividiram os doentes em dois grupos:
os que foram tratados entre Janeiro de 2004 e Dezembro de 2007 (antes
do estalar da crise) e entre Janeiro de 2008 e Dezembro de 2011 (em
plena crise e já durante o programa de ajuda externa da troika).
Os investigadores explicam que esta decisão teve como base a mudança
no Produto Interno Bruto (PIB) da Grécia e que o número de episódios na
unidade de Cardiologia daquele hospital, em cada um dos grupos, é
semelhante, foi de 10.870, de 2004 a 2007, e 11.223, de 2008 a 2011.
Portanto, números pouco díspares.
O trabalho permitiu perceber que, após o agravamento da crise
financeira e económica na Grécia, o número de ataques cardíacos,
incluídos nos episódios tratados na unidade de Cardiologia, disparou,
com 1084 episódios no segundo grupo, contra 841 até 2007, o que
representa uma subida de mais de 25%. Além disso, destacam os autores, a
incidência de ataques aumentou em todas as camadas da população, com
mais 21% de ataques em doentes que tinham menos de 45 anos, mais 30% em
pessoas com mais de 45 anos; mais 26% em homens e mais 39% em mulheres.
- As mulheres gregas têm uma taxa de desemprego mais alta do que os
homens, são responsáveis por tratar das crianças e trabalham ao mesmo
tempo fora de casa uma fórmula para o stress – resume Emmanouil Makaris,
um dos cardiologistas do Hospital Geral de Kalamata, que conduziu o
estudo.
Quanto ao crescimento da incidência de ataques nas pessoas acima dos
45 anos, os investigadores sublinham que, a partir destas idades, as
oportunidades de emprego são muito limitadas e, ao mesmo tempo, surgem
mais patologias do foro cardiovascular. “O desemprego é um factor de
stress e o stress está muito relacionado com a doença cardíaca, assim
como há outras coisas que surgem com as dificuldades financeiras”,
acrescenta Makaris. E insiste: “Nestas alturas, muitas pessoas não têm
dinheiro para comprar a medicação ou para ir ao médico de família. Há um
grande crescimento das doenças cardiovasculares em todo o país e o
custo para a sociedade é muito elevado”.
Agora os investigadores querem continuar a acompanhar estes dados e,
se possível, estender a análise a todo o país, sobretudo a Atenas, que,
por ser uma zona urbana, poderá estar a ter resultados ainda mais
graves. Até lá, Emmanouil Makaris alerta que o país precisa de uma maior
aposta na prevenção e que tanto profissionais de saúde como doentes
saibam reconhecer os principais sinais e sintomas destas doenças, para
que possam ir mais cedo ao hospital. E diz esperar que os governantes
entendam que as medidas de austeridade, que têm incidido muito na área
da saúde, estão a ter consequências graves, uma factura que, mais tarde
ou mais cedo, a Grécia irá pagar.
Os dados apresentados por este estudo não são os primeiros conhecidos
sobre a degradação das condições de saúde no país, refere o Público. Do
aumento da taxa de suicídio às novas infecções por VIH/sida, vários têm
sido os indicadores que fazem sentir o peso da crise e a mostrar que o
sistema de saúde grego pode estar à beira do colapso. Em Janeiro, o
economista da saúde grego John Yfantopoulos, professor da Universidade
de Atenas, esteve em Lisboa para participar na conferência A Crise
Económica e os Sistemas de Saúde, organizada pela Associação Portuguesa
de Economia da Saúde, e deu uma entrevista ao Público onde fez um relato
de um país onde não param de crescer os números de infecções por VIH,
os suicídios e o consumo de drogas. E apontou uma culpada que tem minado
todas as tentativas de mudança no sistema: a corrupção.
O estudo sobre a Grécia surge na mesma semana em que foram
apresentadas em Portugal as conclusões do estudo PHYSA Portuguese
Hypertension and Salt Study, que indicou que quase metade da população
portuguesa sofre de hipertensão arterial – um factor de risco para
ataques cardíacos. A boa notícia é que há cada vez mais doentes
medicados e com a hipertensão controlada. Contudo, na sequência deste
estudo, Luís Martins, cardiologista e professor na Universidade Fernando
Pessoa, alertou que a actual crise deverá “afectar profundamente”
muitos dos resultados obtidos nos últimos anos, já que há muitos doentes
a deixarem de comprar os medicamentos e de ir ao médico regularmente.
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