terça-feira, 9 de julho de 2013

32+32= 64, ou o feriadão dos tukkkanos



Acorda manezão 


Embora antigo, este texto é mais do que atual, por isso estou publicando de novo, em homenagem ao pessoal que acordou agora.


Pouco antes do golpe de 1964 surgiu um slogan, lançado pelo governador de então, conhecido como Adhemar rouba mas faz, para marcar a posição dos "paulistas" em relação a agitação golpista promovida pela direita nacional de norte a sul. O slogan de Adhemar foi 32+32=64. 
Em dezenove de março de 1964, 500 mil donas de casa de todo estado, mobilizadas pela UCF (União Cívica Feminina), e contando com a simpatia dos setores dirigentes paulistas (governador, prefeitos, Fiesp), saíram as ruas contra o avanço da "comunização" no Brasil, pedindo a cabeça de João Goulart e incitando os militares a tomar uma atitude. Este protesto ficou conhecido como a Marcha da Família com Deus pela Liberdade
Fazendo coro com as donas de casa e com o Palácio dos Bandeirantes, o jornal Estado de São Paulo (e similares) atacava o governo Jango diariamente através de editoriais cada vez mais violentos. 
Aqui se materializava a tríade do golpismo paulista da época, ademarismo, igreja católica e mídia impressa, capitaneada pela família Mesquita. E era justamente esta elite, tendo como porta voz o próprio governador do estado,  que se sentia muito a vontade para resgatar a "Revolução" Constitucionalista de 1932, feita pelos seus pais.
Com a Revolução de 1930 tem início a Era Vargas, e a oligarquia cafeicultora paulista, que governara o país por mais de trinta anos (sócia majoritária da oligarquia mineira), foi posta para fora do poder. Ninguém aguentava mais a aristocracia bandeirante, que governava de costas para o país, como se todo território nacional se resumisse ao mapa de São Paulo. Mas essa elite sempre foi vingativa, e em 1932 tentou articular um contra-golpe contra Vargas, mas no final terminou isolada, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, que em princípio apoiaram a iniciativa,  desistiram da aventura e São Paulo ficou sozinho na refrega. A luta pela constituição foi só uma desculpa para colocar de volta no poder os fazendeiros do café. 
Os mesmos que bradavam contra Vargas por uma constituição, exigiam democracia e liberdade política, governaram com mão de ferro o país por mais de trinta anos, fizeram muito pouco ou quase nada pela classe trabalhadora, não instituíram leis trabalhistas que fossem obedecidas na prática, não instituíram o voto feminino, não desenvolveram um sistema nacional de ensino, o mesmo serve para a saúde; endividaram o país através com empréstimos que eram revertidos apenas em benefício dos cafeicultores, não desenvolveram mecanismos de modo a incorporar os negros ao mercado de trabalho, etc... 
Um de seus próceres, Washington Luís, certa feita disse que "a questão social era caso de polícia".
Foi essa oligarquia que desenvolveu toda uma campanha de manipulação, mais uma vez capitaneada pela família Mesquita, para incitar o povo paulista a pegar em armas para defender interesses que não eram os seus. Foi essa oligarquia que levou mais de 600 paulistas a morte, jovens que tombaram para que um punhado de fazendeiros retomassem o poder e voltassem a governar o país para si. 
Essa elite criou um falso espírito paulista, conservador, reacionário, boçal, preconceituoso, xenófobo, racista e separatista, que até hoje empolga setores consideráveis da elite branca de São Paulo.
Não foi por acaso que o Adhemar rouba mas faz resgatou o espírito de 1932 em 1964, a ironia do destino foi que Adhemar ficou de fora do novo grupo que assaltou a poder em 1º de abril do mesmo ano, e em 1965 seria posto para fora do Palácio dos Bandeirantes. A tradicional oligarquia paulista, herdeira de Washington Luis, só voltaria ao poder em 1994, com FHC, agora com nova roupagem
Essa elite achou que seu reinado duraria outros trinta anos, porém seus planos foram frustrados em 2002 e 2006. Essa mesma elite que fez/ fará  de tudo para retornar ao poder em 2010, 2014, etc, etc, etc...

Sérgio Luiz

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