sábado, 22 de outubro de 2011

Itália: A chave é a auto-determinação dos movimentos


A Itália é nossa, por mais que a burguesia solte seus cães de guarda e seus palhaços televisivos para imbecilizar o povo, o espírito de Antonio Gramsci segue vivo na juventude italiana.

O que aconteceu nas ruas de Roma em 15 de outubro sufocou a capacidade do movimento de nascer e crescer mais forte. Declaração da organização política italiana Esquerda Crítica.
A manifestação de 15 outubro em Roma acabou em violência, protagonizada por grupos de encapuzados.Podem utilizar-se perspectivas e critérios diversos para descrever o que aconteceu em Roma no dia 15 de Outubro e adoptar uma posição perante os acontecimentos. A nós interessa-nos pouco o debate sobre “violentos” ou sobre “conspiradores”, sobre “maus” aos quais se contrapõem os “bons”. Decididamente, a nossa visão e o nosso ponto de vista colocam-se dentro do movimento que queremos construir e preocupa-se com o seu potencial, com o seu crescimento, com a sua eficácia e, sobretudo, com a possibilidade de decidir democraticamente. De autodeterminar-se. Este é o ponto de vista que queremos colocar no centro desta reflexão porque, ao mesmo tempo, esta possibilidade é a grande derrota da jornada do 15 de Outubro.
1) As potencialidades do 15 de Outubro são evidentes pelos números de uma manifestação em parte auto-organizada apesar do contributo de muitas organizações. Organizações, não obstante, que não são aquela “potência política” que existiu noutros tempos e, portanto, o número daqueles que de várias formas desfilaram em Roma – 200 mil parece ser a cifra mais credível – demonstra uma força de combate que é importante registar. O contraste com a política de campo dos governos liberais – de centro-esquerda e de centro-direita, pouco importa – neste país continua a ser importante ainda que politicamente se apresente sob formas distintas ou, talvez, não em todos os lugares. Há uma massa critica que resiste e que constitui a anomalia italiana, um sinal de um país que não está anestesiado não obstante os 17 anos de 'berlusconismo' e, sublinhamos, de 'antiberlusconismo' inferior. É daqui que partimos.    


2) O que fazer com este potencial, o que é que poderíamos fazer se o 15 de Outubro tivesse acontecido de forma diferente? Como se transforma a disponibilidade para a luta em mobilização permanente? É importante colocar esta questão porque ajuda a construir uma visão não impressionista sobre os factos do dia 15. Uma boa parte da manifestação, entre os quais com muita determinação, tinha proposto fechar o cortejo com uma grande acampada: uma forma política que provasse o ritual do desfile e não acabasse em vanguardismos fáceis. Para que serviria a acampada? Para cumprir um acto simbólico de contraposição ao poder dominante – seja o governo ou o Banco de Itália ou o próprio Quirinale – para definir um espaço público de debate e auto-organização: constituído a partir de baixo, autodeterminado, dotado de um programa avançado. Todos estes ingredientes, de facto, não existem hoje. Existe um ambiente generalizado, uma raiva difusa, a disponibilidade para vir a Roma mas, depois, nas terras, nos locais de trabalho, de estudo, nos locais de não trabalho, nos locais migrantes falta a mobilização específica de um movimento de massas. Para nós, o 15 de Outubro servia para germinar tudo isto.
3) Esta jornada servia também para oferecer um espaço de acção útil aos que deveriam ser os verdadeiros protagonistas de um movimento de massas duradouro e eficaz: os sujeitos reais, os operários, os estudantes, os precários, as mulheres, os emigrantes, os comités pelos bens comuns e por aí fora. Também aqui, se hoje são sinais importantes neste sentido, esta subjectividade está muitas vezes representada apenas por organizações de referência: sindicatos, às vezes sociais, em parte partidos. Os sujeitos reais não são ainda os protagonistas e esta é uma fase prioritária que nos leva, neste espírito, a suspeitar da usual forma “parlamentaria” de direcção do movimento com reuniões entre grupos que, talvez funcionassem bem há dez anos atrás em Génova, hoje não conseguem interpretar esta fase. Por causa da natureza diversa, e talvez contraposta, dos sujeitos em questão, por causa da coacção da repetição e por causa de uma forma que pensa em reunir múltiplos com uma dimensão que não representa mais tudo aquilo que se move. O dia 15 é também um desafio daquela dimensão e isto deve ser tido em consideração.
4) A acção levada a cabo pelos sectores que protagonizaram os confrontos constitui uma proposta política muito clara e, também por isto, atrai uma quantidade de jovens, em grande parte precários, que não deve ser banalizada. Tantos jovens estão unidos nos confrontos apenas para exprimir a frustração que provém da crise. Mas, sublinhamos, a proposta política é em grande parte esta: oferecer um cenário para dar asas à frustração. Encenar confrontos e conflitos para uso das cameras para que depois o transmitam como um milhar de jovens “raivosos” não parece uma proposta capaz de se manter no tempo se não com imprevisível, e um tanto contraproducente, intensificação. Intensificação que já vimos e que entre tantos danos que produziu, trouxe o afundamento dos movimentos de massas.    



5) A decisão de forçar a situação contradisse aquelas que parecem ser as prioridades fundamentais: a construção de um movimento, o seu crescimento e eficácia, a sua auto-determinação. O movimento não consegue nascer num sábado na praça, não terá maior facilidade em crescer e sobretudo é determinado pela subjectividade que não responde perante ninguém.

6) Na realidade, aquilo a que assistimos é uma cópia fraca de um filme visto demasiadas vezes nas últimas décadas. O nascimento de um movimento é modificado pelas formas e pelo gesto estético que adopta; a auto-determinação das massas, paciente e complexa, é contornada por atalhos acessíveis a poucos; é minimizada pela dificuldade de agir à escala local, no posto de trabalho, de estudos ou qualquer outro, a dinâmica é desenvolvida a nível central; a transição democrática que requer tempo e horizontalidade é contornada por uma escolha elitista, vanguardista, vertical e, sublinhemos, fundamentalmente masculina.
7) Por isto pensamos que o futuro do 15 de Outubro, com grave responsabilidade da polícia pelo modo irresponsável como interveio na Praça San Giovanni, retorce-se contra o movimento e puxa-o para trás, tudo feito na defensiva e com a segurança dos sectores moderados e eleitoralistas – apresentados em força no seu interior e prontos a lucrar com o 15 de Outubro – que neste contexto recuperam força e centralidade.
8) Nós não nos reconhecemos nesta forma mas apenas naquela que é expressa com maturidade e consciência dos sujeitos sociais autodeterminados. Os meios e os fins estão de acordo e o único modo para fazê-lo, a única “moralidade” que se pode reconhecer à acção política é aquela que provém da democracia do movimento, da sua auto-determinação e, portanto, da sua auto-organização.
9) É este o ponto que queremos submeter à discussão. É o único modo para sair deste impasse e desta frustração que se regista a nível generalizado. O movimento deve enfrentar as próprias limitações tendo decidido o que fazer nas praças e como defendê-lo politica, social e materialmente nas praças. Para fazer isto são necessárias formas que raramente são vistas em Itália uma vez que a gramática deste movimentos foi, em grande parte, monopolizada pela desvalorização e pela burocracia da esquerda institucional e pelo rotativismo das forças “antagonistas” que continuam a propor o mesmo esquema já falido.
10) Proponhamos, então, repartir a indignação dos sujeitos reais, dos estudantes, dos trabalhadores, dos precários, dos migrantes, das mulheres. Empenhemo-nos sobretudo na construção de movimentos reais a partir dos quais apenas esta dimensão poderá fazer uma verdadeira diferença. 

11) Relancemos a ideia das acampadas, reinventando-as, de forma não extemporânea mas como expressão das lutas dos sujeitos reais. 

12) Pensamos que a luta contra a crise e a sua declinação política é conduzida reforçando a auto-organização, o movimento de massas, a sua disponibilidade para a partir da base dotar-se de uma verdadeira plataforma de luta que diga que não pagamos a dívida e que propomos uma outra agenda: moratória unilateral sobre a dívida pública, instituição de uma banca pública nacional, taxação fortemente progressiva dos rendimentos e do património, salário mínimo, rendimentos para os jovens e precários, redução do horário de trabalho, redução drástica das despesas militares, defesa dos bens comuns contra grandes empreendimentos como a alta velocidade, abolição das ligações entre autorização de residência e contrato de trabalho para os emigrantes, extensão da democracia directa.  

  
13)    Vamos descer à praça gritando “vamos voltar a casa”. Este slogan, depois do 15 de Outubro, é ainda mais actual.



Um comentário:

  1. e o Parlamento italiano REelegeu Silvio Berlusconi.quem adorou isso tambem,foi a nossa Mídia Brasileira q quer um desse aqui.esse dono do Milan(SIM!),QUEBROU A ITÁLIA!simples!

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