quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A Economia dos Jogos Olímpicos e os erros do governo britânico



David Cameron disse que os Jogos aportariam cerca de 13 mil milhões de libras à economia, mas os próprios erros do governo conspiraram contra este impacto. O presidente da Câmara de Londres, Boris Jonson, lançou uma campanha pedindo que os ingleses evitassem o centro durante os Jogos. O resultado foi que a zona central se converteu numa cidade fantasma. 
O presidente da Câmara de Londres, Boris Jonson, lançou uma campanha pedindo que os ingleses evitassem o centro durante os Jogos. O resultado foi que a zona central se converteu numa cidade fantasma.
O vigoroso quadro de medalhas olímpicas da equipa da Grã-Bretanha e a expectativa de uma injeção de consumo adicional na economia é hoje o único Plano B de uma coligação conservadora-liberal democrata que não consegue formular uma estratégia eficaz para sair da recessão.
Aferrados como a um mantra ao Plano A (Austeridade), a Coligação espera que graças ao chamado “feel good factor” (sentir-se bem) os britânicos saquem a carteira e se somem ao consumo alavancado por centenas de milhares de visitantes nos Jogos, evitando assim um quarto trimestre consecutivo de crescimento negativo. Os economistas não compartilham essa visão otimista e nesta quarta-feira o próprio Banco da Inglaterra (Banco Central) reduziu as suas previsões de crescimento para 2012 de um magro 0,8% para 0% de absoluta estagnação.
O otimismo desportivo que se respira nas ruas de Londres é palpável, mas os números são muito mais decisivos. No último trimestre a economia caiu 0,7%, aprofundando a tendência marcada pelos trimestres anteriores (menos 0,4% e menos 0,3%). O poder aquisitivo dos britânicos – capturado pela pinça de um estancamento salarial devorado pela inflação – sofreu nos últimos três anos a pior queda desde os 70. O primeiro ministro David Cameron disse que os Jogos aportariam cerca de 13 mil milhões de libras à economia, mas os próprios erros do governo conspiraram contra este impacto positivo.
Londres, cidade fantasma
Com o antecedente dos engarrafamentos massivos dos Jogos de 1996 em Atlanta, que impediram alguns atletas de chegar às competições, o presidente da Câmara de Londres, o conservador Boris Jonson, lançou uma campanha para advertir os ingleses que evitassem o centro durante os Jogos. O resultado foi que a zona central se converteu numa cidade fantasma. Restaurantes e teatros vazios, ruas sem muita gente, uma brusca queda das vendas do comércio. Ninguém se salvou do impacto. O número de visitantes na famosa Torre de Londres registou uma queda de 56% no número de visitantes.
Quando o governo tentou uma mudança de rumo, retirando os anúncios televisivos nos autocarros nos quais o presidente da câmara recomendava evitar o centro, o estrago estava feito. Não foi o único erro de cálculo. Os milhares de espectadores que vieram a Londres são na sua maioria jovens, com pouco dinheiro e afligidos pelo mesmo mal que acomete os britânicos: a crise económica. “Não viemos para fazer comprar”, resumiram duas jovens suecas à Agência AFP.
Pior ainda, segundo a Associação de Operadores turísticos europeus, houve uma queda de aproximadamente 50% no número global de turistas. O dado não surpreendeu o especialista em Economia do Desporto da Cass Business School de Londres, Peter Grant. “É o impacto dos Jogos Olímpicos em geral. O que se ganha num lugar perde-se no outro. Os turistas que vêm para os Jogos não visitarão Londres depois. Muitos deixaram de vir porque não querem estar aqui durante os Jogos”, disse Grant à Carta Maior.
A ilusão provocada pelos Jogos Olímpicos é uma mostra do crescente desespero nas fileiras da Coligação. Ao assumir o poder em 2010, a Coligação apostou tudo no Plano de Austeridade, colocando a culpa pela crise no desperdício e irresponsabilidade dos trabalhistas. O Plano contemplava um corte de 120 mil milhões de libras em cinco anos para equilibrar as contas em 2015. Este ano, o primeiro ministro David Cameron prorrogou o ajustamento fiscal até 2020. Mas a realidade é que, sem crescimento, as contas não fecham.
Com a deterioração económica, acelerou-se a política: os trabalhistas têm uma vantagem de 11 pontos nas sondagens, a maior desde as eleições de 2010. O rumor é que o governo quer adiantar o seu investimento em infraestrutura e alavancar um programa de empréstimos de 80 mil milhões de libras para pequenas e médias empresas. A questão é se esse valor não é insuficiente, demasiado tarde e, também, qual é a letra pequena dessas medidas. Como dizem os próprios ingleses, “the devil is in the detail” (o diabo está no detalhe). Para se resguardar politicamente, é possível que a Coligação faça todo o possível para dissimular qualquer rastro de keynesianismo que ponha em questão a estratégia seguida desde 2010.

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