terça-feira, 27 de março de 2012

Comissão da Verdade tem de incluir elites civis


Punição para os criminosos vivos, execração pública a imagem dos criminosos mortos


Email do Professor Caio Toledo

A comissão deve investigar as elites empresariais conservadoras que se uniram a militares em 64 para manter privilégios, inclusive o seu papel nos casos de tortura.
A discussão das últimas semanas, referente às ácidas cartas de setores da reserva das Forças Armadas sobre o processo de criação de uma Comissão da Verdade, coloca um ponto importante para nossa reflexão. 
 Quem pensou, organizou e operacionalizou o movimento de 1964? 
A resposta soa clara ao aluno desatento do ensino médio: militares.
Mas não. A participação ativa dos setores civis da sociedade no golpe militar de 31 de março de 1964 deve ser discutida e aprofundada, inclusive naquilo que se refere à tortura e ao desaparecimento daqueles que se opunham ao regime.
Não se muda a história. A participação civil nos regimes ditatoriais é regra quando se observa alguns dos processos históricos contemporâneos. Além dos militares e dos serviços secretos, sempre há aqueles grupos civis que incentivaram a ruptura institucional a partir do uso da força militar.
Foi assim no movimento de ascensão do nazismo na Alemanha, do fascismo na Itália e do comunismo na antiga União Soviética. É padrão: o setor conservador e radical das Forças Armadas se ancora no meio civil como braço auxiliar para a ação de poder.
E tão grave quanto: os setores civis, principalmente das elites empresariais conservadoras, utilizam-se da caserna para manterem privilégios e garantirem novas regalias.
O grande historiador Tony Judt, no épico "Pós-Guerra" (no Brasil, disponível pela editora Objetiva), mostra essa aproximação difusa e obscura entre civis e militares nos projetos de tomada do poder à força na história contemporânea.
Quando a ministra de Direitos Humanos Maria do Rosário menciona a importância de elucidar a participação dos setores e grupos civis nos processos de radicalização do regime de 1964, ela está certa.
Se os excessos cometidos pelos radicais de farda ocorreram, é necessário ressaltar que eles aconteceram também por incentivo e por interesse desses grupos.
Vale lembrar que a deflagração do golpe militar de 1964 foi precedida por uma movimentação da classe média paulista (a chamada "Marcha com Deus Pela Liberdade", que foi organizada também por grupos ligados às grandes empresas de São Paulo).
O ano de 1964 é também resultado do apoio irrestrito dos chamados "capitães da indústria" de São Paulo e dos representantes mais conservadores das oligarquias agrárias do Nordeste à época.
São grupos civis, com origem ligada ao empresariado, que frequentavam recepções de congraçamento entre civis e militares, gabinetes governamentais e ambientes acadêmicos ideológicos, como a Escola Superior de Guerra -chamada pelos próprios "estagiários" mais envaidecidos de "Sorbonne brasileira", que viam no golpe de 1964 uma oportunidade única.
Essa oportunidade se baseava em uma estratégia que foi regra mestra no desenvolvimento econômico do período: o arrocho salarial para manutenção dos ganhos de capital, agenda decisiva para a manutenção do patamar de lucratividade dos investimentos nacionais e internacionais no período após Juscelino, de rápida industrialização do país.
Mas o incentivo para o golpe e o decisivo apoio durante boa parte da execução do regime de 1964 não ficam restritos a essa ação quase "institucional" dos grupos civis que se fundiam aos interesses dos militares mais radicais à época.
Mais graves foram as ações pensadas e organizadas diretamente por grupos civis radicais, como o obscuro "Comando de Caça aos Comunistas", a "Operação Bandeirantes", entre outras, que foram conduzidas a partir de ações clandestinas, com o apoio dos serviços secretos militares e das lideranças e grupos empresariais à época.
Esperemos que, se criada, a Comissão da Verdade, de alguma forma, também possa se deter nesta seara que envolve uma segunda sombra do regime de 1964. 

Para saber mais sobre a participação de civis no golpe de 64, clique aqui











 

4 comentários:

  1. Preço da Liberdade é a eterna vigilância democrática. Ditadura nunca mais. Militares algozes e truculentos da ditadura, responsáveis pelos crimes hediondos e das mortes nos porões do DOI-CODI, entre outros centros de torturas, como que as vitimiram, no Presídio Tiradentes, a presidenta Dilma, devem ser rigorosamente punidos. Militares torturadores devem ser escrachados. Comissão da Verdade está mais do que correta. Viva o democrata Blog do Cappacete. Saudações democráticas do Blog do Professor Tim - timraimundo.blogspot.com

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    1. Boa colega!
      Vamos seguir abrindo os olhos de nossos alunos e de todos que estão a nossa volta e não tem acesso a informação crítica. Valeu pelo comentário, vou frequentar o seu blog, abração!!!

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  2. GREGÓRIO BEZERRA, um HERÓI BRASILEIRO feito de FERRO e de FLOR

    Gregório Bezerra foi preso imediatamente após o Golpe Militar brasileiro de 1964 quando tentava organizar a resistência armada dos camponeses ao golpe em apoio ao Governo Federal de João Goulart, e Estadual de Miguel Arraes de Alencar.

    Após a prisão foi transferido para o Recife onde foi torturado e, com uma corda no pescoço, foi arrastado pela praça do bairro de Casa Forte pelo Tenente-Coronel do Exército Brasileiro Darcy Viana Vilock. Teve os seus pés imersos em solução de bateria de carro, ficando em carne viva. Este espetáculo foi exibido pelas televisões locais à época do Golpe Militar de 1964.

    "Gostaria de ser lembrado como o homem que foi amigo das crianças, dos pobres e excluídos; amado e respeitado pelo povo, pelas massas exploradas e sofridas; odiado e temido pelos capitalistas, sendo considerado o inimigo número um das ditaduras fascistas."

    (Gregório Bezerra)

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    Entrevista Histórica com Gregório Bezerra

    http://www.youtube.com/watch?v=Zezr6fsc_oo

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    Onde estao os nossos desaparecidos?

    http://www.youtube.com/watch?v=mzmEJpeR6Oc&feature=share


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    ‎"Eles mataram meu pai, minha família, você quer que eu faça o que????"

    http://www.youtube.com/watch?v=pU08Qu2BjTY&feature=player_embedded

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    ‎"...A situação era tensa. As crianças, emboladas, berrando palavras de ordem e bordões contra a ditadura e a favor da Comissão da Verdade. Frases como "Cadeia Já, Cadeia Já, a quem torturou na ditadura militar".
    Faces jovens, muito jovens, imberbes até. Nomes de desaparecidos pintados em alguns rostos e até nas roupas. E eles num entusiasmo, num ímpeto, num sentimento. Como aquilo me tocou!
    Manifestantes mais velhos com eles, eram poucos. Umas senhoras de bermudas, corajosas militantes. Alguns senhores de manga de camisa. Mas a grande maioria, a entusiasmada maioria, a massa humana, era a garotada. Que belo!
    Eram nossos jovens patriotas clamando pela abertura dos arquivos militares, exigindo com seu jeito sem modos, sem luvas de pelica nem punhos de renda e sem vosmecê, que o Brasil tenha a dignidade de dar às famílias dos torturados e mortos ao menos a satisfação de saberem como, de que forma, onde e por quem foram trucidados, torturados e mortos seus entes amados. Pelo menos isso. Não é pedir muito, será que é?

    Hildegard Angel

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    1. Beleza Probus, Gregório Bezerra figura ao lado dos grandes lutadores de nossa Hiostória, está ao lado de Zumbi dos Palmares, Carlos Lamarca, Lampião, Carlos Mariguella, Preto Cosme, etc, etc, etc...
      Um abraço!

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